Sanskrit & Trika Shaivism (English-Home)

O Javascript está desativado! Cheque este link!


 Pātañjalayogasūtra-s (Patanjali Yoga Sutras) (português - pura)

Os célebres aforismos sobre Yoga do sábio Patañjali - Tradução pura


  Introdução

Olá, Gabriel Pradīpaka novamente. Esta é a segunda página de, espero, uma muito longa série de páginas dedicada às escrituras sagradas em Sânscrito. Em Pronúncia 6, 7, 8 e 9, eu te ensinarei a pronunciar os 195 aforismos dos Pātañjalayogasūtra-s (Os aforismos do sábio Patañjali acerca do Yoga). Porém estou agora dando-te todos os Pātañjalayogasūtra-s em uma forma ininterrupta. Sem sons em absoluto, lógico, somente a tradução. Se você quiser ouvir os aforismos, veja a Pronúncia 6, Pronúncia 7, Pronúncia 8 e Pronúncia 9. Nos vemos!

Este é um documento do tipo "tradução pura", isto é, não haverá nenhum original em Sânscrito, mas algumas vezes haverá uma mínima quantidade de Sânscrito transliterado nas traduções das estrofes. Logicamente, não haverá nenhuma tradução palavra por palavra. De qualquer forma, haverá freqüentemente Sânscrito transliterado nas notas explicativas. Se você é um deficiente visual que utiliza um leitor de tela e não quer ler as notas, ou simplesmente se você não é um deficiente visual mas quer desconsiderar as notas, clique no respectivo link "Desconsiderar notas" para ir direto à próxima estrofe.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.


Obrigado a Nando Penteado (Mantrī) que traduziu este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Primeira Seção: Sobre a concentração

E agora começa a instrução acerca do Yoga||1||


Yoga é a supressão das modificações mentais||2||


Então, há permanência na natureza essencial do Observador||3||


Em outras ocasiões, há identidade (entre o Observador e) as modificações (da mente)||4||


As modificações (mentais), as quais formam um grupo de cinco, podem ou não basear-se nos Kleśa-s --aflições--||5||


Conhecimento correto, falso conhecimento, conhecimento verbal acerca de algo que não existe, sono (profundo) e lembrança --smṛti-- (são as cinco modificações da mente)||6||


Percepção direta, inferência e testemunho --āgama-- são os Pramāṇa-s||7||


Viparyaya é conhecimento ilusório baseado em confundir uma particular forma com algo completamente diferente||8||


Vikalpa procede de um conhecimento verbal acerca de algo que está desprovido de realidade||9||


 A modificação (conhecida como) Nidrā (o sono profundo) baseia-se no estado mental de inexistência||10||


Smṛti (ou recordação) é a reprodução, sem tomar nada de nenhuma outra fonte, da coisa que foi (previamente) experimentada||11||


Há supressão disso (isto é, "das cinco anteriores modificações mentais") por meio de Abhyāsa --prática-- e Vairāgya --renúncia--||12||


Abhyāsa ou prática é o esforço (realizado) para alcançar essa Sthiti ou paz mental||13||


E essa (prática), quando está dotada de uma ininterrupta e genuína atitude devocional por longo tempo, (tem) certamente firmes alicerces||14||


Vairāgya ou Renúncia se conhece como o ato de subjugar o desejo com relação a objetos vistos ou acerca dos quais se ouviu repetidamente das escrituras||15||


A indiferença para com os Guṇa-s, (as modalidades da natureza), por causa de um conhecimento do Puruṣa se denomina o mais alto (Vairāgya ou Renúncia)||16||


Samprajñātasamādhi (se consegue) por meio de Vitarka, Vicāra, Ānanda e Asmitā||17||


(Asamprajñātasamādhi é o) outro (tipo de Samādhi) que é precedido pela prática de deter as flutuações mentais (o qual é fruto natural do mais alto Vairāgya ou Renúncia, mas que ainda) contém um resíduo de impressões latentes||18||


(Há dois tipos de causas para o Nirvījasamādhi --um Samādhi sem objeto para meditar--: "upāyapratyaya" --a condição mental que é o resultado de um esforço consciente utilizando um método-- e "bhavapratyaya" --a condição mental que é o resultado de impressões latentes de ignorância--. O primeiro tipo produz "Asamprajñātasamādhi", enquanto que o segundo gera um estado similar porém não igual).

(Deste modo, Nirvījasamādhi é causado pela) condição mental (que resulta) de impressões latentes de ignorância no caso dos Videha-s ou Deva-s (desencarnados) e dos Prakṛtilaya-s ou aqueles que se dissolveram no princípio constituinte primário||19||


 (Todavia,) no caso dos que transitam pelo caminho do esforço consciente usando um método --upāya--, (Nirvījasamādhi --que é agora "real Asamprajñātasamādhi"--) é precedido por fé, vigor, recordação, concentração plena (e) verdadeiro conhecimento||20||


(O mesmo Nirvījasamādhi é rapidamente) alcançado por essas pessoas que tem um intenso desejo de emancipação espiritual||21||


Devido a que (os métodos ou meios) são suaves --lentos--, moderados --intermediários-- e excessivos --"adhimātra" ou rápidos--, (existem) portanto diferença(s) inclusive (entre essa gente que tem um intenso desejo de emancipação espiritual)||22||


Ou bem (alguém pode conseguir Nirvījasamādhi) através de profunda devoção a Īśvara||23||


Īśvara é um particular Puruṣa que não é afetado pelos Kleśa-s --aflições--, ações, fruto das ações ou as impressões latentes resultantes --āśaya--||24||


