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 Śivasūtravimarśinī: Seção I (aforismos 1 a 10)

Tradução normal


 Introdução

Tem início a Śivasūtravimarśinī. Primeiro, Kṣemarāja apresenta uma oração propiciatória a Śaṅkara (Śiva). Segundo, ele explica as razões que o forçaram a escrever o seu comentário. Terceiro, ele narra como ocorreu a descoberta dos Śivasūtra-s. Eu te disse antes que existem três versões que explicam como foram descobertos os Śivasūtra-s. Aqui, Kṣemarāja explica a sua versão dos fatos. Finalmente, ele começa a comentar os aforismos propriamente ditos.

Este é o primeiro grupo de 10 aforismos dos 22 aforismos que formam a primeira Seção (que versa sobre Śāmbhavopāya). Como você sabe, a obra inteira é composta dos 77 aforismos dos Śivasūtra-s mais os respectivos comentários.

É claro que também inserirei os aforismos de Śiva sobre os quais Kṣemarāja estiver comentando. Apesar de que não comentarei sobre os sūtra-s originais ou sobre o comentário de Kṣemarāja, escreverei algumas notas para esclarecer certos pontos sempre que for necessário. Se você quiser uma explicação detalhada dos significados ocultos dessa escritura, vá a "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.

O Sânscrito de Kṣemarāja estará em verde escuro, enquanto os aforismos originais de Śiva serão exibidos em vermelho escuro. Por sua vez, dentro da transliteração, os aforismos originais estarão em marrom, enquanto os comentários de Kṣemarāja estarão em preto. Além disso, dentro da tradução, os aforismos oriiginais de Śiva, ou seja, os Śivasūtra-s, estarão em verde e preto, enquanto o comentário de Kṣemarāja terá palavras tanto em preto quanto em vermelho.

Leia a Śivasūtravimarśinī e experimente Supremo Deleite, querido Śiva.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Oração propiciatória a Śaṅkara

रुद्रक्षेत्रज्ञवर्गः समुदयति यतो यत्र विश्रान्तिमृच्छेद्-
यत्तत्त्वं यस्य विश्वं स्फुरितमयमियद्यन्मयं विश्वमेतत्।
स्वाच्छन्द्यानन्दवृन्दोच्छलदमृतमयानुत्तरस्पन्दतत्त्वं
चैतन्यं शाङ्करं तज्जयति यदखिलं द्वैतभासाद्वयात्म॥

Rudrakṣetrajñavargaḥ samudayati yato yatra viśrāntimṛcched-
yattattvaṁ yasya viśvaṁ sphuritamayamiyadyanmayaṁ viśvametat|
Svācchandyānandavṛndocchaladamṛtamayānuttaraspandatattvaṁ
caitanyaṁ śāṅkaraṁ tajjayati yadakhilaṁ dvaitabhāsādvayātma||


Essa (tad) Consciência (caitanyam) de Śaṅkara (śāṅkaram), que (yad) (é) completamente (akhilam) não dual (advaya-ātma) (mas tem) aparência ou brilho (bhāsa) de dualidade (dvaita), que (yad) (é) a Realidade (tattvam) a partir da qual (yatas) a classe ou grupo (vargaḥ) de Rudra-s (rudra) (e) Kṣetrajña-s (kṣetrajña) surge (samudayati) (e) na qual (yatra) finalmente repousa (viśrāntim ṛcchet), cujo (yasya) universo (viśvam) consiste (mayam) de uma pulsação (sphurita) --ou então, uma tradução alternativa seria "cujo universo se manifesta a partir Dela Própria"--, cuja (yasya) extensão (iyat) (é) este (próprio) (etad) universo (viśvam), que está repleto (mayam) Disso --ou seja, dessa Consciência-- (yad), triunfa --isto é, "é vitoriosa"-- (jayati). (Em suma, essa Consciência de Śaṅkara é) o princípio (tattvam) da Vibração Primordial (spanda) de Anuttara --isto é, "Śiva, o Ser Supremo"-- (anuttara), que é composto (maya) pelo Néctar (amṛta) que emerge (ucchalat) de uma Massa (vṛnda) de Liberdade (svācchandya) e Bem-aventurança (ānanda).

Ao início


 Razões para escrever este comentário

असामञ्जस्यमालोच्य वृत्तीनामिह तत्त्वतः।
शिवसूत्रं व्याकरोमि गुर्वाम्नायविगानतः॥

Asāmañjasyamālocya vṛttīnāmiha tattvataḥ|
Śivasūtraṁ vyākaromi gurvāmnāyavigānataḥ||


Tendo notado (ālocya) incongruência (asāmañjasyam) nos comentários (vṛttīnām) desta época (iha), por não serem consistentes (vigānataḥ) com a Sagrada Tradição (āmnāya) dos Guru-s ou Mestres (guru), exponho (vyākaromi) os Śivasūtra-s (śivasūtram) de acordo com o seu verdadeiro significado (tattvatas).

Ao início


 Descoberta dos Śivasūtra-s

इह कश्चिच्छक्तिपातवशोन्मिषन्माहेश्वरभक्त्यतिशयादनङ्गीकृताधरदर्शनस्थनागबोध्यादिसिद्धादेशनः शिवाराधनपरः पारमेश्वरनानायोगिनीसिद्धसत्सम्प्रदायपवित्रितहृदयः श्रीमहादेवगिरौ महामाहेश्वरः श्रीमान् वसुगुप्तनामा गुरुरभवत्। कदाचिच्चासौ द्वैतदर्शनाधिवासितप्राये जीवलोके रहस्यसम्प्रदायो मा विच्चेदीत्याशयतोऽनुजिघृक्षापरेण परमशिवेन स्वप्नेऽनुग्रह्योन्मिषितप्रतिभः कृतो यथात्र महीभृति महति शिलातले रहस्यमस्ति तदधिगम्यानुग्रहयोग्येषु प्रकाशयेति। प्रबुद्धश्चासावन्विष्यंस्तां महतीं शिलां करस्पर्शनमात्रपरिवर्तनतः संवादीकृतस्वप्नां प्रत्यक्षीकृत्येमानि शिवोपनिषत्सङ्ग्रहरूपाणि शिवसूत्राणि ततः समाससाद। एतानि च सम्यगधिगम्य भट्टश्रीकल्लटाद्येषु सच्छिष्येषु प्रकाशितवान् स्पन्दकारिकाभिश्च सङ्गृहीतवान्। तत्पारम्पर्यप्राप्तानि स्पन्दसूत्राण्यस्माभिः स्पन्दनिर्णये सम्यग्निर्णीतानि। शिवसूत्राणि तु निर्णीयन्ते॥
तत्र प्रथमं नरेश्वरभेदवादिप्रातिपक्ष्येण चैतन्यपरमार्थतः शिव एव विश्वस्यात्मेत्यादिशति—

Iha kaścicchaktipātavaśonmiṣanmāheśvarabhaktyatiśayādanaṅgīkṛtādharadarśanasthanāgabodhyādisiddhādeśanaḥ śivārādhanaparaḥ pārameśvaranānāyoginīsiddhasatsampradāyapavitritahṛdayaḥ śrīmahādevagirau mahāmāheśvaraḥ śrīmān vasuguptanāmā gururabhavat|  Kadāciccāsau dvaitadarśanādhivāsitaprāye jīvaloke rahasyasampradāyo mā vicchedītyāśayato'nujighṛkṣāpareṇa paramaśivena svapne'nugrahyonmiṣitapratibhaḥ kṛto yathātra mahībhṛti mahati śilātale rahasyamasti tadadhigamyānugrahayogyeṣu prakāśayeti|  Prabuddhaścāsāvanviṣyaṁstāṁmahatīṁ śilāṁ karasparśanamātraparivartanataḥ saṁvādīkṛtasvapnāṁ pratyakṣīkṛtyemāni śivopaniṣatsaṅgraharūpāṇi śivasūtrāṇi tataḥ samāsasāda|  Etāni ca samyagadhigamya bhaṭṭaśrīkallaṭādyeṣu sacchiṣyeṣu prakāśitavān spandakārikābhiśca saṅgṛhītavān|  Tatpāramparyaprāptāni spandasūtrāṇyasmābhiḥ spandanirṇaye samyagnirṇītāni|  Śivasūtrāṇi tu nirṇīyante||
Tatra prathamaṁ nareśvarabhedavādiprātipaksyeṇa caitanyaparamārthataḥ śiva eva viśvasyātmetyādiśati—


Neste mundo (iha), sobre a Venerável (śrī) montanha (girau) Mahādeva (mahādeva), (vivia) alguém (kaścid) digno de reverência (śrīmān). Seu coração (hṛdayaḥ) havia sido purificado (pavitrita) pela Nobre (sat) Tradição (sampradāya) dos diversos (nānā) Seres Aperfeiçoados (siddha) e Yoginī-s (yoginī) do Senhor Supremo (pārameśvara). Ele era dedicado (paraḥ) à adoração (ārādhana) do Auspicioso (śiva). Devido a um excesso (atiśayāt) de devoção (bhakti) ao Grande Senhor (māheśvara), a qual se manifestava brilhantemente (nele) (unmiṣat) devido (vaśa) à Descida (pāta) de Poder (śakti) --a Graça Divina--, dava um ensinamento (ādeśanaḥ) que não concordava (anaṅgīkṛta) com o que era dado por Seres Aperfeiçoados (no Budismo) (siddha) tais como Nāgabodhi (nāgabodhi), entre outros (ādi), que estavam ocupados (stha) com pontos de vista (darśana) inferiores (adhara). Ele era (abhavat) um grande devoto do Senhor (mahāmāheśvaraḥ) e um Guru (guruḥ). Seu nome (nāmā): Vasugupta (vasugupta).

E (ca), certa vez (kadācid), o Supremo (parama) Śiva (śivena), disposto (pareṇa) a mostrar Favor (anujighṛkṣā) e munido da intenção (iti-āśayataḥ) de: "Que a Secreta (rahasya) Tradição (sampradāyaḥ) não (mā) se interrompa (vicchedi) neste mundo (loke) de seres vivos (jīva), que é, em sua maioria (prāye), perfumado (adhivāsita) pelo ponto de vista (darśana) dualista (dvaita)!", expandiu (unmiṣita... kṛtaḥ), em sonho (svapne), a consciência (pratibhaḥ) desse (Vasugupta) (asau), conferindo-lhe Graça Divina (anugrahya). (Disse-lhe) isto (yathā... iti):

"Aqui mesmo (atra), nesta montanha (mahībhṛti), encontra-se (asti) o Secreto Ensinamento Esotérico (rahasyam) embaixo (tale) de uma grande (mahati) pedra (śilā). Tendo-a obtido (tad adhigamya), revele-a (prakāśaya) àqueles que estejam aptos (yogyeṣu) a receber Graça Divina (anugraha)".

Após acordar (prabuddhaḥ ca), ele --Vasugupta-- (asau) começou a buscar (anviṣyan) essa (tām) grande (mahatīm) pedra (śilām). (E, após encontrá-la,) virou-a para baixo (parivartanataḥ) com um mero (mātra) toque (sparśana) da mão (kara), vendo com os seus próprios olhos (pratyakṣīkṛtya) o sonho (svapnām) confirmado (saṁvādīkṛta). Dessa forma (tatas) obteve (samāsasāda) esses (imāni) Aphorisms (sūtrāṇi) de Śiva (śiva), os quais (rūpāṇi) são um compêndio (saṅgraha) da Doutrina Esotérica (upaniṣad) de Śiva (śiva).

E (ca), após estudá-los (etāni... adhigamya) completamente (samyak), ele os revelou (etāni... prakāśitavān) a nobres (sad) discípulos (śiṣyeṣu) (tais como) o muito venerável (bhaṭṭaśrī) Kallaṭa (kallaṭa), entre outros (ādyeṣu), e (ca) os compilou (etāni... saṅgṛhītavān) na forma das Spandakārikā-s (spandakārikābhiḥ). Os aforismos (sūtrāṇi) que versam sobre a Vibração Primordial (spanda) --isto é, Spandakārikā-s ou Spandasūtra-s--, obtidos (prāptāni) a partir dessa (tad) ininterrupta sucessão discipular (pāramparya), foram completamente (samyak) investigados (nirṇītāni) por nós (asmābhiḥ) no Spandanirṇaya (spandanirṇaye). E agora (tu), os Śivasūtra-s (śivasūtrāṇi) estão sendo investigados (nirṇīyante).

Neles --ou seja, nos Śivasūtra-s-- (tatra), ensina-se (ādiśati), primeiramente (prathamam), em completa oposição (prātipakṣyeṇa) aos que seguem a doutrina (vādi) da diferença (bheda) entre o homem (nara) e o Senhor (īśvara), que "unicamente (eva) Śiva (śivaḥ), no mais alto sentido (paramārthatas) da (palavra) Consciência (caitanya), (é) o Ser (ātmā) do universo (viśvasya... iti)"—

Ao início


 Aforismo 1


चैतन्यमात्मा॥१॥


इहाचेतितस्य कस्यापि सत्त्वाभावाच्चितिक्रिया सर्वसामान्यरूपा इति चेतयत इति चेतनः सर्वज्ञानक्रियास्वतन्त्रस्तस्य भावश्चैतन्यं सर्वज्ञानक्रियासम्बन्धमयं परिपूर्णं स्वातन्त्र्यमुच्यते। तच्च परमशिवस्यैव भगवतोऽस्त्यनाश्रितान्तानां तत्परतन्त्रवृत्तित्वात्। स च यद्यपि नित्यत्वव्यापकत्वामूर्तत्वाद्यनन्तधर्मात्मा तथापि नित्यत्वादीनामन्यत्रापि सम्भाव्यत्वादन्यासम्भविनः स्वातन्त्र्यस्यैवोद्धुरीकारप्रदर्शनमिदम्। इत्यं धर्मान्तरप्रतिक्षेपतश्च चैतन्यमिति भावप्रत्ययेन दर्शितम्। तदेतदात्मा न पुनरन्यः कोऽपि भेदवायभ्युपगतो भिन्नभिन्नस्वभावः। तस्याचैतन्ये जडतयानात्मत्वात्। चिदात्मत्वे भेदानुपपत्तेश्चितो देशकालाकारैश्चिद्व्यतिरेकादचेत्यमानत्वेनासद्भिश्चेत्यमानत्वेन तु चिदात्मभिर्भेदस्याधातुमशक्यत्वाच्चिन्मात्रत्वे त्वात्मनां स्वभावभेदस्याघटनाद्वक्ष्यमाणनीत्याव्यतिरिक्तमलसम्बन्धयोगेनापि भेदस्य अनुपपत्तेः प्राङ्मलस्य सत्त्वेऽपि मुक्तिदशायां तदुपशमनान्नानात्मवादस्य वक्तुमशक्यत्वान्मलसंस्कारसम्भवे वानादिशिवात्कथञ्चिदपकर्षे वा मुक्तिशिवाः संसारिण एव स्युरिति। यथोक्तं चैतन्यमेक एवात्मेति नानात्मवादस्यानुपपत्तिः सूचिता। अथ चात्मा क इति जिज्ञासुनुपदेश्यान्प्रति बोधयितुं न शरीरप्राणबुद्धिशून्यानि लौकिकचार्वकवैदिकयोगाचारमाध्यमिकाद्यभ्युपगतान्यात्मापि तु यथोक्तं चैतन्यमेव। तस्यैव शरीरादिकल्पितप्रमातृपदेऽप्यकल्पिताहंविमर्शमयसत्यप्रमातृत्वेन स्फुरणात्। तदुक्तं श्रीमृत्युजिद्भट्टारके

