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O Paramārthasāra de Abhinavagupta: Estrofes 28 a 31
Tradução normal
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Introdução
O Paramārthasāra continua com mais quatro estrofes. Esse é o oitavo conjunto de estrofes, que é composto de 4 das 105 estrofes que constituem a obra como um todo.
Obviamente, também inserirei as estrofes originais sobre as quais Yogarāja está comentando. Escreverei várias notas para que esse livro fique tão compreensível quanto possível.
O Sânscrito de Yogarāja estará em verde escuro, enquanto as estrofes originais de Abhinavagupta serão exibidas em vermelho escuro. Por sua vez, dentro da transliteração, as estrofes originais estarão em marrom, enquanto os comentários de Yogarāja serão mostrados em preto. Além disso, dentro da tradução, as estrofes originais de Abhinavagupta, isto é, o Paramārthasāra, estarão nas cores verde e preto, enquanto o comentário de Yogarāja conterá palavras tanto em preto quanto em vermelho.
Leia o Paramārthasāra e experimente Supremo Ānanda ou Divina Alegria, querido Śiva.
Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.
Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.
Estrofe 28
इदानीं भ्रान्तेरसदर्थप्रतिपादनसामर्थ्येन निदर्शनमाह
रज्ज्वां नास्ति भुजङ्गस्त्रासं कुरुते च मृत्युपर्यन्तम्।
भ्रान्तेर्महती शक्तिर्न विवेक्तुं शक्यते नाम॥२८॥
भ्रान्तेः पूर्णत्वाख्यातिरूपाया अताद्रूप्यप्रतिभासने महती शक्तिरुत्तमं सामर्थ्यं न केनचिद्विवेक्तुं शक्यते न केनचिद्विचारयितुं पार्यते — इति यावत्। यथा वस्तुवृत्तेन रज्जुः परिदृश्यमाना दीर्घत्वकुण्डलिनीरूपत्वभ्रमात्सर्पोऽयमित्यध्यवसातॄणां रज्जुद्रव्येऽप्यसदर्थप्रतिभासोऽयं सर्पाध्यवसायः सदर्थप्रतिभासाद्भयं मरणावसायं विदधाति। अनुभवसिद्धमप्येतत्स्थाणुं भूतमिति मत्वा स्वयं भीषणीयं वाकारं समुल्लिख्य भ्रान्ताः सन्तो हृद्भङ्गनाशं के नाम न याताः — इति विभ्रम एवापूर्णत्वप्रथने हेतुः — इति॥२८॥
Idānīṁ bhrānterasadarthapratipādanasāmarthyena nidarśanamāha
Rajjvāṁ nāsti bhujaṅgastrāsaṁ kurute ca mṛtyuparyantam|
Bhrāntermahatī śaktirna vivektuṁ śakyate nāma||28||
Bhrānteḥ pūrṇatvākhyātirūpāyā atādrūpyapratibhāsane mahatī śaktiruttamaṁ sāmarthyaṁ na kenacidvivektuṁ śakyate na kenacidvicārayituṁ pāryate — Iti yāvat| Yathā vastuvṛttena rajjuḥ paridṛśyamānā dīrghatvakuṇḍalinīrūpatvabhramātsarpo'yamityadhyavasātṝṇāṁ rajjudravye'pyasadarthapratibhāso'yaṁ sarpādhyavasāyaḥ sadarthapratibhāsādbhayaṁ maraṇāvasāyaṁ vidadhāti| Anubhavasiddhamapyetatsthāṇuṁ bhūtamiti matvā svayaṁ bhīṣaṇīyaṁ vākāraṁ samullikhya bhrāntāḥ santo hṛdbhaṅganāśaṁ ke nāma na yātāḥ — Iti vibhrama evāpūrṇatvaprathane hetuḥ — Iti||28||
Agora (idānīm), (Abhinavagupta) expressou (āha) (o seguinte) exemplo (nidarśanam) para (sāmarthyena) explicar (pratipādana) coisas (artha) inexistentes (asat) (que são produzidas) pela confusão (bhrānteḥ):
Uma serpente (bhujaṅgaḥ) não (na) existe (asti) em uma corda (rajjvām), mas (ca) ela --a corda confundida com uma serpente-- aterroriza (trāsam kurute) até a morte (mṛtyu-paryantam). Realmente (nāma), não se pode discernir (na vivektum śakyate) o grande (mahatī) poder (śaktiḥ) da confusão (bhrānteḥ)!||28||
O grande (mahatī) poder (śaktiḥ) da confusão (bhrānteḥ) (é) a mais alta (uttamam) eficácia (sāmarthyam) daquilo cuja natureza (rūpāyāḥ) (consiste em) ignorância (akhyāti) sobre a (própria) Plenitude (pūrṇatva). (O seu poder ou eficácia é mostrado) quando aparece (pratibhāsane) uma falta de semelhança (atādrūpya) (entre a coisa imaginada e a coisa real, como no caso de uma serpente sendo imaginada em uma corda. Esse grande poder da confusão) não pode ser discernido (na... vivektum śakyate) por ninguém (kenacid), (isto é,) não pode ser indagado ou investigado (na... vicārayitum pāryate) por ninguém (kenacid). Esse é o significado (iti yāvat).