NEle, a Semente Onisciente (alcançou um estado que) não pode ser excedido ou ultrapassado||25||


(Esse Īśvara é) o Guru inclusive dos primeiros (guru-s), porque Ele não está determinado ou limitado pelo Tempo||26||


A palavra para (designá-lo) Ele é Praṇava ou Om̐||27||


(Aqueles que finalmente compreenderam a relação intrínseca entre Praṇava e Īśvara realizarão) a murmuração desse (Om̐ e) a contemplação de seu significado||28||


A partir dessa (prática de Īśvarapraṇidhāna ou devoção a Īśvara --o Senhor-- também vem) o êxito do próprio e verdadeiro Ser bem como a remoção de obstáculos||29||


 Enfermidade, ineficiência mental, dúvida, negligência, preguiça, falta de abstenção --carência de controle--, percepção errônea, o estado de não alcançar nenhuma etapa yôguica (e) a instabilidade --anavasthitatva--. Essas projeções mentais (são) os obstáculos||30||


Dor, sentimento de desgraça e miséria, sacudimento ou tremor corporal, inalação (e) exalação --praśvāsa-- aparecem ou surgem junto com as (já ditas) projeções||31||


Para impedir que isso avance --isto é, para deter essas projeções mentais--, (recomenda-se) a prática de (concentração em) um único princípio||32||


A paz mental (consegue-se) contemplando (internamente os sentimentos) de amizade, compaixão, simpatia com a felicidade (ou) indiferença --upekṣā-- em relação a (seres que estão) felizes, (que estão) sofrendo dor ou desgraça, (que são) virtuosos (ou que são) impuros, (respectivamente)||33||


Ou (essa mesma paz mental pode-se também conseguir) mediante exalação e retenção --vidhāraṇa-- do Prāṇa --a energia vital contida na respiração--||34||


Ou uma percepção superior a respeito de objetos, (no momento em que) ela emerge, provoca calma mental (também)||35||


Ou (uma percepção superior) que seja luminosa e livre de pesar (pode também produzir paz mental)||36||


Ou (a contemplação da) mente pertencente a um sábio que esteja livre das paixões (pode também produzir tranquilidade mental)||37||


Ou o suporte dos conhecimentos --na forma de palavras e/ou imagens-- (experimentados) em sonhos ou no estado de sono profundo --sem sonhos-- (pode também trazer paz e estabilidade à mente)||38||


Ou através da meditação em qualquer coisa apropiada --do ponto de vista yóguico, lógico-- que se deseje (pode-se também alcançar paz mental)||39||


 (Quando a mente se estabiliza em diferentes realidades à vontade, desde uma tão diminuta como) um átomo --no sentido da mais diminuta partícula concebível que não pode mais ser dividida-- até (outra que seja) infinitamente grande, (então, conseguiu-se um completo) domínio sobre ela||40||


Quando uma flutuação mental enfraquecida (finalmente) surge como consequência --ou seja, quando a flutuação se enfraquece finalmente e a mente alcança estabilidade--, (esta flutuação comporta-se) como uma joia (transparente) com respeito ao conhecedor, instrumento de conhecimento e objetos conhecíveis --grāhya-- --os quais são todos objetos de concentração mental--. (Este, por assim dizer,) ato de assumir a cor --a natureza-- de qualquer realidade próxima (por parte da flutuação mental enfraquecida, como que uma joia, se conhece como) Samāpatti ou Absorção||41||


Savitarkā Samāpatti (é essa Absorção que) está combinada com ideias ou pensamentos de (igualdade) entre palavra, (seu) significado e o conhecimento (resultante)||42||


Quando (a mente) purificou completamente (sua) memória, (e o conhecimento intuitivo está), por assim dizer, desprovido de sua própria natureza essencial, (essa Samāpatti ou Absorção), na qual somente o objeto (sobre o qual a mente se concentra) brilha, (denomina-se) Nirvitarkā||43||


Por meio disto --ou seja, mediante a explicação anterior--, explica-se também (as Samāpatti-s ou Absorções chamadas) Savicārā e Nirvicārā, cujos objetos são sutís||44||


E a característica ou condição de um objeto ser sutil (com respeito a um prévio que é menos sutil) termina ou culmina em Aliṅga --a Prakṛti não manifestada --||45||


Só essas (quatro variedades de Samāpatti ou Absorção --Savitarkā, Nirvitarkā, Savicārā e Nirvicārā-- constituem) Savījasamādhi (ou a perfeita concentração na qual se usa um objeto denso/sutil ou "vīja" como suporte para que sua mente se concentre)||46||


Ao ganhar destreza ou perícia em Nirvicārasamādhi --também conhecido como Nirvicārā Samāpatti ou Absorção-- (desenvolve-se consequentemente) clareza ou pureza nos instrumentos internos de conhecimento --especialmente em Buddhi ou intelecto--||47||


O profundo entendimento ou conhecimento (obtido) nesse (estado de Nirvicārasamādhi ou Nirvicārā Samāpatti chama-se) Ṛtambharā||48||


(E essa Prajñā ou profundo conhecimento ganho em Nirvicārasamādhi) é diferente dos conhecimentos conseguidos através da transmissão oral ou da inferência, porque se relaciona com as características particulares dos objetos --artha--||49||


A impressão latente nascida dessa (especial Prajñā que surge em Nirvicārasamādhi) obstrui as outras impressões latentes||50||