परमात्मस्वरूपं तु सर्वोपाधिविवर्जितम्।
चैतन्यमात्मनो रूपं सर्वशास्त्रेषु पठ्यते।

इति। श्रीविज्ञानभैरवेऽपि

चिद्धर्मा सर्वदेहेषु विशेषो नास्ति कुत्रचित्।
अतश्च तन्मयं सर्वं भावयन्भवजिज्जनः॥

इति। एतदेव

यतः करणवर्गोऽयं...।

इति कारिकाद्वयेन सङ्गृह्योपदेश्यान्प्रति साभिज्ञानं गुरुणोपदिष्टं श्रीस्पन्दे।

किञ्च यदेतच्चैतन्यमुक्तं स एवात्मा स्वभावो विशेषाचोदनाद्भावाभावरूपस्य विश्वस्य जगतः। नह्यचेत्यमानः कोऽपि कस्यापि कदाचिदपि स्वभावो भवति। चेत्यमानस्तु स्वप्रकाशचिदेकीभूतत्वाच्चैतन्यात्मैव। तदुक्तं श्रीमदुच्छुष्मभैरवे

यावन्न वेदका एते तावद्वेद्याः कथं प्रिये।
वेदकं वेद्यमेकं तु तत्त्वं नास्त्यशुचिस्ततः॥

इति। एतदेव

यस्मात्सर्वमयो जीवः...।

इति कारिकाद्वयेन सङ्गृहीतम्।

यतः चैतन्यं विश्वस्य स्वभावस्तत एव तत्साधनाय प्रमाणादि वराकमनुपयुक्तं तस्यापि स्वप्रकाशचैतन्याधीनसिद्धिकत्वाच्चैतन्यस्य च प्रोक्तयुक्त्या केनाप्यावरीतुमशक्यत्वात्सदा प्रकाशमानत्वात्। यदुक्तं श्रीत्रिकहृदये

स्वपदा स्वशिरश्छायां यद्वल्लङ्घितुमीहते।
पादोद्देशे शिरो न स्यात्तथेयं वैन्दवी कला॥

इति। यो लङ्घितुमीहते तस्य यथा पादोद्देशे शिरो न स्यात्तथेयमित्यत्र सम्बन्धः। अनेनैवाशयेन स्पन्दे

यत्र स्थितम्...।

इत्याद्युपक्रम्य

...तदस्ति परमार्थतः॥

इत्यन्तेन महता ग्रन्थेन शङ्करात्मकस्पन्दतत्त्वरूपं चैतन्यं सर्वदा स्वप्रकाशं प्रमार्थसदस्तीति प्रमाणीकृतम्॥१॥


Caitanyamātmā||1||


Ihācetitasya kasyāpi sattvābhāvāccitikriyā sarvasāmānyarūpā iti cetayata iti cetanaḥ sarvajñānakriyāsvatantrastasya bhāvaścaitanyaṁ sarvajñānakriyāsambandhamayaṁ paripūrṇaṁ svātantryamucyate| Tacca paramaśivasyaiva bhagavato'styanāśritāntānāṁ tatparatantravṛttitvāt| Sa ca yadyapi nityatvavyāpakatvāmūrtatvādyanantadharmātmā tathāpi nityatvādīnāmanyatrāpi sambhāvyatvādanyāsambhavinaḥ svātantryasyaivoddhurīkārapradarśanamidam| Itthaṁ dharmāntarapratikṣepataśca caitanyamiti bhāvapratyayena darśitam| Tadetadātmā na punaranyaḥ ko'pi bhedavādyabhyupagato bhinnabhinnasvabhāvaḥ| Tasyācaitanye jaḍatayānātmatvāt| Cidātmatve bhedānupapatteścito deśakālākāraiścidvyatirekādacetyamānatvenāsadbhiścetyamānatvena tu cidātmabhirbhedasyādhātumaśakyatvāccinmātratve tvātmanāṁ svabhāvabhedasyāghaṭanādvakṣyamāṇanītyāvyatiriktamalasambandhayogenāpi bhedasyānupapatteḥ prāṅmalasya sattve'pi muktidaśāyāṁ tadupaśamanānnānātmavādasya vaktumaśakyatvānmalasaṁskārasambhave vānādiśivātkathañcidapakarṣe vā muktiśivāḥ saṁsāriṇa eva syuriti| Yathoktaṁ caitanyameka evātmeti nānātmavādasyānupapattiḥ sūcitā| Atha cātmā ka iti jijñāsūnupadeśyānprati bodhayituṁ na śarīraprāṇabuddhiśūnyāni laukikacārvakavaidikayogācāramādhyamikādyabhyupagatānyātmāpi tu yathoktam caitanyameva| Tasyaiva śarīrādikalpitapramātṛpade'pyakalpitāhaṁvimarśamayasatyapramātṛtvena sphuraṇāt| Taduktaṁ śrīmṛtyujidbhaṭṭārake

Paramātmasvarūpaṁ tu sarvopādhivivarjitam|
Caitanyamātmano rūpaṁ sarvaśāstreṣu paṭhyate|

iti| Śrīvijñānabhairave'pi

Ciddharmā sarvadeheṣu viśeso nāsti kutracit|
Ataśca tanmayaṁ sarvaṁ bhāvayanbhavajijjanaḥ||

iti| Etadeva

Yataḥ karaṇavargo'yaṁ...|

iti kārikādvayena sangṛhyopadeśyānprati sābhijñānaṁ guruṇopadiṣṭaṁ śrīspande|

Kiñca yadetaccaitanyamuktaṁ sa evātmā svabhāvo viśeṣācodanādbhāvābhāvarūpasya viśvasya jagataḥ| Nahyacetyamānaḥ ko'pi kasyāpi kadācidapi svabhāvo bhavati| Cetyamānastu svaprakāśacidekībhūtatvāccaitanyātmaiva| Taduktaṁ śrīmaducchuṣmabhairave

Yāvanna vedakā ete tāvadvedyāḥ kathaṁ priye|
Vedakaṁ vedyamekaṁ tu tattvaṁ nāstyaśucistataḥ||

iti| Etadeva

Yasmātsarvamayo jīvaḥ...|

iti kārikādvayena saṅgṛhītam|

Yataḥ caitanyaṁ viśvasya svabhāvastata eva tatsādhanāya pramāṇādi varākamanupayuktaṁ tasyāpi svaprakāśacaitanyādhīnasiddhikatvāccaitanyasya ca proktayuktyā kenāpyāvarītumaśakyatvātsadā prakāśamānatvāt| Yaduktaṁ śritrikahṛdaye

Svapadā svaśiraśchāyāṁ yadvallaṅghitumīhate|
Pādoddeśo śiro na syāttatheyaṁ vaindavī kalā||

iti| Yo laṅghitumīhate tasya yathā pādoddeśe śiro na syāttatheyamityatra sambandhaḥ| Anenaivāśayena spande

Yatra sthitam...|

ityādyupakramya

...tadasti paramārthataḥ||

ityāntena mahatā granthena śaṅkarātmakaspandatattvarūpaṁ caitanyaṁ sarvadā svaprakāśaṁ paramārthasadastīti pramāṇīkṛtam||1||


A Consciência que é onisciente e onipotente (caitanyam) (é) o Ser, ou a verdadeira natureza da Realidade (ātmā)||1||


Aqui (iha), a atividade (kriyā) da Consciência (citi) é comum a todos --isto é, universal-- (sarvasāmānya-rūpā iti), devido à inexistência (sattva-abhāvāt) de algo (kasyāpi) não percebido --ou seja, de algo fora do alcance da Consciência-- (acetitasya). Um cetana (cetanaḥ) é um ser que é consciente e capaz de formar uma ideia em sua mente (cetayate iti), (e) que está dotado de Absoluta Liberdade (svatantraḥ) com relação a todo (sarva) conhecimento (jñāna) (e) atividade (kriyā). "Caitanya" (caitanyam) é o estado ou condição (bhāvaḥ) desse (ser consciente ou cetana) (tasya). (A palavra Caitanya) contém (mayam) (um afixo que conota) relação (sambandha)1 . (Portanto,) diz-se que (Caitanya) (ucyate) (é) total e perfeita (paripūrṇam) Liberdade (com relação a todo conhecimento e atividade) (svātantryam)|

E (ca) essa (Liberdade) (tad) é --pertence a-- (asti) unicamente (eva) do Senhor (bhagavataḥ) Paramaśiva --o Supremo Śiva-- (paramaśivasya). (Os outros seres, desde os Sakala-s ou indivíduos limitados) até Anāśritaśiva --uma fase entre os tattva(s) Śiva e Śakti-- (anāśritaśiva-antānām) (não possuem essa Liberdade), já que (a sua) existência (vṛttitvāt) depende (paratantra) Dele (tad)|

Embora (ca yadi api) Ele --o Senhor-- (saḥ) tenha (ātmā) infinitos (ananta) atributos (dharma) (tais como) eternidade (nityatva), onipresença (vyāpakatva), ausência de forma (amūrtatva), etc. (ādi), ainda assim (tathā api), devido ao fato de que existe a possibilidade (sambhāvyatvāt) de que a eternidade (nityatva), etc. (adīnām), (ocorra) inclusive (api) em algum outro lugar (anyatra), (aqui, está) somente (eva) sendo mostrada (pradarśanam idam) a predominância (uddhurīkāra) de Svātantrya ou Liberdade Absoluta (svātantryasya), (já que esse Svātantrya) não é possível (asambhavinaḥ) em (nenhum) outro (ser) (anya) (que não seja o Próprio Senhor)|

Dessa forma (ittham... ca), (o Seu principal dharma ou atributo) foi indicado (darśitam) por meio (pratyayena) do substantivo neutro (bhāva) "Caitanya" (caitanyam iti), excluindo (pratikṣepataḥ) (todos) os outros (antara) atributos (dharma)|

Por essa razão (tad), esse (Caitanya) (etad) (é) o Ser (ātmā), (e) nunca (na punar) alguma (kaḥ api) outra coisa (anyaḥ) de natureza (sva-bhāvaḥ) variada (bhinna-bhinna), como presumem (abhyupagataḥ) os que seguem a doutrina (vādi) da diferença (entre o Ser e os seres, e dos próprios seres entre si) (bheda)|

(Por um lado,) se houvesse inconsciência (acaitanye) nesse (Ātmā ou Ser) (tasya), (Ele seria) matéria inerte (jaḍatayā), pois seria "não Ser" (anātmatvāt). (Por outro lado,) se (Ātmā) fosse considerado essencialmente como (ātmatve) Consciência (cit), (haveria) insuficiência de meios (anupapatteḥ) para aplicar (a previamente mencionada doutrina da) diferença (bheda). Não é possível (aśakyatvāt) estabelecer ou aplicar (adhātum) (a doutrina da) diferença (bhedasya) a Cit ou Consciência (citaḥ) por meio de espaço (deśa), tempo (kāla) (ou) forma --ākāra-- (ākāraiḥ), (porque, se) fossem percebidos --ou seja, se espaço, tempo e forma estivessem dentro do alcance da Consciência-- (cetyamānatvena), (então) seriam essencialmente (ātmabhiḥ) Cit ou Consciência (cit), mas (tu), (se) não fossem percebidos --isto é, não estivessem dentro do alcance da Consciência-- (acetyamānatvena), por estarem desprovidos (vyatirekāt) de Cit (cit), seriam irreais (asadbhiḥ). Então (tu), a diferença (bhedasya) nas naturezas (sva-bhāva) dos seres (ātmanām) não pode ser estabelecida (aghaṭanāt). Inclusive (api) por meio (yogena) do contato (sambandha) com mala ou impureza (aparecendo na forma de Āṇava, Kārma e Māyīya2 ) (mala), (há) insuficiência de meios (anupapatteḥ) (para estabelecer a doutrina da) diferença (bhedasya), (já que mala) não é (algo que exite de forma) separada (avyatirikta) (da Consciência). Isso será explicado mais adiante (vakṣyamāṇa-nītyā). Ainda que (api) haja existência (sattve) de mala ou impureza (malasya) anterior (à Libertação) (prāk), é impossível (aśakyatvāt) postular (vaktum) a doutrina (vādasya) dos múltiplos (nānā) seres (ātma), já que existe cessação (upaśamanāt) desse (mala) (tad) no estado (daśāyām) de Mukti ou Emancipação Final (mukti). Se houvesse aparição (sambhave) de vestígios residuais (saṁskāra) de mala (mala) (após a Libertação), ou (vā) (se uma alma liberada estivesse) de alguma forma (katham cid) abaixo (apakarṣe) de Anādiśiva --o Śiva sem começo-- (anādi-śivāt), (então esses aparentes) śiva-s (śivāḥ) libertados (mukta) seriam (syuḥ... iti) certamente (eva) saṁsārī-s ou seres transmigratórios (saṁsāriṇaḥ)3 |

Tal como (yatha) foi estabelecido (uktam): "Caitanya ou Consciência com Absoluta Liberdade para conhecer e fazer tudo" (caitanyam) (é) apenas (eva) um único (ekaḥ) Ser (ātmā iti)". (Por meio dessa máxima,) foi indicada (sūcitā) a suficiência de meios (anupapattiḥ) (para manter) a doutrina (vādasya) de múltiplos (nānā) seres (ātma)|

E (ca) agora (atha), para (prati) comunicar (bodhayitum) (a resposta à pergunta) "O que (kaḥ iti) (é) o Ser (ātmā)?" para os discípulos (upadeśyān) que desejam saber (jijñāsūn), (Śiva --o autor dos Śivasūtra-s-- diz que) o Ser (ātmā) não é (na) o corpo (śarīra), a energia vital (prāṇa), Buddhi ou intelecto (buddhi) (ou) o Vazio --śūnya-- (śūnyāni), como presumem (abhyupagatāni) as pessoas comuns (laukika) e o sistema Cārvāka (cārvāka), a tradição védica (vaidika), o Budismo Yogācāra (yogācāra), o Budismo Mādhyamika (mādhyamika), etc. (ādi), (respectivamente,)4  mas sim (api tu), como (yathā) (já) foi afirmado (uktam), (o Ser é) apenas (eva) Caitanya ou Consciência dotada de Absoluta Liberdade ou Svātantrya (caitanyam)|

Mesmo (api) na condição (pade) na qual se imagina (kalpita) que o experimentador ou sujeito (pramātṛ) é o corpo (śarīra), etc. (ādi), (ainda existe) um estado de Experimentador (pramātṛtvena) verdadeiro ou real (satya) que consiste (maya) na natural e não imaginada (akalpita) consciência (vimarśa) do Eu (aham) devido a uma manifestação resplandecente (sphuraṇāt) desse (Caitanya) (tasya eva)|

Isso (tad) (também) foi dito (uktam) no venerável (śrī) Mṛtyujidbhaṭṭāraka --um epíteto do Netratantra-- (mṛtyujidbhaṭṭārake):

"Em todas (sarva) as escrituras (śāstreṣu), menciona-se (paṭhyate) que a natureza (rūpam) do Ser (ātmanaḥ) (é) Caitanya (caitanyam), o qual carece (vivarjitam) de toda (sarva) condição limitante (upādhi) (e) é essencialmente (sva-rūpam) o Supremo (parama) Ser (ātma), realmente (tu... iti)"|