Assim como (yathā) ao contemplar (paridṛśyamānā) o que é realmente (vastuvṛttena) uma (mera) corda (rajjuḥ), devido a um erro (bhramāt) gerado pelo seu comprimento (dīrghatva) (e) aspecto enrolado (kuṇḍalinī-rūpatva), (poderia ser confundida com uma serpente e gerar a seguinte expressão:) "Esta (ayam) (é) uma serpente (sarpaḥ... iti)!" nos que (a) percebem (adhyavasātṝṇām), (da mesma forma,) essa (ayam) percepção (adhyavasāyaḥ) de uma serpente (sarpa) inclusive (api) em um objeto (dravye) (chamado) corda (rajju) (é) a manifestação (pratibhāsaḥ) de uma coisa (artha) inexistente (asat) a partir da manifestação (pratibhāsāt) de uma coisa (artha) existente (sat). (E tal percepção surgida a partir de uma confusão) causa (vidadhāti) um medo (bhayam) horrível --lit. até a morte-- (maraṇa-avasāyam).
Isso (etad) (é) inclusive (api) estabelecido ou provado (siddham) pela (própria) experiência (anubhava), (como quando alguém,) ao considerar (iti matvā) o toco de uma árvore (sthāṇum) como um demônio (bhūtam iti), ou (vā) ao delinear (samullikhya), por si mesmo (svayam), (alguma outra) forma (ākāram) assustadora (bhīṣaṇīyam) (nesse mesmo toco), quais (ke nāma) erros (bhrāntāḥ) que ocorrem (dessa forma —devido à confusão—) (santaḥ) não terminam (na yātāḥ) na (própria) aniquilação (nāśam) devido a uma parada cardíaca (hṛt-bhaṅga)? (Não se sabe ao certo!). Dessa forma (iti), a própria (eva) confusão (vibhramaḥ) (é) a causa (hetuḥ) da disseminação ou difusão (prathane) da falta de Plenitude (apūrṇatva... iti)||28||
Ainda sem notas explicativas
Estrofe 29
एतत् प्रकृते समर्थयते
तद्वद्धर्माधर्मस्वर्निरयोत्पत्तिमरणसुखदुःखम्।
वर्णाश्रमादि चात्मन्यसदपि विभ्रमबलाद्भवति॥२९॥
एवं यथा रज्जुः परमार्थसती भ्रान्त्या सर्पतया विमृष्टापि सर्पगतामर्थक्रियां करोति तथैव देहात्ममानिनां चेतसि धर्माद्यसदपि तत्त्वतोऽविद्यमानं विभ्रमवशान्मायाव्यामोहसामर्थ्यादेव भवति एतदेव तत्त्वमिति भ्रान्त्या सत्तां लभते। धर्मोऽश्वमेधादिरधर्मो ब्रह्महननादिः स्वर्निरतिशया प्रीतिर्निरयो यातना उत्पत्तिर्जन्म मरणं जन्माभावः सुखमाह्लादो दुःखं राजसः क्षोभस्तथा वर्णो ब्राह्मणोऽस्मीत्यादि आश्रमो ब्रह्मचारी — इत्यादि आदि ग्रहणात्तपःपूजाव्रतानि — इति सर्वं कल्पनामात्रसारं विभ्रमविजृम्भितमेव मायाशक्त्या देहाद्यात्मतयाभिमन्यते। एतत्सर्वं भ्रान्तेः प्रभवति ययानवरतस्वर्गनरकजन्ममरणप्रबन्धभाजः पशवो न पुनः परमार्थतः स्वात्मनोऽनवच्छिन्नचिदानन्दैकघनस्य धर्माधर्मादिकं किञ्चिद्विद्यते — इति॥२९॥
Etat prakṛte samarthayate
Tadvaddharmādharmasvarnirayotpattimaraṇasukhaduḥkham|
Varṇāśramādi cātmanyasadapi vibhramabalādbhavati||29||
Evaṁ yathā rajjuḥ paramārthasatī bhrāntyā sarpatayā vimṛṣṭāpi sarpagatāmarthakriyāṁ karoti tathaiva dehātmamānināṁ cetasi dharmādyasadapi tattvato'vidyamānaṁ vibhramavaśānmāyāvyāmohasāmarthyādeva bhavati etadeva tattvamiti bhrāntyā sattāṁ labhate| Dharmo'śvamedhādiradharmo brahmahananādiḥ svarniratiśayā prītirnirayo yātanā utpattirjanma maraṇaṁ janmābhāvaḥ sukhamāhlādo duḥkhaṁ rājasaḥ kṣobhastathā varṇo brāhmaṇo'smītyādi āśramo brahmacārī — Ityādi ādi grahaṇāttapaḥpūjāvratāni — Iti sarvaṁ kalpanāmātrasāraṁ vibhramavijṛmbhitameva māyāśaktyā dehādyātmatayābhimanyate| Etatsarvaṁ bhrānteḥ prabhavati yayānavaratasvarganarakajanmamaraṇaprabandhabhājaḥ paśavo na punaḥ paramārthataḥ svātmano'navacchinnacidānandaikaghanasya dharmādharmādikaṁ kiñcidvidyate — Iti||29||
