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Aprendendo Sânscrito - Citações sânscritas 1
Famosas citações sânscritas - Parte 1
Introdução
Olá, sou Gabriel Pradīpaka. Esse é o primeiro documento de Citações sânscritas. Concebi este documento como um documento de prática. Você vai poder ler citações sânscritas de diferentes autores. Embora seja verdade que lhe mostrarei muitas citações extraídas de escrituras do Trika ou Shaivismo não-dual da Caxemira (o sistema filosófico que ensino), haverá citações de outras tradições também. Espero que você utilize este documento para praticar completamente o Sânscrito. Você pode praticar a escrita em Devanāgarī bem como a Declinação, Conjugação de Verbos, etc. À medida que eu explicar todos esses assuntos para você, usarei essas citações, sem dúvida.
Além da prática sânscrita, há vários ensinamentos contidos nas próprias citações. Então, é uma grande chance para você aprender um pouco mais sobre esta imensa cultura. A literatura sânscrita é realmente gigantesca. De fato, não tem rival quanto ao "tamanho", em todo o sentido da palavra. Então, você é certamente sortudo, pois será capaz de desfrutar e desfrutar o Sânscrito indefinidamente. O seu tempo de vida não é o bastante para terminar de ler tudo o que está escrito em Sânscrito, então a sua felicidade nunca terminará.
Importante: Tudo que está entre parênteses e no itálico, na tradução, foi adicionado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que estiver entre hífens duplos (--...--) constitui informação adicional, adicionada por por mim para clarificar, exceto quando esses hífens duplos contêm uma palavra traduzida em vermelho.
Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.
O sábio Vasugupta descobre os Śivasūtra-s
De acordo com o sábio Kṣemarāja (século X D.C.), esta é a história real do descobrimento dos Śivasūtra-s. Essa escritura sagrada é o escrito primordial do Trika ou Shaivismo não-dual da Caxemira.
इह कश्चिच्छक्तिपातवशोन्मिषन्माहेश्वरभक्त्यतिशयादनङ्गीकृताधरदर्शनस्थनागबोध्यादिसिद्धादेशनः शिवाराधनपरः पारमेश्वरनानायोगिनीसिद्धसत्सम्प्रदायपवित्रितहृदयः श्रीमहादेवगिरौ महामाहेश्वरः श्रीमान् वसुगुप्तनामा गुरुरभवत्। कदाचिच्चासौ द्वैतदर्शनाधिवासितप्राये जीवलोके रहस्यसम्प्रदायो मा विच्चेदीत्याशयतोऽनुजिघृक्षापरेण परमशिवेन स्वप्नेऽनुग्रह्योन्मिषितप्रतिभः कृतो यथात्र महीभृति महति शिलातले रहस्यमस्ति तदधिगम्यानुग्रहयोग्येषु प्रकाशयेति। प्रबुद्धश्चासावन्विष्यंस्तां महतीं शिलां करस्पर्शनमात्रपरिवर्तनतः संवादीकृतस्वप्नां प्रत्यक्षीकृत्येमानि शिवोपनिषत्सङ्ग्रहरूपाणि शिवसूत्राणि ततः समाससाद। एतानि च सम्यगधिगम्य भट्टश्रीकल्लटाद्येषु सच्छिष्येषु प्रकाशितवान् स्पन्दकारिकाभिश्च सङ्गृहीतवान्। तत्पारम्पर्यप्राप्तानि स्पन्दसूत्राण्यस्माभिः स्पन्दनिर्णये सम्यग्निर्णीतानि। शिवसूत्राणि तु निर्णीयन्ते॥
तत्र प्रथमं नरेश्वरभेदवादिप्रातिपक्ष्येण चैतन्यपरमार्थतः शिव एव विश्वस्यात्मेत्यादिशति-