No Vijñānabhairava (vijñānabhairave), também (foi estabelecido que) (api):

"(O Ser) caracterizado (dharmā) pela consciência (cit) (está presente) em todos (sarva) os corpos --deha(s)-- (deheṣu). Não existe nenhuma (na asti) diferença (viśeṣaḥ) em nenhum lugar (na... kutracid). Por essa razão (atas ca), uma pessoa (janaḥ) que contempla (bhāvayan) tudo (sarva) (como) idêntico (mayam) a esse (Ser) (tad) conquista (jit) a existência transmigratória (bhava... iti)."||

Tendo resumido ou sumarizado (saṅgṛhya) esse (etad) mesmo (conceito) (eva) na forma de dois (dvayena) aforismos (kārikā) (que se encontram) nas veneráveis (śrī) Spandakārikā-s (spande), (a saber,)

"Pelo qual (yatas) esse (ayam) grupo (vargaḥ) de órgãos ou instrumentos --intelecto, ego, mente, poderes de percepção e poderes de ação-- (karaṇa)..."|
(See Spandakārikā-s I, 6-7)

(esse conceito) foi ensinado (upadiṣṭam) aos (prati) discípulos (upadeśyān), acompanhado de (sa) sinais ou indícios que sirvam como prova (abhijñānam) pelo guru --i.e. Vasugupta, o autor dos Spandakārikā-s, segundo Kṣemarāja-- (guruṇā)|

Além disso (kiñca), esse (etad) Caitanya (caitanyam) que (yad) foi descrito (uktam) é apenas (eva) o Ser (saḥ... ātmā) (ou) natureza (svābhavaḥ) do mundo (jagataḥ), (isto é,) do universo (inteiro) (viśvasya), que consiste (rūpasya) de objetos existentes (bhāva) (e) inexistentes --imaginados-- (abhāva). (Essa conclusão é possível) porque (,no aforismo,) não se promove (acodanāt) o ser ou essência individual (de nenhum ser específico) (viśeṣa)|

Não há nada (na... kaḥ api... bhavati) que não seja percebido (por Cit ou Consciência) --em outras palavras, fora do alcance da Consciência-- (acetyamānaḥ), certamente (hi). Se não for percebido (por Cit) --isto é, se não for percebido pela Consciência-- (acetyamānaḥ), não (na) (poderá) jamais (kadācid api) haver (bhavati) a natureza ou ser (sva-bhāvaḥ) de nada (na... kasya api)|

Entretanto (tu), (se) for percebido (por Cit) --em outras palavras, se estiver dentro do alcance da Consciência-- (cetyamānaḥ), (terá) somente (eva) a natureza (ātmā) da Consciência (caitanya), já que está unido --ou seja, é um-- (ekībhūtatvāt) com o autoluminoso (sva--prakāśa) Cit ou Consciência (cit)|

Essa (mesma interpretação) (tad) foi mencionada (uktam) no venerável (śrīmat) Ucchuṣmabhairava (ucchuṣmabhairave):

"Oh querida (priye), enquanto (yāvat) esses (ete) conhecedores (vedakāḥ) (não estão presentes), como (katham) (podem esses) objetos cognoscíveis (vedyāḥ) (existir) durante esse lapso de tempo (tāvat)? Conhecedor (vedakam) (e) cognoscível (vedyam) (são) certamente (tu) um único (ekam) princípio (tattvam). Por essa razão (tatas), não há nada (na asti) que seja impuro (aśuciḥ... iti)."||

Essa (etad) mesma (interpretação) (eva) foi resumida (sangṛhītam) em dois (dvayena) aforismos (dos Spandakārikā-s) (kārikā):

"Devido ao fato de que (yatas) a alma individual (jīvaḥ) é idêntica (mayaḥ) a tudo (sarva... iti)..."|
(Ver Spandakārikā-s II, 3-4)

Devido ao fato de que (yatas) Caitanya (caitanyam) (é) a natureza essencial (sva-bhāvaḥ) do universo (viśvasya), consequentemente (tataḥ eva), Pramāṇa --ou o meio para obter conhecimento correto e válido-- (pramāṇa), etc. (ādi), (são) miseráveis (varākam) (e) inadequados (anupayuktam) para provar (sādhanāya) Isso --Caitanya ou Consciência com Absoluta Liberdade-- (tad), já que inclusive (api) a prova (siddhikatvāt) desse (Pramāṇa, etc.) (tasya) depende (adhīna) do autoluminoso (sva-prakāśa) Caitanya (caitanya). E (ca), de acordo com (yuktyā) o que foi mencionado anteriormente (prokta), é impossível (aśakyatvāt) que algo (kena api) vele ou cubra (āvarītum) Caitanya (caitanyasya), já que (este) está sempre emitindo luz --ou seja, Caitanya é sempre luminoso-- (sadā prakāśamānatvāt)|

Isso (tad) (também) foi dito (uktam) no venerável (śrī) Trikahṛdaya (trikahṛdaye):

"Da mesma forma que (yadvat), (quando) alguém tenta (īhate) saltar (laṅghitum) com o (sva)(padā) em cima da sombra (chāyām) da sua (sva) cabeça (śiras), (a sombra da) cabeça (śiras) não está (na syāt) no lugar (uddeśe) (onde pisa) o pé (pāda), também (tathā) (é assim com) essa (iyam) Vaindavī Kalā --ou Poder do Bindu5 -- (vaindavī kalā... iti)"||

"Da mesma forma que (yathā) a (sombra da) cabeça (śiras) daquele (tasya) que (yaḥ) tenta (īhate) saltar (sobre ela) (laṅghitum) não (na) está (syāt) no lugar (uddeśe) (onde pisa) o pé (pāda), assim também (tathā) é esse (Vaindavī Kalā) (iyam iti)", (essa é) a conexão sintática (sambandhaḥ) aqui (atra)|

Com essa (anena eva) intenção (āśayena), foi provado (iti pramaṇīkṛtam), nas Spandakārikā-s (spande), por meio de uma grande quantidade (mahatā) de estrofes (granthena), que Caitanya ou Consciência com total Liberdade para conhecer e fazer tudo (caitanyam) é (asti) sempre (sarvadā) a autoluminosa (sva-prakāśam) Verdade Absoluta (paramārthasat) (e) tem por natureza (rūpam) o principio (tattva) do Spanda --a Vibração Suprema-- (spanda), o qual é, essencialmente (ātmaka), Śaṅkara --ou Śiva-- (śaṅkara), (na estrofe) que começa (upakramya) (com):

"No qual (yatra) descansa (sthitam)... (iti ādi)6 "|
(Ver Spandakārikā-s I, 2)

(e) que termina (antena) (com):

"... isso (tad) é (asti), no mais alto sentido (paramārthatas... iti), (o princípio do Spanda)"|
(Ver Spandakārikā-s I, 5)

||1||

1  O afixo ao qual o autor se refere aqui é o conhecido afixo secundário ou Taddhita "yañ". Muito bem, vamos lá: pegue a palavra "cetana" (ser consciente), omita o "a" final e adicione "yañ" ao "cetan" resultante. Assim, você obtém "cetanyañ". Agora, mude o "e" para a sua forma Vṛddhi (alongada), ou seja, "ai". Bem, o resultado obtido é "caitanyañ". Agora, omita esse "ñ" final. Muito bem!: "caitanya" (o estado de um ser consciente, ou seja, a Consciência). Entretanto, a palavra Consciência não basta para definir Caitanya... Consciência Absoluta seria uma tradução melhor, mas é longa. Por isso, é geralmente traduzida como "Consciência". Bem, o afixo "yañ" indica "relação"... entre o ser e o seu estado, nesse caso, entendeu? Quer mais informação sobre afixos Taddhita?... vá ler os documentos de Afixos.Return 

2  O Āṇavamala é uma contração da suprema Vontade de Śiva por meio da qual Śiva sente que não é perfeito e pleno. O Māyīyamala é uma contração do supremo Conhecimento de Śiva por meio da qual Śiva sente que é diferente dos objetos (seres, coisas, etc.) e que esses objetos são diferentes entre si. Finalmente, o Kārmamala é uma contração da suprema Atividade de Śiva por meio da qual Śiva sente que é um fazedor limitado de ações igualmente limitadas.Return 

3  A teoria de Anādiśiva (Śiva sem começo) e dos śiva-s libertados é explicada no estudo desta escritura [Ver "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika].Return 

4  Por um lado, as pessoas comuns, bem como o sistema Cārvāka, pensam que o Ser é o corpo. Por outro lado, a tradição védica postula que o Ser é apenas prāṇa ou energia vital. Por sua vez, o Budismo Yogācāra estabelece que Ele é Buddhi ou intelecto. Finalmente, o Budismo Mādhyamika afirma que o Ser é apenas Vazio ou Śūnya. Isso é explicado em detalhes no meu estudo [Ver "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika].Return 

5  Vaindavī (ou Baindavī) Kalā é o Poder (Kalā) de Vindu ou Bindu. O Vindu ou Bindu é Śakti em uma forma extremamente compacta. Bem, o sentido, aqui, é que o Poder dessa Śakti ou Consciência do Eu sempre permanece como o conhecedor. Explico Baindavī Kalā em detalhes no meu estudo [Ver "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika].Return 

6  Escrevi três pontos para representar "Iti ādi" ou "etc.".Return 

Ao início


 Aforismo 2

यदि जीवजडात्मनो विश्वस्य परमशिवरूपं चैतन्यमेव स्वभावः तत्कथमयं बन्ध इत्याशङ्काशान्तये संहितया इतरथा च अकारप्रश्लेषाप्रश्लेषपाठतः सूत्रमाह—


ज्ञानं बन्धः॥२॥


इह उक्तयुक्त्या चित्प्रकाशव्यतिरिक्तं न किञ्चिदुपपद्यत इति मलस्यापि का सत्ता कीदृग्वा तन्निरोधकत्वं स्यादिति भेदवादोक्तप्रक्रियापरिहारेण

मलमज्ञानमिच्छन्ति संसाराङ्कुरकारणम्॥

इति।

अज्ञानाद्बध्यते लोकस्ततः सृष्टिश्च संहृतिः॥

इति श्रीमालिनीविजयश्रीसर्वाचारोक्तस्थित्या यः परमेश्वरेण स्वस्वातन्त्र्यशक्त्याभासितस्वरूपगोपनारूपया महामायाशक्त्या स्वात्मन्याकाशकल्पेऽनाश्रितात्प्रभृति मायाप्रमात्रन्तं सङ्कोचोऽवभासितः स एव शिवाभेदाख्यात्यात्मकाज्ञानस्वभावोऽपूर्णम्मन्यतात्मकाणवमलसतत्त्वसङ्कुचितज्ञानात्मा बन्धः। यथा च व्यतिरिक्तस्य मलस्यानुपपन्नत्वं तथा अस्माभिः श्रीस्वच्छन्दोद्द्योते पञ्चमपटलान्ते दीक्षाविचारे वितत्य दर्शितम्। एष च सूत्रार्थः

निजाशुद्ध्यासमर्थस्य...।

इति कारिकाभागेन सङ्गृहीतः। एवमात्मन्यनात्मताभिमानरूपाख्यातिलक्षणाज्ञानात्मकं ज्ञानं न केवलं बन्धो यावदनात्मनि शरीरादावात्मताभिमानात्मकमज्ञानमूलं ज्ञानमपि बन्ध एव। एतच्च

परामृतरसापायस्...।

इति कारिकया सङ्गृहीतम्। एवं चैतन्यशब्देनोक्तं यत्किञ्चित्स्वातन्त्र्यात्मकं रूपं तत्र चिदात्मन्यपि स्वातन्त्र्याप्रथात्मविज्ञानाकलवदपूर्णम्मन्यतामात्रात्मना रूपेण स्वातन्त्र्येऽपि देहादावबोधरूपेणानात्मन्यात्मताभिमानात्मना रूपेण द्विप्रकारमाणवमलमनेन सूत्रेण सूत्रितम्। तदुक्तं श्रीप्रत्यभिज्ञायाम्।

स्वातन्त्र्यहानिर्बोधस्य स्वातन्त्र्यस्याप्यबोधता।
द्विधाणवं मलमिदं स्वस्वरूपापहानितः॥

इति॥२॥

Yadi jīvajaḍātmano viśvasya paramaśivarūpaṁ caitanyameva svabhāvaḥ tatkathamayaṁ bandha ityāśaṅkāśāntaye saṁhitayā itarathā ca akārapraśleṣāpraśleṣapāṭhataḥ sūtramāha—


Jñānaṁ bandhaḥ||2||


Iha uktayuktyā citprakāśavyatiriktaṁ na kiñcidupapadyata iti malasyāpi kā sattā kīdṛgvā tannirodhakatvaṁ syāditi bhedavādoktaprakriyāparihāreṇa

Malamajñānamicchanti saṁsārāṅkurakāraṇam||

iti|

Ajñānādbadhyate lokastataḥ sṛṣṭiśca saṁhṛtiḥ||

iti śrīmālinīvijayaśrīsarvācāroktasthityā yaḥ parameśvareṇa svasvātantryaśaktyābhāsitasvarūpagopanārūpayā mahāmāyāśaktyā svātmanyākāśakalpe'nāśritātprabhṛti māyāpramātrantaṁ saṅkoco'vabhāsitaḥ sa eva śivābhedākhyātyātmakājñānasvabhāvo'pūrṇammanyatātmakāṇavamalasatattvasaṅkucitajñānātmā bandhaḥ| Yathā ca vyatiriktasya malasyānupapannatvaṁ tathā asmābhiḥ śrīsvacchandoddyote pañcamapaṭalānte dīkṣāvicāre vitatya darśitam| Eṣa ca sūtrārthaḥ

Nijāśuddhyāsamarthasya...|

iti kārikābhāgena saṅgṛhītaḥ| Evamātmanyanātmatābhimānarūpākhyātilakṣaṇājñānātmakaṁ jñānaṁ na kevalaṁ bandho yāvadanātmani śarīrādāvātmatābhimānātmakamajñānamūlaṁ jñānamapi bandha eva| Etacca

Parāmṛtarasāpāyas...|

iti kārikayā saṅgṛhītam| Evaṁ caitanyaśabdenoktaṁ yatkiñcitsvātantryātmakaṁ rūpaṁ tatra cidātmanyapi svātantryāprathātmavijñānākalavadapūrṇammanyatāmātrātmanā rūpeṇa svātantrye'pi dehādāvabodharūpeṇānātmanyātmatābhimānātmanā rūpeṇa dviprakāramāṇavamalamanena sūtreṇa sūtritam| Taduktaṁ śrīpratyabhijñāyām|

