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 Origem das línguas indo-europeias: Parte II

Aprofundando-se no assunto


 Introdução: Novas contribuições

Olá, sou Andrés Muni. Primeiramente, quero dizer que este documento é baseado nos estudos de Colin Renfrew, um renomado linguista e arqueólogo.

A visão tradicional da difusão das línguas indo-europeias defende que, logo no início da Idade do Bronze, hordas de cavaleiros nômades que habitavam a atual região ocidental da Rússia falavam uma língua primitiva. Segundo essa visão, à medida que esses guerreiros expandiam o seu território conquistando terras estrangeiras, subjugavam as populações nativas e impunham a sua própria língua proto-indo-europeia.

Com o passar dos séculos, essa língua teria se transformado, em cada região, nas atuais línguas indo-europeias. No entanto, segundo novas investigações, as línguas indo-europeias não se disseminaram por meio de conquistas, mas sim de maneira pacífica. Esse ponto de vista é coerente com a propagação da agricultura a partir da Anatólia e do Oriente Próximo.

O problema da origem da língua indo-europeia é examinada de um ponto de vista linguístico. Quando os linguistas investigaram as línguas indo-europeias, descobriram que essas línguas estavam relacionadas entre si. Há semelhanças entre muitas línguas indo-europeias e o sânscrito, enquanto línguas tais como o chinês e o japonês não pertencem à mesma família.

Por meio de comparações aina mais detalhadas, poderemos subdividir as línguas indo-europeias em famílias.

FAMÍLIA DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS Francês, italiano, espanhol, português e romeno.
Formados a partir de línguas derivadas do latim.
FAMÍLIA DAS LÍNGUAS ESLAVAS Russo, polonês, tcheco, eslovaco, servo-croata e búlgaro.
FAMÍLIA DAS LÍNGUAS GERMÂNICAS Alemão, norueguês, dinamarquês e sueco.

Apenas algumas línguas (húngaro, finlandês e basco) são excluídas da família indo-europeia. Agora, vamos aprofundar esse assunto.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


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 Aprofundando

Há quatro tipos principais de modelos para interpretar o processo de mudança da língua.

PROCESSO DE COLONIZAÇÃO INICIAL Quando um território inabitado é colonizado, o idioma dessa região será, naturalmente, o dos colonizadores.
PROCESSO DE DIVERGÊNCIA Quando os idiomas se separam entre si, começam a se diferenciar mais e mais. Os dialetos resultantes, com o tempo, transformam-se em línguas distintas.
PROCESSO DE CONVERGÊNCIA As mudanças linguísticas se propagam como grandes ondas, que acabam convergindo. Isto é, as grandes ondas produzem semelhanças entre línguas que eram completamente diferentes inicialmente.
PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO LINGUÍSTICA Quando um povo coloniza uma região, os idiomas dos colonizadores substituem, total ou parcialmente, aqueles falados pela população nativa.

Esse último modelo é a chave para explicar as origens das línguas indo-europeias. Uma língua pode substituir outra de diversas maneiras dentro de uma determinada região:

1) As pessoas que habitam uma região geralmente têm uma economia de subsistência (economia básica) bem estabelecida. Essa economia, seja baseada na caça e coleta ou na agricultura, é adequada para sustentar essas pessoas. Se um grupo recém-chegado tentar estabelecer-se nessa região de um modo pacífico, esse grupo deve possuir algumas técnicas. Essas técnicas devem permitir-lhes explorar um recurso ecológico distinto ou competir, com êxito, com a exploração local.

2) Quando o grupo imigrante é bem organizado e possui técnicas militares superiores, pode ganhar o controle do sistema social dessa região e dominá-la pela força. Esse domínio de uma elite necessita de alguns requisitos para ter sucesso:

a) Ter uma tecnologia militar superior.

b) O grupo imigrante deve estar adequadamente organizado para conseguir o controle.

c) A sociedade nativa deve estar extremamente bem organizada se quiser sobreviver.

3) Quando uma sociedade muito centralizada entra em colapso, as populações vizinhas que haviam sido mantidas à distância até esse momento aproveitam essa ausência de poder central e invadem o território (tal como os bárbaros quando o Império Romano desmoronou). Nesse caso, o idioma do império pode ser substituído pelo dos invasores.