Iha kaścicchaktipātavaśonmiṣanmāheśvarabhaktyatiśayādanaṅgīkṛtādharadarśanasthanāgabodhyādisiddhādeśanaḥ śivārādhanaparaḥ pārameśvaranānāyoginīsiddhasatsampradāyapavitritahṛdayaḥ śrīmahādevagirau mahāmāheśvaraḥ śrīmān vasuguptanāmā gururabhavat| Kadāciccāsau dvaitadarśanādhivāsitaprāye jīvaloke rahasyasampradāyo mā viccedītyāśayato'nujighṛkṣāpareṇa paramaśivena svapne'nugrahyonmiṣitapratibhaḥ kṛto yathātra mahībhṛti mahati śilātale rahasyamasti tadadhigamyānugrahayogyeṣu prakāśayeti| Prabuddhaścāsāvanviṣyaṁstāṁ mahatīṁ śilāṁ karasparśanamātraparivartanataḥ saṁvādīkṛtasvapnāṁ pratyakṣīkṛtyemāni śivopaniṣatsaṅgraharūpāṇi śivasūtrāṇi tataḥ samāsasāda| Etāni ca samyagadhigamya bhaṭṭaśrīkallaṭādyeṣu sacchiṣyeṣu prakāśitavān spandakārikābhiśca saṅgṛhītavān| Tatpāramparyaprāptāni spandasūtrāṇyasmābhiḥ spandanirṇaye samyagnirṇītāni| Śivasūtrāṇi tu nirṇīyante||
Tatra prathamaṁ nareśvarabhedavādiprātipakṣyeṇa caitanyaparamārthataḥ śiva eva viśvasyātmetyādiśati-
Nesse mundo (iha), sobre a venerável (śrī) montanha (girau) Mahādeva (mahādeva), (vivia) alguém (kaścid) digno de reverência (śrīmān). Seu coração (hṛdayaḥ) havia sido purificado (pavitrita) pela Nobre (sat) Tradição (sampradāya) dos diversos (nānā) Seres Aperfeiçoados (siddha) e Yoginī-s (yoginī) do Senhor Supremo (pārameśvara). Estava consagrado (paraḥ) à adoração (ārādhana) do Auspicioso (śiva). Devido a um excesso (atiśayāt) de devoção (bhakti) ao Grande Senhor (māheśvara), a qual --devoção-- se manifestava brilhantemente (nele) (unmiṣat) por causa (vaśa) da Descida (pāta) de Poder (śakti) --a Graça Divina--, ele dava um ensinamento (ādeśanaḥ) que não estava de acordo (anaṅgīkṛta) com a dada por Seres Aperfeiçoados (em Budismo) (siddha), tais como Nāgabodhi (nāgabodhi) e o resto (ādi), os quais estavam ocupados (stha) com inferiores (adhara) pontos de vista (darśana). Era (abhavat) um grande devoto do Senhor (mahāmāheśvaraḥ) e um Guru (guruḥ). Seu nome (nāmā): Vasugupta (vasugupta).
E (ca), certa vez (kadācid), o Supremo (parama) Śiva (śivena), disposto (pareṇa) a mostrar Favor (anujighṛkṣā) e munido da intenção (iti-āśayataḥ): "Que a Secreta (rahasya) Tradição (sampradāyaḥ) não (mā) se interrompa (vicchedi) neste mundo (loke) de seres viventes (jīva) em sua maioria (prāye) perfumado (adhivāsita) pelo ponto de vista (darśana) dualista (dvaita)!"; expandiu (unmiṣita... kṛtaḥ) em sonho (svapne) a consciência (pratibhaḥ) desse (Vasugupta) (asau), conferindo-lhe Graça Divina (anugrahya). (Disse-lhe) assim (yathā... iti):
"Aqui mesmo (atra), nesta montanha (mahībhṛti), encontra-se (asti) O Secreto Ensinamento Esotérico (rahasyam) debaixo de (tale) uma grande (mahati) pedra (śilā). Após tê-lo obtido (tat adhigamya), revele-a (prakāśaya) aos que são aptos (yogyeṣu) para receber Graça Divina (anugraha)".
