Gurugītā (Gurugita) (português)
Traduções das versões curta e longa do célebre Canto sobre o Guru
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Introdução
Oi, Gabriel Pradīpaka mais uma vez. A Gurugītā (escrito erroneamente: Gurugita) é um antigo canto incluído no Skandapurāṇa. Existem 18 Purāṇa-s (antigos relatos ou histórias), sendo o mais extenso (cerca de 81.000 versos) o dedicado a Skanda (também chamado de Kārttikeya, um dos filhos do Senhor Śiva). Os Purāṇa-s se relacionam diretamente aos quatro Veda-s sagrados [Para mais informação sobre Veda-s, vá a Primeiros Passos (2) e a Ṛgveda]. Alguns complexos ensinamentos dados nos Veda-s são realmente difíceis de entender para a vasta maioria das pessoas. Por "Veda-s", estou me referindo, neste caso, às seções Mantra, Brāhmaṇa, Āraṇyaka e Upaniṣad tal como lhe ensino em Primeiros Passos (2). Vedavyāsa, o compilador do conhecimento védico, compreendeu que, para a maioria das pessoas, seria difícil entender algumas verdades abstrusas postuladas pelos Veda-s. Então, para resolver esse problema, ele compilou toda a sabedoria védica em forma de relatos e histórias, dando, desse modo, origem aos dezoito Purāṇa-s. A tradição de dar, em forma de história, conhecimento que é difícil de entender é uma conhecida estratégia para permitir que as pessoas captem o significado de maneira mais fácil, já que, em sua maior parte, as pessoas adoram ler relatos e contos.
Esses Purāṇa-s tratam de cinco tópicos: (1) Sarga (criação do universo), (2) Pratisarga (destruição e renovação do universo), (3) Vaṁśa (genealogia de deuses e patriarcas), (4) Manvantara (os períodos dos Manu-s), e (5) Vaṁśānucarita (história das raças solar e lunar). Obviamente, não posso descrever os deuses, patriarcas e Manu-s aqui, bem como tampouco posso fazê-lo com as raças solar e lunar, porque minha explicação seria extremamente longa e um tanto fora do tema, ao que me parece. Por sua vez, os 18 Purāṇa-s são divididos em três ramos (Rājasa, Sāttvika e Tāmasa) de acordo com o deus da trilogia hindu (Brahmā, Viṣṇu e Śiva) que exaltam. Aqui está um quadro completo que resume os Purāṇa-s:
Os seis Rājasapurāṇa-s | |||
Deus exaltado |
Nome | Tamanho em versos |
Uma breve descrição |
Brahmā | Brahma | 10.000 | Foi revelado pelo deus Brahmā a Dakṣa para promover a adoração do Senhor Kṛṣṇa. |
Brahmāṇḍa | 12.000 | Foi revelado pelo deus Brahmā principalmente para descrever o universo na forma de um ovo cósmico. | |
Brahmavaivarta | 18.000 | Descrevem-se aqui de maneira abundante os passatempos do Senhor Kṛṣṇa e as célebres gopī-s ou leiteiras. | |
Mārkaṇḍeya | 9.000 | Foi narrado pelo sábio Mārkaṇḍeya para expor a natureza do Senhor Kṛṣṇa e explicar alguns fatos que aparecem no poema épico chamado de Mahābhārata. | |
Bhaviṣya | 14.500 | Nesta escritura, o deus Brahmā descreve eventos futuros junto com ritos religiosos. | |
Vāmana | 10.000 | Pulastya conta ao sábio Nārada (o guru de Vedavyāsa) sobre a encarnação de Viṣṇu como um anão e Seus passatempos com o rei Bali. | |
Os seis Sāttvikapurāṇa-s | |||
Viṣṇu | Viṣṇu | 23.000 | Descreve a criação e dissolução do mundo, contém uma lista de reis e dinastias, versa sobre os Veda-s e o Varṇāśrama (castas e etapas da vida) e narra a vida do Senhor Kṛṣṇa. |
Bhāgavata | 18.000 | Foi relatado por Śuka (filho de Vedavyāsa) ao rei Parīkṣit, e trata principalmente das glórias do Senhor Kṛṣṇa. | |
Nāradīya | 25.000 | Foi composto pelo sábio Nārada (guru de Vedavyāsa). Descreve muitas cidades sagradas, tais como Dvāraka, a cidade do Senhor Kṛṣṇa. | |
Garuḍa | 19.000 | Garuḍa, o veículo de Viṣṇu, é o principal protagonista desta escritura. Era filho de Kaśyapa e Vinatā. | |
Padma | 55.000 | Contém histórias de Rāma e Jagannātha (Senhor Kṛṣṇa). | |
Varāha | 24.000 | Viṣṇu, em Sua encarnação como javali, é o principal tema aqui. | |
Os seis Tāmasapurāṇa-s | |||
Śiva | Śiva | 24.000 | Obviamente, é uma escritura consagrada às histórias, louvações, e por aí vai, que dizem respeito ao Senhor Śiva. |
Liṅga | 10.000 | Versa sobre Śiva em Sua forma Agniliṅga (feroz Liṅga ou Marca). Existe também uma descrição das encarnações do Senhor Śiva em oposição às do Senhor Viṣṇu. Também se estuda aqui tudo relativo ao Gāyatrī mantra. | |
Skanda | 81.000 | Skanda (o Atacante), também denominado Kārttikeya (aquele que foi criado pelos seis Kṛttikā-s ou Plêiades, daí o fato de ter seis cabeças), um dos dois filhos (o outro é Gaṇeśa) de Śiva e Pārvatī, é o principal personagem desta escritura. É o deus da guerra, é claro. Este Purāṇa é o mais longo, como você pode ver. A célebre Gurugītā está bem aqui. | |
