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 Śivasūtravimarśinī: Seção II (aforismos 1 a 10 - pura)

Tradução pura


 Introdução

A Śivasūtravimarśinī continua: Kṣemarāja continua a comentar os aforismos.

Este é o único grupo de 10 aforismos que formam a segunda Seção (que versa sobre Śāktopāya). Como você sabe, a obra inteira é composta dos 77 aforismos dos Śivasūtra-s mais os respectivos comentários.

É claro que também inserirei os aforismos de Śiva sobre os quais Kṣemarāja estiver comentando. Apesar de que não comentarei sobre os sūtra-s originais ou sobre o comentário de Kṣemarāja, escreverei algumas notas para esclarecer certos pontos sempre que for necessário. Se você quiser uma explicação detalhada dos significados ocultos dessa escritura, vá a "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.

Leia a Śivasūtravimarśinī e experimente Supremo Deleite, querido Śiva.

Este é um documento de "tradução pura", ou seja, você não encontrará nenhum Sânscrito original, mas haverá, às vezes, uma quantidade mínima de Sânscrito transliterado nas próprias traduções do texto. É claro, não haverá nenhuma tradução palavra por palavra. De qualquer forma, haverá Sânscrito transliterado nas notas explicativas. Se você for uma pessoa cega utilizando um leitor de tela e não quiser ler as notas, ou simplesmente quiser pular as notas, clique no respectivo link "Pular as notas" para continuar lendo o texto.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Aforismo 1

Agora, descreve-se (Śāktopāya,) o meio que pertence a Śakti1 |

A segunda Seção primeiramente indaga sobre a natureza do mantra, começando com um exame da sua --do mantra-- característica essencial tal como é declarada no aforismo que está ao final da Primeira Seção. Nesse (aforismo), (estabelece-se sucintamente que) "Śakti é uma expansão da fonte geradora --virilidade ou potência-- de (todos os) mantra-s"—


A mente (de alguém que constantemente reflete sobre a Mais Alta Reealidade é) o Mantra||1||


Citta --nesse contexto-- (é) "aquilo mediante o qual se reflete (e) investiga sobre o Princípio Supremo". (Assim, é) consciência cuja forma ou natureza (consiste em) um exame de Prāsāda, Praṇava, etc.2 , que são a essência da Perfeita Sphurattā --lit. "um vibrante fulgor", esse é um epíteto de Śakti, que é a própria consciência do Eu--. Esse mesmo (Citta é) mantra; (e mantra) é considerado como --lit. tendo assim considerado-- "isso por meio do qual se delibera secretamente sobre a natureza do Senhor Supremo, (ou seja, por meio do qual) se reflete internamente em unidade3  (sobre tal natureza)"|

A partir desse mesmo (fato), explica-se e interpreta-se (etimologicamente e como acróstico) a sua --do mantra-- característica de manana (ou refletir sobre) o que é feito da Mais Alta Sphurattā --lit. "um vibrante fulgor", como mencionado anteriormente; em suma, "a consciência do Eu"--, assim como (a sua) outra característica de trāṇa (ou proteção), que consiste em uma terminação ou conclusão do Saṁsāra --existência transmigratória-- cheio de diferença ou dualidade4 |

Além disso, (é) apenas a mente do devoto que alcançou união com Isso --o Ser Supremo-- por estar completamente dedicada a uma intensa consciência da deidade do mantra, (que é) mantra, e não a assim chamada conglomeração de múltiplas letras|

Isso é dito no muito venerável Sarvajñānottara:

"Os que são pronunciados não são mantra-s. E inclusive os iludidos (e) presumidos deuses e músicos celestiais, devido ao conhecimento ilusório, consideram esses como mantra-s"||

(A mesma verdade foi estabelecida) também no venerável Tantrasadbhāva:

"Aquela que é considerada como a imperecível Śakti --isto é, a consciência do Eu-- é certamente a alma dos mantra-s. Oh bela!, sem Ela, eles --os mantra-s-- são infrutíferos como nuvens de outono --porque essas nuvens não produzem nenhuma chuva--"||

Foi dito na muito venerável Kaṇṭhīyasaṁhitā:

"(Se) o mantra (e) o praticante do mantra forem diferentes um do outro, (então, tal mantra) nunca terá sucesso. Tudo isso (é) a raiz do conhecimento (em Mantrayoga.) Não terá sucesso (se for praticado) de outro modo"||

Nas Spandakārikā-s, isso é explicado indiretamente:

"... junto com a mente dos (seus) adoradores. Portanto, esses (Mantra-s) têm a natureza de Śiva"||
(Ver Spandakārikā-s II, 2)

||1||

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1  Em suma, começou a Segunda Seção, que versa sobre o meio ou método que utiliza o ponto de vista de Śakti.Return 

2  Prāsāda é o termo técnico do mantra Sauḥ, o qual estudo em detalhes na Parāprāveśikā. Existem vários tipos de Praṇava, como explico em Meditação 6, mas, nesse contexto, significa Śaivapraṇava (ou seja, Hūm̐).Return 

3  Por meio de um mantra, delibera-se em segredo sobre a natureza do Senhor Supremo, isto é, reflete-se sobre ele internamente enquanto, ao mesmo tempo, conserva-se completa unidade com o Senhor Supremo (a deidade do mantra) e o próprio mantra. E esse é o segredo da murmuração de um mantra: a pessoa, o Senhor e o mantra são a mesma coisa. Se uma pessoa que murmura um mantra fracassar em fazê-lo assim (isto é, se não puder alcançar e conservar esse dar-se conta sobre a inerente unidade entre ela, o Senhor e o mantra), então o mantra não produz frutos adequados. E não há dúvidas sobre isso.Return 

4  Etimologicamente, o termo "mantra" provém da raiz "man" (pensar). Por isso, um dos primeiros significados literais dessa palavra é "instrumento de pensamento". Mas, como acróstico, "mantra" vem de manana + trāṇa, que é "reflexão + proteção". A conhecida definição de "mantra" como "मननात्त्रायत इति मन्त्रः" - "mananāttrāyata iti mantraḥ" ou "mantra é aquilo que protege por meio da reflexão" mostra claramente o acróstico. Em conclusão: um mantra é aquilo que protege quem reflete nele. O mantra protege no sentido de que termina a existência transmigratória, ou seja, a contínua identificação com os sempre mutáveis pensamentos, sentimentos, etc., o que é um sinal de escravidão. De qualquer forma, a existência transmigratória pode ser entendida também como nascer para morrer e morrer para nascer.Return 

Ao início


 Aforismo 2

E, desse (mantra)


(O entusiasmado e espontâneo) esforço (é) efetivo para o alcance do êxito||2||


Prayatna (é) esse espontâneo esforço baseado em apoderar-se firmemente do primeiro surgimento do desejo de explorar o mantra, cuja natureza foi previamente mencionada (no primeiro aforismo)1 . (E) esse (prayatna) (é) efetivo para o alcance do êxito, (ou seja,) concede identidade com a deidade do mantra àquele que reflete sobre o mantra --em suma, prayatna faz com que alguém se dê conta de que é a deidade do mantra, isto é, o Senhor Supremo--|

Essa (mesma verdade) é declarada no venerável Tantrasadbhāva:

"Oh querida!, assim como um pássaro no céu, ao ver carne (no chão), certamente puxa(-a) em direção a ele rapidamente com natural impulso e impetuosidade, da mesma forma, sem dúvida, o principal entre os Yogī-s arrasta a (sua) mente em direção a Bindu2 . Assim como uma flecha posta em um arco corre (em direção ao alvo) após esticar (o arco) com esforço, da mesma forma, oh bela!, Bindu corre --flui, avança, expande-se-- por meio de uccāra --movimento da mente para cima, ou seja, em direção a Bindu--"||