(Abhinavagupta, por meio desta estrofe,) comenta (novamente) sobre (samarthayate) essa (praga conhecida como "confusão") (etad) com referência ao tema em discussão (prakṛte):
Da mesma forma (tadvat), (o grupo composto pelo) que se deve fazer (dharma), o que não se deve fazer (adharma), céu (svar), inferno (niraya), nascimento (utpatti), morte (maraṇa), prazer (sukham), dor (duḥkham), além de (ca) castas (varṇa), etapas da vida (āśrama), etc. (ādi), ainda que (api) inexistente (asat) no Ser (ātmani), surge (bhavati) em virtude (balāt) da confusão (vibhrama)||29||
Dessa forma (evam), assim como (yathā) uma corda (rajjuḥ) é (satī) realmente (parama-artha) (só uma corda), mas (api), se for considerada (vimṛṣṭā) uma serpente (sarpatayā) devido à confusão (bhrāntyā), provoca (karoti) uma atividade objetiva (artha-kriyām) conectada com (gatām) serpentes (sarpa) --ou seja, uma serpente na forma de "Devo fugir dela", "Devo matá-la", etc.--, da mesma forma (tathā eva), (o grupo inteiro composto de) o que se deve fazer (dharma), o que não se deve fazer (adharma), etc. (ādi), ainda que (api) inexistente (asat) —(isto é, ainda que) não esteja realmente presente (no Ser) (tattvataḥ avidyamānam)—, em virtude (vaśāt) da confusão (vibhrama) —(isto é,) devido (sāmarthyāt eva) à perplexidade (vyāmoha) gerada por Māyā (māyā)—, brota (bhavati) na mente (cetasi) dos que pensam (māninām) que os (seus) corpos (deha) são o Ser (ātma). (Em suma, esse grupo mencionado acima) surge (sattām labhate) (no caso dessas pessoas, na forma de) "Isso (etad) (é) certo (tattvam), realmente (eva)!" devido à confusão (bhrāntyā).
(Na estrofe,) "dharma" --o que se deve fazer-- (dharmaḥ) (implica ações tais como a realização do) sacrifício do cavalo (aśva-medhaḥ), etc. (ādiḥ), (enquanto) "adharma" --o que não se deve fazer-- (adharmaḥ) (tem a ver com ações tais como) o ato de matar (hanana) um sacerdote (brahma), etc. (ādiḥ). (Por sua vez,) "svar" --céu-- (svar) (denota) insuperável (niratiśayā) satisfação (prītiḥ) (e) "niraya" --inferno-- (niraya) (se refere a) tormento intenso (yātanā). (O termo) "utpatti" (utpattiḥ) (significa) nascimento (janma) (e) "maraṇa" --morte-- (maraṇam) (indica) ausência ou negação (abhāvaḥ) de nascimento (janma). "Sukha" --prazer-- (sukham) (denota) alegria (āhlādaḥ), (enquanto) "duḥkha" --dor-- (duḥkham) (denota) uma perturbação (kṣobhaḥ) rajásica --relativa à modalidade conhecida como Rajas-- (rājasaḥ). Da mesma forma (tathā), (por um lado, a palavra) "varṇa" (varṇaḥ) --casta-- (envolve noções tais como) "Sou (asmi) um brāhmaṇa --um membro da casta sacerdotal-- (brāhmaṇaḥ... iti)", etc. (iti-ādi) (e, por outro lado, o termo) "āśrama" --etapa da vida-- (āśramaḥ) (indica coisas como) "celibato" --a primeira etapa da vida-- (brahmacārī), etc. (iti-ādi). (Finalmente,) por meio da palavra (grahaṇāt) et cetera (na própria estrofe) (ādi), (indicam-se também) austeridade, adoração e votos (tapas-pūja-vratāni... iti). Tudo (sarvam) o que foi manifestado (vijṛmbhitam eva) pela confusão (vibhrama) (e) cuja essência (sāram) é meramente (mātra) uma criação mental (kalpanā) é (então) imaginado (abhimanyate) (por um indivíduo limitado) através do poder (śaktyā) de Māyā (māyā) (quando o mesmo) identifica o (seu) corpo, etc. com o Ser (deha-ādi-ātmatayā).