Depois de desperto (prabuddhaḥ ca), ele --Vasugupta-- (asau) começou a buscar (anviṣyan) essa (tām) grande (mahatīm) pedra (śilām). (E, tendo-a encontrado,) virou-a (parivartanataḥ) com um mero (mātra) toque (sparśana) da mão (kara), vendo com seus próprios olhos (pratyakṣīkṛtya) o sonho (svapnām) confirmado (saṁvādīkṛta). Deste modo (tatas) ele obteve (samāsasāda) esses (imāni) Aforismos (sūtrāṇi) de Śiva (śiva), os quais (rūpāṇi) são um compêndio (saṅgraha) da Doutrina Esotérica (upaniṣad) de Śiva (śiva).
E (ca), tendo-os estudado (etāni... adhigamya) completamente (samyak), revelou-os (etāni... prakāśitavān) a nobres (sad) discípulos (śiṣyeṣu) (tais como) o muito venerável (bhaṭṭaśrī) Kallaṭa (kallaṭa) e outros (ādyeṣu), e (ca) os compendiou (etāni... saṅgṛhītavān) na forma das Spandakārikā-s (spandakārikābhiḥ). Os aforismos (sūtrāṇi) que tratam sobre a Vibração Primordial (spanda) --ou seja, as Spandakārikā-s ou Spandasūtra-s--, obtidos (prāptāni) a partir dessa (tad) ininterrupta sucessão de discípulos (panorama), foram totalmente (samyak) investigados (nirṇītāni) por nós (asmābhiḥ) no Spandanirṇaya (spandanirṇaye). E agora (tu), os Śivasūtra-s (śivasūtrāṇi) estão sendo investigados (nirṇīyante).
Neles --ou seja, nos Śivasūtra-s-- (tatra), ensina-se (ādiśati) primeiramente (prathamam), em total oposição (prātipakṣyeṇa) aos que seguem a doutrina (vādi) da diferença (bheda) entre o homem (nara) e o Senhor (īśvara), que "unicamente (eva) Śiva (śivaḥ), no mais alto sentido (paramārthatas) da (palavra) Consciência (caitanya), (é) o Ser (ātmā) do universo (viśvasya... iti)".—
O sábio Patañjali dá o significado de Concentração
Segundo o sábio Patañjali, esta é a verdadeira Concentração:
देशबन्धश्चित्तस्य धारणा॥१॥
Deśabandhaścittasya dhāraṇā||1||
Concentração (dhāraṇā) é a fixação (bandhaḥ) da mente (cittasya) em um ponto (deśa)||1||
(Yogasūtra-s de Patañjali, 1o aforismo, Terceira Seção)
Svacchandatantra dá o significado de Śakti
A escritura sagrada conhecida como Svacchandatantra investiga a verdadeira natureza da Śakti (o Poder Universal):
तस्मात्सा तु परा विद्या यस्मादन्या न विद्यते।
विन्दते ह्यत्र युगपत्सार्वज्ञादिगुणान्परान्॥
वेदनानादिधर्मस्य परमात्मत्वबोधना।
वर्जनापरमात्मत्वे तस्माद्विद्येति सोच्यते॥
तत्रस्थो व्यञ्जयेत्तेजः परं परमकारणम्।
परस्मिंस्तेजसि व्यक्ते तत्रस्थः शिवतां व्रजेत्॥
Tasmātsā tu parā vidyā yasmādanyā na vidyate|
Vindate hyatra yugapatsārvajñādiguṇānparān||
Vedanānādidharmasya paramātmatvabodhanā|
Varjanāparamātmatve tasmādvidyeti socyate||
Tatrastho vyañjayettejaḥ paraṁ paramakāraṇam|
Parasmiṁstejasi vyakte tatrasthaḥ śivatāṁ vrajet||
Portanto (tasmāt), como (yasmāt) não há (vidyate) nenhuma (na) outra (anyā) (como Ela), Ela --a Śakti-- (sā) é a mais alta (parā) Vidyā ou Conhecimento (vidyā), na verdade (tu). Quando ocorre isso (atra) (ou seja, quando aparece o resplendor de felicidade conhecido como Vidyā, o Yogī) certamente (hi) adquire (vindate) as maiores (parān) qualidades (guṇān), tais como Onisciência (sārvajñya), etc. (ādi) tudo ao mesmo tempo --simultaneamente-- (yugapad).