Também (foi estabelecido) em outro lugar:

"A apreensão --o dar-se conta-- Disso --o Senhor Supremo-- (é) o verdadeiro ser --essência-- do mantra..."|

Aqui --nos versos do Tantrasadbhāva citados anteriormente--, (o termo) "tadvat" --da mesma forma-- (indica) que o principal entre os Yogī-s, por meio do seu próprio (e) espontâneo esforço, arrasta a mente, (que deve ser considerada, nesse contexto, como) karma ou o objeto (em construção ativa)3 , em direção a Bindu. (Em outras palavras,) "ele faz com que (a sua mente) alcance a Mais Alta Luz da Consciência"|

"Mesmo assim, Bindu, a Suprema Luz do Ser, corre, (isto é,) move-se, expande-se, por meio de uccāra, que é uma espontânea elevação (da mente)". Esse é o significado|

Isso foi descrito nas Spandakārikā-s por meio deste (aforismo):

"Somente isso (é) o surgimento desse objeto de meditação na mente do meditador. (Em suma,) para um sādhaka ou aspirante espiritual com vontade firme, há um dar-se conta da (sua) identidade (com esse dhyeya ou objeto de meditação)"||
(Ver Spandakārikā-s II, 6)

||2||

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1  Prayatna é o entusiasmado e espontâneo esforço baseado em apoderar-se firmemente do primeiro surgimento do desejo de indagar sobre o mantra. Quando emerge esse desejo pela primeira vez enquanto alguém repete um mantra, apoderar-se dele de maneira espontânea e firme é prayatna.Return 

2  Em Trika, o termo "bindu" significa tantas coisas diferentes que é quase esmagadora a tarefa de explicar todos os possíveis significados por meio de uma simples nota explicativa. De qualquer maneira, nesse contexto, significa a não dividida Luz da Consciência, isto é, a Luz do próprio Ser.Return 

3  "Karma" é utilizado aqui como um termo técnico da gramática sânscrita. Significa o objeto relacionado a uma certa ação realizada pelo sujeito ou "kartṛ". Eesse contexto, a construção é ativa e, por isso, a palavra "manas" (mente) está declinada no caso Acusativo. Por outro lado, se a construção fosse passiva, o termo "manas" teria que ser declinado no caso Nominativo. Pode ser que você diga "Oh, meu Deus, que difícil!", e você teria razão, hehe, mas, de qualquer forma, darei a você agora um exemplo simples em português:
"Ele move a mente" - Construção ativa; nesse caso, "a mente" é o objeto da ação "mover", e "ele" é o sujeito. Por sua vez, em Sânscrito, "a mente" deveria estar declinada no caso Acusativo.
"A mente é movida por ele" - Construção passiva; "a mente" continua continua a ser o objeto da ação, mas, em Sânscrito, deve estar declinada no caso Nominativo.
Ainda assim, como o termo "manas" é um substantivo neutro terminado em "as", tanto o caso Nominativo quanto o Acusativo coincidem um com o outro no número singular (em dual e plural também, mas o termo muda para "manasī" e "manāṁsi" respectivamente), ou seja, ambos os casos usam a mesma palavra no singular: "manas". Assim, você não detectará a diferença, a menos que seja suficientemente proficiente em gramática sânscrita. Entretanto, com outros substantivos, por exemplo, "yoga", você notará a diferença muito facilmente, porque o Nominativo e o Acusativo no singular são diferentes: "yogaḥ" (Nominativo) and "yogam" (Acusativo). Finalmente, se você não tiver a menor ideia do que estou falando, opa, realmente precisa ler Declinação (1)!Return 

Ao início


 Aforismo 3

(O seguinte aforismo) tem em vista a previamente mencionada1  fonte geradora --virilidade ou potência-- do mantra que deve ser consumado por esse aspirante (que faz um esforço entusiasmado e espontâneo)


A (luminosa) Existência ou Ser (da Perfeita Consciência do Eu, a qual consiste em grande número de palavras) cuja essência (é) o conhecimento (do mais alto não dualismo, é) o segredo do Mantra||3||


(O composto atributivo --também conhecido como Bahuvrīhi--) "vidyāśarīra"2  (significa) aquilo cuja essência (ou) natureza é conhecimento, isto é, conhecimento do mais alto não dualismo. (Esse vidyāśarīra) é uma gloriosa multidão de palavras. Aquela que (é) a (luminosa) Existência ou Ser desse (vidyāśarīra não é outra que) Sphurattā --lit. "um vibrante fulgor", esse é um epíteto de Śakti--, cuja natureza (é) a perfeita consciência do Eu, que não é diferente --lit. cheia de unidade-- do universo inteiro. (E) Ela --i.e. Sphurattā ou a divina Śakti-- (é) o segredo(ou) mistério dos mantra-s3 "|

Isso foi dito (também) no venerável Tantrasadbhāva:

"Oh querida!, todos os mantra-s são compostos de letras e elas (são) formas de Śakti. Śakti é conhecida como Mātṛkā4 , certamente, e Ela --Mātṛkā-- é conhecida como possuidora da natureza de Śiva"||

Nessa mesma (escritura) --no Tantrasadbhāva--, esse assunto, embora excessivamente secreto, foi exibido com clareza|

Consequentemente, após fazer (a seguinte) composição introdutória (como advertência):

"(As pessoas) não sabem que o Guru é Deus, nem --lit. bem como-- (conhecem) as práticas enunciadas nas escrituras. Estão apegadas à hipocrisia (e) à desonestidade, têm como meta a luxúria (e) estão desprovidas de kriyā ou atividade espiritual. Por essa razão, oh deusa!, a fonte geradora --virilidade ou potência-- (dos mantra-s) foi ocultada por Mim. Devido a essa ocultação, eles --os mantra-s-- (são) protegidos e preservados. O que resta (são) apenas letras, certamente"||

(Śiva) começa (a Sua explicação desse mistério) --lit. tendo começado--:

"Aquela que (é conhecida como) Mātṛkā (está) verdadeiramente repleta do mais alto esplendor. Este universo, desde Brahmā --o Criador-- até o último dos mundos, está impregnado por Ela. Oh deusa, adorada pelos deuses!, (esse mais alto esplendor) sempre reside ali --em Mātṛkā-- e está repleto (Dela). Oh querida!, portanto, Eu direi a você claramente, para assegurar(-te) por completo, como Aquilo que está na letra "a" --isto é, Śiva, o Senhor Supremo-- é onipresente em (todas) as letra(s) (do alfabeto)"|

(Śiva continua a dizer):

"Essa Śakti ou (divino) Poder é descrita como 'suprema, sutil (e) desprovida de ācāra --regras de conduta, práticas espirituais, etc.--'. (Ela,) encerrando dentro de Si o Bindu do coração, aparece na forma de uma serpente dormindo profundamente5 . Oh grandemente afortunada Umā!, enquanto dorme ali, Ela não pensa em nada. Tendo lançado dentro do (Seu) ventre os quatorze mundos junto com a lua, fogo, sol (e) estrelas --nakṣatra--, essa deusa parece como se (estivesse) inconsciente devido ao veneno --ou seja, após manifestar o universo inteiro, Ela permanece dormindo profundamente ali, como se estivesse inconsciente--.

(Então,) oh bela!, Ela acorda com a vibração do mais elevado conhecimento, ao ser agitada por Vindu --Bindu ou Vindu é a mesma coisa, já que "b" e "v" são geralmente intercambiáveis-- que está situado no ventre (Dela). A agitação (continua) por um tempo, realmente, com força rotativa no corpo de Śakti, (até que,) com a penetração (de Bindu), sejam produzidos, primeiramente --a princípio--, Bindu-s (adicionais) --gotas de luz--. Eles --os Bindu-s ou gotas de luz-- (são) muito brilhantes e cheios de grande esplendor.