Svātantryahānirbodhasya svātantryasyāpyabodhatā|
Dvidhāṇavaṁ malamidaṁ svasvarūpāpahānitaḥ||

iti||2||


"Se (yadi) a natureza essencial (sva-bhāvaḥ) do universo (viśvasya) composto (ātmanaḥ) de seres limitados (jīva) (e) matéria inerte (jaḍa) (é) apenas (eva) Caitanya --Consciência onisciente e onipotente-- (caitanyam), cuja forma (rūpam) é Paramaśiva --o Supremo Śiva-- (paramaśiva), então (tad), como (katham) (pode existir) essa (ayam) escravidão (bandhaḥ iti)?". Para dissipar (śāntaye) (essa) dúvida (āśaṅkā), (o Senhor Śiva) declarou (āha) (o segundo) aforismo (sūtram), (mas) dotado de uma (dupla) leitura (pāṭhataḥ): com coalescência (praśleṣa) (e) sem coalescência (apraśleṣa) da letra (kāra) "a" (a). (Em outras palavras, Śiva o expressou) por meio da combinação de letras segundo as regras eufônicas --Regras de Sandhi-- (saṁhitayā) e também (ca) de maneira contrária --sem nenhum Sandhi ou combinação-- (itarathā)


O conhecimento (limitado ou contraído) (jñānam) (é) escravidão (bandhaḥ)||2||


Aqui (iha), por meio de uma conexão (yuktyā) com o que foi mencionado (antes) (ukta), (provou-se que) "nada (na kiñcid) existe (upapadyate) de forma separada (vyatiriktam) da Luz (prakāśa) da Consciência (cit... iti)". Então (malasya api), como é possível (kā) a existência (separada) (sattā) de mala --impureza--, e --lit. "ou"-- (vā) de que tipo (kīdṛś) é (syāt) a (sua) obstrução (nirodhakatvam) Disso --do Ser Supremo-- (tad)? --em outras palavras, "A que se assemelha a sua obstrução Disso?"--. Dessa forma (iti), excluindo mediante argumento (parihāreṇa) o procedimento (prakriyā) expresso (ukta) pela doutrina (vāda) dualista (bheda)1 :

"(Os grandes sábios) sustentam (icchanti) que mala ou impureza (malam) (é) ignorância (ajñānam) (e) o motivo (kāraṇam) para que brote (aṅkura... iti) o Saṁsāra --Transmigração-- (saṁsāra)"||

"O mundo (lokaḥ) está atado (badhyate) pela ignorância (ajñānāt), (e,) por essa razão (tatas), (atravessa) manifestação (sṛṣṭiḥ) e (ca) dissolução (saṁhṛtiḥ... iti)"||

como estabelecem firmemente (ukta-sthityā) as veneráveis (escrituras) (śrī... śrī) Mālinīvijaya (mālinīvijaya) (e) Sarvācāra (sarvācāra) (nas duas estrofes anteriores, respectivamente. Existe) uma contração --uma limitação-- (saṅkoca) que (yaḥ) o Senhor --Īśvara-- (īśvareṇa) Supremo (parama) faz aparecer (avabhāsitaḥ) por meio do poder (śaktyā) de Mahāmāyā (mahāmāyā)2 , cuja forma (rūpayā) consiste em ocultar (gopanā) a própria natureza essencial (sva-rūpa). (Essa Mahāmāyā) é manifestada (ābhāsita) pelo poder (śaktyā) da Sua (sva) Liberdade Absoluta (svātantrya). (Tal contração ou limitação aparece de maneira resplandecente no) Seu (sva) Ser (ātmani), que é como (kalpe) o céu (ākāśa), desde Anāśritaśiva (anāśritāt)3 , etc. (prabhṛti), até (antam) māyāpramātā --os experimentadores pralayākala e sakala-- (māyā-pramātṛ)4 . (É) escravidão (bandhaḥ) unicamente (eva) essa (limitação) (saḥ), cuja natureza (sva-bhāvaḥ) (jaz em) ignorância (ajñāna), que consiste (ātmaka) em "não se dar conta" (akhyāti) da (própria) unidade (abheda) com Śiva (śiva) (e) cuja essência (ātmā) (é) conhecimento (jñāna) contraído (saṅkucita) na forma (satattva) de Āṇavamala (āṇavamala), o qual --Āṇavamala-- consiste (ātmaka) em considerar(-se) (manyatā) como imperfeito (apūrṇam)|

E (ca), assim como (yathā) não pode ser provado (anupapannatvam) que mala ou impureza (malasya) (é) separado (da Consciência) (vyatiriktasya), da mesma forma (tathā), (o mesmo fato) foi mostrado (darśitam) extensamente (vitatya) por nós (asmābhiḥ) ao investigar (vicāre) dīkṣā --iniciação-- (dīkṣā) no (comentário) Uddyota (uddyote) sobre o venerável (śrī) Svacchandatantra (svacchanda), no final (ante) do quinto (pañcama) capítulo (paṭala)|

Esse (eṣaḥ ca) (mesmo) significado (arthaḥ) do aforismo (sūtra) foi resumido (saṅgṛhītaḥ) em uma porção (bhāgena) das Spandakārikā-s (kārikā):

"... desse (indivíduo limitado), que está incapacitado (asamarthasya) pela sua própria (nija) impureza --aśuddhi-- (aśuddhyā... iti)..."|
(Ver Spandakārikā-s I, 9)

Dessa forma (evam), não é (na) somente (kevalam) escravidão (bandhaḥ) esse conhecimento (limitado) (jñānam) que consiste (ātmakam) em ignorância (ajñāna), a qual aparece (lakṣaṇa) como "um não se dar conta" (akhyāti) caracterizado por (rūpa) considerar (abhimāna) o Ser (ātmani) como "não Ser" (anātmatā); mas sim, inclusive (yāvat), o (limitado) conhecimento (jñānam) -a raiz (mūlam) da ignorância (ajñāna)- que consiste (ātmakam) em considerar (abhimāna) o não Ser (anātmani), ou seja, o corpo (śarīra), etc. (ādau), como sendo o Ser (ātmatā), (é) também (api) escravidão (bandhaḥ), certamente (eva)|

Esse (conceito) (etad ca) foi (também) resumido (saṅgṛhītam) por meio do (seguinte) aforismo das Spandakārikā-s (kārikayā):

"... (implica) a perda (apāyaḥ) da seiva ou vigor (rasa) do Supremo (para) Néctar da Imortalidade (amṛta)..."|
(Ver Spandakārikā-s III, 14)

Dessa forma (evam), qualquer coisa (yatkiñcid) cuja natureza (rūpam) consista (ātmakam) em Svātantrya --consciência do Eu, isto é, Liberdade para conhecer e fazer tudo-- (svātantrya) é descrita (uktam) mediante a palavra (śabdena) Caitanya (caitanya) (tal como indicado no primeiro aforismo dos Śivasūtra-s). Então (tatra), mesmo (api) que exista (somente) Cit --Śiva ou Prakāśa-- (cit-ātmani), como no caso (vat) de um Vijñānākala (vijñāna-akala) que não alcança (aprathā-ātma) consciência do Eu ou Liberdade --a saber, kartṛtvasvātantrya ou liberdade para fazer-- (svātantrya)5 , (há um Āṇavamala) na forma (rūpeṇa) de meramente (mātra-ātmanā) considerar (a si mesmo) (manyatā) como imperfeito (apūrṇam); (ou,) ainda (api), se existir consciência do Eu --liberdade para fazer-- (svātantrye) (mas) com ignorância (abodha-rūpeṇa) (aparecendo) na forma (rūpeṇa) de considerar (abhimāna-ātmanā) o não Ser (anātmani), como o corpo (deha), etc. (ādau), como sendo o Ser (ātmatā), (haverá também Āṇavamala6 . (Portanto,) por meio desse (anena) aforismo (sūtreṇa), declarou-se (sūtritam) que Āṇavamala (āṇava-malam) (é) de dois (dvi) tipos (prakāram)|

Isso (tad) é o que foi dito (uktam) na venerável Īśvarapratyabhijñā (śrī-pratyabhijñāyām):

"Esse (idam) Āṇavamala (āṇavam malam) aparece em duas formas (dvidhā): (1) Como um estado de conhecimento (bodhasya) sem (hānis) liberdade (svātantryam), (ou) ainda (api) (2) como um estado desprovido de conhecimento (abodhatā) mas dotado de liberdade (svātantryasya). (Ambas as facetas) se devem a uma diminuição (apahānitaḥ) (de consciência) com relação à própria (sva) natureza essencial (sva-rūpa... iti)"||
(Ver Īśvarapratyabhijñā III, 2, 4)

||2||

1  A doutrina que postula a existência de diferença entre Deus e o homem.Return 

2  Mahāmāyā (lit. a grande Māyā) opera na região entre os tattva-s ou categorias 5 (Sadvidyā) e 6 (Māyā).Return 

3  A etapa entre os tattva-s ou categorias 2 (Śakti) e 3 (Sadāśiva).Return 

4  O experimentador (pramātā) de Māyā (Ignorância, tattva 6) consiste em dois experimentadores: pralayākala e sakala. O primeiro dorme profundamente em Māyā, enquanto o segundo experimenta os estados de sono (com sonhos, ou seja, não profundo) e vigília.Return 

5  Um Vijñānākala mora na porção inferior de Mahāmāyā (que opera na região entre os tattva-s 5 e 6), ou seja, entre Āṇavamala (a impureza primordial) e Māyā (o sexto tattva ou categoria). O experimentador Vijñānākala se dá conta de que é Śiva, mas, por estar desprovido de Śakti (consciência do Eu), é incapaz de fazer qualquer coisa. Em outras palavras, não possui "liberdade para fazer".Return 

6  O autor está falando sobre o experimentador denominado Sakala (ver a quarta nota anterior), que tem consciência do Eu e, como consequência, liberdade para fazer... até um certo limite, é claro... mas carece de verdadeiro conhecimento sobre a sua própria natureza essencial. Em suma, está cheio de "abodha" ou "ignorância" e não se dá conta da sua identidade com o Senhor Supremo.Return 

Ao início


 Aforismo 3

किम् ईदृगाणवमलात्मैव बन्धो न इत्याह—


योनिवर्गः कलाशरीरम्॥३॥


बन्ध इत्यनुवर्तते योऽयं योनेर्विश्वकारणस्य मायायाः सम्बन्धी वर्गः साक्षात्पारम्पर्येण च तद्धेतुको देहभुवनाद्यारम्भी किञ्चित्कर्तृताद्यात्मककलादिक्षित्यन्तस्तत्त्वसमूहस्तद्रूपं मायीयं तथा कलयति स्वस्वरूपावेशेन तत्तद्वस्तु परिच्छिनत्तीति कला व्यापारः शरीरं स्वरूपं यस्य तत्कलाशरीरं कार्मं मलमपि बन्ध इत्यर्थः। एतदपि

निजाशुद्ध्यासमर्थस्य कर्तव्येष्वभिलाषिणः।

इत्यनेनैव सङ्गृहीतम्। यथा चैतत्तथास्मदीयात्स्पन्दनिर्णयादवबोद्धव्यम्। एषां च कलादीनां किञ्चित्कर्तृत्वादिलक्षणं स्वरूपमाणवमलभित्तिलग्नं पुंसामावरकतया मलत्वेन सिद्धमेव। यदुक्तं श्रीमत्स्वच्छन्दे

मलप्रध्वस्तचैतन्यं कलाविद्यासमाश्रितम्।
रागेण रञ्जितात्मानं कालेन कलितं तथा॥
नियत्या यमितं भूयः पुम्भावेनोपबृंहितम्।
प्रधानाशयसम्पन्नं गुणत्रयसमन्वितम्॥
बुद्धितत्त्वसमासीनमहङ्कारसमावृतम्।
मनसा बुद्धिकर्माक्षैस्तन्मात्रैः स्थूलभूतकैः॥

इति। कार्ममलस्याप्यावरकत्वं श्रीमालिनीविजये प्रदर्शितम्

धर्माधर्मात्मकं कर्म सुखदुःखादिलक्षणम्।

इति। तदेतन्मायीयं कार्मं च मलम्

भिन्नवेद्यप्रथात्रैव मायाख्यं जन्मभोगदम्।
कर्तर्यबोधे कार्मं तु मायाशक्त्याव तत्त्रयम्॥

इति श्रीप्रत्यभिज्ञायामाणवमलभित्तिकं सङ्कुचितविशिष्टज्ञानतयैवोक्तम्॥३॥

Kim īdṛgāṇavamalātmaiva bandho na ityāha—


Yonivargaḥ kalāśarīram||3||


Bandha ityanuvartate yo'yaṁ yonerviśvakāraṇasya māyāyāḥ sambandhī vargaḥ sākṣātpāramparyeṇa ca taddhetuko dehabhuvanādyārambhī kiñcitkartṛtādyātmakakalādikṣityantastattvasamūhastadrūpaṁ māyīyaṁ tathā kalayati svasvarūpāveśena tattadvastu paricchinattīti kalā vyāpāraḥ śarīraṁ svarūpaṁ yasya tatkalāśarīraṁ kārmaṁ malamapi bandha ityarthaḥ| Etadapi

Nijāśuddhyāsamarthasya kartavyeṣvabhilāṣiṇaḥ|

ityanenaiva saṅgṛhītam| Yathā caitattathāsmadīyātspandanirṇayādavaboddhavyam| Eṣāṁ ca kalādīnāṁ kiñcitkartṛtvādilakṣaṇaṁ svarūpamāṇavamalabhittilagnaṁ puṁsāmāvarakatayā malatvena siddhameva| Yaduktaṁ śrīmatsvacchande

Malapradhvastacaitanyaṁ kalāvidyāsamāśritam|
Rāgeṇa rañjitātmānaṁ kālena kalitaṁ tathā||
Niyatyā yamitaṁ bhūyaḥ pumbhāvenopabṛṁhitam|
Pradhānāśayasampannaṁ guṇatrayasamanvitam||
Buddhitattvasamāsīnamahaṅkārasamāvṛtam|
Manasā buddhikarmākṣaistanmātraiḥ sthūlabhūtakaiḥ||

iti| Kārmamalasyāpyāvarakatvaṁ śrīmālinīvijaye pradarśitam

Dharmādharmātmakaṁ karma sukhaduḥkhādilakṣaṇam|

iti| Tadetanmāyīyaṁ kārmaṁ ca malam

Bhinnavedyaprathātraiva māyākhyaṁ janmabhogadam|
Kartaryabodhe kārmaṁ tu māyāśaktyāiva tattrayam||

iti śrīpratyabhijñāyāmāṇavamalabhittikaṁ saṅkucitaviśiṣṭajñānatayaivoktam||3||


A escravidão é (kim... bandhaḥ) somente (eva) Āṇavamala (āṇavamala-ātmā), o qual está dotado de tais qualidades (īdṛk)? (O autor dos Śivasūtra-s, ou seja, Śiva,) disse (āha) "Não" (na iti) (, tacitamente, como prova o aforismo a seguir)


A fonte (yoni) (e sua) progênie (vargaḥ), (junto com) aquilo cuja forma (śarīram) é a atividade (kalā), (são também escravidão)||3||


