Sanskrit & Trika Shaivism (English-Home)

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 Origem das línguas indo-europeias: Parte IV

Rotas migratórias, grupo iraniano, língua persa antiga, avéstico, palávi e sogdiano


 Introdução

Olá, Andrés Muni novamente. Primeiramente, um reconhecimento: A primeira parte deste documento, que é um estudo das Rotas Migratórias, é uma compilação dos trabalhos de distintos autores: Thomas V. Gramkrelidze, V.V. Ivanov, Franz Bopp, etc.

Minha tarefa foi a de compilar as obras desses grandes autores. Obviamente, adicionei muitas coisas de criação própria.

O estudo mencionado acima deve ser adicionado como uma espécie de apêndice ao primeiro documento (Origem das línguas indo-europeias -Parte I-).


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


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 Rotas migratórias

Dentro dos 2000 anos que transcorreram antes que os indo-europeus entrassem na história, o sucesso da revolução agrícola produziu uma explosão demográfica na comunidade indo-europeia. Essa pressão do crescimento demográfico impulsionaria a emigração de sucessivas ondas de indo-europeus em busca de áreas férteis para o cultivo. O deslocamento linguístico do lar indo-europeu do norte da Europa até a Ásia Menor requer a revisão das teorias sobre as rotas migratórias pelas quais as línguas indo-europeias se disseminaram pela Eurásia.

Map of migratory routes

Aqui podemos ver as diferentes migrações. Há três ramos orientais: um vai até a Ásia Central, outro vai até a Índia e o último vai até o Irã. Há dois ramos ocidentais principais: um que vai diretamente da Anatólia (atual Turquia) até a Grécia, e outro que dá a volta pelo Mar Cáspio. Esse último ramo deu origem à maioria dos idiomas ocidentais.

Dessa forma, os indo-iranianos --seguindo a rota mais provável-- teriam vindo da Ásia Menor. Então, contornando os contrafortes dos Himālaya-s, os indo-iranianos teriam atravessado o Afeganistão até que se estabelecessem na Índia. A Europa, segundo essa concepção, seria o destino, e não a origem, da migração indo-europeia.

Os povos que falavam hitita, luvita e outros idiomas anatólios realizaram migrações curtas sem sair do país de origem. Portanto, as suas línguas morreram com eles.

Dentro do terceiro milênio a.C., a principal comunidade idiomática indo-europeia fragmentou-se. Dessa forma, tiveram início as migrações de maior alcance, formadas por povos que falavam dialetos greco-armênio-indo-iranianos.

Dentro do segundo milênio a.C., dois grupos de populações que falavam indo-iraniano dirigiram-se até o oriente. Um deles era formado por pessoas que falavam as línguas kafiri, que ainda são faladas no Nuristão --território localizado próximo às encostas do Hindu Kush, no nordeste do Afeganistão--. O segundo grupo entrou no vale do Ganges. Era formado por pessoas que falavam um dialeto do qual descendem as línguas históricas da Índia. O seu antecedente literário mais primitivo está contido nos hinos do Ṛgveda, que foi escrito em uma antiga variação do sânscrito. A população nativa do vale do Ganges, conhecida pelos achados arqueológicos em sua capital Mohenjo-Daro, foi deslocada pelos indo-iranianos.

Após a separação dos indo-iranianos e sua partida até o oriente, a comunidade greco-armênia permaneceu na sua terra de origem por algum tempo. Lá, mantiveram contato com os faladores do idioma kartveliano, do tocariano e das antigas línguas indo-europeias que subsequentemente evoluiriam e virariam as línguas históricas europeias.

Recentes descobertas arqueológicas confirmam a crença dos gregos de que os seus antepassados vêm da Ásia ocidental. Essa crença é mencionada na lenda de Jasão e os Argonautas, que partiram em busca do Velo de Ouro perto do Mar Negro. A confirmação de que os gregos teriam vindo de lá lança nova luz sobre o estudo das colônias gregas situadas nas costas setentrionais do Mar Negro. Essas colônias eram assentamentos bem primitivos que os gregos estabeleceram no início de suas migrações, as quais os conduziriam, por último, ao seu país definitivo, às margens do Egeu.

As línguas históricas europeias (as que deixaram legado literário) oferecem vários indícios de que os seus dialetos de origem viajaram, junto com os tocarianos, pelo interior da Ásia Central. A migração até a Ásia Central dos povos que falavam alguns dos dialetos primitivos indo-europeus foi provada por meio de palavras pegas da família línguística fino-úgrica, que deu origem às atuais línguas finlandês e húngaro. O tocariano --influenciado pelo fino-úgrico-- transformou completamente o seu sistema de consoantes.