Tudo (sarvam) isso (etad) aparece (prabhavati) a partir da confusão (bhrānteḥ) e, por ela --pela confusão-- (yayā), os indivíduos limitados (paśavaḥ) participam (bhājaḥ) da incessante (anavarata) série (prabandha) de céu (svarga), inferno (naraka), nascimento (janma) (e) morte (maraṇa). No entanto (punar), na realidade (parama-arthataḥ), não há nenhum (na... kiñcid vidyate) "dharma" --o que se deve fazer-- (dharma), "adharma" --o que não se deve fazer-- (adharma), etc. (ādikam) no caso do próprio Ser (sva-ātmanaḥ), que é uma massa compacta (eka-ghanasya) de Consciência (cit) (e) Alegria (ānanda) ininterruptas (anavacchinna... iti)!||29||
Ainda sem notas explicativas
Estrofe 30
एवमसदर्थप्रतिभासने भ्रान्तेः सामर्थ्यं विचार्य तदुत्पत्तिमाह
एतत्तदन्धकारं यद्भावेषु प्रकाशमानतया।
आत्मानतिरिक्तेष्वपि भवत्यनात्माभिमानोऽयम्॥३०॥
एतत्तदन्धकारमित्येषा सा समनन्तरप्रतिपादिता विश्वमोहिनी पूर्णत्वाख्यातिरूपा भ्रान्तिर्यद्भावेषु प्रमातृप्रमेयरूपेषु विश्ववर्तिषु पदार्थेषु प्रकाशमानतया इति
... नाप्रकाशः प्रकाशते।
इति प्रकाशमानतान्यथानुपपत्त्या प्रकाशशरीरीभूतेषु आत्मनश्चैतन्यमहेश्वरादपृथग्भूतेषु सत्स्वपि योऽयमतिरेकेणामी भावा ग्राह्या बाह्या मत्तो भिन्नाश्च — इति अनात्माभिमानो वास्तवचिद्रूपतापहस्तनेन यत्तेष्ववास्तवं जडत्वापादनम्। अयमाशयः — भावप्रकाशनेऽन्यस्याप्रकाशरूपस्य बाह्यवासनादेर्हेतोरनुपपद्यमानत्वात्स्वात्मप्रकाश एव स्वतन्त्रोऽर्थान्नीलसुखादिना प्रकाशतेऽतः प्रमातृप्रमेयरूपतया चित्स्वरूपोऽहमेव प्रकाशे — इति यद्वास्तवं रूपं तन्न प्रकाशते केवलमेवावास्तवो भेदः प्रथते — इति तात्त्विकप्रथनाभावाद्भ्रान्तेरन्धकारेण रूपणम् — इति॥३०॥
Evamasadarthapratibhāsane bhrānteḥ sāmarthyaṁ vicārya tadutpattimāha
Etattadandhakāraṁ yadbhāveṣu prakāśamānatayā|
Ātmānatirikteṣvapi bhavatyanātmābhimāno'yam||30||
Etattadandhakāramityeṣā sā samanantarapratipāditā viśvamohinī pūrṇatvākhyātirūpā bhrāntiryadbhāveṣu pramātṛprameyarūpeṣu viśvavartiṣu padārtheṣu prakāśamānatayā iti
... nāprakāśaḥ prakāśate|
Iti prakāśamānatānyathānupapattyā prakāśaśarīrībhūteṣu ātmanaścaitanyamaheśvarādapṛthagbhūteṣu satsvapi yo'yamatirekeṇāmī bhāvā grāhyā bāhyā matto bhinnāśca — Iti anātmābhimāno vāstavacidrūpatāpahastanena yatteṣvavāstavaṁ jaḍatvāpādanam| Ayamāśayaḥ — Bhāvaprakāśane'nyasyāprakāśarūpasya bāhyavāsanāderhetoranupapadyamānatvātsvātmaprakāśa eva svatantro'rthānnīlasukhādinā prakāśate'taḥ pramātṛprameyarūpatayā citsvarūpo'hameva prakāśe — Iti yadvāstavaṁ rūpaṁ tanna prakāśate kevalamevāvāstavo bhedaḥ prathate — Iti tāttvikaprathanābhāvādbhrānterandhakāreṇa rūpaṇam — Iti||30||
Dessa forma (evam), (Abhinavagupta,) tendo examinado (vicārya) o poder (sāmarthyam) da confusão (bhrānteḥ) no que diz respeito à manifestação (pratibhāsane) de coisas (artha) não existentes (asat), falou (āha) sobre a sua origem (tad-utpattim) (na estrofe seguinte):