Na cessação disso --isto é, da impressão latente nascida da já mencionada Prajñā-- também, há Nirvījasamādhi --ou a perfeita concentração que é sem objetos ou "nirvīja"; em outras palavras, não se utiliza nenhum objeto ou "vīja" como suporte para que a própria mente se concentre-- através da supressão de todas (as modificações ou flutuações mentais)||51||

Aqui conclui-se a Primeira Seção que trata sobre a concentração

Ao início


 Segunda Seção: Sobre a prática

Austeridade ou Penitência, Estudo de escrituras e Canto de mantra-s (e) Devoção --praṇidhāna-- ao (Supremo) Senhor (são) Kriyāyoga||1||


(O Kriyāyoga deve ser praticado) para produzir Samādhi ou Perfeita Concentração e atenuar os Kleśa-s||2||


A ignorância (na forma de uma má captação da Realidade), egoísmo (na forma de uma errônea identificação do Ser com o intelecto), apego, aversão e medo da morte (o qual deriva de apegar-se ignorantemente à vida) --abhiniveśa-- são os cinco Kleśa-s ou Aflições||3||


A ignorância (na forma de uma má captação da Realidade) é o campo (de cultivo) para os subsequentes (quatro Kleśa-s quer eles estejam) dormentes, atenuados, interrompidos ou ativos --udāra--||4||


A ignorância é considerar como eterno o que não é eterno, como puro o que não é puro, como prazer (ou "agradável") o que é doloroso (ou "desagradável") e como o Ser o que é o não-Ser --anātma--||5||


O egoísmo é equivalente à identificação do Poder --śakteḥ ou śaktyā--1 Conhecedor --quer dizer, "Puruṣa ou a Consciência Absoluta"-- com o poder --śakteḥ ou śaktyā--2 cognitivo --isto é, "Buddhi ou intelecto"--||6||
Desconsiderar notas

1 "śaktyoḥ" significa realmente "dos dois poderes" (Genitivo Dual de "śakti" --poder--). Todavia, tive que traduzi-lo no singular por conveniência. Não obstante, dei também as respectivas formas para o Genitivo Singular de "śakti", ou seja, "śakteḥ ou śaktyā" --do poder--, para esclarecer mais o assunto.

2 Idem.


 O apego é isso que resulta do prazer; --isto é, "O apego é a modificação que se forja mediante a lembrança do prazer desfrutado"--||7||


A aversão é isso que resulta da dor ou pesar; --isto é, "A aversão é a modificação que se forja mediante a experiência de miséria"--||8||


O inato medo da morte está estabelecido de igual maneira (em todos), mesmo nos sábios; --isto é, "O medo da morte pode ser encontrado tanto nos ignorantes como nas pessoas sábias"--||9||


Esses sutis (Kleśa-s ou Aflições) devem ser abandonados mediante a cessação da produção (mental)||10||


As modificações (aflitivas) disso --isto é, "dos anteriormente ditos Kleśa-s ou Aflições"-- devem ser abandonadas através da meditação||11||


 A impressão latente da ação, a qual está baseada em Kleśa-s ou Aflições, manifesta-se na vida presente ou na vida futura||12||


Enquanto isso --isto é, "os Kleśa-s ou Aflições"-- permanecer na raiz, a consequência ou resultado disso é nascimento, duração de vida e experiência --bhoga--||13||


Por causa da virtude e do vício, esses --isto é, "nascimento, duração de vida e experiência"-- (aparecem como) frutos de prazer ou de dor, (respectivamente)||14||


Para as pessoas que discernem, tudo é na verdade (considerado como) doloroso por causa dos sofrimentos (que derivam dos) resultados ou consequências (das próprias ações, das) experiências penosas (e das) impressões latentes, e também devido à (mútua) oposição das modificações dos Guṇa-s (ou modalidades de Pradhāna1)||15||
Desconsiderar notas

1 "Pradhāna" é Prakṛti.


 A dor futura deve ser abandonada||16||


A união do "Observador" --isto é, "do Sujeito"-- com "o visto" (ou cognoscível) --isto é, "com o objeto animado ou inanimado" ou "dṛśya"-- é a causa disso que deve ser abandonado||17||


O "cognoscível" --isto é, "o objeto"-- é por natureza consciente, mutável e inerte. (Secundariamente,) consiste de elementos (sutís e densos e) Indriya-s --isto é, "Poderes de percepção (Jñānendriya-s)" junto com "Poderes de ação (Karmendriya-s)"--. (Finalmente,) serve ao propósito de experiência e Libertação||18||


Os estados de mutação dos Guṇa-s (ou modalidades de Pradhāna1 são): "diversificado", "não diversificado", "só indicador" e "sem nenhuma indicação ou marca" --aliṅga--||19||
Desconsiderar notas

1 "Pradhāna" é um sinônimo de Prakṛti.


 O Observador é somente um Testemunho --isto é, "É um Conhecedor absoluto e está completamente desprovido de Guṇa-s e subsequente mutação"-- que ainda puro, contempla as modificações mentais||20||


A natureza do objeto cognoscível é realmente (o ser) o objeto (de percepção) disso --isto é, "de Puruṣa, o Conhecedor Absoluto"--||21||


Ainda que haja desaparecido com respeito a um (Puruṣa) que cumpriu seu propósito (com Ele), isso --isto é, "O objeto cognoscível"-- não desaparece (realmente) devido a que é comum a outros (tambiém) --ou seja, "outros Puruṣa-s poderiam também usá-lo inclusive depois de haver sido utilizado por um deles previamente"--||22||


 A união ou aliança é a causa para chegar a "dar-se conta" da verdadeira natureza dos dois poderes (chamados) "objeto --como propriedade--" (e) "sujeito --como proprietário--"||23||