No entanto, quando a sutil Kalā Kuṇḍalī --a Kalā ou Śakti com forma de anel-- é despertada por isso --pela vibração do mais alto conhecimento--, (então,) oh querida!, o poderoso Vindu de quatro fases que mora no ventre de Śakti se endireita pela união do que agita --Śiva na forma de Vindu-- (e) do que é agitado --Śakti--. A śakti ou poder que passa exatamente pelo meio do par de Vindu-s --isto é, de Śiva e Śakti-- é denominada Jyeṣṭhā.

(Além disso,) quando Ela é agitada por Vindu, a mesma linha reta (é conhecida como) Amṛtakuṇḍalī. (Por sua vez,) Ela é conhecida (também) pelo nome de Rekhiṇī --aquilo cuja forma é uma linha reta--, ao final da qual --isto é, de Rekhiṇī-- estão ambos os Vindu-s --o de Śiva acima, e o de Śakti abaixo--. Ela se chama Tripathā --aquela que tem três cursos ou caminhos-- (e também) é conhecida pelo nome de Raudrī. Ela é designada como Rodhinī, pois obstrói o caminho até a Libertação Final.

(Finalmente,) Ambikā, cuja forma consiste em um pedaço de lua, (é) como uma meia-lua. Dessa forma, a Mais Alta Śakti, (que é) somente uma, aparece, certamente, de três maneiras --a saber, Jyeṣṭhā, Raudrī e Ambikā--. Através dessas (três formas de Śakti), por meio de uniões e disjunções, engendram-se os nove grupos (de letras). E Ela, estando caracterizada por nove grupos (de letras), é descrita de nove maneiras.

Oh deusa!, Ela está contida nos cinco mantra-s (chamados) Sadyojāta, etc., sucessivamente. Por essa razão, oh líder dos deuses!, Ela é descrita (e) deve ser conhecida de cinco maneiras. Oh deusa!, diz-se que Ela está em doze, (já que) Ela existe nas doze vogais. Ela está presente desde a letra 'a' até a letra 'kṣa' na forma de cinquenta variedades.

(Enquanto) permanece no coração, diz-se que Ela consiste de um átomo; (e), na garganta, diz-se que Ela é composta de dois (átomos). No entanto, sempre situada na raiz da língua, Ela é conhecida como estando formada por três átomos. Na ponta da língua, existe produção de letras (e) não há nenhuma dúvida sobre isso. A produção de palavra(s) (ocorre) dessa forma. (O mundo, que é) o conjunto de todas as coisas criadas, animadas ou inanimadas, está impregnado de palavras"||

etc., por meio dessas e de outras declarações expressas no livro --no Tantrasadbhāva--, Mātṛkā consiste em Parāvāk --a Fala Suprema ou Parāśakti, a partir de onde surgem todas as letras--, que é a Śakti ou Poder do Mais Alto Bhairava --o Senhor Supremo--. Por essa mesma razão, como foi dito (no Tantrasadbhāva) que existe surgimento ou aparecimento de todas as letras devido às variedades (geradas) a partir da união da extensão das śakti-s cujos nomes (são) Jyeṣṭhā, Raudrī (e) Ambā ou Ambikā, (é) somente essa afortunada Vidyāśarīrasattā —(luminosa) Existência ou Ser (da Perfeita Consciência do Eu), (a qual consiste em grande quantidade de palavras) cuja essência (é) o conhecimento (do mais alto não dualismo)—, como (já) foi explicado, que é o segredo dos mantra-s que estão encarnados na estreita união das letras. É isso que foi mostrado e ensinado (por meio da citação anterior do renomado Tantrasadbhāva)|

Em cada Āgama --escritura revelada--, essa (é) a intenção da declaração sobre o surgimento dos mantra-s segundo a extensão de Mātṛkā (e) Mālinī6 |

Levamos a cabo o pesado trabalho (de mostrar) a concordância entre os Āgama-s (e) os Śivasūtra-s, já que (esses últimos) são um compêndio da essência dos secretos Āgama-s. Então, (as pessoas) não devem estar descontentes com nós|

Dessa forma, inclusive se, depois de (todas) as concordâncias com os Āgama-s (que indicamos), o significado secreto (ainda) não for entendido, então, deve-se realizar a adoração de um verdadeiro Guru --preceptor espiritual--|

Esse significado do (atual) aforismo foi exibido por meio desse par de kārikā-s --aforismos-- nas Spandakārikā-s.

Tomando posse dessa Força, os Mantra-s...|
(Ver Spandakārikā-s II, 1 e 2)

||3||

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1  Ver o último aforismo da Primeira Seção.Return 

2  Os compostos Bahuvrīhi são atributivos. Quando são dissolvidos, a palavra "yad" (o/a qual, que, quem) aparece declinada em qualquer um dos casos possíveis (exceto Vocativo). Aqui, aparece declinada no Genitivo singular: yasya (do(a) qual, de quem, cujo(a)). Para mais informação, leia a minha introdução a compostos atributivos.Return 

3  Apesar do verborrágico comentário de Kṣemarāja que poderia confundir algumas pessoas, o ensinamento mostra um fato simples: Se você repetir um mantra sem prestar atenção na consciência do Eu ou Śakti, o seu mantra não levará você à meta final, ou seja, o seu próprio Ser. É por isso que isso é Śāktopāya (o meio que pertence a Śakti). Em Śāktopāya, a concentração está sempre na raiz do mantra, isto é, na consciência do Eu, e não no mantra propriamente dito. Obviamente, durante a sua prática, você atravessa muitas fases, mas, no final, a sua atenção deve repousar na consciência do Eu (Śakti), ou o seu mantra não terá sucesso, uma vez que somente Ela é o segredo dos mantra-s. Ela é o Poder que dá origem a todos os mantra-s, e não há dúvidas sobre isso! Esse é o significado.Return 

4  Para obter mais informação sobre Mātṛkā, leia o quarto aforismo (e o seu comentário) da Primeira Seção.Return 

5  Os significados de muitas coisas contidas na citação desse Tantra ~são tão profundos e esotéricos que tomei a decisão de não comentar nada sobre eles aqui de agora em diante. Isso deve ser explicado em profundidade nos meus estudos da seção Trika. A razão é muito simples: Se você não tiver suficiente conhecimento e experiência "básicos" sobre isso (cakra-s, kuṇḍalinī, etc.), algumas curtas notas explicativas só trarão mais confusão e mal-entendidos. E incluir notas explicativas excessivamente longas aqui não é prático. À medida que você lê o resto do texto citado, verá muito claramente o que quero dizer. De qualquer forna, se você consultar Meditação 6, poderá obter muita informação relevante sobre esse tema (alguns nomes mudam, mas as características permanecem).Return 

6  Expliquei resumidamente o significado de Mātṛkā e Mālinī na terceira nota de I, 22.Return 

Ao início


 Aforismo 4

(O que se expressa por meio do seguinte aforismo) àqueles para os quais tal potência desse mantra, (que --ou seja, a potência-- é) também um meio para a união com o previamente mencionado Grande Lago1 , não toca (os seus) corações por meio da Vontade do Senhor Supremo, mas sim cuja(s) mente(s) estão posta(s) em limitados poderes sobrenaturais nascidos de Śakti, (tais como) Vindu, Nāda, etc.2 , (que são) meramente secundários—


A satisfação mental em (limitados) poderes mágicos (é) um (mero) sonho (baseado em) conhecimento inferior||4||