(Já que) Ela produz investigação (vedanā) da característica (dharmasya) sem começo (anādi) (de Śiva; já que) Ela produz o conhecimento (bodhanā) do Mais Alto ser (paramātmatva) e (já que) Ela exclui (varjanā) tudo o que não é o Supremo Ser (aparamātmatve); Ela (sā) é, devido a isso (tasmāt) chamada de (iti... ucyate) Vidyā (vidyā).
Estabelecido (sthaḥ) Nisso (tatra), (o supracitado Yogī) pode manifestar (vyañjayet) o mais alto (param) Esplendor (tejaḥ), a suprema (parama) Causa (kāraṇa). Estabelecido (sthaḥ) nesse (tatra) manifesto (vyakte) e supremo (parasmin) Esplendor (tejasi), ele pode alcançar (vrajet) o estado de Śiva (śivatām).
(Svacchandatantra, IV, 396-7)
Abhinavagupta define a causa da escravidão
O grande Mestre do Shaivismo não-dual da Caxemira (Trika) não só define a causa da própria escravidão, como também mostra uma saída:
विकल्पबलादेव जन्तवो बद्धमात्मानमभिमन्यन्ते।
सोऽभिमानः संसारप्रतिबन्धहेतुः।
अतः प्रतिद्वरूपो विकल्प उदितः संसारहेतुं विकल्पं दलयतीत्यभ्युदयहेतुः॥
Vikalpabalādeva jantavo baddhamātmānamabhimanyante|
So'bhimānaḥ saṁsārapratibandhahetuḥ|
Ataḥ pratidvarūpo vikalpa uditaḥ saṁsārahetuṁ vikalpaṁ dalayatītyabhyudayahetuḥ||
As pessoas (jantavaḥ) pensam (abhimanyante) que elas mesmas (ātmānam) estão atadas (baddham) por causa (balāt eva) dos pensamentos (vikalpa). Essa (saḥ) concepção (abhimānaḥ) é a causa (hetuḥ) da sua atadura (pratibandha) à existência transmigratória (saṁsāra). Por esse motivo (atas), quando um pensamento (vikalpaḥ) oposto (pratidvandvirūpaḥ) brota (uditaḥ), expulsa (dalayati) o pensamento (vikalpam) que é a causa (hetum) da existência transmigratória (saṁsāra). Desse modo (iti), (esse pensamento) é a causa (hetuḥ) da elevação (dessas mesmas pessoas) (abhyudaya).
O Senhor Kṛṣṇa expõe a chave do Karmayoga (Yoga da ação)
Na Bhagavadgītā, Kṛṣṇa ensina a Arjuna a chave do Karmayoga (Yoga da Ação). Por meio do Karmayoga, pode-se atingir equanimidade entre as continuamente mutantes experiências da vida:
कर्मण्येवाधिकारस्ते मा फलेषु कदाचन।
मा कर्मफलहेतुर्भूर्मा ते सङ्गोऽस्त्वकर्मणि॥४७॥
Karmaṇyevādhikāraste mā phaleṣu kadācana|
Mā karmaphalaheturbhūrmā te saṅgo'stvakarmaṇi||47||
Seu (te) direito (adhikāraḥ) é unicamente (eva) em relação à ação (karmaṇi), nunca, em nenhum momento, (mā kadā cana) com relação aos frutos ou resultados (dessa ação) (phaleṣu). Não (mā) seja (bhūs) a causa (hetuḥ) dos frutos (phala) das ações (karma), (e que) o apego (saṅgaḥ) à inação --akarma-- (akarmaṇi) (também) não seja (mā... astu) seu (te).
(Bhagavadgītā, II-47)
Oração propiciatória de Kṣemarāja a Śaṅkara
Kṣemarāja, um renomado professor e comentarista pertencente à tradição Trika, começa seu famoso comentário sobre os veneráveis Śivasūtra-s (i.e. Śivasūtravimarśinī) com uma oração em homenagem a Śaṅkara (a Consciência Absoluta). Note que os termos "Rudra-s" e "Kṣetrajña-s" na oração referem-se a seres libertos e limitados, respectivamente.