A ignorância é a causa dessa (união ou aliança)||24||


A ausência de união ou aliança que surge a partir da ausência disso --isto é, "de Adarśana ou falta de conhecimento discriminativo ou verdadeiro discernimento da Realidade"-- é Kaivalya ou o estado de Emancipação desse Conhecedor (absoluto denominado Puruṣa)||25||


O meio de Libertação é o conhecimento discriminativo que está totalmente desprovido de confusão ou desordem||26||


Um sétuplo (e) último entendimento profundo (chega) a este (Yogī que alcançou conhecimento discriminativo)||27||


Quando se destrói a impureza através da prática dos membros --ramos-- do Yoga, (emerge) a Luz do Conhecimento que culmina em conhecimento discriminativo||28||


Yama, Niyama, Āsana, Prāṇāyāma, Pratyāhāra, Dhāraṇā, Dhyāna (e) Samādhi --samādhi-- (são) os oito membros --ramos; aṅga-- (do Yoga) --após esta declaração, Patañjali decreverá cada um deles--||29||


Não prejudicar --inocuidade--, Veracidade, Abster-se de roubar, Continência --morar em Brahma-- e Não possuir --abstinência de avareza/cobiça; aparigraha-- (são os cinco) Yama-s ou Abstenções||30||


(Esses Yama-s ou Abstenções se convertem em) um grande voto (quando se tornam) universais e não se veem restritos por (nenhuma consideração de) classe, lugar, tempo ou dever habitual --"costume estabelecido e regra convencional ou uso" são também traduções válidas para "samaya"--||31||


Limpeza, Contentamento, Austeridade ou Penitência, Estudo e Recitação de Escrituras Sagradas, e Devoção --praṇidhāṇa-- ao Senhor (Supremo são os cinco) Niyama-s ou Observâncias||32||


Quando se inibem (esses Yama-s e Niyama-s) devido a (errôneas) maneiras de pensar e sentir, (um Yogī deveria cultivar) a contemplação dos opostos||33||


 (As ações tais como) causar dano, etc. que procedem de (errôneas) maneiras de pensar e sentir (podem classificar-se assim): (I) as que são realizadas por si mesmo, as mandadas fazer por outro ou as aprovadas --anumodita--; (II) as que são precedidas (seja) por cobiça, ira, ou engano. (Ademais, as anteriormente ditas ações podem ser) suaves, moderadas ou intensas --adhimātra--. "(Elas são) os intermináveis frutos ou consequências (que resultam dele) dor (e) a ignorância " --"iti" representa as aspas-- é o pensamento oposto||34||


Quando se estabelece Ahiṁsā ou Não prejudicar (no Yogī, se produz) um cessar de hostilidade (em alguém) que se aproxime dele||35||


Quando se estabelece Satya ou Veracidade (no Yogī, surge) um estado de conexão entre (suas) ações --como a ideia geral expressada por qualquer verbo-- e os frutos ou consequências (resultantes) --isto é, "tudo o que o mencionado Yogī diga se tornará realidade ao longo do tempo"--||36||


Quando se estabelece Asteya ou o Abster-se de roubar (no Yogī), todas as joias permanecem por perto para servi-lo||37||


Quando se estabelece Brahmacarya ou Continência (nesse Yogī, há) aquisição de Vīrya --lit. "energia, vigor, fortaleza, etc."--||38||


Quando (esse mesmo Yogī) permanece firmemente em Aparigraha ou Não possuir, (surge) um pleno conhecimento do "como e por que" no que se refere a (suas) existências (passadas, presentes e futuras)||39||


A partir de Śauca ou Limpeza, (surge) um desgosto com relação ao próprio corpo, (e consequentemente também se desenvolve) um desinteresse por entrar em contato com outros (corpos)||40||


Pureza de natureza ou disposição, satisfação mental, concentração, conquista dos Indriya-s --5 Jñānendriya-s ou poderes de percepção, e 5 Karmendriya-s ou poderes de ação-- (e) uma aptidão ou habilidade --yogyatva-- para perceber o Ser (desenvolve-se) também (a partir de Śauca ou Limpeza)||41||


A partir de Santoṣa ou Contentamento; (há) aquisição de insuperável felicidade||42||


A perfeição do corpo e dos Indriya-s --5 Jñānendriya-s ou poderes de percepção, e 5 Karmendriya-s ou poderes de ação-- (adquire-se) através de Tapas ou Austeridade, a qual produz destruição das impurezas||43||


União ou comunhão com a divindade desejada ou escolhida (obtém-se) a partir de Svādhyāya ou Estudo e Recitação de Escrituras Sagradas||44||


 A perfeição ou a conquista plena do Samādhi ou Perfeita Concentração (alcança-se) por meio da devoção ao Senhor||45||


A Postura (deveria ser) firme e agradável||46||


(Āsana ou Postura aperfeiçoa-se) mediante o relaxamento do esforço e da absorção --samāpatti-- no infinito --isto é, "no infinito espaço ao redor"--||47||


A partir disso, (manifesta-se) uma imunidade com respeito aos pares de opostos||48||


Uma vez que esse (Āsana ou Postura) tenha sido (aperfeiçoado), Prāṇāyāmā, (que) é a suspensão do fluxo de inalação e exalação --praśvāsa--, (deveria ser desenvolvido)||49||


(Prāṇāyāma) tem (três) operações: (1) Externa, (2) Interna e (3) Supressão. (Ademais, quando Prāṇāyāma é) observado segundo espaço, tempo e número --saṅkhyā--, torna-se longo e sutil||50||