Palavras de antigas línguas europeias que foram pegas de alguns idiomas da Ásia Central confirmam que as pessoas que falavam essas línguas europeias realmente viveram lá (isto é, na Ásia Central). Os antigos europeus, dando a volta em direção ao ocidente, assentaram-se nas margens setentrionais do Mar Negro por algum tempo. Formaram uma federação pouco compacta. Desde 2000 a.C. até o início da Era Cristã, as populações que falavam as antigas línguas europeias disseminaram-se por toda a Europa. A arqueologia demonstra essa vinda à Europa por meio da chegada de uma cultura seminomádica. Os povos que pertenciam a essa cultura costumavam enterrar os defuntos em covas cobertas com pedras (denominadas "túmulos funerários"). Os idiomas dos primeiros habitantes da Europa, à exceção do basco (uma língua não indo-europeia), foram deslocados pelos dialetos indo-europeus.

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 Grupo iraniano

O grupo iraniano é quase tão vasto e importante quanto o indiano. Produziu uma língua religiosa chamada Zend, e duas grandes línguas comuns chamadas sogdiano e palávi (ou pahlavi, que deu origem ao persa moderno). Serviram como idiomas civilizadores em uma parte da Ásia, por séculos.

A história da língua iraniana é difícil de reconstruir. Restam apenas documentos isolados, sem nenhuma continuidade, todos pertencentes ao antigo período no qual essa língua se desenvolveu rapidamente. Além disso, uma grande quantidade de dialetos foi descoberta somente na época atual, e por meio de descobertas fragmentadas.

Em tempos mais antigos, a língua iraniana apareceu em duas formas, ambas pertencentes ao iraniano ocidental. Os seus nomes são: o persa antigo e o Zend.

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 Língua persa antiga

É o dialeto da região de Persis, no sudoeste do território iraniano. É conhecido somente pelas inscrições dos reis Dario (522-486) e Xerxes (486-466), as quais foram escritas utilizando caracteres cuneiformes. As inscrições posteriores são raras e não muito interessantes. Não é nem uma língua literária previamente estabelecida, nem uma língua comum, nem mesmo um idioma diplomático. É simplesmente um dialeto que foi a língua materna dos soberanos e de suas famílias. Eles queriam que os textos que estabeleciam o seu poder e celebravam as suas façanhas heroicas fossem transcritos nesse dialeto.

As inscrições dos reis Dario e Xerxes são bilíngues, ou ainda trilíngues. Além do persa antigo (que pertencia à aristocracia conquistadora), são escritas em elamita (que pertencia ao reinado de Ciro -fundador da dinastia-) e babilônio (antiga língua asiática). Essas inscrições podem ser encontradas em diversas regiões do império: em Persépolis, en Nakhs-i-Rustem (tumba de Dario), em Suez, en Elvend, etc. A maior inscrição é trilíngue e está gravada na base de uma montanha situada em Behistun (no noroeste de Kermanshah).

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 Zend ou avéstico

É a língua de um texto religioso conhecido como Avesta, cuja origem no tempo e no espaço é difícil de localizar. Essa obra, pertencente ao Zoroastrismo, foi concluída aproximadamente no período sassânida. O povo sassânida, com o objetivo de dar melhor suporte à sua religião oficial, confeccionou um texto litúrgico com passagens literárias de diferentes épocas, algumas das quais não foram vinculadas corretamente umas com as outras. Em algumas ocasiões, essas mesmas passagens foram completadas utilizando acréscimos. Dessa forma, existem atualmente duas séries de textos que diferem mutuamente em ortografia, gramática e tamanho (que não é nem um pouco homogêneo).

Por um lado, os "gāthās" (cantos) --alguns dos quais são mais antigos que o próprio Ṛgveda--; e, por outro lado, o próprio Avesta, um grande compêndio escrito em uma língua que carece de perfeita unidade. O texto do Avesta foi escrito primeiramente utilizando um alfabeto semita (aramaico), e depois foi transcrito na escrita específica que vemos hoje, por pessoas que não tinham uma tradição definida. Assim, a Escritura requer uma intepretação constante que às vezes não é segura. No entanto, um exame meticuloso da língua Zend mostra que essa língua representa uma forma dialetal não muito distante do persa antigo.