रुद्रक्षेत्रज्ञवर्गः समुदयति यतो यत्र विश्रान्तिमृच्छेद्-
यत्तत्त्वं यस्य विश्वं स्फुरितमयमियद्यन्मयं विश्वमेतत्।
स्वाच्छन्द्यानन्दवृन्दोच्छलदमृतमयानुत्तरस्पन्दतत्त्वं
चैतन्यं शाङ्करं तज्जयति यदखिलं द्वैतभासाद्वयात्म॥
Rudrakṣetrajñavargaḥ samudayati yato yatra viśrāntimṛcched-
yattattvaṁ yasya viśvaṁ sphuritamayamiyadyanmayaṁ viśvametat|
Svācchandyānandavṛndocchaladamṛtamayānuttaraspandatattvaṁ
caitanyaṁ śāṅkaraṁ tajjayati yadakhilaṁ dvaitabhāsādvayātma||
Essa (tad) Consciência (caitanyam) de Śaṅkara (śāṅkaram), que (yad) (é) totalmente (akhilam) não-dual (advaya-ātma) (mas tem) aparência ou brilho (bhāsa) de dualidade (dvaita), que (yad) (é) a Realidade (tattvam) a partir da qual (yatas) surge (samudayati) a classe ou grupo (vargaḥ) de Rudra-s (rudra) (e) Kṣetrajña-s (kṣetrajña) (e) na qual (yatra) finalmente repousa (viśrāntim ṛcchet), cujo (yasya) universo (viśvam) consiste (mayam) de uma pulsação (sphurita) --ou também, uma tradução alternativa seria "cujo universo se faz manifesto a partir Dela Mesma"--, cuja (yasya) extensão (iyat) (é) este (mesmo) (etad) universo (viśvam) que está cheio (mayam) Disso --ou seja, dessa supracitada Consciência-- (yad), triunfa --isto é, "é vitoriosa"-- (jayati). (Em suma, essa Consciência de Śaṅkara é) o princípio (tattvam) da Vibração Primordial (spanda) de Anuttara --isto é, "Śiva, o Ser Supremo"-- (anuttara) que está composto (maya) do Néctar (amṛta) que emerge (ucchalat) de uma Massa (vṛnda) de Liberdade (svācchandya) e Felicidade (ānanda).
(Ao início da Śivasūtravimarśinī)
Śiva fala com Pārvatī acerca de Kuṇḍalinī, Aham, Visarga, Guru e Mantra no Siddhāmṛta
O Próprio Śiva ensina a Pārvatī (sua consorte) a natureza de Kuṇḍalinī, Aham e Visarga, e as características de Guru e Mantra.
... उक्तं च श्रीसिद्धामृते
सात्र कुण्डलिनी बीजजीवभूता चिदात्मिका।
तज्जं ध्रुवेच्छोन्मेषाख्यं त्रिकं वर्णास्ततः पुनः॥
आ इत्यवर्णादित्यादि यावद्वैसर्गिकी कला।
ककारादिसकारान्ताद्विसर्गात्पञ्चधा स च॥
बहिश्चान्तश्च हृदये नादेऽथ परमे पदे।
बिन्दुरात्मनि मूर्धान्ते हृदयाद्व्यापको हि सः।
आदिमान्त्यविहीनास्तु मन्त्राः स्युः शरदभ्रवत्।
गुरोर्लक्षणमेतावदादिमान्त्यं च वेदयेत्॥
पूज्यः सोऽहमिव ज्ञानी भैरवो देवतात्मकः।
श्लोकगाथादि यत्कञ्चिदादिमान्त्ययुतं यतः।
तस्माद्विदंस्तथा सर्वं मन्त्रत्वेनैव पश्यति।
इति।...