A quarta (classe de Prāṇāyāma) transcende ou sobrepassa a esfera de influência das (operações) Externa e Interna||51||


Através disso, o véu sobre Prakāśa --isto é, "sobre a revelação de conhecimento verdadeiro"-- atenua-se||52||


Uma atitude mental para as dhāraṇa-s ou práticas de concentração também (desenvolve-se)||53||


Pratyāhāra ou a Retirada dos Indriya-s --5 Jñānendriya-s ou poderes de percepção, e 5 Karmendriya-s ou poderes de ação-- (é), por assim dizer, um seguir a natureza essencial da mente (por parte desses mesmos Indriya-s), quando se separam dos seus (correspondentes) objetos||54||


A partir desse (Pratyāhāra ou Retirada, brota) um supremo domínio ou controle dos Indriya-s --5 Jñānendriya-s ou poderes de percepção, e 5 Karmendriya-s ou poderes de ação--||55||

Aqui conclui-se a Segunda Seção que trata sobre a prática

Ao início


 Terceira Seção: Poderes sobrenaturais

Concentração é a fixação da mente em um ponto||1||


Nesse --em Dhāraṇā--, o fluxo contínuo de similares modificações mentais é Meditação||2||


A Perfeita Concentração é unicamente essa (condição) na qual somente o objeto (de concentração) brilha (ou se manifesta), e o ser está ausente, por assim dizer||3||


A tríade (acima mencionada) --isto é, Dhāraṇā, Dhyāna y Samādhi-- (aplicada) sobre um único objeto é Saṁyama||4||


Através da conquista disso --isto é, de Saṁyama--, (amanhece) a Luz da Sabedoria||5||


(Deve haver) aplicação disso às etapas (da prática)||6||


A Tríade (de Dhāraṇā, Dhyāna y Samādhi são práticas mais) internas que as anteriores --isto é, Yama, Niyama, Āsana, Prāṇāyāma e Pratyāhāra-- (dentro do marco do Samprajñātayoga)||7||


(Por sua vez,) essa mesma tríade é externa com respeito a concentração Nirvīja ou sem semente --em suma, Asamprajñātayoga--||8||


A sujeição das impressões latentes --saṁskāra-- do estado manifesto --em outras palavras, "Vyutthāna" ou o ordinário estado de consciência no qual há flutuação mental-- e a aparição --prādurbhāva-- das latências --saṁskāra-- do estado da mente detida (é) a mutação de (esse mesmo) estado de mente detida. (Esta mutação) se vincula com a mente em (cada) momento desse estado de mente detida||9||
Desconsiderar notas

Note que "saṁskārayoḥ" significa literalmente "de ambas impressões latentes" (ou seja, "das de Vyutthāna --estado manifesto-- e Nirodha --estado de mente detida--). Por sua vez, "abhibhavaprādurbhāvau" quer dizer literalmente "a sujeição (abhibhava) e aparição (prādurbhāva)". Tive que adaptar a tradução de modo que se pudesse compreender apropriadamente o significado do aforismo.


 Através das impressões latentes desse (estado de mente detida, se produz e mantém) um contínuo e inalterado estado de tranquilidade mental||10||


A diminuição da atenção a todos (os objetos) e o surgimento/desenvolvimento --udaya-- da concentração --ekāgratā-- (é) a mutação do Samādhi --perfeita concentração ou absorção-- da mente||11||
Desconsiderar notas

Note que "sarvārthataikāgratayoḥ" significa literalmente "da atenção a todos os objetos (sarva-arthatā) e da concentração (ekāgratā)". Por sua vez, "kṣayodayau" quer dizer literalmente "na diminuição (kṣaya) e surgimento/desenvolvimento (udaya)". Tive que adaptar a tradução de modo que se pudesse compreender apropriadamente o significado do aforismo.


  Ali novamente --isto é, "durante o Samādhi"--, (ao ser) a passada modificação --pratyaya-- idêntica à atual --údita-- modificação --pratyaya--, (ocorre) a mutação do estado concentrado da mente||12||

Note que "śāntoditau" significa literalmente "uma passada --pratyaya ou modificação mental-- (śānta) e uma atual ou presente (udita)". Por sua vez, "tulyapratyayau" quer dizer literalmente "duas modificações mentais ou pratyaya-s (pratyayau) que são idênticas (tulya)". Tive que adaptar a tradução de modo que se pudesse compreender apropriadamente o significado do aforismo.


Por meio deste --ou seja, "através da prévia exposição sobre as três mutações mencionada nos aforismos 9, 11 e 12"--, as mutações de atributo essencial, caráter temporal (e) estado como velho e novo nos elementos densos e Indriya-s --isto é, os poderes de percepção e ação-- (se) explicam em detalhe||13||


O objeto caracterizado é (esse que) continua existindo através (das três seguintes) características: apaziguado --isto é, "passado"--, surgido --ou seja, "presente"-- e indefinível --em suma, "futuro"--||14||


A diferença na sequência ou sucessão (é) a causa com relação à diferença mutativa||15||


O conhecimento do passado (e) do futuro (se consegue) através de Saṁyama (aplicado) sobre as três mutações --em outras palavras, as mutações de atributo essencial, caráter temporal e estado como velho e novo--||16||


Através da recíproca imposição de palavra, significado (e) ideia --pratyaya--, (se produz) uma mistura que aparece na forma de uma impressão unificada. Por meio de Saṁyama sobre essa (mistura), porém de modo separado, (se adquire) conhecimento do (significado oculto) nos sons (emitidos por) todos os seres||17||