Essa mesma (etad tad) escuridão (andhakāram) que (yad) aparece (prakāśamānatayā) nas entidades positivas --sujeitos e objetos-- (bhāveṣu) se torna (bhavati) essa (ayam) concepção errônea (abhimānaḥ) sobre o não Ser (an-ātma) inclusive (api) nas (entidades positivas) que não são distintas (anatirikteṣu) do Ser (ātma)||30||
"Essa mesma (etad tad) escuridão (andhakāram... iti)" —(isto é,) essa mesma (eṣā sā) confusão (bhrāntiḥ) (ou) enganadora (mohinī) universal (viśva) que foi explicada anteriormente (samanantara-pratipāditā) (e) cuja natureza (rūpā) (consiste em) ignorância (akhyāti) sobre a (própria) Plenitude (pūrṇatva)— que (yad) "aparece" (prakāśamānatayā iti) nos bhāva-s --entidades positivas-- (bhāveṣu) —que não são (nada mais que uma massa de) entidades (padārtheṣu) universais (viśva-vartiṣu) na forma de (rūpeṣu) sujeitos (pramātṛ) (e) objetos (prameya)— (se torna) essa (ayam) concepção errônea (abhimānaḥ) sobre o não Ser (an-ātma) —a qual (yaḥ), devido à dualidade (atirekeṇa), (assume a forma de noções como:) "Essas (amī) entidades positivas (bhāvāḥ) (ou) cognoscíveis --sujeitos e objetos-- (grāhyāḥ) (são) externas (bāhyāḥ) e (ca) diferentes (bhinnāḥ) de mim (mattaḥ... iti)"— inclusive (api) nas (entidades positivas) que são reais (satsu) (e) não diferentes (apṛthak-bhūteṣu) do Ser (ātmanaḥ) (ou) Grande Senhor (mahā-īśvarāt), que é Consciência em Liberdade Absoluta (caitanya), tendo assumido forma corporal (śarīrī-bhūteṣu) a partir da (Sua) Luz (prakāśa), visto que a manifestação (dessas entidades positivas) não pode ser provada de outro modo (prakāśamānatā-anyathā-anupapattyā) (segundo o axioma:)
"... o que não é (a Sua) Luz (aprakāśaḥ) não (na) se manifesta (prakāśate... iti)."
(Tal concepção errônea sobre o não Ser) faz com que essas (entidades positivas) cheguem a (teṣu... āpādanam) um estado inerte e bruto (jaḍatva) —o qual (yad) (é) irreal (avāstavam)— devido ao ato de descartar (apahastanena) a natureza essencial (rūpatā) da Consciência (cit), a qual é Real (vāstava).
Esta (ayam) (foi) a intenção (de Abhinavagupta quando escreveu a estrofe em análise) (āśayaḥ): Como há insuficiência de meios para provar (anupapadyamānatvāt) (a existência) de outra (anyasya) causa (hetoḥ) não manifestada --desprovida da Sua Luz-- (aprakāśa-rūpasya) como vāsanā-s ou tendências (vāsanā) externas (bāhya), etc. (ādeḥ) com referência à manifestação (prakāśane), (então é) unicamente (eva) a Livre (svatantraḥ) Luz (prakāśaḥ) do próprio (sva) Ser (ātma) (que), segundo as circunstâncias (arthāt), manifesta-se (prakāśate) como cor azul, prazer, etc. (nīla-sukha-ādinā). É por isso que (atas) "Eu mesmo (ahameva), ao ser essencialmente (sva-rūpaḥ) Consciência (cit), manifesto-me (prakāśe) na forma de (rūpatayā) conhecedores --sujeitos-- (pramātṛ) (e) cognoscíveis --objetos-- (prameya)". (Portanto,) Isto --Aham ou "Eu", o Ser-- (tad), que (yad) (é) a Natureza (rūpam) Real (vāstavam), não (na) se manifesta (prakāśate), (e sim é) apenas (kevalam eva) a irreal (avāstavaḥ) dualidade (bhedaḥ) que aparece (prathate) --apenas a dualidade irreal se manifesta, enquanto a Natureza Real ou Senhor chamada "Eu" permanece não manifesta--. Dessa forma (iti), a descrição metafórica (rūpaṇam) da confusão (bhrānteḥ) como escuridão (andhakāreṇa) se deve à ausência (abhāvāt) de manifestação (prathana) do que é Real (tāttvika... iti)||30||
Ainda sem notas explicativas
Estrofe 31
आत्मन्यनात्माभिमानपूर्वोऽनात्मन्यात्माभिमानो भवति — इति प्रतिपादयन्भ्रान्तेः सुतरां मोहरूपतामाह
तिमिरादपि तिमिरमिदं गण्डस्योपरि महानयं स्फोटः।
यदनात्मन्यपि देहप्राणादावात्ममानित्वम्॥३१॥
आदौ तावदेकसंवित्सतत्त्वेष्वपि भावेषु भेदमयं जाड्यापादनमख्यातितिमिरेण कृतं यत्स्वात्मनोऽभिन्नानां भावानां ततो भेदेन प्रथनमत एव तिमिरमिव तिमिरमख्यातिः। यथैकोऽपि चन्द्रश्चक्षुस्थेन रेखातिमिरेण द्विधा भास्यते द्वौ चन्द्राविति तथैवाख्यातितिमिरमेकमपि सर्वं स्वात्मस्वरूपं वस्तु भेदेनानात्मरूपं प्रकाशितवत्। एवमवस्थिते तिमिरमपरमायातं मोहान्मोहोऽयमापतितो गण्डस्योपरि पिटकोद्भवश्च यदख्यात्यपहस्तितचित्स्वरूपेष्वपि विश्ववर्तिषु पदार्थेषु जाड्यमापादितेषु मध्यादुद्धृते व्यतिरिक्ते जडे देहप्राणादौ वेद्यखण्डे कृशोऽहं स्थूलोऽहं क्षुधितोऽहं सुख्यस्मि न किञ्चिदहम् — इति प्रमातृतयानात्मभूते आत्ममानित्वमताद्रूप्ये ताद्रूप्यप्रतिपत्तिरेतदतिवैशसम्। यदि तावदात्माभिमानेन विना वैशसमस्ति तन्नीलसुखादिष्वप्यस्तु मा वा कुत्रापि भूद्यत्पुनः कतिपये जडे देहादौ लोष्टप्राय आत्मतयाहन्तारसाभिषेकोऽन्यत्र नीलसुखादाविदन्तयानात्मप्रतिपादनमेष एव पूर्णः संसारः शोचनीयो यदभिमानोपनतो द्वन्द्वाभिघातः कर्षति पशून् — इति। यदुक्तं मार्कण्डेयपुराणे योगिन्या मदालसया
यानं क्षितौ यानगतश्च देहो देहेऽपि चान्यः पुरुषो निविष्टः।
ममत्वमुर्व्यां न तथा यथा स्वे देहेऽतिमात्रं च विमूढतैषा॥
इति॥३१॥
Ātmanyanātmābhimānapūrvo'nātmanyātmābhimāno bhavati — Iti pratipādayanbhrānteḥ sutarāṁ moharūpatāmāha
Timirādapi timiramidaṁ gaṇḍasyopari mahānayaṁ sphoṭaḥ|
Yadanātmanyapi dehaprāṇādāvātmamānitvam||31||
Ādau tāvadekasaṁvitsatattveṣvapi bhāveṣu bhedamayaṁ jāḍyāpādanamakhyātitimireṇa kṛtaṁ yatsvātmano'bhinnānāṁ bhāvānāṁ tato bhedena prathanamata eva timiramiva timiramakhyātiḥ| Yathaiko'pi candraścakṣusthena rekhātimireṇa dvidhā bhāsyate dvau candrāviti tathaivākhyātitimiramekamapi sarvaṁ svātmasvarūpaṁ vastu bhedenānātmarūpaṁ prakāśitavat| Evamavasthite timiramaparamāyātaṁ mohānmoho'yamāpatito gaṇḍasyopari piṭakodbhavaśca yadakhyātyapahastitacitsvarūpeṣvapi viśvavartiṣu padārtheṣu jāḍyamāpāditeṣu madhyāduddhṛte vyatirikte jaḍe dehaprāṇādau vedyakhaṇḍe kṛśo'haṁ sthūlo'haṁ kṣudhito'haṁ sukhyasmi na kiñcidaham — Iti pramātṛtayānātmabhūte ātmamānitvamatādrūpye tādrūpyapratipattiretadativaiśasam| Yadi tāvadātmābhimānena vinā vaiśasamasti tannīlasukhādiṣvapyastu mā vā kutrāpi bhūdyatpunaḥ katipaye jaḍe dehādau loṣṭaprāya ātmatayāhantārasābhiṣeko'nyatra nīlasukhādāvidantayānātmapratipādanameṣa eva pūrṇaḥ saṁsāraḥ śocanīyo yadabhimānopanato dvandvābhighātaḥ karṣati paśūn — Iti| Yaduktaṁ mārkaṇḍeyapurāṇe yoginyā madālasayā