Garbha ou poderes máyicos (é) ignorância primordial --ignorância sobre o próprio Ser--, (também denominada) grande Māyā. Essa satisfação mental ali, (isto é,) nesse (Garbha), que é a manifestação de limitados poderes sobrenaturais derivados do mantra, (é) contentamento em (tal) fenômeno condicionado --lit. em um fenômeno que chega apenas a tal ponto--. Esse (é) conhecimento comum a todas as pessoas (e, portanto,) inferior ou não especial. (É) conhecimento impuro que tem a ver com conhecer só um pouco. Isso (é) certamente um sonho, (isto é,) uma estranha confusão feita de pensamentos (e) baseada em diferenças --isto é, dualidade--|

Isso é declarado (também) nos Pātañjalayogasūtra-s:

"Esses (poderes sobre-humanos) são obstáculos ou estorvos no Samādhi, (porém) ganhos em Vyutthāna --isto é, no estado ordinário de consciência na qual a mente flutua--"||(III-37)

Essa mesma (verdade) foi mostrada por meio deste (aforismo nas Spandakārikā-s):

"A partir desse (Unmeṣa), Vindu --luz divina--, Nāda --som divino--, Rūpa --forma divina-- (e) Rasa --sabor divino-- logo aparecem diante de uma alma encarnada como um fator perturbador"||
(Ver Spandakārikā-s III, 10)

||4||

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1  Ver I, 22 no final da Primeira Seção.Return 

2  Vindu (ou Bindu) e Nāda devem ser interpretados, nesse contexto, como luzes e sons sobrenaturais, mas sem importância, que chegam a um aspirante durante a sua prática espiritual, todos os quais são um fator perturbador ao final. Obviamente, o autor não está falando sobre os Supremos Vindu e Nāda que são o divino par de Śakti e Śiva.Return 

Ao início


 Aforismo 5

Mas, quando o Yogī, após considerar como vãos inclusive os limitados poder(es) sobrenaturais adquiridos, recorre firmemente à Mais Alta (Śakti), então—


Durante o espontâneo surgimento do (Mais Alto) Conhecimento, (ocorre) um movimento no ilimitado espaço da Consciência, (que se denomina) o estado de Śiva||5||


Durante o espontâneo surgimento --samutthāna-- do (Mais Alto) Conhecimento, cuja natureza foi indicada anteriormente (no terceiro aforismo da Seção atual), (isto é,) durante o natural surgimento ou aparecimento --samunmajjana-- (do Conhecimento do mais alto não dualismo), que ocorre meramente pelo desejo do Senhor Supremo (e) que rebaixa --ou seja, que move para um nível inferior-- os limitados poderes sobrenaturais, Khecarī mudrā —(isto é,) "aquilo que se move em Kha (ou) o espaço da Consciência"— se manifesta|

Que tipo de Khecarī? (Ela --Khecarī-- é) o estado que pertence ao possuidor de tal estado, (ou seja,) a Śiva (ou) o Senhor da Consciência. (Esse estado) consiste em um brotamento da própria Bem-aventurança|

(Nesse contexto, Khecarī) não é nem um pouco o resultado de uma forma específica (adotada por certas partes do corpo) dessa maneira:

"Após assumir a postura do lótus, o Yogī, (permanecendo ereto) como uma vara, deve fixar o senhor dos sentidos --ou seja, a sua mente-- no umbigo; (então,) ele deve guiar isso --a mente-- pelo tempo necessário até que (alcance) o grupo de três (śakti-s) (que se movem) no espaço da cabeça1 . Após apoiar (a sua mente) ali --nesse estado--, deve pôr essa (mente) em movimento --isto é, impulsioná-la para frente-- rapidamente por meio do (previamente mencionado) Khatraya ou grupo de três (śakti-s) que se movem no espaço (da cabeça). Após alcançar --lit. tendo assumido-- essa (condição de Khecarī), o grande Yogī adquire movimento no céu --ou seja, pode voar no céu--"||
(Ver Mālinīvijayatantra VII, 15-17)

mas sim (Khecarī é) aquilo cuja essência (consiste na) Consciência Suprema, conforme definido no venerável Tantrasadbhāva:

"... (o Yogī) alcança o Mais Alto Estado sempre através do caminho de Kula --da Śakti--, realmente. (Quando) esse (seu estado --do Yogī--) se move em todos os seres, (então) é conhecido pelo nome de Khecarī"||

Dessa forma, aqui --nesse contexto--, (tanto) a potência dos mantra-s quanto a potência de mudrā2  (são) indicados como aquilo cuja forma (aparece como) um surgimento da própria natureza essencial, que é Consciência, aplacando todas as perturbações derivadas de Māyā, a qual --Māyā-- tem a ver com as diferenças --com dualidade-- --em suma, tanto a potência dos mantra-s quanto a potência de mudrā são essencialmente Khecarī--|

Esse (ensinamento) (também) é mencionado no Kulacūḍāmaṇi :

"(Há somente) uma semente --ou mantra semente-- da qual se compõe (toda) a manifestação (universal), e (há somente) uma mudrā (chamada) Khecarī. Aquele no qual essas duas ocorrem está estabelecido no estado de Atiśānta3 "||

Nas Spandakārikā-s, a potência de mudrā foi resumida definindo a natureza essencial da potência dos mantra-s:

"Quando se dissolve por completo a agitação..., então o Supremo Estado ocorre"||
(Ver Spandakārikā-s I, 9)

Segundo a metade (desse aforismo), indicou-se indiretamente a natureza de Khecarī tal como se expressa no Kulacūḍāmaṇi, ainda que de outro ponto de vista||5||

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1  Khatraya ou "a tríade do espaço" é o grupo dos três poderes (śakti-s) chamados Śakti, Vyāpinī (também conhecida como Vyāpikā) e Samanā. Leia a minha explicação das etapas 9, 10 e 11 em Meditação 6 para obter mais informação relevante.Return 

2  O termo mudrā não deve ser interpretado aqui como Haṭhayoga, onde é definido como uma disposição de certas partes do corpo físico (ou ainda do corpo físico inteiro). Não, isso não é verdadeiro nesse caso. Nesse contexto, mudrā deve ser considerada como um estado que dá Felicidade, dissolve dissolve a escravidão e sela por completo, ou seja, faz com que a mente se funda com o Ser Supremo. Então, Khecarī mudrā é a mudrā ou estado bem-aventurado que se move no infinito espaço da Consciência. Em outras palavras, Khecarī mudrā é o estado de Śiva tal como indica o aforismo atual. Além disso, como um dos epítetos de Śiva é Khecara, o termo Khecarī mudrā indica claramente o Seu estado.Return 

3  A palavra "Atiśānta" pode ser traduzida de duas maneiras. Primeiro, usando o significado "excessivamente" para o prefixo "áti", o termo significaria "excessivamente śānta ou pacífico". Segundo, usando o significado "além", significaria "além de śānta ou aquilo que está calmo (isto é, o que está estacionário)". Nesse sentido, o estado de Atiśānta alcançado pelo grande Yogī no qual essas duas (a semente --Aham ou consciência do Eu-- e Khecarī) ocorrem está repleto de Spanda ou a divina Vibração do Ser. Spanda é Śakti, ou seja, consciência do Eu, e, consequentemente, nunca está estacionário, mas sim em constante movimento. Esse é o significado.Return 

Ao início


 Aforismo 6

Agora, aqui, com relação à aquisição da potência de mantra (e) mudrā, (Śiva diz)


O Guru (é) o meio||6||


Guru (é aquele que) proclama (e) ensina o verdadeiro significado. Ele (é,) aqui, o meio que mostra Vyāpti1 |

Isso (é) o que foi dito no venerável Mālinīvijayatantra, (onde Śiva diz a Pārvatī):