O conhecimento de prévios nascimentos (se alcança) ao dar-se (alguém) conta das impressões latentes||18||


O conhecimento das mentes de outros (se consegue praticando Saṁyama) sobre as noções||19||


(Todavia,) a base ou suporte disso --ou seja, "das anteriormente ditas noções"-- certamente não (chega a ser conhecida pelo Yogī que pratica Saṁyama sobre as noções) pois está fora de seu alcance --em resumo, não é um objeto perceptível para esse Yogī--||20||


Ao suprimir-se a propriedade de perceptibilidade pertencente a isso --isto é, ao corpo-- através de Saṁyama sobre a forma (visível) desse (mesmo) corpo, quando o Yogī foi (deste modo) mais para lá do campo ocular, (há) invisibilidade||21||


Karma --em suma, ação e suas inerentes impressões latentes-- (é de dois tipos:) Sopakrama --ou rápido em frutificar-- e Nirupakrama --ou lento em frutificar--. Por meio de Saṁyama sobre esse (karma) ou através dos sinais de uma morte que se aproxima, (consegue-se) conhecimento do que chega em último termo --em outras palavras, "a morte"--||22||


 (Através de Saṁyama) sobre a amizade e assim sucessivamente, (adquirem-se distintas classes de) fortalezas||23||


(Através de Saṁyama) sobre (diversas) fortalezas, a força de um elefante, etc. (pode se alcançar)||24||


Aplicando a luz da percepção suprasensorial, (obtém-se) conhecimento de (coisas) sutis, (e de objetos que estão) ocultos da própria visão (ou) remotos||25||


Através de Saṁyama sobre o Sol --isto é, sobre a entrada solar no corpo--, (consegue-se) conhecimento dos mundos||26||


(Através de Saṁyama) sobre a Lua --isto é, sobre a entrada lunar no corpo--, (adquire-se) conhecimento das disposições das estrelas||27||


(Através de Saṁyama) sobre a estrela polar, (consegue-se) conhecimento do movimento disso --ou seja, "das estrelas"--||28||


(Através de Saṁyama) sobre o cakra do umbigo --ou "Maṇipūra"--, (obtém-se) conhecimento da estrutura e disposição do corpo||29||


(Através de Saṁyama) sobre a cavidade da garganta, (há) cessação de fome (e) sede||30||


(Através de Saṁyama) sobre o tubo bronquial, (consegue-se) calma e firmeza||31||


(Através de Saṁyama) sobre a luz da coroa da cabeça, (há) percepção ou visão dos Siddha-s --cuidado aqui, pois não se refere aos Seres Perfeitos mas sim a uma espécie de semideuses--||32||


Ou mediante Prātibha --em outras palavras, o conhecimento que vem a um Yogī antes de conseguir conhecimento discriminativo--, tudo (fica conhecido)||33||


 (Através de Saṁyama) sobre o coração, (alcança-se) o conhecimento da mente||34||


A experiência de prazer ou dor (baseada em) uma concepção que não distingue (entre entidades tão) completamente distintas (como) Buddhisattva --isto é, Buddhi ou intelecto que abandonou todo traço de Rajas y Tamas, ou seja, Buddhisattva é simplesmente uma Buddhi sáttvica-- (e) Puruṣa --em suma, o verdadeiro Ser ou Conhecedor--, existe para outro --para Puruṣa--. Através de Saṁyama sobre (este) Puruṣa --o qual é o próprio Ser--, (obtém-se assim) conhecimento de Puruṣa||35||


A partir desse (Saṁyama sobre Puruṣa), surgem Prātibha --um tipo de conhecimento intuitivo--, Śrāvaṇa --o poder auditivo sobrenatural--, Vedana --o poder tátil sobrenatural--, os Ādarśa-s --poderes sobrenaturais de visão--, Āsvāda --o poder gustativo sobrenatural-- (e) Vārttā --o poder olfativo sobrenatural--||36||


Esses (poderes sobre-humanos) são obstáculos ou estorvos no Samādhi, (porém) ganhos em Vyutthāna --isto é, no estado ordinário de consciência no qual a mente flutua--||37||


Mediante o enfraquecimento da causa de escravidão e o conhecimento/entendimento completo acerca do vagar da mente, (é possível então) a penetração (mental) no corpo de outro||38||


Ao conquistar a Udāna --uma das cinco energias vitais principais--, (há) movimento sem obstáculo na água, barro, espinhos, etc. e saída do corpo (voluntária) no momento da morte||39||


Ao conquistar Samāna --uma das cinco energias vitais principais--, (consegue-se) refulgência||40||


Através de Saṁyama sobre a relação entre o poder auditivo (ordinário) --chamado Śrotendriya-- (e) o espaço --ou ākāśa--, (desenvolve-se) o Poder Auditivo divino||41||


Por meio de Saṁyama sobre a relação entre o corpo físico (e) o espaço --ou ākāśa--; e também mediante a absorção --isto é, a identificação-- no leve algodão, (obtém-se) o movimento através do espaço --em outras palavras, o Yogī pode voar com a ajuda desse tipo de Saṁyama--||42||


Uma concepção não imaginada (que se mantenha) fora, (denomina-se) a grande desencarnada. A partir disso --ou seja, a partir de Mahāvidehā ou a grande desencarnada--, (há) retirada do véu sobre a Luz --isto é, sobre Buddhisattva--||43||


Através de Saṁyama sobre caráter denso, natureza essencial, sutileza, inerência --ou qualidade inerente-- (e) objetividade (dos Bhūta-s ou Elementos, assegura-se) a vitória sobre (esses mesmos) Bhūta-s ou Elementos||44||