Yānaṁ kṣitau yānagataśca deho dehe'pi cānyaḥ puruṣo niviṣṭaḥ|
Mamatvamurvyāṁ na tathā yathā sve dehe'timātraṁ ca vimūḍhataiṣā||
Iti||31||
(Abhinavagupta,) enquanto estabelece (pratipādayan) que existe (bhavati) a errônea concepção (abhimānaḥ) de que o não Ser (an-ātmani) é o Ser (ātma) acompanhada (pūrvaḥ) da errônea concepção (abhimāna) de que o Ser (ātmani) é o não Ser (an-ātma), falou, (na seguinte estrofe,) (āha) sobre a (rūpatām) enganosa (moha) (e) fácil de cruzar (sutarām) da confusão (bhrānteḥ):
Essa (idam) escuridão (timiram) (que surge) inclusive (api) a partir da escuridão (timirāt), a qual (yad) (consiste em) pensar (mānitvam) que o não Ser (an-ātmani api) —p.ex.: corpo, energia vital, etc. (deha-prāṇa-ādau)— é o Ser (ātma), (pode ser comparada com) o grande infortúnio (mahā-anayam) (de ter) uma bolha (sphoṭaḥ) em (upari) um furúnculo (gaṇḍasya)||31||
No início (ādau), certamente (tāvat), o ato relacionado a fazer com que) as entidades positivas --sujeitos e objetos-- (bhāveṣu) —embora sejam da natureza (satattveṣu api) de uma única (eka) Consciência Pura (saṁvid)— cheguem a (āpādanam) um estado inerte ou bruto (jāḍya) repleto de (mayam) dualidade (bheda) é levado a cabo (kṛtam) pela escuridão (timireṇa) (conhecida como) a ignorância primordial --o Āṇavamala em seu aspecto Pauruṣājñāna (ignorância sobre o Ser) caracterizado pela "não Plenitude"-- (akhyāti), o qual (yad) (gera) manifestação ou exposição (prathanam) de entidades positivas (bhāvānām) que não são diferentes (abhinnānām) do próprio Ser (sva-ātmanaḥ) em dualidade --com um estado de diferença ou separação-- (bhedena) em relação a Ele (tatas). Por essa mesma razão (atas eva), "timira" -- lit. "escuridão"-- (timiram)—, (também denominada) ignorância primordial (akhyātiḥ), (é exatamente) como (iva) (isso, ou seja, como a) escuridão (timiram).
Assim como (yathā) a lua (candraḥ), embora (seja) (api) uma (ekaḥ), apareça (bhāsyate) como dupla (dvidhā) devido a uma cegueira parcial (rekhā-timireṇa) que reside (sthena) nos olhos (cakṣu) —(o que provoca a expressão:) "(Há) duas (dvau) luas (candrau... iti)!"—, da mesma forma (tathā eva), a escuridão (timiram) da ignorância primordial (akhyāti) manifestou (prakāśitavat) toda (sarvam) a realidade (vastu) como (rūpam) o não Ser (an-ātma) em dualidade (bhedena), embora (tal realidade) (api) seja única (eka) (e) da natureza (sva-rūpam) do próprio (sva) Ser (ātma).