"(Além disso, aquele que conhece todos esses tattva-s ou categorias como realmente são) é dito de ser um guru igual a Mim, (e, consequemente,) revela a virilidade ou potência dos mantra-s"|2 
(Ver Mālinīvijayatantra II, 10)

Já que esse (tema) é bem conhecido --isto é, guru, etc.--, não é resumido nas Spandakārikā-s|

No entanto, esse (tema) também foi resumido (de alguma forma) por meio das palavra(s) finais (dessa escritura) --isto é, por meio da penúltima estrofe das Spandakārikā-s--:

"Rendo homenagem a essa maravilhosa fala do Guru, que (está cheia de) múltiplas palavras --pada-- (com seus respectivos) significados, (e) que permite (a uma pessoa) cruzar sem perigo o insondável oceano da dúvida"||
(Ver Spandakārikā-s IV, 1)

Ou o guru (pode ser definido como) o Poder outorgador de Graça do Senhor Supremo|

Como foi mencionado no venerável Mālinīvijayatantra:

"Foi dito que esse (Poder outorgador de Graça) (é) o grupo de poderes, (e) foi dito que isso (é) a boca do guru"|

Além disso, no venerável Mantriśirobhairava:

"O poder que reside na boca do guru é maior que o (próprio) guru"|

Esse mesmo (Poder outorgador de Graça) que dá uma oportunidade favorável (é) o meio||6||

Pular as notas

1  Nesse contexto, "Vyāpti" (lit. penetração) deve ser interpretado como "aquilo cuja natureza é a potência dos mantra-s e a potência de mudrā".Return 

2  A primeira linha que falta na estrofe: "Yaḥ punaḥ sarvatattvāni vettyetāni yathārthataḥ|" deve ser fornecida para entender por que adicionei "Além disso, aquele que conhece todos esses tattva-s ou categorias como realmente são" em parênteses na minha tradução. OK, agora está claro.Return 

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 Aforismo 7

Expliquei totalmente esse aforismo e seu respectivo comentário em Primeiros Passos (4), Primeiros Passos (5) e Primeiros Passos - 1. Por isso, não haverá notas explicativas aqui.


Portanto, de um Guru contente—


(De um Guru contente, provém) a Iluminação segundo o grupo de letras||7||


"Ocorre para o discípulo"; essa é a parte que falta (no aforismo)|

Segundo o processo indicado nas veneráveis (escrituras) Parātriṁśaka, etc., Anuttarākula é a natureza essencial do primeiro aspecto da Consciência do Eu.

(Então, esse primeiro aspecto da Consciência do Eu, isto é, a Śakti pura,) expande-se na forma de Ānanda (vogal "ā"), e, por meio do Seu Poder Manifestador --que aparece como as etapas de Icchā (vogal "i") e Īśana (vogal "ī")-- manifesta o estado de Unmeṣa (vogal "u"), cuja essência é Jñāna. E, por meio da Sua Opulência, que é a origem da brilhante manifestação de objetos, (essa mesma Śakti pura faz surgir) Ūnatā (vogal "ū").

(A seguir, essa mesma Śakti) manifesta a Vontade --que possui duas formas (isto é, "i" e "ī")-- combinada com o que é meramente uma "luz" similar ao brilho de um relâmpago, (ou seja, o elemento "fogo", cujo corpo ou kula é "r". Ela) também (manifesta Icchā ou Vontade) combinada com aquilo cuja natureza é a firmeza (em outras palavras, o elemento "terra", cujo corpo ou kula é "l". A partir dessas combinações, surgem as vogais "ṛ, ṝ, ḷ e ḹ". Essas vogais são são realmente letras produzidas, mas sim sons escutados,) porque elas estão (meramente) coloridas ou tingidas pelos sons "ra" (e) "la" (isto é, pelas letras do fogo e da terra, respectivamente; note que "ra" é simplesmente "r" --letra semente-- mais "a", e "la" é "l" --letra semente-- mais "a". Não somente) por causa do que foi estabelecido na oração anterior, mas também visto que (as vogais ṛ, ṝ, ḷ e ḹ) aparecem como objetos (sutis) assimilados em sua própria luz, são conhecidas como (letras) Imperecíveis. E, já que estão meramente tingidas pela manifestação objetiva, não são capazes de dar origem a outras letras semente. (Como resultado,) esse grupo de quatro letras semente é designado como Eunuco.

(Depois disso, Śakti) manifesta a letra semente Trikoṇa --a vogal "e"-- por meio da combinação de Icchā --"i"-- com Anuttara --"a"-- e Ānanda --"ā"--, que foram mencionadas anteriormente. E, por meio da união de Unmeṣa --"u"-- com Anuttara --"a"-- e Ānanda --"ā"--, (Ela manifesta) a letra "o", cuja natureza indica (o aparecimento de) Kriyāśakti. (Posteriormente,) combinando esses previamente nencionados grupos formados por duas letras semente, --isto é, os grupos "a-ā" e "e-o"--, (Śakti) manifesta Ṣaṭkoṇa --a vogal "ai"-- e a letra semente Śūla --a vogal "au"--. Visto que, (na letra "au",) há predomínio de Kriyāśakti --em sua plenitude-- penetrada por Icchāśakti e Jñānaśakti, (a Deusa manifesta essa letra) como estando composta pela união ou combinação das três śakti-s (mencionadas acima, ou seja, Icchā, Jñāna e Kriyā).

(Depois disso, Śakti) manifesta Bindu, cuja natureza é um indiviso Conhecimento do universo, (certamente) até as suas fronteiras. (Posteriormente, essa Śakti) exibe a etapa do Visarga, que consiste em um par de pontos que estão repletos de simultânea emissão externa (e) interna. (Então,) por causa de tudo isso (que foi mencionado), (a Deusa Suprema) --por meio da (Sua) Consciência interna--, mostra esse universo como repousando somente em Anuttara --isto é, a vogal "a"--; mas, por meio da (Sua) Consciência externa, (Ela) manifesta --por meio das śakti-s ou poderes a-i-u-ṛ-ḷ-- cinco grupos de cinco letras (cada) --começando pela letra "ka" e terminando com a letra "ma"-- como um conjunto (de cinco grupos formados por cinco tattva-s ou categorias cada) --(começando pelo tattva 36 ou elemento terra) e finalizando com Puruṣa --tattva 12----|

E, para cada śakti, (isto é, para cada uma dessas cinco letras --a, i, ṛ, ḷ e u--), há um grupo de cinco śakti-s. Dessa forma, a partir de cada uma (dessas śakti-s, produz-se) um surgimento de cinco (letras)|

(Depois disso,) a partir das mesmas śakti-s --começando por "ā"--, (o Supremo Poder) manifesta as quatro letras denominadas Antastha, (isto é, as letras "ya, ra, la e va") --em conformidade com a terminologia que se utiliza em Śikṣā (a ciência da fonética)--, já que residem, junto com Niyati e os outros Kañcuka-s, dentro de Puruṣa. (Por outro lado,) nas escrituras reveladas, são designadas por meio do termo Dhāraṇā, porque apoiam o universo ao sustentar a etapa de "conhecedor ou experimentador limitado". Por cima desse (Māyātattva, a Venerável Śakti) manifesta as quatro letras chamadas Ūṣmā (ou seja, as letras "śa, ṣa, sa e ha"), pois são mostradas durante o desaparecimento da diferença e o (subsequente) aparecimento da não diferença|