Agni (ou então Vāyu) | 15.400 | Nesta escritura, está incluída uma descrição de Śālagrāma (ou também "Sālagrāma"). Śālagrāma é uma aldeia situada no rio Gaṇḍakī. Por sua vez, também se chama de "Śālagrāma" uma pedra negra que se encontra em abundância perto dessa aldeia no rio Gaṇḍakī. Diz-se que esse tipo de pedra está permeado pela presença de Viṣṇu. Daí o fato de ser sagrada para os Vaiṣṇava-s | |
Matsya | 14.000 | Esta escritura foi comunicada ao 7o Manu por Viṣṇu em sua encarnação como peixe. Portanto, o principal protagonista aqui é Matsya, o primeiro das dez encarnações do Senhor Viṣṇu. Ele tornou-se um peixe para salvar o 7o Manu (o atual) denominado Vaivasvata (ou também Satyavrata) do dilúvio universal [Para mais informação sobre as encarnações de Viṣṇu, ver Primeiros Passos (2)]. O tópico "construções de templos" também é abordado aqui. | |
Kūrma | 17.000 | O personagem principal desta escritura é Kūrma, a segunda encarnação do Senhor Viṣṇu. Ele tomou a forma de uma tartaruga para sustentar a montanha Mandara, com a qual deuses e demônios agitaram o oceano, fazendo-a girar com a ajuda de Vāsuki (um dos três reis das serpentes), que atuou como se fosse uma corda. Eles fizeram isso para resgatar alguns objetos perdidos. Bem, a história é longa e muito conhecida, você sabe. |
A Gurugītā é apresentada em dois sabores, por assim dizer: Versões curta (182 estrofes) e longa (352 estrofes). À primeira vista, poderia-se pensar que a versão longa "simplesmente inclui" toda a versão curta e que são adicionadas mais estrofes, mas não é esse o caso. Em primeiro lugar, o célebre hino Śrīgurupādukāpañcakam, que é geralmente incluído na versão curta da Gurugītā, está ausente na longa. Em segundo lugar, muitas vezes, duas estrofes da versão longa são simplificadas como só uma na versão curta. Em terceiro lugar, muitos verbos foram substituídos por outros cujo significado é similar. Em quarto lugar... bem, você verá por si mesmo.
Em relação às traduções, permita-me esclarecer esta questão: os tradutores sânscritos geralmente tentam conseguir uma tradução prévia (se houver alguma) de uma escritura para usá-la como guia, especialmente quando o tema sendo tratado nessa escritura não é a sua especialidade. Isso não é possível às vezes, é claro, e o tradutor tem que correr o risco de cometer um equívoco, pois alguns tópicos são muito complexos e as palavras têm tantos significados distintos muito frequentemente. O mesmo termo pode significar diferentes coisas de acordo com o sistema filosófico ao qual pertence a escritura. Geralmente, vejo diversas traduções com alguns erros, não porque esses tradutores foram negligentes, mas, sim, porque os textos sânscritos podem confundir facilmente um tradutor. Assim como em relação a outras línguas, não há nenhum "tradutor sânscrito universal" que possa traduzir "todas" as escrituras com a mesma precisão. Não, nem um pouco. Por exemplo: em português, mesmo que você seja um bom tradutor, terá problemas para traduzir um tratado de medicina se não conhecer o tema. O mesmo é verdadeiro em relação à língua sânscrita. Deve-se primeiro ser um especialista em uma filosofia se o objetivo for traduzir uma escritura pertencente a ela, e por aí vai.
Com relação à versão curta da Gurugītā, escrevi um manuscrito da tradução há muitos anos, consultando de tanto em tanto algumas traduções anteriores, com o objetivo de evitar tantos equívocos quantos me fosse possível, já que não sou especialista em literatura védica (somente Trika ou Shaivismo não dual da Caxemira é a minha especialidade, e não sou tão bom nem sequer traduzindo escrituras do Trika, que dizer das védicas). De qualquer maneira, nunca traduzi a versão longa da Gurugītā e não tenho nenhuma tradução prévia sobre a qual basear minha tradução. Desse modo, terei que traduzi-la do zero... bem, a vida é dura às vezes, você sabe, hehe, mas creio que poderei fazê-lo.
Finalmente, existe também um comentário sobre essa escritura. É por isso que adicionarei tão poucas notas explicativas quanto possível durante as traduções contínuas das versões curta e longa. Aproveite a Gurugītā!
Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.
Informação adicional
Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.
Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.
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