Dessa forma (evam), outra (aparam) escuridão (timiram) --Āṇavamala em seu aspecto Bauddhājñāna (ignorância intelectual) caracterizado pela noção de que o não Ser é o Ser-- se aproxima (āyātam) (e) essa (ayam) (nova) ilusão (mohaḥ) (surgida) a partir de Moha ou Māyā --tattva ou categoria 6-- (mohāt) desce (āpatitaḥ) sobre a (escuridão) que (já) se havia colocado (avasthite), (como) o desenvolvimento (udbhavaḥ) de uma bolha (piṭaka) em (upari) um furúnculo (gaṇḍasya). (E) aquilo que (é como uma bolha ou furúnculo) --ou seja, essa escuridão (Bauddhājñāna) que surge inclusive da escuridão (Pauruṣājñāna)-- (yad) (consiste em) pensar (mānitvam) que o que é (bhūte) o não Ser (an-ātma) e aparece como um conhecedor limitado --"uma pessoa"-- (pramātṛtayā) é o Ser (ātma) —(em suma,) consiste em supor (pratipattiḥ) que o que não é a própria identidade (atādrūpye) é a própria identidade (tādrūpya)—. (Quando aparece essa nova escuridão ou Bauddhājñāna?) Quando uma seção (khaṇḍe) dos cognoscíveis (vedya) inertes ou brutos (jaḍe), —tais como corpo (deha), energia vital (prāṇa), etc. (ādau)— é selecionada (uddhṛte) separadamente (vyatirikte) dentre (madhyāt) (a massa de) entidades (padārtheṣu) universais (viśva-vartiṣu) --sujeitos e objetos--, (os quais,) embora (api) sejam essencialmente (sva-rūpeṣu) Consciência (cit), descartaram (apahastita) (a sua natureza essencial) devido à ignorância primordial --Āṇavamala-- (akhyāti) (e, como consequência.) foram levados a (āpāditeṣu) um estado bruto ou inerte (jāḍyam). (Após ocorrer tal seleção, emergem as seguintes noções:) "Eu (aham) (sou) magro (kṛśaḥ)", "Eu (aham) (sou) gordo (sthūlaḥ)", "Eu (aham) (estou) com fome (kṣudhitaḥ)", "Eu (aham) (estou) feliz (sukhī)", "Eu (aham) (não sou) nada (na kiñcid... iti)". E isso (etad) (é realmente) muito adverso --uma grande calamidade-- (ativaiśasam)!
Como seria se (yadi tāvat) houvesse (asti) (a mesma) calamidade, (denominada segunda escuridão, que descende da primeira escuridão) (vaiśasam) (mas) sem (vinā) a errônea concepção (abhimānena) de que o (não Ser é o) Ser (ātma) (da forma como foi explicado no parágrafo anterior, ou seja, sem selecionar primeiro objetos cognoscíveis específicos tais como corpo, energia vital, etc. para identificar-se com eles)? (Por exemplo, como seria) essa (calamidade se) (tad) existisse (astu) inclusive (api) (a concepção errônea) de que (objetos externos tais como) cor azul, prazer, etc. (nīla-sukha-ādiṣu) (são o Ser, ou seja, "si próprio")? (O mesmo) pode certamente acontecer --lit. que não possa acontecer!-- (mā... bhūt) em algum outro (kutra-api) (lugar), opcionalmente (vā)! De qualquer forma (punar), essa (calamidade) (yad) (está ocorrendo) em um certo número (katipaye) de objetos inertes ou brutos (jaḍe) que se assemelham (prāye) a pedaços de argila (loṣṭa) (tais como) corpo, etc. (deha-ādau), os quais, devido à presença do estado do Ser (ātmatayā) (neles até certo ponto,) recebem um borrifo (abhiṣekaḥ) da seiva (rasa) de Aham --"Eu"-- (ahantā). No outro caso (anyatra), ensina-se (pratipādanam) que objetos (externos tais como) cor azul, prazer, etc. (nīla-sukha-ādau) são o não Ser (an-ātma) dotado do estado de Idam --"Isto"-- (idantayā). Isso (eṣaḥ) (é) apenas (eva) plena (pūrṇaḥ) Transmigração --miséria na forma de ir de uma coisa a outra coisa, de um pensamento a outro pensamento, de um corpo a outro corpo-- (saṁsāraḥ), o qual é deplorável (śocanīyaḥ). (Tal miserável Transmigração) produzida (upanataḥ) pela (previamente mencionada) concepção errônea (abhimāna) sobre Isso --o Ser-- (yad) domina (karṣati) os indivíduos limitados (paśūn) prejudicando (abhighātaḥ)(-os) através dos pares de opostos (dvandva... iti).
Essa (mesma verdade) (yad) foi expressada (uktam) pela Yoginī (yoginyā) (chamada) Madālasā (madālasayā) no Mārkaṇḍeyapurāṇa (mārkaṇḍeya-purāṇe):
"Um veículo (yānam) (permanece) sobre a terra (kṣitau) e (ca) um corpo (deha) está (gataḥ) no veículo (yāna), e (ca) outro (anyaḥ), (isto é,) uma pessoa (puruṣaḥ), reside (niviṣṭaḥ) inclusive (api) nesse corpo (dehe). O seu 'estado de meu' --senso de propriedade-- (mamatvam) com relação à terra (urvyām) não é (na) tanto (tathā) quanto (yathā) o extremamente excessivo (atimātram) (estado de meu ou senso de propriedade) com relação ao seu próprio corpo (sve dehe) realmente (ca). Esse (eṣā) (é) um estado de confusão ou tolice (vimūḍhatā... iti)."
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Ainda sem notas explicativas
Informação adicional
Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.
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