 A partir desse (Saṁyama dito anteriormente, há) manifestação de Aṇimā --isto é, o poder sobrenatural de minimização--, etc., perfeição corporal e ausência de obstrução com respeito às características desse (mesmo corpo)||45||


A perfeição corporal (consiste de) beleza, encanto, fortaleza (e) solidez --saṁhananatva-- adamantina||46||


Através de Saṁyama sobre receptividade, natureza essencial, sentido do eu, inerência (e) objetividade (dos Indriya-s --em suma, os poderes de percepção e ação--, obtém-se) a vitória sobre (esses mesmos) Indriya-s||47||


A partir desse (Saṁyama anteriormente dito, consegue-se) rapidez (como a) da mente, um estado no qual os órgãos dos sentidos atuam independentemente do corpo, e vitória sobre Pradhāna --isto é, Prakṛti, a fonte original do universo material--||48||


A alguém que está estabelecido no conhecimento (discriminativo) da diferença entre Buddhisattva --ou seja, a Buddhi sáttvica cheia de conhecimento discriminativo-- (e) Puruṣa, (chega-lhe) a supremacia sobre todos os seres e a onisciência||49||


Mediante a renúncia disso --isto é, de Vivekakhyāti ou conhecimento discriminativo-- inclusive, quando há destruição das sementes do mal, (experimenta-se) Kaivalya ou completa Emancipação||50||


Quando se é convidado por seres que ocupam uma alta posição --ou seja, seres celestiais--, (esse convite) não deveria ser aceito nem deveria provocar vaidade, já que envolve a possibilidade de resultados indesejáveis||51||


Através de Saṁyama sobre momento (e) sua sequência ou sucessão --krama--, (adquire-se) um conhecimento que brota (desse) discernimento ou discriminação (é adquirido)||52||


Através desse (conhecimento), há clara percepção (da diferença) entre duas coisas que pareçam idênticas devido a que a diferença não é discernível por meio de classe ou espécie, caráter temporal (e) posição --deśa--||53||
Desconsiderar notas

Em outras palavras, ainda quando duas coisas pareçam idênticas, já que a diferença não é discernível por meio da classe ou espécie, caráter temporal e posição, o Yogī pode perceber a diferença através desse conhecimento obtido praticando Saṁyama sobre momento e sua seqüência.


 O conhecimento que surge do discernimento ou discriminação é "Tāraka ou conhecimento intuitivo. Abarca todas as coisas que aparecem em todos os tempos e carece de sequência"||54||
Desconsiderar notas

Note que o "iti" representa as aspas.


 Quando há igualdade de pureza entre Buddhisattva --ou Buddhi sáttvica-- (e) Puruṣa, (amanhece) o estado de total Emancipação||55||
Desconsiderar notas

Note que o "iti" agora indica o fim da seção.

Aqui conlui-se a Terceira Seção que trata sobre os poderes sobrenaturais

Ao início


 Quarta Seção: sobre a Libertação

As Siddhi-s ou Poderes Sobrenaturais vêm com o nascimento, (ou se conseguem por meio de) ervas, mantra-s, austeridades (ou) perfeita concentração||1||


A transformação em outras espécies (se cumpre) através de um recheado de sua --"das espécies"-- natureza essencial1||2||
Desconsiderar notas

1 Isto é, o molde da nova espécie na qual um queira se transformar, "recheia" (ou impregna) a natureza do novo corpo e órgãos e dá-lhes a devida forma de acordo com os parâmetros respectivos. É como fazer pressão sobre uma pilha de areia molhada com um recipiente. A areia molhada tomará a forma do dito recipiente, sem dúvida. O processo de transformação de uma espécie em outra procede de maneira similar.


 A causa (não põe) as naturezas essenciais em movimento mas sim rompe a barreira (ou montículo). Por essa razão, é como o granjeiro (que rompe uma barreira ou montículo de modo que a água possa fluir para seu campo)||3||


As mentes criadas se (produzem) a partir do puro sentimento de eu||4||


(Só) uma mente (põe) nuitas (mentes criadas) em movimento durante suas diversas atividades||5||


Entre estas (mentes criadas, as que se) produzem através da meditação carecem de impressões latentes||6||


 A ação de um Yogī não é nem branca nem preta, (enquanto) as de outros são de três classes||7||


A partir disso --isto é, a partir dessas três classes de ação mencionadas--, (há) certamente manifestação de Vāsanā-s1 acordes --anuguṇa-- as consequências ou resultados disso --ou seja, dos três tipos de ação previamente mencionados--||8||
Desconsiderar notas

1 Cuidado aqui com os termos técnicos: As Vāsanā-s são impressões latentes de "sentimentos" produzidos por nascimento, duração de vida e experiência de prazer e dor. Também note que Vāsanā não é sinônimo de Karmāśaya, apesar de que ambos sejam impressões latentes, já que o segundo surge das "ações" e não dos sentimentos como o primeiro. Há uma grande diferença entre essas duas classes de impressões latentes. Por sua vez, a palavra "saṁskāra" utiliza-se comumente para designar "impressões latentes" em geral. Use esses termos apropriadamente, por favor.