E aqui, (isto é, nas letras Ūṣmā, Śakti ou a consciência do Eu) exibe, por último, a completamente perfeita letra Amṛta, (a letra "sa"), que se situa ao final de toda a Manifestação. Depois disso, (Ela) mostra o Prāṇabīja, (a letra "ha". Ela realiza) isso para que uma pessoa se dê conta ou reconheça que esse universo [cuja forma abrange Vācaka --(palavras)-- (e) Vācya --(objetos denotados por essas palavras)-- e consiste na expansão dos seis cursos ou caminhos] alcança a sua plenitude em Anāhatamaya, (um epíteto para a letra "ha"), devido a Anuttaraśakti (a letra "a" ou Śiva)|

Por conseguinte, o princípio ou essência da consciência do Eu, cuja natureza é a Virilidade ou Poder do Grande Mantra, (é como segue): "O universo, por meio de Pratyāhāra, está impregnado por Anuttara e Anāhata, (isto é, pelas letras "a" e "ha", respectivamente, as quais são) certamente Śiva e Śakti. (Por essa razão,) ele --em outras palavras, "o universo"-- somente consiste Nisto --ou seja, " em Śiva e Śakti"--"|

Tal como foi dito por meio dos versos de Utpaladeva, nosso eminente (e) supremo Mestre:

"O Descanso ou Repouso dentro de Si Mesma (é) indubitavelmente conhecido como o conceito de "eu". Isso é certamente chamado de Descanso ou Repouso, já que exclui toda expectativa. Ademais, é Liberdade Absoluta, Principal Condição de Fazedor, bem como Completa Supremacia"|

Portanto, o que até agora (foi denominado) "a essência de Mātṛkā", isso mesmo foi mostrado ao final. (Esse Kūṭabīja) é um Pratyāhāra da letra "ka" (e) da letra "sa". (Dessa forma, esse Kūṭabīja) se forma a partir da combinação das essências --sāra-- de Anuttara (e) Visarga, (respectivamente). Chega de trazer à luz o que é secreto!|

(Sambodha, no aforismo,) é Completa Iluminação que consiste en uma absorção na própria Natureza Essencial, que é uma Compacta Massa de Consciência. (Completa Iluminação) com relação ao supracitado grupo de poderes (integrado por) Anuttara, Ānanda, Icchā, etc., (e que) está conectado com Mātṛkā, cuja --ou seja, de Mātṛkā-- Eficácia ou Poder foi indicada nas Escrituras Reveladas da seguinte maneira:

"... Não há nenhum conhecimento mais alto que (o de) Mātṛkā"|

Isso (foi) tratado aqui mediante mera indicação|

(Isto foi) certamente difundido (e) revelado por meio dos versos de nosso Mestre nos veneráveis Parātriṁśakāvivaraṇa, Tantrāloka, etc.|

No venerável Siddhāmṛta, (foi) também declarado (por Śiva Mesmo a Pārvatī, sua consorte):

"Aqui, essa Kuṇḍalinī (é) a Semente que é a Vida (e) cuja essência é a Consciência. A tríade cujo nome é Dhruva --vogal 'a'--, Icchā --vogal 'i'-- e Unmeṣa --vogal 'u'-- nasce Dela, (e) dessa (tríade), novamente, (nasce o resto das) letras.

A partir do Visarga (é produzido o grupo de letras) que começa pela letra "ka" (e) termina --anta-- na letra "sa". E, (por sua vez,) esse (Visarga aparece) de cinco formas:

(1) No lado de fora, (na forma do universo) e (2) dentro, (3) no coração, (4) em Nāda --isto é, na garganta, nesse caso-- (e) certamente (5) na Etapa Suprema --ou seja, entre as duas sobrancelhas--. (Além disso,) esse Bindu --isto é, Visarga-- indubitavelmente permeia desde o coração até o topo do crânio, (isto é), até o Ser (Ele Mesmo).

Contudo, os mantra-s desprovidos do 'a' inicial (e) 'ma' final --isto é, desprovidos de 'aham' ou 'Eu', ou seja, Śiva--, são como nuvens outonais.

A característica (essencial) de um Guru (é que) ele explica (aos seus discípulos esse Mahāmantra ou Grande Mantra) cuja medida (é a seguinte:) Inicia com 'a' (e) termina com 'ma' --isto é, 'Aham' ou Eu, ou seja, Śiva--. O Conhecedor, (esse) Divino Bhairava, deve ser adorado como Eu Mesmo.

Visto que --para tal Guru-- qualquer coisa, quer seja um hino de adoração, uma canção laudatória, etc., está unida ou conectada com (o Mahāmantra ou Grande Mantra) que começa com 'a' (e) termina com 'ma', segue que --lit. portanto-- (tal Guru,) conhecendo dessa forma, vê tudo apenas como um Mantra "|

Isto (foi) também (estabelecido) nas Spandakārikā-s:

"Esse mesmo Poder ou Śakti de Śiva, cuja natureza é atividade, permanece no paśu ou ser condicionado (e o) ata. (Contudo, quando Śakti) é conhecida ou entendida como permanecendo (no supracitado paśu) na forma do caminho em direção ao próprio Ser, produz sucesso"||
(Ver Spandakārikā-s III, 16)

(Dessa forma,) por meio dessa (citação), indicou-se (a mesma ideia,) mas indiretamente||7||

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 Aforismo 8

De tal (Yogī) que alcançou iluminação com relação ao grupo de letras—


O corpo (de uma pessoa sobre a qual se derramou a supracitada iluminação) (se torna) uma oblação||8||


O corpo cuja natureza é bruta --física--, sutil, etc., (e) que está borrifado com o estado de conhecedor --com o sentido de eu-- em todos (os seres), no caso do grande Yogī, (torna-se) uma oblação a ser oferecida no mais elevado fogo da Consciência, já que ele --o grande Yogī-- está constantemente imerso (em um estado onde somente) Cit --Consciência-- é (percebida como) o conhecedor ou experimentador --mātṛ-- por causa da cessação (da noção de que) o corpo é o conhecedor ou experimentador --pramātṛ--1 |

Isso é o que foi exposto no venerável Vijñānabhairava:

"(Quando o conjunto de) elementos, sentidos, objetos dos sentidos, etc., junto com a mente, é vertido no fogo onde existe a completa dissolução do grande vazio, isso (é verdadeira) oblação. A concha (é) Cetanā2 "||

Também no venerável Timirodghāṭa:

"(No caso de) alguém que (é) querido, que (é) um amigo, parente, doador, (ou) que (é) grandemente amado, oh deusa, devorando (a noção de que seu) corpo (é) Isso --o Ser--, a Mulher --ou seja, a Śakti-- no espaço da Consciência se eleva indubitavelmente"||

Aqui, o significado global (é) a extinção (da ideia de que) o corpo é o Conhecedor ou Experimentador --Pramātṛ--|

Inclusive no venerável Bhagavadgītā:

"Outros oferecem todas as ações dos indriya-s --os Poderes de percepção e ação-- e as ações das energias vitais no fogo do Yoga do autocontrole --também "controle da mente"-- acendido pelo conhecimento"||
(Ver Bhagavadgītā IV, 27)

Nas Spandakārikā-s, (o mesmo ensinamento) foi resumido por meio deste (aforismo):

"Quando se dissolve por completo a agitação... então o Supremo Estado ocorre"|
(Ver Spandakārikā-s I, 9)

"A agitação é a ideia de que o Ser --lit. 'Eu'-- é o corpo, etc.", (segundo o que) o venerável Kallaṭa (escreveu) no seu comentário (sobre as Spandakārikā-s)||8||

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1  Nesse contexto, o corpo não é só físico, mas também os corpos sutil, causal e supracausal. O corpo supracausal é Bindu, um ponto de Luz azul onde o gigantesco universo aparece como uma diminuta massa de Consciência pura. Esse conjunto de quatro corpos aparece geralmente "borrifado" com sentido de eu ou ego, ou seja, a grande maioria das pessoas está convencida de que é os seus corpos. No entanto, esse não é o caso com relação a um grande ser, já que mesmo o corpo espiritual (supracausal), que é tão sutil em comparação com o corpo físico, torna-se uma oblação a ser oferecida ao fogo de Deus assim como a manteiga clarificada, etc., é oferecida ao fogo pelos sacerdotes durante um sacrifício. Por quê? Porque esse ser santo atingiu a meta da vida, tendo percebido que o verdadeiro conhecedor ou experimentador é Cit (o Ser Supremo), e não o corpo. Então, após a Libertação final, esse ser elevado não está mais interessado no destino do corpo. Consequentemente, ele deixa esse assunto nas mãos de Deus.