(O termo) "bandha" --escravidão-- (bandhaḥ iti) segue (anuvartate) (do aforismo anterior). Varga (vargaḥ) (é) aquilo (ayam) que (yaḥ) está conectado (sambandhī) a Yoni (yoneḥ), (isto é,) a Māyā --o sexto tattva ou categoria-- (māyāyāḥ), a causa --kāraṇa-- (kāraṇasya) do universo (viśva), diretamente (sākṣāt) e (ca) por meio de ininterrupta sucessão (pāramparyeṇa). Esse (varga) (tad) (é) o agente (hetukaḥ) que dá origem a (ārambhī) corpos (deha), mundos (bhuvana), etc. (ādi), (e consiste em) um agregado (samūha) de tattva-s --categorias ou princípios-- (tattva) começando (ādi) com Kalā (kalā) (ou) limitada (kiñcid) capacidade de ação (kartṛtā... ātmaka), etc. (ādi), (e) terminando (antaḥ) na terra (kṣiti)1 . A forma (rūpaṁ) (assumida) por isso --em suma, por "Yonivarga" ou Māyā e sua progênie, que é varga ou o agregado de tattva-s conectados a Māyā-- (tad) (é) Māyīyamala ou impureza Máyica (māyīyam). De maneira similar (tathā), (o termo) Kalā (kalā) (significa) atividade (vyāpāraḥ). (É) o que impele (kalayati) (e) divide (paricchinatti) (a realidade) em coisa(s) (separadas) (vastu), (como) isso ou aquilo (tad tad), ingressando (āveśena) na sua (sva) natureza essencial (sva-rūpa... iti) --em outras palavras, "ingressando na natureza essencial de tal realidade"--. (A frase "Kalāśarīram" neste aforismo significa) aquilo (tad) cujo (yasya) śarīra (śarīram) (ou) forma/natureza (sva-rūpam) (é Kalā ou atividade. Portanto, "Kalāśarīram" não é nada mais que Kārmamala --impureza derivada do Karma--, é claro, e esse) Kārmamala (kārmam malam) (é) também (api) escravidão (bandhaḥ). Esse é o sentido (iti arthaḥ)2 |

Esse (mesmo conceito) (etad) foi resumido também (api... saṅgṛhītam) por meio deste (aforismo) (anena eva) (nas Spandakārikā-s):

"... desse (individuo limitado), que está incapacitado (asamarthasya) pela sua própria (nija) impureza --aśuddhi-- (aśuddhyā... iti) (e) que deseja --abhilāṣī-- (abhilāṣiṇaḥ) fazer ações --isto é, agir-- (kartavyeṣu... iti)..."|
(Ver Spandakārikā-s I, 9)

E (ca) (o fato de) que (yathā) isso (etad) (é) assim (tathā) pode ser conhecido e aprendido (avaboddhavyam) a partir do nosso (asmadīyāt) Spandanirṇaya --um comentário extremamente autorizado sobre as Spandakārikā-s-- (spandanirṇayāt)|

A essência (sva-rūpam) dessas (eṣāṁ ca) (manifestações, a saber,) Kalā (kalā), etc. (ādīnāṁ), é caracterizada (lakṣaṇam) pela limitada (kiñcid) capacidade de ação (kartṛtva), etc. (ādi), (e) aderida (lagnam) ao Āṇavamala (āṇavamala) como (sua) base --ou seja, Āṇavamala é a base dessa essência-- (bhitti). (E, uma vez que tal essência) oculta ou vela (āvarakatayā) (a natureza) das almas individuais --puruṣa-s-- (puṁsām), fica (plenamente) provado (siddham) que é um estado de mala ou impureza (malatvena)|

Isso (yad) é o que foi expresso (uktam) no venerável (śrīmat) Svacchandatantra (svacchande):

"Ao estar eclipsado (pradhvasta) por mala ou impureza --Āṇavamala junto com seus dois descendentes: Māyīyamala e Kārmamala-- (mala), Caitanya ou Consciência com Absoluta Liberdade para conhecer e fazer tudo (caitanyam) é provido (samāśritam) com Kalā (kalā) (e) Vidyā (vidyā). Dessa forma (tathā), Isso --Caitanya-- é tingido (rañjita-ātmānam) por Rāga (rāgeṇa) (e) dividido (kalitam) por Kāla (kālena). É (bhūyas) restringido (yamitam) por Niyati (niyatyā) (e) magnificado (upabṛṁhitam) pelo sentido de ser (bhāvena) um Puruṣa --alma individual-- (puṁs). (Caitanya) fica dotado (sampannam) da disposição (āśaya) de Prakṛti (pradhāna) (e) associa-se (samanvitam) aos três (traya) Guṇa-s --qualidades de Prakṛti-- (guṇa). Permanece (samāsīnam) no princípio (tattva) (denominado) intelecto (buddhi), (e) é rodeado (samāvṛtam) pelo ego (ahaṅkāra). (Finalnente, são proporcionados a Caitanya) mente (manasā), poderes de conhecimento e ação (buddhi-karma-akṣaiḥ), elementos sutis (tanmātraiḥ) (e) elementos (bhūtakaiḥ) brutos (sthūla... iti)3 "||
(Ver Svacchandatantra II, 39-41)

O ato de ocultação (āvarakatvaṁ) (realizado) pelo Kārmamala (kārma-malasya) (é) mostrado (pradarśitam) no venerável (śrī) Mālinīvijayatantra (mālinīvijaye) também (api):

"A ação (karma) dhármica --lit. piedosa, relativa ao próprio dever prescrito, etc.-- (dharma) (e) adhármica --oposta à dhármica-- (adharma-ātmakaṁ) está caracterizada (lakṣaṇam) por prazer (sukha), dor (duḥkha), etc. (ādi... iti)"|
(Ver Mālinīvijayatantra I, 24)

Essa mesma coisa (tad etad) foi dita (uktam) no venerável (śrī) Īśvarapratyabhijñā (pratyabhijñāyām), (isto é, que) Māyīya (māyīyam) e (ca) Kārma (kārmam) mala-s (malam) têm Āṇavamala (āṇavamala) como (sua) base (bhittikam) (e são tipos) especiais (viśiṣṭa) (de) conhecimento (jñānatayā eva) contraído (saṅkucita):

"(Já estando presente Āṇavamala, surge então) Māyīyamala (māyā-ākhyaṁ), (que produz,) aqui (atra eva), uma disseminação ou propagação (prathā) de objetos (vedya) diferentes (bhinna) (da própria pessoa). E (ca), quando há ignorância (abodhe) com relação ao fazedor (kartari), (surge) Kārmamala (kārmam), o qual concede (dam) nascimento (janma) (e) experiência de prazer e dor (bhoga). Esse (tad) grupo de três (mala-s) (trayam) (é manifestado) pela Māyāśakti (māyā-śaktyā eva)4  (de Śiva), realmente (tu... iti)"||
(Ver Īśvarapratyabhijñā III, 2, 5)

||3||

1  Os tattva-s ou categorias 7 a 36. Para mais informação, ver a Tabela de Tattva-s.Return 

2  Ver nota 2 do comentário sobre o primeiro aforismo.Return 

3  O processo inteiro de manifestação desde o tattva 7 até o tattva 36 está condensado nessa passagem do Svacchandatantra. Para obter uma completa compreensão sobre isso, leia Trika 4 (português), Trika 5 (português) e Trika 6 (português).Return 

4  Māyāśakti é o Seu divino Poder para produzir diferentes formas. Não deve ser confundido com Māyātattva (a sexta categoria, que é uma manifestação que Ele produz por meio dessa mesma Māyāśakti).Return 

Ao início


 Aforismo 4

अथ कथमस्याज्ञानात्मकज्ञानयोनिवर्गकलाशरीररूपस्य त्रिविधस्य मलस्य बन्धकत्वमित्याह—


ज्ञानाधिष्ठानं मातृका॥४॥


यदेतत्त्रिविधमलस्वरूपमपूर्णम्मन्यताभिन्नवेद्यप्रथाशुभाशुभवासनात्मकं विविधं ज्ञानरूपमुक्तं तस्यादिक्षान्तरूपाज्ञाता माता मातृका विश्वजननी तत्तत्सङ्कुचितवेद्याभासात्मनो ज्ञानस्य अपूर्णोऽस्मि क्षामः स्थूलो वास्म्यग्निष्टोमयाज्यस्मीत्यादि तत्तदविकल्पकसविकल्पकावभासपरामर्शमयस्य तत्तद्वाचकशब्दानुवेधद्वारेण शोकस्मयहर्षरागादिरूपतामादधाना

करन्ध्रचितिमध्यस्था ब्रह्मपाशावलम्बिकाः।
पीठेश्वर्यो महाघोरा मोहयन्ति मुहुर्मुहुः॥

इति श्रीतिमिरोद्घाटप्रोक्तनीत्या वर्गकलाद्यधिष्ठातृब्राह्म्यादिशक्तिश्रेणीशोभिनी श्रीसर्ववीराद्यागमप्रसिद्धलिपिक्रमसन्निवेशोत्थापिकाम्बाज्येष्ठारौद्रीवामाख्यशक्तिचक्रचुम्बिता शक्तिरधिष्ठात्री तदधिष्ठानादेव ह्यन्तरभेदानुसन्धिवन्ध्यत्वात्क्षणमप्यलब्धविश्रान्तीनि बहिर्मुखान्येव ज्ञानानीति युक्तैव एषां बन्धकत्वोक्तिः। एतच्च

शब्दराशिसमुत्थस्य...।

इति कारिकया

स्वरूपावरणे चास्य शक्तयः सततोत्थिताः।

इति च कारिकया सङ्गृहीतम्॥४॥

Atha kathamasyājñānātmakajñānayonivargakalāśarīrarūpasya trividhasya malasya bandhakatvamityāha—


Jñānādhiṣṭhānaṁ mātṛkā||4||


Yadetattrividhamalasvarūpamapūrṇammanyatābhinnavedyaprathāśubhāśubhavāsanātmakaṁ vividhaṁ jñānarūpamuktaṁ tasyādikṣāntarūpājñātā mātā mātṛkā viśvajananī tattatsaṅkucitavedyābhāsātmano jñānasya apūrṇo'smi kṣāmaḥ sthūlo vāsmyagniṣṭomayājyasmītyādi tattadavikalpakasavikalpakāvabhāsaparāmarśamayasya tattadvācakaśabdānuvedhadvāreṇa śokasmayaharṣarāgādirūpatāmādadhānā

Karandhracitimadhyasthā brahmapāśāvalambikāḥ|
Pīṭheśvaryo mahāghorā mohayanti muhurmuhuḥ||

iti śrītimirodghāṭaproktanītyā vargakalādyadhiṣṭhātṛbrāhmyādiśaktiśreṇīśobhinī śrīsarvavīrādyāgamaprasiddhalipikramasanniveśotthāpikāmbājyeṣṭhāraudrīvāmākhyaśakticakracumbitā śaktiradhiṣṭhātrī tadadhiṣṭhānādeva hyantarabhedānusandhivandhyatvātkṣaṇamapyalabdhaviśrāntīni bahirmukhānyeva jñānānīti yuktaiva eṣāṁ bandhakatvoktiḥ| Etacca

Śabdarāśisamutthasya...|

iti kārikayā

Svarūpāvaraṇe cāsya śaktayaḥ satatotthitāḥ|

iti ca kārikayā saṅgṛhītam||4||


"Agora (atha), como é (katham) (que) esse (asya) triplo (trividhasya) mala ou impureza (malasya) cuja forma (rūpasya) é conhecimento (jñāna) que consiste (ātmaka) em ajñāna ou ignorância --em conhecimento limitado-- (ajñāna), Yonivarga --Māyā e sua progênie, ou seja, Māyīyamala-- (yoni-varga), (e) Kalāśarīra --aquilo cuja forma é a atividade, isto é, Kārmamala-- (kalā-śarīra), torna-se um grilhão (bandhakatvam... iti) (para a alma individual?". O autor dos Śivasūtra-s --Śiva--) disse (āha)


A base (adhiṣṭhānam) do conhecimento (limitado e contraído) (jñāna) (é) a Mãe não compreendida (mātṛkā)||4||


Isso (etad) que (yad) foi descrito (antes) (uktam) (é) uma forma (rūpam) tripla (vividham) de conhecimento (limitado) (jñāna) cuja natureza (sva-rūpam) (é) um triplo (trividha) mala --impureza-- (mala) que consiste (ātmakam) (1) no ato de considerar (a si mesmo) (manyatā) como imperfeito (apūrṇam) --Āṇavamala--, (2) na expansão (prathā) de um sentido (vedya) das diferenças (bhinna) --Māyīyamala--, (3) em boas (śubha) (e) más (aśubha) Vāsanā-s ou tendências acumuladas no corpo causal, (que levam alguém a realizar boas e más ações, respectivamente) (vāsanā)1  --Kārmamala--. Desse (triplo conhecimento limitado) (tasya), Mātṛkā (mātṛkā), a Progenitora (jananī) do universo (viśva), (é) a Mãe (mātā) desconhecida (ajñātā), (e) a Sua forma (rūpā) começa (ādi) com "a" (a) (e) termina com "kṣa" (kṣa). (Ela é a Mãe) do conhecimento (jñānasya) cuja natureza (ātmanaḥ) (é) um lampejo (ābhāsa) de diversas (tad tad) cognições (vedyā) contraídas (saṅkucita). (Esse limitado conhecimento ou cognição aparece na forma de) "eu sou (asmi) imperfeito (apūrṇaḥ)", "eu sou (asmi) magro (kṣāmaḥ)" ou (vā) "eu sou (asmi) gordo (sthūlaḥ)", "eu sou (asmi) o realizador (yājī) do sacrifício Agniṣṭoma (agniṣṭoma)" e assim sucessivamente (iti ādi). (Esse conhecimento) está constituído (mayasya) por várias (tad tad) considerações (parāmarśa), (algumas delas) aparecendo (avabhāsa) como destituídas de modificações mentais --isto é, como noções além da mente comum-- (a-vikalpaka), (enquanto outras aparecem) como possuindo modificações mentais --ou seja, como pensamentos formulados concretamente-- (sa-vikalpaka), (e,) por meio (dvāreṇa) da penetração (anuvedha) de diferentes (tad tad) sons (śabda) (e) palavras (vācaka) (na mente daquele que ouve,) gera (dhānā) uma embriaguez (māda) na forma (rūpatā) de pesar (śoka), arrogância (smaya), alegria (harṣa), paixão (rāga), etc. (ādi). Segundo o preceito (nītyā) enunciado (prokta) no venerável (śrī) Timirodghāṭa (timirodghāṭa):

"As Mahāghorā-s --lit. "muito terríveis"-- (mahāghorāḥ), (isto é, as śakti-s ou poderes) que estão (sthāḥ) no meio (madhya) da Consciência (citi) em Karandhra --isto é, Brahmarandhra-- (ka-randhra)2 , que enforcam (avalambikāḥ) por meio do nó corrediço de Brahmā (brahma-pāśa) (e) são as Senhoras (īśvaryaḥ) dos pīṭha-s ou assentos --os órgãos dos sentidos-- (pīṭha), iludem (mohayanti) repetidamente (muhur... muhur... iti)"||

(Mātṛkā) brilha (śobhinī) na série (śreṇī) de poderes (śakti) (tais como) Brāhmī (brāhmī), etc. (ādi), que regem (adhiṣṭhātṛ) os grupos de letras (varga), Kalā-s --os cinco poderes primordiais-- (kalā)3 , etc. (ādi). Ela excita ou anima (o ser vivo) (utthāpikā) mediante a disposição (sanniveśa) de uma sucessão (krama) de letras (lipi), o que é notório (prasiddha) nos Āgama-s --escrituras reveladas-- (āgama) (tais como) o venerável (śrī) Sarvavīra (sarvavīra), etc. (ādi). Ela está estreitamente relacionada (cumbitā) com o grupo (cakra) de poderes (śakti) cujos nomes (ākhya) (são) Ambā (ambā), Jyeṣṭhā (jyeṣṭhā), Raudrī (raudrī) (e) Vāmā (vāmā). (Dito de maneira simples, Mātṛkā é) a Śakti ou Poder (śaktiḥ) regente (adhiṣṭhātrī). Uma vez que (Mātṛkā) é realmente a base (adhiṣṭhānāt eva) desse (conhecimento limitado) (tad), (e) devido ao fato de que, (pela mesma razão), há certamente (hi) ausência (vandhyatvāt) de uma exploração (anusandhi) da unidade (abheda) interna (antas), as cognições (limitadas) (jñānāni) não encontram (alabdha) repouso (viśrāntīni) nem mesmo (api) por um instante (kṣaṇam) (e) estão unicamente (eva) direcionadas a coisas externas --lit. direcionadas para fora-- (bahis-mukhāni). Assim (iti), proclamar (uktiḥ) que essas (cognições) (eṣāṁ) (são) grilhões (bandhakatva) (é) realmente (eva) adequado (yuktā)|