4) Quando há um notável comércio exterior dentro de uma sociedade igualitária, é muito comum que se desenvolva uma língua comercial (lingua franca). Se a lingua franca começar a ser utilizada como língua materna por parte da população nativa, vira uma língua "crioula". Essa "crioulização" é um tipo de substituição e é atualmente considerada como um importante aspecto do desenvolvimento linguístico.

Quando essas formas de substituição linguística (mudança demográfica e subsistência, domínio de uma elite, colapso do sistema e lingua franca) são aplicadas à história e pré-história europeia, surgem as seguintes considerações:

a) Tanto o domínio de uma elite quanto a ruína de um sistema requerem um grau de organização social que não existia antes da Idade do Bronze.

b) Não é muito provável que houvesse na Europa, antes daquela época, um sistema comercial suficientemente intenso a ponto de estimular o desenvolvimento de uma lingua franca.

Essa inferência nos conduz apenas ao primeiro modelo (mudança demográfica e subsistência). Dessa forma, deve-se destacar na pré-história europeia um fato de repercussão mundial, que produziu efeitos profundos: "o desenvolvimento da agricultura". Esse fato se encaixa perfeitamente na primeira categoria.

No sétimo milênio a.C., difundiu-se por toda a Europa uma nova economia agrícola baseada no cultivo de trigo e de cevada e no pastoreio de ovelhas e cabras. Essas espécies foram levadas para a Europa. Parece que a domesticação dessas espécies ocorreu simultaneamente em várias regiões vizinhas do Oriente Próximo. Entretanto, foram introduzidas na Europa a partir da Anatólia (atual Turquia).

Segundo a hipótese de Albert J. Ammerman e Luca Cavalli-Sforza (ambos da Universidade de Stanford), essa difusão da agricultura gera um modelo denominado "onda em avanço". Esse modelo estabelece que a economia agrícola foi transmitida pelos movimentos locais dos camponeses e seus descendentes. Quando a agricultura ocupasse uma determinada zona, a densidade demográfica incrementaria rapidamente nessa região. Ammerman e Cavalli-Sforza indicam que a agricultura teria aumentado a densidade demográfica 50 vezes mais que as economias anteriores de caça e coleta.

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 Aprofundando ainda mais

A agricultura teria se disseminado pela Europa como uma onda que avançava por volta de 1 km por ano. A essa velocidade, teriam sido necessários 1500 anos para que a agricultura se difundisse da Anatólia até o norte da Europa, o que coincide com os dados arqueológicos atuais.

Esse modelo da "onda em avanço" não é o único que pode ser aplicado. Como indica o arqueólogo Marek Zvelevil, da Universidade de Sheffield, se a população local de caçadores-coletores tivesse adotado a agricultura dos seus vizinhos, a expansão da agricultura poderia ter sido mais lenta e sem nenhuma substituição linguística. Os camponeses seriam os nativos, em vez de recém-chegados que falavam o seu próprio idioma. Provavelmente, o que realmente ocorreu foi uma mistura desses dois processos:

"A agricultura pode ter sido introduzida na Grécia por estrangeiros. Posteriormente, disseminou-se até os Bálcãs, Europa central e Itália setentrional. Mas, em outras regiões, a agricultura pode ter sido adotada pela população nativa".

Isso explicaria a persistência de várias línguas não indo-europeias como:

a) A língua vasca, que sobrevive até hoje.

b) A língua etrusca, da Itália central, que sobreviveu até a época dos romanos.

c) A língua ibérica arcaica, na Espanha.

d) A língua picta, um idioma pré-céltico da Escócia.

Dessa forma, a descrição de como a língua indo-europeia foi introduzida na Europa defende que os imigrantes teriam vindo da Anatólia e que teriam chegado à Europa por volta de 6500 a.C. Esses primeiros habitantes indo-europeus não eram guerreiros invasores com uma sociedade organizada e centralizada, mas sim camponeses cujas sociedades eram igualitárias. E, no curso de uma geração (25 anos), tal vez tenham se deslocado somente alguns quilômetros a partir do lugar onde nasceram.

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 Notas finais

Bem, espero que você tenha aproveitado e aprendido com esse segundo estudo sobre as línguas indo-europeias. Essa interessante versão sobre as migrações indo-europeias certamente enriqueceu a sua vida. Continuaremos a estudar os nossos ancestrais na Parte III. Vejo você lá, cuide-se.

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 Informação adicional

Andrés Muni

Este documento foi concebido por Andrés Muni, um dos dois fundadores deste site, e versado em linguística.

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