O divino Ser pode fazer com que ele mantenha seu corpo, e esse estado denomina-se "Jīvanmukti", ou pode fazer com que abandone-o (Videhamukti). Em suma, esses seres santos permanecerão entre o resto das pessoas mantendo todos os quatro corpos, ou mantendo três, dois ou inclusive um (o corpo supracausal); ou ainda, não manterão nenhum corpo e se fundirão com Cit sem forma. Quando eles mantên os quatro corpos ou inclusive um, é sempre para o bem das pessoas devido à compaixão do Senhor. Alguns deles inclusive mantêm os quatro corpos por um tempo, e, quando abandonam os corpos físicos no momento da morte, mantêm unicamenteo corpo supracausal para viver em Siddhaloka (o mundo dos seres aperfeiçoados). De qualquer forma, do ponto de vista de uma alma libertada, não há manutenção ou descarte de corpos de forma alguma. É somente do ponto de vista de um ser limitado borrifado com sentido de eu que esses processos ocorrem. Muito bem, chega de falar sobre esses mistérios!Return 

2  Terei que te explicar essa complexa estrofe, pelo menos um pouco: O termo "ālaye" significa "em ālaya". Se você procurar a palavra "ālaya" no dicionário, encontrará "receptáculo, casa, moradia, etc.". No entanto, aqui, deve ser interpretada como "ā + laya" ou "completamente + dissolução". Em outras palavras, a partícula "ā" equivale a "samantāt" (inteiramente, completamente, etc.). De qualquer forma, o resultado final não é "dissolução completa", mas sim "aquilo onde existe dissolução completa", já que a palavra funciona como um Bahuvrīhi (para mais informação, ver Compostos atributivos). Bem, essa interpretação não foi uma ideia brilhante que tive quando acordei hoje de manhã. Não, ela pertence ao mesmo santo que está agora comentando sobre esta escritura, isto é, Kṣemarāja. Ele também compôs um comentário sobre o Vijñānabhairava. Sobre a estrofe 149 (a que é citada aqui), ele comenta:

"Mahāśūnyasya śūnyātiśūnyapadasya ā samantāllayo yatra paratattvātmani vahnau..." — "No fogo (o mais alto tattva ou categoria, isto é, Śiva) onde existe a completa dissolução do grande vazio, isto é, do estado de vazio além do vazio..."

O termo "mahāśūnya" ou grande vazio é definido pelo sábio como "śūnyātiśūnyapada" ou o estado de vazio além do vazio. Kṣemarāja não explica esse termo em profundidade lá, mas, como ele indica no seu comentário sobre o Svacchandatantra (uma escritura tântrica muito importante) que "śūnyātiśūnya" (o vazio além do vazio) é "Mahāmāyā" (a grande Māyā), pode-se utilizar tal interpretação nesse contexto. O tattva ou categoria chamado "Māyā" é o sexto. Essa Māyā é um vazio. Como "Mahāmāyā" opera nos tattva-s 3 a 5, pode-se dizer que ela é realmente o vazio além do vazio. Mahāmāyā produz diferenças mas exclui separação (p. ex., Eu sou o universo - isto é, Eu sou diferente dele mas não estou separado dele), enquanto Māyā gera tanto diferença quanto separação (p. ex., Eu não sou o universo - isto é, Eu sou diferente e estou separado dele). Perfeito, acho que está suficientemente claro.

"Cetanā" é a "srúk" ou concha, porque, da mesma forma que a concha derrama manteiga clarificada, etc., no fogo do sacrifício, Cetanā derrama Citta (a mente e sua progênie na forma de elementos, sentidos, objetos dos sentidos, etc.) em Cit ou Consciência pura (Śiva). Embora o termo "Cetanā" não possa ser traduzido com precisão em português (ou qualquer outra língua), Kṣemarāja menciona que:

"... cetanā viśvānusandhātrī śaktireva sruk..." — "Cetanā, a Śakti ou Poder que tudo explora, é certamente a concha"

Além de "explorar", o termo "anusandhātrī" significa "que une", ou seja, Cetanā une mente, sentidos, etc., com o Senhor Supremo. Bem, tenho que parar aqui, ou essa nota será muito longa. De qualquer forma, essa explicação foi meramente superficial.Return 

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 Aforismo 9

E, desse (Yogī)


O conhecimento (limitado) (é) o alimento||9||


Esse (conhecimento limitado), que foi descrito anteriormente (desta maneira:) "O conhecimento (limitado ou contraído) (é) escravidão" por meio do segundo (aforismo) da primeira Seção, (é) o alimento do Yogī, pois é comido (ou) devorado (por ele)1 |

(Esse ensinamento) está de acordo com o que (foi declarado) anteriormente (na seguinte estrofe da Bhargaśikhā):

Além disso, (existe outro significado para esse aforismo dentro da esfera de ação do significado mencionado acima): Esse conhecimento que consiste em consciência do Ser (é) o seu alimento, (já que,) produzindo plena satisfação, (torna-se) a causa do repouso no próprio Ser|

Além disso, (existe outro significado para esse aforismo dentro da esfera de ação do significado mencionado acima): Esse conhecimento que consiste em consciência do Ser (é) o seu alimento, (já que,) produzindo plena satisfação, (torna-se) a causa do repouso no próprio Ser|

Isso é declarado no venerável Vijñānabhairava:

"A satisfação causadora da plenitude que brota, dia a dia, naquele que está estabelecido2  em uma das muitas Yukti-s (ou Yoga-s) daqui --lit. aqui-- --ou seja, entre essas técnicas de concentração ensinadas nesta escritura--, (constitui,) a esse respeito, perfeição absoluta"||

(O termo) Yukti, (como um todo,) significa, nessa (estrofe,) o conhecimento de cento e doze etapas ou graus (de Yoga), certamente3 |

Isso foi resumido por este aforismo:

"... deve-se sempre permanecer desperto..."||4 
(Ver Spandakārikā-s III, 12)

||9||

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1  "Devorar", em um contexto de Trika, é a mesma coisa que "dar-se conta da unidade". Por exemplo, "devorar o conhecimento limitado" é "dar-se conta de que você é ele mesmo". Quando não há "outro" te atrapalhando, o conflito cessa e obtém-se a paz. Isso é confirmado por III,12 nas Spandakārikā-s, o qual o comentarista citará ao final do seu comentário sobre o atual aforismo.Return 

2  Kṣemarāja comenta resumidamente sobre esta estrofa do Vijñānabhairava:

""Ekatamayuktisthe yogini iti śeṣaḥ||148||" — "Naquele que está estabelecido em uma das muitas Yukti-s (ou Yoga-s), isto é, no Yogī. Deve-se adicionar isso (à estrofe para completar o sentido)||148||"Return 

3  O Vijñānabhairava é famoso por conter 112 tipos de técnicas de concentração.Return 

4  Sim, você pode ir a III,12 nas Spandakārikā-s e ler a estrofe inteira. De qualquer maneira, adicionarei a tradução aqui:

"Contemplando tudo o que está dentro do alcance da própria perceção através do conhecimento, deve-se sempre permanecer desperto (e) pôr tudo em um lugar --isto é, no Spanda--. Consequentemente, ele não é pressionado ou afligido por outro||12||"Return 

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 Aforismo 10

Mas, quando (o Yogī) não está assim atento constantemente, então, mesmo no caso (desse) conhecedor (do Ser), (ocorre o que se ensina no seguinte aforismo,) devido à debilitação da sua atenção—


Durante a submersão do Conhecimento (Puro), ocorre a aparição de modificações mentais (como em um sonho), as quais surgem por causa disso, (isto é, "as quais surgem por causa da submersão do Conhecimento Puro previamente citada")||10||


Durante a submersão (ou) imersão do Conhecimento Puro, que é uma expansão do previamente mencionado conhecimento --mencionado no aforismo anterior--1 , há a aparição (ou) claro surgimento de svapna --lit. sonho--, da múltipla manifestação, cheia de diferenças, de modificações mentais (como em um sonho. Esse svapna) surge por causa daquilo, (isto é,) por causa das impressões residuais de Conhecimento (Puro) que desvanecem de maneira gradual2 |

Isso é o que declara (o Senhor) no venerável Mālinīvijayatantra, começando (com o seguinte trecho, enquanto Ele fala sobre a obtenção de Śivatā ou o estado de Śiva, que é a mesma coisa que o surgimento do Conhecimento Puro):

"Isso é ensinado por Śaṅkara --Śiva-- quando Ele está contente, realmente!3  (Mas), mesmo quando isso é ensinado de uma maneira ou de outra, a impressão (desse Conhecimento Puro ou estado de Śiva) não permanece"||

(Posteriormente, estabelece-se, no Mālinīvijayatantra, que:)

"(No entanto,) para aquele que não permanece atento, mesmo se obtiver --lit. na obtenção-- meramente impressões latentes (que gerem poderes sobrenaturais), os Vināyaka-s --um certo tipo de demônios-- incitam e impelem a prazeres transitórios"||

Essa mesma (instrução) foi resumida por este (aforismo) nas Spandakārikā-s:

"De outro modo4 , o Poder manifestador, segundo as suas características, é sempre livre (para agir) como no caso das pessoas comuns, durante ambos os estados de vigília (e) sono"||
(Ver Spandakārikā-s III, 3)

Por essa mesma (razão), ensina-se (que) "(o ato de permanecer em sua natureza essencial) deve ser sempre realizado pelo Yogī cujo principal objetivo é a consciência do Conhecimento Puro"|

Segundo o que foi estabelecido no venerável Pūrva --isto é, no Mālinīvijayatantra-- --na terceira linha que encerra a estrofe acima que começa com "(No entanto,) para aquele que não permanece atento..."--:

"Portanto, por meio do (seu) desejo de (alcançar) a Mais Alta Realidade, (tal Yogī) não deveria entrar em estreito contato com esses (prazeres transitórios)"|

Além disso, nas Spandakārikā-s, (foi dito que:)

"Por essa razão, aquele que (está) constantemente preparado para discernir o princípio do Spanda alcança o seu próprio estado ou natureza (essencial) rapidamente, (inclusive em) vigília"||
(Ver Spandakārikā-s I, 21)

Dessa forma, (a Segunda Seção,) que começa com este (aforismo): "A mente (de alguém que constantemente reflete sobre a Mais Alta Realidade) (é) o Mantra" —aforismo 1 da segunda Seção—, (primeiramente) mostra --lit. "após mostrar" ou "mostrando"-- que Śāktopāya, que é definido pelas escrituras reveladas --Āgama-s-- (da seguinte maneira:)

"Aquele que reflete por meio da (sua) mente sobre a Realidade que não está dentro do campo de ação da pronúncia obtém uma absorção (no Ser Supremo). Aqui, essa (absorção) deve ser considerada como śākta --isto é, alcançada através de Śāktopāya--"||
(Ver Mālinīvijayatantra II, 22)

relaciona-se principalmente com a intensa consciência da potência de mantra e mudrā. (Posteriormente,) por meio do (último) aforismo (da Seção atual) —aforismo 10 da segunda Seção—: "Durante a submersão do Conhecimento (Puro), há a aparição de modificações mentais (como em um sonho), as quais surgem por causa disso, (isto é, "as quais surgem por causa da submersão do Conhecimento Puro previamente citada")", o qual está dirigido a (um buscador espiritual) com uma atenção débil, concede-se uma oportunidade a esse respeito para apresentar Āṇavopāya, (isto é, o upāya ou meio sobre o qual versa a próxima Seção)5 |

Que haja bem-estar (para todos os seres)!||10||

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1  O Conhecimento Puro não é nada mais que uma expansão do conhecimento limitado, ou ainda, o segundo é uma contração do primeiro. Se alguém pensar que ambos são distintos entre si, essa pessoa ainda não se deu conta da essência da Realidade.Return 

2  Obviamente, a minha tradução da última porção foi uma adaptação, já que a estrutura em português não é igual à estrutura em Sânscrito. Em Sânscrito, diz-se literalmente: "tadutthasya kramātkramanyakkṛtavidyāsaṁskārasya" - "do que surge por causa daquilo, daquele no qual as impressões residuais de Conhecimento estão desvanecendo de maneira gradual". Como isso está correto em Sânscrito mas é difícil de ler em português, tive que dispor a oração de maneira diferente e também adicionar termos entre parênteses para completar o sentido: "(Esse svapna) surge por causa daquilo, (isto é,) por causa das impressões residuais de Conhecimento (Puro) que desvanecem de maneira gradual".Return 

3  A frase "Na ca... aprasannena", quando traduzida literalmente, significa: "Não... por aquele que não está contente". A partícula "ca", nesse caso, não significa "e" (a conjunção), mas sim funciona como um mero expletivo, que adiciona ênfase à expressão, mas fica sem tradução. Por sua vez, quando há uma combinação de "na + na" ou "na + uma partícula privativa", o resultado é uma forte afirmação. A partícula privativa, nesse caso, é o "a" em "a-prasannena". É por isso que traduzi tudo como uma exclamação e adicionei "realmente" para adicionar mais ênfase: "quando Ele está contente, realmente!". Bem, só um comentário gramatical para estudantes de Sânscrito que se perguntam por que fiz tudo isso.Return 

4  "De outro modo", ou seja, "quando o Yogī negligencia a sua súplica e deixa de ser consciente da sua natureza essencial". Leia os dois aforismos anteriores nas Spandakārikā-s para entender plenamente o significado disso.Return 

5  O último aforismo dá a oportunidade ou ocasião (anuṣaṅga) para apresentar Āṇavopāya, já que indica que Śuddhavidyā ou Conhecimento Puro desapareceu. O Conhecimento Puro é vital para ter sucesso em Śāktopāya, mas o buscador espiritual cuja atenção é débil perde de vista essa Śuddhavidyā. Então, a que método ou upāya recorrerá esse buscador? A resposta é: Āṇavopāya. Esse é o significado.Return 

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 Fim da Seção II

Desde o início (da escritura), o número de aforismos (subiu, agora, para) trinta e dois --22 da primeira Seção e 10 da segunda Seção--||

Aqui, termina a segunda Seção, chamada Śāktopāyaprakāśana --(a Seção) que revela o meio que pertence a Śakti--, na Śivasūtravimarśinī, escrita pelo venerável Kṣemarāja, que depende dos pés de lótus --ou seja, pés belos como um lótus-- do eminente preceptor espiritual Abhinavagupta, devoto de Maheśvara, o Grande Senhor --epíteto de Śiva--||2||

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.