... Uktaṁ ca śrīsiddhāmṛte
Sātra kuṇḍalinī bījajīvabhūtā cidātmikā|
Tajjaṁ dhruvecchonmeṣākhyaṁ trikaṁ varṇāstataḥ punaḥ||
Ā ityavarṇādityādi yāvadvaisargikī kalā|
Kakārādisakārāntādvisargātpañcadhā sa ca||
Bahiścāntaśca hṛdaye nāde'tha parame pade|
Bindurātmani mūrdhānte hṛdayādvyāpako hi saḥ|
Ādimāntyavihīnāstu mantrāḥ syuḥ śaradabhravat|
Gurorlakṣaṇametāvadādimāntyaṁ ca vedayet||
Pūjyaḥ so'hamiva jñānī bhairavo devatātmakaḥ|
Ślokagāthādi yatkañcidādimāntyayutaṁ yataḥ|
Tasmādvidaṁstathā sarvaṁ mantratvenaiva paśyati|
iti|...
...
Na venerável (śrī) Siddhāmṛta (siddhāmṛte), (foi) também (ca) declarado (uktam) (por Śiva Mesmo a Pārvatī, sua consorte):
"Aqui (atra), essa (sā) Kuṇḍalinī (ghana), cuja natureza (ātmikā) é a Consciência (cit), é (bhūtā) a Semente (bīja) e a Vida (jīva). De novo e de novo (punar), surge (jam) dessa (tad) Morada (astataḥ) de letras (varṇa) uma tríade (trikam) composta (ākhyam) por Dhruva (dhruva), Icchā (icchā) (e) Unmeṣa (unmeṣa) --isto é, as vogais "a, i e u", respectivamente--.
A partir da letra (varṇāt) "a" (a) (emerge) "ā" (ā iti), e assim sucessivamente (iti-ādi), justamente até (yāvat) a porção (kalā) do Visarga (vaisargikī) --Parāparavisarga ou "ḥ", para ser preciso--. Do Visarga (visargāt) (se produz o grupo de letras) que começa (ādi) na letra (kāra) "ka" (ka) (e) termina --anta-- (antāt) na letra (kāra) "sa" (sa). E (ca), (por sua vez,) esse (Visarga) (saḥ) (aparece) em cinco maneiras (pañcadhā):
(1) Fora, (na forma do universo) (bahis) e (ca... ca) dentro (antar), (2) no coração (hṛdaye), (3) em nāda --isto é, na garganta, nesse caso-- (nāde) (e) certamente (atha) (4) na Etapa (pade) Suprema (parama) --entre as sobrancelhas--. (Ademais,) esse (saḥ) Bindu --ou seja, Visarga-- (binduḥ) indubitavelmente (hi) penetra (vyāpakaḥ) do coração (hṛdayāt) até (5) o topo (ante) do crânio (mūrdha), (em outras palavras), até o (Próprio) Ser (ātmani).
Entretanto (tu), os mantra-s (mantrāḥ) desprovidos (vihīnāḥ) de "a" (a) inicial (ādi) (e) "ma" (ma) final (antya) --desprovidos de "aham" ou Eu, Śiva--, são (syuḥ) como (vat) nuvens (abhra) outonais (śarat). A característica (essencial) (laksaṇam) de um Guru (guroḥ) (é que) ele explica (a seus discípulos) (ca vedayet) (esse Mahāmantra ou Grande Mantra) cuja medida (etāvat) (é como segue:) começa (ādi) com "a" (a) (e) termina (antyam) com "ma" (ma) --como é óbvio, refere-se a "Aham" ou Eu, Śiva--.
Esse (saḥ) Conhecedor (jñānī), (esse) Divino (devatā-ātmakaḥ) Bhairava (bhairavaḥ), deve ser adorado (pūjyaḥ) como (iva) Eu Mesmo (aham). Em vista de que (yatas) --para esse Guru-- qualquer coisa (yatkiñcid), quer seja um hino de louvação (śloka), uma canção laudatória (ghāthā), etc. (ādi), está unida ou conectada (yutam) com (o Mahāmantra ou Grande Mantra) que começa (ādi) com "a" (a) (e) termina (antya) com "ma" (ma); portanto (tasmāt), (tal Guru,) ao conhecer (vidan) desse modo (tathā), vê (paśyati) tudo (sarvam) somente (eva) como sendo um Mantra (mantratvena... iti)"|...