Esse (mesmo conceito) (etad ca) foi resumido (saṅgṛhītam) por meio do (seguinte) aforismo (das Spandakārikā-s) (kārikayā):

"... derivado (samutthasya) da multidão (rāśi) de palavras (śabda... iti)..."|
(Ver Spandakārikā-s III, 13)

e também (ca) (neste outro) aforismo (da mesma escritura) (kārikayā):

"Os poderes (śaktayaḥ) (estão) constantemente (satata) prontos (utthitāḥ) para ocultar ou velar (āvaraṇe) a natureza essencial (sva-rūpa) desse (ser limitado) (ca asya... iti)..."|
(Ver Spandakārikā-s III, 15)

||4||

1  O homem possui quatro corpos: (1) bruto ou físico, (2) sutil, (3) causal e (4) supracausal. O primeiro é conhecido por todos, não é? O segundo corpo contém as energias vitais, a mente, o ego e o intelecto. O corpo causal está além do sutil e contém impressões acumuladas. As "tendências" mencionadas nos comentários são como recipientes para serem preenchidos com bom e mau karma... bem, um longo tema, realmente. Entenda simplesmente isto: Essas tendências acumuladas no corpo causal levam alguém a realizar boas e más ações. Esse é o sentido. Ah, sim, eu quase ia esquecendo... o corpo supracausal é o célebre Bindu ou Ponto conhecedor... outro longo e complicado tema, tenha certeza disso. Não é necessário que eu entre em tais sutilezas em uma mera nota explicativa, é claro.Return 

2  Esses poderes têm a função de iludir as pessoas e conduzi-las à mundanidade. Moram em Karandhra, também conhecido como Brahmarandhra (lit. o buraco de Brahmā). Embora Brahmarandhra seja geralmente considerado erroneamente como o Sahasrāra-cakra, é tecnicamente o próprio centro desse cakra, situado na região acima das fontanelas. De acordo com a minha própria experiência, é literalmente um buraco cheio de Consciência divina. Quando alguém entra nele, não há aparentemente nada, mas, no seu devido tempo, experimenta uma espécie de membrana, por assim dizer. Existe uma tensão ou estresse nessa membrana. Bem, Śiva é a própria membrana, enquanto a Sua Śakti ou divino Poder é a tensão previamente mencionada. Esses mistérios são completamente elucidados por mim em "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.Return 

3  Leia a minha explicação sobre esse tópico em Trika: Os Seis Cursos.Return 

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 Aforismo 5

अथैतद्बन्धप्रशमोपायमुपेयविश्रान्तिसतत्त्वमादिशति—


उद्यमो भैरवः॥५॥


योऽयं प्रसरद्रूपाया विमर्शमय्याः संविदो झगित्युच्छलनात्मकपरप्रतिभोन्मज्जनरूप उद्यमः स एव सर्वशक्तिसामरस्येनाशेषविश्वभरितत्वात्सकलकल्पनाकुलालङ्कवलनमयत्वाच्च भैरवो भैरवात्मकस्वस्वरूपाभिव्यक्तिहेतुत्वाद्भक्तिभाजामन्तर्मुखैतत्तत्त्वावधानधनानां जायत इत्युपदिष्टं भवति। उक्तं च श्रीमालिनीविजये

अकिञ्चिच्चिन्तकस्यैव गुरुणा प्रतिबोधतः।
जायते यः समावेशः शाम्भवोऽसावुदीरितः॥

इति। अत्र हि गुरुणा प्रतिबोधत इत्यत्र गुरुतः स्वस्मात्प्रतिबोधत इत्यस्यार्थो गुरुभिरादिष्टः। श्रीस्वच्छन्देऽप्युक्तम्

आत्मनो भैरवं रूपं भावयेद्यस्तु पुरुषः।
तस्य मन्त्राः प्रसिद्ध्यन्ति नित्ययुक्तस्य सुन्दरि॥

इति। भावनं ह्यत्रान्तर्मुखोद्यन्तृतापदविमर्शनमेव। एतच्च

एकचिन्ताप्रसक्तस्य यतः स्यादपरोदयः।
उन्मेषः स तु विज्ञेयः स्वयं तमुपलक्षयेत्॥

इत्यनेन सङ्गृहीतम्॥५॥

Athaitadbandhapraśamopāyamupeyaviśrāntisatattvamādiśati—


Udyamo bhairavaḥ||5||


Yo'yaṁ prasaradrūpāyā vimarśamayyāḥ saṁvido jhagityucchalanātmakaparapratibhonmajjanarūpa udyamaḥ sa eva sarvaśaktisāmarasyenāśeṣaviśvabharitatvātsakalakalpanākulālaṅkavalanamayatvācca bhairavo bhairavātmakasvasvarūpābhivyaktihetutvādbhaktibhājāmantarmukhaitattattvāvadhānadhanānāṁ jāyata ityupadiṣṭaṁ bhavati| Uktaṁ ca śrīmālinīvijaye

Akiñciccintakasyaiva guruṇā pratibodhataḥ|
Jāyate yaḥ samāveśaḥ śāmbhavo'sāvudīritaḥ||

iti| Atra hi guruṇā pratibodhata ityatra gurutaḥ svasmātpratibodhata ityasyārtho gurubhirādiṣṭaḥ| Śrīsvacchande'pyuktam

Ātmano bhairavaṁ rūpaṁ bhāvayedyastu puruṣaḥ|
Tasya mantrāḥ prasiddhyanti nityayuktasya sundari||

iti| Bhāvanaṁ hyatrāntarmukhodyantṛtāpadavimarśanameva| Etacca

Ekacintāprasaktasya yataḥ syādaparodayaḥ|
Unmeṣaḥ sa tu vijñeyaḥ svayaṁ tamupalakṣayet||

ityanena saṅgṛhītam||5||


Agora (atha), (o próximo aforismo) ensina (ādiśati) o meio (upāyam) para a cessação (praśama) dessa (etad) escravidão (bandha), (isto é,) a verdadeira natureza (satattvam) de descansar (viśrānti) no Alvo --a Meta, isto é, o Ser Supremo, também denominado Bhairava ou Śiva-- (upeya)


Bhairava --o Ser Supremo-- (bhairavaḥ) (é) um repentino brilho ou elevação de Consciência divina (udyamaḥ)||5||


Udyama (udyamaḥ) (é) aquilo (ayam) que (yaḥ) (é) um surgimento (unmajjana-rūpaḥ) da mais alta (para) Pratibhā --ou seja, Parāvāk, lit. Fala Suprema-- (pratibhā)1 . (Tal Pratibhā) consiste (ātmaka) de um instantâneo (jhagiti) brotamento (ucchalana) de Saṁvid --a Consciência Suprema-- (saṁvidaḥ), a qual --Saṁvid-- é feita (mayyāḥ) de Vimarśa --Śakti ou consciência do Eu-- (vimarśa) (e) caracteriza-se (rūpāyāḥ) por expansão (na forma do universo) (prasarat). Esse (saḥ) mesmo (eva) (udyama é) Bhairava --também chamado Śiva-- (bhairavaḥ), já que (Bhairava) está repleto (bharitatvāt) do universo (viśva) inteiro (aśeṣa) permanecendo em unidade (sāmarasyena) com todas (sarva) as śakti-s ou poderes (śakti) (e) porque Ele possui (mayatvāt) a capacidade (alam) de devorar (kavalana) todo (sakala) o grupo (kula) de ideias (que produzem dualismo) (kalpanā). (Tal udyama também é Bhairava) porque é a causa (hetutvāt) para a manifestação (abhivyakti) da própria (sva) natureza essencial (sva-rūpa), que é (ātmaka), (em última análise,) Bhairava (bhairava) (também. E esse udyama) surge (jāyate) naqueles que têm (bhājām) devoção (bhakti) (e) o tesouro (dhanānām) da atenção (avadhāna) a esse (etad) Princípio --Bhairava, a Divindade-- (tattva) interno (antas-mukha). Isso é (iti... bhavati) o que se ensina (upadiṣṭam) (nesse aforismo)|

Foi estabelecido (uktam ca) no venerável (śrī) Mālinīvijayatantra (mālinīvijaye):

"Diz-se (udīritaḥ) que śāmbhava-samāveśa ou uma absorção em Śiva (samāveśaḥ śāmbhavaḥ) (é) aquilo (asau) que (yaḥ) tem lugar (jāyate) somente (eva) em alguém que não pensa (cintakasya) em nada (akiñcid) através de um despertar (pratibodhataḥ) (concedido) pelo Guru (guruṇā... iti)"||
(Ver Mālinīvijayatantra II, 23)

A esse respeito (atra hi), (a frase) "guruṇā pratibodhataḥ" (guruṇā pratibodhataḥ iti) (também pode ser interpretada), aqui (atra), como "mediante o próprio (svasmāt) grande (gurutaḥ) despertar (pratibodhataḥ iti)"2 . O significado (alternativo) (arthaḥ) dessa (frase) (asya) foi ensinado (ādiṣṭaḥ) pelos Guru-s (gurubhiḥ)|

(Isso é o que) se declara (uktam) no venerável (śrī) Svacchandatantra (svacchande) também (api):

"Oh bela (sundari)3 , certamente (tu), para essa (tasya) pessoa (puruṣaḥ) que (yaḥ) percebe ou apreende (bhāvayet) que a sua (ātmanaḥ) natureza essencial (rūpam) (é) Bhairava (bhairavam), ao estar unida (yuktasya) com o Eterno (nitya), os Mantra-s (mantrāḥ) dão frutos --a essa pessoa-- (prasiddhyanti... iti)"||

Certamente (hi), (a palavra) bhāvana --implícita na conjugação "bhāvayet" que aparece na estrofe do Svacchandatantra-- (bhāvanam) (significa,) aqui (atra), a apreensão (vimarśanam eva) de um estado (pada) de elevação (udyantṛtā) interior (antas-mukha)|

Esse (conceito) (etad ca) (também) foi resumido (saṅgṛhītam) por esta (estrofe dos Spandakārikā-s) (anena):

"Deve-se certamente conhecer (tu vijñeyaḥ) como Unmeṣa (unmeṣaḥ) aquilo (saḥ) a partir de onde (yatas) se produz (syāt) o surgimento (udayaḥ) de outra(o) (consciência --segundo Kṣemarāja-- ou pensamento --segundo outros--) (apara)4  em uma (pessoa) que (já) está ocupada (prasaktasya) com um (eka) pensamento (cintā). (Uma pessoa) deveria perceber (upalakṣayet) esse (Unmeṣa) (tam) por si mesma (svayam... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s III, 9)

||5||

1  A Fala Suprema é o nível onde palavras e objetos denotados por elas estão em total unidade. De fato, nem sequer emergiram como palavras e objetos nessa etapa. Dessa maneira, Fala Suprema é sinônimo de Consciência Suprema, a partir da qual se manifestou o universo inteiro.Return 

2  Porque o termo "guru", além de "preceptor espiritual", também significa "grande". Deve-se notar que, embora "preceptor espiritual" seja uma boa tradução curta de "guru", não é completamente precisa nesse contexto, na minha humilde opinião, porque o texto está falando sobre um Guru, ou seja, uma pessoa espiritualmente muito elevada que é capaz de levar um ser humano comum desde a escravidão até a Emancipação final. É por isso que "geralmente" prefiro deixar a palavra "guru" sem traduzir.Return 

3  Os Tantra-s são normalmente compostos na forma de um diálogo entre o Senhor Śiva e Pārvatī (Śakti), Sua esposa.Return 

4  Kṣemarāja é o sábio que está comentando nesse momento, é claro. Ele também compôs um comentário sobre as Spandakārikā-s.Return 

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 Aforismo 6

एवं झगिति परप्रतिभोन्मेषावष्टम्भोपायिकां भैरवसमापत्तिमज्ञानबन्धप्रशमैकहेतुं प्रदर्श्यैतत्परामर्शप्रकर्षाद्व्युत्थानमपि प्रशान्तभेदावभासं भवतीत्याह—


शक्तिचक्रसन्धाने विश्वसंहारः॥६॥


योऽयं परप्रतिभोन्मज्जनात्मोद्यन्तृतास्वभावो भैरव उक्तोऽस्यैवान्तर्लक्ष्यबहिर्दृष्ट्यात्मतया निःशेषशक्तिचक्रक्रमाक्रमाक्रामिण्यतिक्रान्तक्रमाक्रमातिरिक्तारिक्ततदुभयात्मतयाप्यभिधीयमानापि अनेतद्रूपानुत्तरा परा स्वातन्त्र्यशक्तिः काप्यस्ति। यया स्वभित्तौ मह्युल्लासात्प्रभृति परप्रमातृविश्रान्त्यन्तं श्रीमत्सृष्ट्यादिशक्तिचक्रस्फारणात्मा क्रीडेयमादर्शिता। तस्यैतदाभासितस्य शक्तिचक्रस्य रहस्याम्नायाम्नातनीत्या यत्सन्धानं यथोचितक्रमविमर्शनं तस्मिन् सति कालाग्न्यादेश्चरमकलान्तस्य विश्वस्य संहारो देहात्मतया बाह्यतया चावस्थितस्यापि सतः परसंविदग्निसाद्भावो भवतीत्यर्थः। उक्तं च श्रीभर्गशिखायाम्

मृत्युं च कालं च कलाकलापं विकारजालं प्रतिपत्तिसात्म्यम्।
ऐकात्म्यनानात्म्यविकल्पजातं तदा स सर्वं कवलीकरोति॥

इति। श्रीमद्वीरावलावपि

यत्र सर्वे लयं यान्ति दह्यन्ते तत्त्वसचयाः।
तां चितिं पश्य कायस्थां कालानलसमत्विषम्॥

इति। श्रीमन्मालिनीविजयेऽपि

उच्चाररहितं वस्तु चेतसैव विचिन्तयन्।
यं समावेशमाप्नोति शाक्तः सोऽत्राभिधीयते॥

इत्युक्त्यातदेव भङ्ग्या निरूपितम्। एतच्च सद्गुरुचरणोपासनयाभिव्यक्तिमायातीति नाधिकमुन्मीलितम्। एतदेव

यस्योन्मेषनिमेषाभ्यां...।

इति

यदा त्वेकत्र संरूढः...।

इति च प्रथमचरमश्लोकाभ्यां सङ्गृहीतम्॥६॥

Evaṁ jhagiti parapratibhonmeṣāvaṣṭambhopāyikāṁ bhairavasamāpattimajñānabandhapraśamaikahetuṁ pradarśyaitatparāmarśaprakarṣādvyutthānamapi praśāntabhedāvabhāsaṁ bhavatītyāha—