 Por causa da semelhança entre memória (e) impressões latentes --saṁskāra--, (há) imediato (surgimento de Vāsanā-s) ainda quando (ditas Vāsanā-s) estejam separadas --vyavahita-- por nascimento, espaço ou posição (e) tempo||9||


Devido a que o desejo de bem-estar próprio --āśīs-- é eterno --nitya--, essas (Vāsanā-s) --tās-- (das quais emerge são) também sem começo||10||


Posto que (Vāsanā) é mantida em unidade por causa, fruto ou resultado, refúgio (e) suporte --isto é, "ālambana" ou o objeto de suporte que atrai a Vāsanā--, na ausência destes --em suma, na ausência de causa, fruto ou resultado, refúgio e suporte--, (se produz também) a ausência dessa (Vāsanā)||11||


Passado (e) futuro existem em suas formas essenciais. (A diferença está unicamente) nas características (das formas) em distintos tempos ou fases --ou seja, passado, presente e futuro--||12||


Essas (características) são manifestas (e) sutis --sūkṣma-- (e) consistem nos (três) Guṇa-s||13||


 Devido à mutação coordenada ou coincidente (dos três Guṇa-s), um objeto parece algo real||14||


Apesar da igualdade dos objetos, há uma diferente via ou caminho ou senda para ambos --isto é, para objeto e seu inerente conhecimento-- posto que há diferentes mentes||15||


O objeto certamente não depende de uma só mente, (porque se fosse assim,) o que aconteceria então quando (o objeto) não é experimentado ou conhecido por essa (mente)?||16||


O objeto é conhecido (ou) desconhecido para a mente dependendo de como colore ou dá cor a essa (mesma mente)||17||


Para o Senhor ou Amo --isto é, Puruṣa-- disso --ou seja, da mente--, as modificações mentais (são) sempre conhecidas por causa da imutabilidade de (desse mesmo) Puruṣa||18||


Essa (mente) não se ilumina a si mesma já que é um objeto cognoscível||19||


E não há conhecimento ou cognição deles dois --de mente e objetos cognoscíveis-- simultaneamente||20||


 (Se a própria mente fosse) um objeto cognoscível para outra mente, (então haveria) uma desmedida extensão de Buddhi(s) de Buddhi-s e mistura de memórias||21||


Quando Citi ou a Consciência, ainda que intransmissível --apratisaṅkramā--, toma --āpatti-- a forma disso --isto é, de Buddhi--, (transforma-se na) consciência ou inteligência da própria Buddhi||22||


A mente, a ser afetada (tanto) pelo vidente como pelo visto, abarca-a toda, por completo||23||


Essa (mente), ainda que matizada por inumeráveis Vāsanā-s --ou seja, latências que resultam de sentimentos, não de ações--, (existe) para outro --em outras palavras, para Puruṣa-- posto que (suas constituintes) atuam conjuntamente||24||


Para um que conhece a distinção especial --em suma, para um que se deu conta de Puruṣa ou o Ser--, há cessação da prática de ponderar acerca da natureza de seu (próprio) Ser||25||


Então, a mente se inclina em direção ao (conhecimento) discriminativo (e) se dirige (com ele) em direção à libertação total||26||


Nos ocos --ou seja, nas brechas-- desse (conhecimento discriminativo), outras modificações mentais (emergem) por causa das latências (residuais)||27||


 Diz-se (que) a remoção destas --isto é, das modificações mentais mencionadas no aforismo anterior-- é como (a dos) Kleśa-s ou Aflições||28||


Alguém que, após alcançar conhecimento discriminativo no mais alto grau e em todos os tempos, não se interessa nem sequer em (essa) onisciência que resulta de "Vivekajaṁ jñānam" ou "Conhecimento que surge de discernimento" --Ver III 54--, (experimenta um tipo de) Samādhi ou Perfeita Concentração (chamado) Dharmamegha --Nuvem da Virtude--||29||


A partir disso --isto é, de Dharmamegha--, há cessação das Aflições (e) das ações||30||


Então, devido à infinitude do conhecimento livre --apeta-- de toda impureza que vele, os cognoscíveis (parecem) poucos||31||


A partir desse (Dharmamegha ou Nuvem da Virtude), quando os Guṇa-s --ou "modalidades de Prakṛti"-- cumpriram seu propósito, há cessação da sequência mutativa (desses mesmos Guṇa-s)||32||


A sequência se correlaciona com os momentos (e) é perceptível ou notável quando terminam as mutações ||33||


A total Libertação ou o Poder da Consciência estabelecido em sua própria natureza (ocorre quando) os Guṇa-s --ou "modalidades de Prakṛti"-- regressam à sua fonte original --ou seja, a Prakṛti--, já que não têm nenhum propósito (ulterior) a cumprir para Puruṣa --o "iti" final indica o fim desta escritura--||34||

Aqui conclui-se a quarta seção que trata sobre a Libertação

Ao início


 Notas Finais

A quantidade de tempo que gastei para completar esta tradução é em verdade insana. Primeiramente, uma tradução manuscrita em inglês, com horas de consultas a dicionários, gramáticas sânscritas e outras traduções autorizadas para não cometer nenhum equívoco terrível. Posteriormente, o processo de analisar cada termo técnico e o contexto no qual cada um deles estava sendo utilizado, o qual equivale a horas e horas de reflexão acerca do correto significado de cada sūtra.
Depois, o trabalho de adaptá-lo ao formato Web junto com a respectiva tradução para a minha língua natal (castellano). Bem, espero que você desfrute do resultado do meu esforço. Os Pātañjalayogasūtra-s são a escritura mais importante sobre a ciência do Yoga, e merecem ser traduzidos e publicados no website, sem dúvida. Esta escritura é uma joia rara retirada da sagrada rocha do conhecimento divino. Faça uma reflexão em seus ensinamentos cruciais e alcance Kaivalya ou Emancipação Final. Nos vemos.

Ao início


 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.



Voltar a Tradução normal Top