Jayaratha explica a natureza do "a", a Letra Suprema
Enquanto comentava o Tantrāloka (uma importante e massiva escritura composta pelo sábio Abhinavagupta), Jayaratha (um famoso comentarista) define a natureza de Anuttara --ou seja, a vogal "a"-- em uma única e curta frase. O "a" é o Próprio Śiva, sem dúvida. O termo Anuttara poderia ser traduzido como "mais alto que o qual não há nada", em suma, a Última Realidade.
अकारः सर्ववर्णानामन्तर्यामितया स्थितः।
Akāraḥ sarvavarṇānāmantaryāmitayā sthitaḥ|
A letra (kāraḥ) "a" (a) reside (sthitaḥ) como o controlador (yāmitayā) interno (antar) de todas (sarva) as letras --varṇa-- (varṇānām) (dentro dessas mesmas letras).
O venerável Sarvajñānottara (uma escritura) nega o conhecido e comum significado do termo "Mantra"
Mesmo apesar de o termo "Mantra" ser usada comumente com o sentido de "palavra sagrada" ou algo assim, o venerável Sarvajñānottara nega esse uso comum mas errôneo do termo. Ouça e aprenda:
उच्चार्यमाणा ये मन्त्रा न मन्त्रांश्चापि तान्विदुः।
मोहिता देवगन्धर्वा मिथ्याज्ञानेन गर्विताः॥
Uccāryamāṇā ye mantrā na mantrāṁścāpi tānviduḥ|
Mohitā devagandharvā mithyājñānena garvitāḥ||
Não são (na) mantra-s (mantrāḥ) os que (ye) se pronunciam (uccāryamāṇāḥ). Inclusive (ca api) os invaidecidos (mohitāḥ) (e) convencidos (garvitāḥ) deuses (deva) (e) músicos celestiais (gandharvāḥ), devido ao conhecimento ilusório (mithyā-jñānena), consideram (viduḥ) esses (tān) como mantra-s (mantrān).
Tecnicamente falando, "Mantra" não é uma palavra sagrada, mas sim a mente de uma pessoa que atingiu absorção nessa palavra sagrada. O primeiro aforismo da segunda seção dos Śivasūtra-s confirma minha afirmação. Por sua vez, Kṣemarāja explica em detalhes o ensinamento oculto dado nesse aforismo por meio de sua Śivasūtravimarśinī (o mais importante comentário sobre os Śivasūtra-s). Ele diz o seguinte:
Kṣemarāja comenta sobre o primeiro aforismo da segunda seção dos Śivasūtra-s
O primeiro aforismo da 2a seção dos Śivasūtra-s declara que: "Cittaṁ mantraḥ", isto é, "A mente (de alguém que reflete intensamente sobre o Mantra) é o (próprio) Mantra". Kṣemarāja se estende sobre esse tema no seu comentário. Selecionei um fragmento dele. Preste atenção:
अथ च मन्त्रदेवताविमर्शपरत्वेन प्राप्ततत्सामरस्यमाराधकचित्तमेव मन्त्रो न तु विचित्रवर्णसङ्घट्टनामात्रकम्।
Atha ca mantradevatāvimarśaparatvena prāptatatsāmarasyamārādhakacittameva mantro na tu vicitravarṇasaṅghaṭṭanāmātrakam|
Ademais (atha ca), só (eva) a mente (cittam) do devoto (ārādhaka) que alcançou (prāpta) união (sāmarasyam) com Isso --ou seja, com o Supremo Ser-- (tad) por meio de (sua) resolução e dedicação (paratvena) no que diz respeito a ser consciente (vimarśa) da deidade do Mantra (mantra-devatā), (é) o Mantra (mantraḥ) (mesmo); e não (na tu) o assim chamado (nāma-atrakam) --"atrakam" significa "assim" e "nāma" quer dizer "chamado"-- conglomerado (saṅghaṭṭa) de diversas (vicitra) letras (varṇa).
Então, essa é a definição técnica do termo "Mantra".
Vejo-te no segundo documento de Citações Sânscritas.
Informação adicional
Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.
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