Śakticakrasandhāne viśvasaṁhāraḥ||6||


Yo'yaṁ parapratibhonmajjanātmodyantṛtāsvabhāvo bhairava ukto'syaivāntarlakṣyabahirdṛṣṭyātmatayā niḥśeṣaśakticakrakramākramākrāmiṇyatikrāntakramākramātiriktāriktatadubhayātmatayāpyabhidhīyamānāpi anetadrūpānuttarā parā svātantryaśaktiḥ kāpyasti| Yayā svabhittau mahyullāsātprabhṛti parapramātṛviśrāntyantaṁ śrīmatsṛṣṭyādiśakticakrasphāraṇātmā krīḍeyamādarśitā| Tasyaitadābhāsitasya śakticakrasya rahasyāmnāyāmnātanītyā yatsandhānaṁ yathocitakramavimarśanaṁ tasmin sati kālāgnyādeścaramakalāntasya viśvasya saṁhāro dehātmatayā bāhyatayā cāvasthitasyāpi sataḥ parasaṁvidagnisādbhāvo bhavatītyarthaḥ| Uktaṁ ca śrībhargaśikhāyām

Mṛtyuṁ ca kālaṁ ca kalākalāpaṁ vikārajālaṁ pratipattisātmyam|
Aikātmyanānātmyavikalpajātaṁ tadā sa sarvaṁ kavalīkaroti||

iti| Śrīmadvīrāvalāvapi

Yatra sarve layaṁ yānti dahyante tattvasacayāḥ|
Tāṁ citiṁ paśya kāyasthāṁ kālānalasamatviṣam||

iti| Śrīmanmālinīvijaye'pi

Uccārarahitaṁ vastu cetasaiva vicintayan|
Yaṁ samāveśamāpnoti śāktaḥ so'trābhidhīyate||

ityuktyāitadeva bhaṅgyā nirūpitam| Etacca sadgurucaraṇopāsanayābhivyaktimāyātīti nādhikamunmīlitam| Etadeva

Yasyonmeṣanimeṣābhyāṁ...|

iti

Yadā tvekatra saṁrūḍhaḥ...|

iti ca prathamacaramaślokābhyāṁ saṅgṛhītam||6||


Dessa forma (evam), tendo mostrado (pradarśya) que a única (eka) causa (hetum) para a cessação (praśama) da ignorância (ajñāna) (é) a perfeita absorção (samāpattim) em Bhairava (bhairava), a qual --isto é, a perfeita absorção-- é um meio (upāyikām) baseado (avaṣṭambha) no instantâneo (jaghiti) Unmeṣa (unmeṣa)1  da mais alta (para) Pratibhā --ou seja, Parāvāk, lit. Fala Suprema-- (pratibhā), (o Senhor Śiva, autor dos Śivasūtra-s,) disse (āha) (que) "devido a um completo (prakarṣāt) apoderamento (parāmarśa) dessa (Pratibhā) (etad), há (avabhāsam bhavati) extinção de (todas as) diferenças (praśānta-bheda), inclusive (api) em Vyutthānam --qualquer estado exceto o samādhi ou concentração perfeita-- (vyutthānam... iti)2 "—


Por meio da união (sandhāne) com o grupo coletivo (cakra) de poderes (śakti), (produz-se) o desaparecimento (saṁhāraḥ) do universo (viśva)||6||


Esse (ayam) Bhairava (bhairavaḥ) que (yaḥ) foi descrito (uktaḥ) tem por natureza (sva-bhāvaḥ) uma elevação (udyantṛtā) (ou) surgimento (unmajjana-ātmā) da mais alta (para) Pratibhā (pratibhā). A sua (asya eva) principal (anuttarā) e suprema (parā) Śakti ou Poder (śaktiḥ) de Absoluta Liberdade para conhecer e fazer tudo (svātantrya) é (asti) um (Poder) (kā-api) cuja essência (ātmatayā) deve ser percebida (lakṣya) internamente (antas) (como a consciência do Eu, e) deve ser vista (dṛṣṭya) externamente (bahis) (como o universo. Devido a isso,) Ela --a Śakti-- toma posse (ākrāmiṇī) de todo (niḥśeṣa) o grupo (cakra) de poderes (śakti), (e aparece como) sucessão (krama) (e) não sucessão --simultaneidade-- (akrama). (Por sua vez, quando) Ela transcende sucessão e não sucessão (atikrānta-krama-akrama), aparece inclusive como (ātmatayā... api) muito (ati) vazia (rikta) (e) não vazia (a-rikta), (ou) ambos --tanto muito vazia quando não vazia-- (tad-ubhaya). (De fato,) ainda que (api) Ela seja descrita (assim) (abhidhīyamānā), (também) não é (an... rūpā) isso (etad)|

Esse (iyam) Jogo (krīḍā), cuja natureza (ātmā) (é) a resplandecente vibração (sphāraṇa) do grupo (cakra) de poderes (śakti) (na forma) da bela (śrīmat) emanação (sṛṣṭi), etc. (ādi), que começa (prabhṛti) com a manifestação (ullāsāt) da terra --tattva ou categoria 36-- (mahī) (e) termina (antam) com o repouso (viśrānti) no nais alto (para) Experimentador (pramātṛ) --Śiva, tattva ou categoria 1-- é exibido (ādarśitā) por esse (Poder supremo do Senhor) (yayā) sobre o Seu --de Śakti, o Poder previamente mencionado-- próprio (sva) tecido --isto é, substrato, fundo-- (bhittau)|

O sandhāna ou união --mencionado no aforismo-- (yad sandhānam) desse (tasya) grupo (cakrasya) de poderes (śakti) que foi manifestado (abhāsitasya) por esse (supremo Poder) (etad) (é) um ato de tornar-se consciente (vimarśanaṁ) de maneira (krama) adequada (yathā-ucita) segundo os preceito(s) (nītyā) expressos (āmnāta) na Secreta (rahasya) Tradição (āmnāya). Quando isso ocorre --ou seja, quando ocorre sandhāna-- (tasmin sati), (sucede) o desaparecimento (saṁhāraḥ) do universo (viśvasya), o qual começa (ādeḥ) em Kālāgni (kālāgni) (e) termina (antasya) na última (carama) Kalā (kalā)3 . (Para ser mais específico,) o estado ou condição (bhāvaḥ) de existência externa (sataḥ), ainda que (api) continue (avasthitasya) na forma (ātmatayā) de corpo (deha) e (ca) exteriorização (bāhyatayā), converteu-se completamente (sāt... bhavati) no Fogo (agni) da mais elevada (para) Consciência (saṁvid). Esse é o sentido (iti arthaḥ)|

Também foi declarado (uktam ca) na venerável (śrī) Bhargaśikhā (bhargaśikhāyām):

"Então (tadā), (quando se produz o desaparecimento do universo,) ele --o sublime Yogī-- (saḥ) devora (kavalī-karoti) tudo (sarvam) --isto é, torna-se um com tudo--, (inclusive) a morte (mṛtyum) e (ca... ca) o tempo --Kāla também é a deidade que rege a morte-- (kālam), o monte (kalāpam) de atividades (kalā), a rede (jālam) de mudanças (vikāra), a identificação (sātmyam) com o conhecimento (de objetos) (pratipatti), a multidão (jātam) de pensamentos (vikalpa) de unidade (com o Ser Supremo) (aika-ātmya) (ou) de multiplicidade (nānā-ātmya... iti)"||

Inclusive (api) na venerável (śrīmat) Vīrāvalī (vīrāvalau) (se estabelece que):

"Contemple (paśya) essa (tām) Consciência (citim) situada (sthām) no corpo (kāya) (e) cujo esplendor (tviṣam) é como (sama) (o de) Kālāgnirudra (kāla-anala)4 . (Contemple essa Consciência) na qual (yatra) tudo (sarve) se dissolve (layam yānti) (e) as multidões (sacayāḥ) de princípios e categorias (tattva) se queimam (dahyante... iti)||

No venerável (śrīmat) Mālinīvijayatantra (mālinīvijaye) (foi dito) também (api):

"Aquele que reflete (vicintayan) por meio da (sua) mente (cetasā eva) sobre a Realidade (vastu) que não está dentro do campo de ação (rahitam) da pronúncia (uccāra) obtém (āpnoti) uma absorção (no Ser Supremo) (yam samāveśam). Aqui (atra), essa (absorção) (saḥ) deve ser considerada (abhidhīyate) como śākta --isto é, alcançada através de Śāktopāya-- (śāktaḥ... iti)5 "||
(Ver Mālinīvijayatantra II, 22)

Por meio dessa proclamação (uktyā), esse mesmo (śakticakrasandhāna ou união com o grupo coletivo de poderes) (etad eva) foi definido (nirūpitam) indiretamente (bhaṅgyā) (no Mālinīvijayatantra)|

E (ca) isso (etad) emerge à existência --ou seja, torna-se possível-- (abhivyaktim āyāti) servindo (upāsanayā) aos pés (caraṇa) de um verdadeiro (sat) Guru (guru). Assim (iti), nada mais (na adhikam) foi revelado (unmīlitam)|

A mesma coisa (etad eva) foi resumida (saṅgṛhītam) por duas estrofes (ślokābhyāṁ) (das Spandakārikā-s, a saber,) a primeira (estrofe da Seção I) (prathama) (e) a última (da Seção III) (carama):

"... por cuja (yasya) abertura (e) fechamento dos (próprios) olhos (unmeṣa-nimeṣābhyām... iti)..."||
(Ver Spandakārikā-s I, 1)

"Mas (tu), quando (yadā) se enraiza (saṁrūḍhaḥ) em um lugar --isto é, no princípio do Spanda-- (ekatra... iti ca)..."||
(Ver Spandakārikā-s III, 19)

||6||

1  Esse termo significa literalmente: "o ato de abrir os olhos, aparecer, tornar-se visível, etc.". Aqui, deve ser entendido como "surgimento".Return 

2  Vyutthāna é qualquer estado que não seja o samādhi (nesse contexto, "perfeita absorção em Bhairava"). Em suma, é o estado comum de consciência no qual vive a maioria das pessoas.Return 

3  Kālāgni é o mais baixo bhuvana ou mundo, enquanto a última Kalā se denomina Śāntyatīta. Leia Trika: Os Seis Cursos para mais informação.Return 

4  Ele também é conhecido como Kālāgnibhuvaneśa (o senhor do mundo chamado Kālāgni). Em suma, é a deidade que rege esse mundo ou bhuvana. O nome desse bhuvana pode ser traduzido como "o fogo (do fim) do tempo". É o mundo mais baixo, como eu disse na nota anterior.Return 

5  Leia Meditação 3 para mais informação.Return 

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 Aforismo 7

एवमुपसंहृतविश्वस्य न समाधिव्युत्थानभेदः कोऽपीत्याह—


जाग्रत्स्वप्नसुषुप्तभेदे तुर्याभोगसम्भवः॥७॥


समनन्तरनिरूपयिष्यमाणानां जाग्रत्स्वप्नसुषुप्तानां भेदे नानारूपे पृथक्त्वावभास उद्यमो भैरव इति लक्षितस्य स्फुरत्तात्मनः सर्वदशानुस्यूतस्य तुर्यस्य य आभोगश्चमत्कारः तस्य सम्भवो नित्यमेव तुर्यचमत्कारमयत्वं प्रोक्तमहायोगयुक्तस्य भवतीत्यर्थः। केचित्सम्भव इत्यत्र संविदिति स्पष्टार्थं पठन्ति। एतच्च

यथेन्दुः पुष्पसङ्काशः समन्तादवभासते।
आह्लादनसमूहेन जगदाह्लादयेत्क्षणात्।
तद्वद्देवि महायोगी यदा पर्यटते महीम्।
ज्ञानेन्दुकिरणैः सर्वैर्जगच्चित्रं समस्तकम्॥
आह्लादयेत्समन्तात्तदवीच्यादिशिवान्तकम्।

इत्यादिना श्रीचन्द्रज्ञाने जागरादौ तुर्याभोगमयत्वं महायोगिनो दर्शितम्। स्पन्दे तु

जाग्रदादिविभेदेऽपि...।

इति कारिकया सङ्गृहीतम्॥७॥

Evamupasaṁhṛtaviśvasya na samādhivyutthānabhedaḥ ko'pītyāha—


Jāgratsvapnasuṣuptabhede turyābhogasambhavaḥ||7||


Samanantaranirūpayiṣyamāṇānāṁ jāgratsvapnasuṣuptānāṁ bhede nānārūpe pṛthaktvāvabhāsa udyamo bhairava iti lakṣitasya sphurattātmanaḥ sarvadaśānusyūtasya turyasya ya ābhogaścamatkāraḥ tasya sambhavo nityameva turyacamatkāramayatvaṁ proktamahāyogayuktasya bhavatītyarthaḥ| Kecitsambhava ityatra saṁviditi spaṣṭārthaṁ paṭhanti| Etacca

Yathenduḥ puṣpasaṅkāśaḥ samantādavabhāsate|
Āhlādanasamūhena jagadāhlādayetkṣaṇāt|
Tadvaddevi mahāyogī yadā paryaṭate mahīm|
Jñānendukiraṇaiḥ sarvairjagaccitraṁ samastakam||
Āhlādayetsamantāttadavīcyādiśivāntakam|

ityādinā śrīcandrajñāne jāgarādau turyābhogamayatvaṁ mahāyogino darśitam| Spande tu

Jāgradādivibhede'pi...|

iti kārikayā saṅgṛhītam||7||


Dessa forna (evam), para alguém no qual o universo (viśvasya) foi detido e suprimido (como tal) --em outras palavras, o universo é visto agora como Consciência divina-- (upasaṁhṛta), não existe nenhuma (na... kaḥ api) diferença (bhedaḥ) entre Samādhi (samādhi) (e) Vyutthāna --qualquer estado exceto Samādhi-- (vyutthāna). Dessa forma (iti), (o Senhor Śiva) disse (āha)


(Mesmo) durante os diferentes (estados de consciência) (bhede) de vigília (jāgrat), sono (svapna) e sono profundo (suṣupta), existe (sambhavaḥ) o deleite e desfrute (ābhoga) do Quarto Estado (turya)||7||


Para alguém que está unido (com o Ser Supremo) (yuktasya) por meio do grande Yoga --Śāmbhavopāya-- (mahā-yoga) previamente mencionado (prokta), há (bhavati) constantemente (nityam eva) o Camatkāra (camatkāra-mayatvam) do Quarto Estado (de consciência) (turya)1 . Esse (yaḥ) Ābhoga --deleite e desfrute-- (ābhogaḥ) (mencionado neste aforismo é) Camatkāra --Bem-aventurança da suprema consciência do Eu-- (camatkāraḥ). (É o deleite e desfrute) do Quarto Estado ou Turya (turyasya), que --isto é, o Quarto Estado-- foi denotado indiretamente (lakṣitasya) (no quinto aforismo anterior dessa seção:) "Bhairava --Ser Supremo-- (bhairavaḥ) (é) um repentino brilho ou elevação da Consciência divina (udyamaḥ... iti)". (Esse Quarto Estado ou Turya) consiste (ātmanaḥ) em Sphurattā (sphurattā)2  (e) corre ininterruptamente (anusyūtasya) em todos (sarva) os estados (de consciência) (daśā). (Em outras palavras, o Quarto Estado permanece como uma constante Testemunha) durante a manifestação (avabhāse) do estado de separação (pṛthaktva) caracterizada por multiplicidade (nānā-rūpe) (aparecendo na forma dos) diferentes (estados) (bhede) de vigília (jāgrat), sono (svapna) (e) sono profundo --suṣupta-- (suṣuptānām), os quais serão investigados (nirūpayiṣyamāṇānām) logo a seguir (samanantara). (Resumidamente, para aquele que está unido com o Ser Supremo por meio de Śāmbhavopāya,) existe geração ou produção (sambhavaḥ) desse (Ābhoga ou Camatkāra) (tasya). Esse é o significado (iti arthaḥ)|