A Média é a terra natal de Zoroastro --fundador do Zoroastrismo--, segundo a lenda. Considera-se que o Zend nasceu a partir de um dialeto que fica ao norte em relação ao persa antigo, mas ambos realmente estão unidos e pertencem ao grupo iraniano ocidental. Além do persa antigo e do Zend, não há nenhuma documentação sobre outras línguas iranianas. Isso é certamente uma pena, porque as poucas palavras e nomes transmitidos pelos gregos a partir da língua cita revelam um estado linguístico muito diferente em relação ao persa e ao medo (língua falada na Média). De fato, a língua cita pertencia ao grupo iraniano do norte (na verdade era o grupo iraniano do noroeste).

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 Palávi

Vários séculos depois, na Era Cristã, a língua iraniana reaparece em uma forma bem evoluída denominada "língua iraniana média" (ou "persa médio"), cuja forma mais conhecida é o palávi (ou pahlavi). O palávi pertence ao grupo persa e é predecessor do persa moderno. As únicas diferenças existentes entre o persa antigo, o palávi e o persa moderno são um resultado natural do desenvolvimento linguístico. Embora o persa antigo tenha algumas características dialetais que não ocorrem no palávi, as duas línguas são, em última análise, a mesma. Dessa forma, os textos escritos em persa antigo podem ser considerados também como tendo sido escritos em palávi. Hoje em dia, só é possível encontrar algumas inscrições em palávi feitas por Artaxes I (fundador da dinastia sassânida).

O palávi foi a língua oficial do Império Sassânida (226-652 d.C.). A sua escrita é de origem semita (aramaico), e também pode-se perceber uma imfluência semítica na sua pronúncia. O palávi é conhecido a partir dos textos do Zoroastrismo, que foram conservados por seguidores indianos e persas de Zoroastra. Também é conhecido a partir de textos maniqueístas encontrados na Ásia Central, os quais podem ser rastreados até o próprio Manes (século III d.C.) e foram escritos em uma língua que estava mais próxima da língua do dia-a-dia do que da língua palávi sassânida. Os equivalentes semíticos não existem nesses textos maniqueístas. Tais equivalentes semíticos podem ser encontrados facilmente (disfarçados) nas inscrições sassânidas. É por isso que esses textos provaram ser um meio essencial para compreender o palávi. Os documentos escritos em palávi ocidental e sogdiano também pertencem à língua iraniana média. O nome "palávi ocidental" deve ser aplicado a duas séries de textos:

Textos manuscritos São de origem maniqueísta, mas têm uma forma dialetal diferente das mencionadas anteriormente.
Textos epigráficos Estão ao lado do palávi oficial nas inscrições sassânidas. A língua utilizada nesses textos, que são erroneamente denominados "caldeu-palávi", é uma forma da língua parta que não foi utilizada na epigrafia oficial (que é escrita em aramaico ou grego).

Por meio do parto, a língua iraniana teve influência sobre a língua armênia.

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 Sogdiano

Essa língua é conhecida a partir de descobertas feitas na Ásia Central. Os textos decifrados (a maioria são textos budistas, embora também haja alguns textos cristãos) utilizam uma escrita que deriva do alfabeto aramaico, que é diferente da escrita do palávi. A maioria deles data do século VIII a.C., embora também existam alguns textos que datam do início da era cristã.

O sogdiano exerceu um papel importante como língua civilizada, desde a própria Sogdiana até a Manchúria. De fato, a inscrição trilíngue de Kara --Balgasun-- (século IX a.C.) está escrita parcialmente em sogdiano.

O sogdiano é, na verdade, uma língua iraniana do nordeste. Algumas descobertas no Turquestão revelaram uma língua pertencente ao grupo iraniano que é utilizada por budistas que vivem em Khotan. Essa língua pertence aos Śaka-s, e às vezes é designada vagamente como "língua iraniana oriental".

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 Notas finais

Às vezes, a linguística pode parecer muito difícil de aprender, mas isso não é verdade. Os grupos que estudamos foram formados a partir de pessoas como nós, que falavam uma determinada língua. Eles viajavam e levavam consigo o seu idioma. E, utilizando a língua como veículo, também levavam a sua cultura. Não há nada de difícil nisso, se você abordar a linguística de maneira adequada. Entretanto, se você tentar entender a linguística de um ponto de vista puramente acadêmico, encontrará muitas dificuldades. Não tenha dúvida quanto a isso.

Bem, no próximo documento continuaremos a estudar o grupo iraniano. Até lá.

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 Informação adicional

Andrés Muni

Este documento foi concebido por Andrés Muni, um dos dois fundadores deste site, e versado em linguística.

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