Alguns (kecid) leem (paṭhanti), aqui (atra), "saṁvid" (saṁvid iti) (em vez de) "sambhava" (sambhavaḥ iti), (e o) significado (artham) (disso é) claro (spaṣṭa)3 |

A mesma coisa (etad ca) foi mostrada (darśitam) (pela seguinte estrofe) no venerável (śrī) Candrajñāna (candrajñāne), (ou seja,) que o deleite e desfrute (ābhoga-mayatvam) do Quarto Estado (turya) (também) está (presente) nos grandes (mahā) Yogī-s (yoginaḥ) em vigília (jāgarā), etc. (ādau):

"Assim como (yathā) a lua (induḥ), que tem a aparência de (saṅkāśaḥ) uma flor (puṣpa), brilha (avabhāsate) em todas as direções (samantāt), revigorando e alegrando (āhlādayet) o mundo (jagat) imediatamente (kṣaṇāt) pela multidão (samūhena) de (raios) que revigoram e alegram (āhlādana), da mesma forma (tadvat), oh Deusa --Pārvatī, a esposa de Śiva-- (devi)!, o grande (mahā) Yogī (yogī), quando (yadā) vaga (paryaṭate) pela terra (mahīm), revigora e alegra (āhlādayet) em todas as direções (samantāt) todo (samastakam) esse (tad) colorido (citram) mundo (jagat) que começa com (ādi) Avīci --um tipo de inferno-- (avīci) (e) termina em (antakam) Śiva --o Ser Supremo-- (śiva), por meio de todos (sarvaiḥ) os raios (kiraṇaiḥ) da lua (indu) do (seu) Conhecimento (jñāna... iti ādinā)"|

Nas Spandakārikā-s (spande), (o mesmo ensinamento) foi resumido (saṅgṛhītam) por meio do (seguinte) aforismo (kārikayā), certamente (tu):

"Inclusive (api) na variedade (de estados) (vibhede), (tais como) vigília (jāgrat), etc. (ādi... iti)..."|
(Ver Spandakārikā-s I, 3)

||7||

1  O termo "camatkāra" significa literalmente "assombro". Entretanto, em Trika, o significado é o seguinte: "Bem-aventurança da suprema consciência do Eu". Tive que arrumar a tradução adequadamente para não ficar redundante. E "Turya" (também denoninado "Turīya") é o quarto estado de consciência. Esse estado é uma Testemunha dos outros três (vigília, sono e sono profundo). O mais elevado Ser está em Turya (um estado constante) durante todo o tempo, mas quando Ele (Você!) adota a condição de experimentador limitado, passa por vigília, sono e sono profundo (três estados efêmeros).Return 

2  Sphurattā significa muitas coisas (fulgor, luz do Ser, etc.). Nesse contexto, na minha opinião, esse termo é usado pelo sábio como um epíteto de Śakti (o Supremo Poder do Senhor). Nesse sentido, Sphurattā é a vibrante luz de Śiva. Essa luz também é conhecida como Spanda e torna Śiva consciente da própria existência.Return 

3  É claro somente para eruditos sânscritos, haha! Escute com atenção: a palavra "saṁvid" é interpretada geralmente como "Consciência". De qualquer forma, nesse contexto, deveria ser traduzida como "experiência". Então, o texto do aforismo inteiro que o sábio está comentando diria: "(Mesmo) durante os diferentes (estados de consciência) de vigília, sono e sono profundo, (existe) a experiência do deleite e desfrute do Quarto Estado". Na minha humilde opinião, também pode ser interpretada como "aquisição", e, dessa forma, o texto inteiro diria: "(Mesmo) durante os diferentes (estados de consciência) de vigília, sono e sono profundo, (existe) a aquisição do deleite e desfrute do Quarto estado". Agora "finalmente" é claro, hehe. OK, isso é tudo!Return 

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 Aforismos 8, 9 e 10

एतज्जाग्रदादित्रयं सूत्रत्रयेण लक्षयति—


ज्ञानं जाग्रत्॥८॥
स्वप्नो विकल्पाः॥९॥
अविवेको मायासौषुप्तम्॥१०॥


सर्वसाधारणार्थविषयं बाह्येन्द्रियजं ज्ञानं लोकस्य जाग्रज्जागरावस्था। ये तु मनोमात्रजन्या असाधारणार्थविषया विकल्पाः स एव स्वप्नः स्वप्नावस्था तस्यैवंविधविकल्पप्रधानत्वात्। यस्त्वविवेको विवेचनाभावोऽख्यातिरेतदेव मायारूपं मोहमयं सौषुप्तम्। सौषुप्तं लक्षयता प्रसङ्गादुच्छेद्याया मायाया अपि स्वरूपमुक्तम्।

इत्थमपि चेदृशेनाप्यनेन लक्षणेन तिसृष्वपि जागरादिदशासु त्रैरूप्यमस्तीति दर्शितम्। तथा चात्र यद्यत्स्वप्नदशोचितं प्रथममविकल्पं ज्ञानं सा जागरा। ये तु तत्र विकल्पाः स स्वप्नः। तत्त्वाविवेचनं सौषुप्तम्। सौषुप्ते यद्यपि विकल्पा न सञ्चेत्यन्ते तथापि तत्प्रविविक्षायां तथोचितजाग्रज्ज्ञानमिव तदनन्तरं संस्कारकल्पविकल्परूपस्तदुचितः स्वप्नोऽप्यस्त्येव।

किञ्च योग्यभिप्रायेण प्रथमं तत्तद्धारणारूपं ज्ञानं जाग्रत्ततः तत्प्रत्ययप्रवाहरूपा विकल्पाः स्वप्नो ग्राह्यग्राहकभेदासञ्चेतनरूपश्च समाधिः सौषुप्तमित्यप्यनया वचोयुक्त्या दर्शितम्। अत एव श्रीपूर्वशास्त्रे जागरादीनां परस्परानुवेधकृतो योग्यभिप्रायेणापि

... अबुद्धं बुद्धमेव च।
प्रबुद्धं सुप्रबुद्धं च...॥

इत्यादिना भेदो निरूपितः॥८॥९॥१०॥

Etajjāgradāditrayaṁ sūtratrayeṇa lakṣayati—


Jñānaṁ jāgrat||8||
Svapno vikalpāḥ||9||
Aviveko māyāsauṣuptam||10||


Sarvasādhāraṇārthaviṣayaṁ bāhyendriyajaṁ jñānaṁ lokasya jāgrajjāgarāvasthā| Ye tu manomātrajanyā asādhāraṇārthaviṣayā vikalpāḥ sa eva svapnaḥ svapnāvasthā tasyaivaṁvidhavikalpapradhānatvāt| Yastvaviveko vivecanābhāvo'khyātiretadeva māyārūpaṁ mohamayaṁ sauṣuptam| Sauṣuptaṁ lakṣayatā prasaṅgāducchedyāyā māyāyā api svarūpamuktam|

Itthamapi cedṛśenāpyanena lakṣaṇena tisṛṣvapi jāgarādidaśāsu trairūpyamastīti darśitam| Tathā cātra yadyatsvapnadaśocitaṁ prathamamavikalpaṁ jñānaṁ sā jāgarā| Ye tu tatra vikalpāḥ sa svapnaḥ| Tattvāvivecanaṁ sauṣuptam| Sauṣupte yadyapi vikalpā na sañcetyante tathāpi tatpravivikṣāyāṁ tathocitajāgrajjñānamiva tadanantaraṁ saṁskārakalpavikalparūpastaducitaḥ svapno'pyastyeva|

Kiñca yogyabhiprāyeṇa prathamaṁ tattaddhāraṇārūpaṁ jñānaṁ jāgrattataḥ tatpratyayapravāharūpā vikalpāḥ svapno grāhyagrāhakabhedāsañcetanarūpaśca samādhiḥ sauṣuptamityapyanayā vacoyuktyā darśitam| Ata eva śrīpūrvaśāstre jāgarādīnāṁ parasparānuvedhakṛto yogyabhiprāyeṇāpi

... abuddhaṁ buddhameva ca|
Prabuddhaṁ suprabuddhaṁ ca...||

ityādinā bhedo nirūpitaḥ||8||9||10||


(O Senhor Śiva, autor dos Śivasūtra-s, que estão sendo comentados,) define (lakṣayati) esse (etad) grupo de três (trayam) (estados de consciência, a saber,) vigília (jāgrat), etc. (ādi), por meio de três (trayeṇa) aforismos (sūtra)


O conhecimento (jñānam) (é) o estado de vigília (jāgrat)||8||
O estado de sono (svapnaḥ) (são) pensamentos e ideações (vikalpāḥ)||9||
A falta de discernimento ou consciência (avivekaḥ) (é) o sono profundo (sauṣuptam) de Māyā --o engano-- (māyā)||10||


Jāgrat (jāgrat) é o estado (avasthā) de vigília (jāgarā) do mundo (lokasya) (e consiste em) conhecimento (jñānaṁ) cuja esfera de atividade (viṣayam) (é) objetos (artha) comuns a todos (sarvasādhāraṇa) (e) que nasce (jam) dos sentidos (indriya) externos (bāhya)|

Mas (tu) svapna (saḥ eva... svapnaḥ) (é) o estado (avasthā) de sonho (svapna), (que consiste em) pensamentos (vikalpāḥ) que (ye) surgem (janyāḥ) meramente (mātra) a partir da mente (manas) (e) cuja esfera de atividade (viṣayāḥ) (é) objetos (artha) não comuns (asādhāraṇa) --isto é, os objetos são percebidos unicamente pelo sonhador--. (Portanto, é conhecido como svapna ou sonho,) porque, nele, há preeminência (tasya... pradhānatvāt) de pensamentos (vikalpa) de tal tipo --ou seja, não comuns-- (evaṁ-vidha)|

Certamente (tu), esse (etad eva) sauṣupta ou sono profundo (sauṣuptam), que consiste (mayam) em engano (moha) (e) cuja natureza (rūpam) (é) Māyā --tattva ou categoria 6 na manifestação universal-- (māyā), (representa) a ignorância primordial (akhyātiḥ), que (yaḥ) (implica) aviveka (avivekaḥ) (ou) ausência (abhāvaḥ) de discernimento ou consciência (vivecana)|

Junto com a definição (lakṣayatā) (de) sono profundo (sauṣuptam), a natureza essencial (sva-rūpam) de Māyā (māyāyāḥ), a qual deve ser eliminada (ucchedyāyāḥ), (foi) também (api) incidentalmente (prasaṅgāt) mencionada (uktam)|

Além disso (api ca), dessa forma (ittham), a tripla natureza (trairūpyam) (desses estados de consciência) foi mostrada (asti iti darśitam) nas três (tisṛṣu api) condições (daśāsu) de vigília (jāgarā), etc. (ādi), por meio desse tipo (īdṛśena api anena) de definição (lakṣaṇena)|

Da mesma forma (tathā ca), aqui (atra), qualquer (yad yad) conhecimento (jñānam) inicial (prathamam) que não esteja particularizado (avikalpam), o que é usual ou característico (ucitam) do estado (daśā) de sonho (svapna), (é) vigília (sā jāgarā)|

Os pensamentos e fantasias (vikalpāḥ) que (aparecem) (ye tu) depois disso (tatra) (constituem) o estado de sonho (saḥ svapnaḥ)|

O sono profundo (sauṣuptam), (por ter a natureza de Māyā, é) ausência de discernimento e consciência (avivecanam) de tattva-s ou princípios (tattva) --isso será elucidado posteriormente, em III-3--1 |

Embora (yadi api) os pensamentos (vikalpāḥ) não (na) sejam percebidos (sañcetyante) em sono profundo (sauṣupte) --isto é, embora não haja nenhum pensamento em sono profundo--, mesmo assim (tathā api), quando se está por entrar (pravivikṣāyām) nisso --em sono profundo-- (tad) (ocorre) um conhecimento (jñānam) de vigília (jāgrat), por assim dizer (iva), que é característico desse estado --do sono profundo-- (tathā ucita). Depois (anantaram) disso (tad), certamente (eva)(asti) também (api) um estado de sonho (svapnaḥ) na forma (rūpaḥ) de pensamentos e fantasias (vikalpa) que aparecem como (kalpa) (suas) impressões residuais (saṁskāra). (Obviamente, o que foi descrito) é característico (ucitaḥ) disso --do estado de consciência chamado sonho-- (tad)2 |

Além disso (kiñca), no que diz respeito (abhiprāyeṇa) a um Yogī (yogī), a princípio (prathamam), (o seu) conhecimento (jñānam), que consiste (rūpam) em diversas (tad-tad) Dhāraṇā-s ou Concentrações (em um objeto) (dhāraṇā) (praticadas por ele, é a sua) vigília (jāgrat). Então (tatas), (os seus) pensamentos (vikalpāḥ) na forma (rūpāḥ) de um fluxo contínuo (pravāha) de ideias (pratyaya) sobre esse (objeto) (tad) --isto é, Dhyāna ou Meditação-- (são o seu) estado de sonho (svapnaḥ). E (ca) (o seu) Samādhi ou Perfeita Concentração (samādhiḥ), que aparece (rūpaḥ) como a não percepção (asañcetana) de diferenças (bheda) entre conhecedor (grāhaka) (e) cognoscível --o objeto-- (grāhya), (é o seu) sono profundo (sauṣuptam). Isso foi mostrado (iti api... darśitam) por meio dessa (anayā) aplicação adequada (yuktyā) de palavras (vacas)|

Por essa razão (atas eva), no venerável (śrī) Pūrvaśāstra --"a escritura primária ou primordial", um epíteto do Mālinīvijayatantra-- (pūrva-śāstre), inclusive (api) com relação a (abhiprāyeṇa) um Yogī (yogī), a variedade (bhedaḥ) de vigília (jāgarā), etc. (ādīnām), é definida (nirūpitaḥ) como um ato (kṛtaḥ) de penetração (anuvedha) de um (estado de consciência) em outro (paraspara) (pela seguinte estrofe):

"... não desperto (abuddham), desperto (buddham eva ca), bem desperto (pra-buddham) e (ca) perfeitamente desperto (su-pra-buddham... iti ādinā)..."|
(Ver Mālinīvijayatantra II, 43)

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1  Outra tradução possível é a seguinte: "ausência de discernimento e consciência de (qualquer) realidade". Aqui, o termo "tattva" é interpretado como "uma coisa real" em vez de "princípio".Return 

2  Esse complexo tema que trata de misturas de estados (por exemplo, o autor mencionou anteriormente a mistura denominada "vigília em sono profundo") não pode ser explicado aqui. É explicado em detalhes na subseção apropriada de "Escrituras (estudo)" dentro da seção Trika.Return 

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

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