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Śivasūtravimarśinī: Seção III (aforismos 23 a 33)
Tradução normal
Introdução
A Śivasūtravimarśinī continua: Kṣemarāja continua a comentar os aforismos.
Este é o terceiro grupo de 11 aforismos dos 45 aforismos que formam a terceira Seção (que versa sobre Āṇavopāya). Como você sabe, a obra inteira é composta dos 77 aforismos dos Śivasūtra-s mais os respectivos comentários.
É claro que também inserirei os aforismos de Śiva sobre os quais Kṣemarāja estiver comentando. Apesar de que não comentarei sobre os sūtra-s originais ou sobre o comentário de Kṣemarāja, escreverei algumas notas para esclarecer certos pontos sempre que for necessário. Se você quiser uma explicação detalhada dos significados ocultos dessa escritura, vá a "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.
O Sânscrito de Kṣemarāja estará em verde escuro, enquanto os aforismos originais de Śiva serão exibidos em vermelho escuro. Por sua vez, dentro da transliteração, os aforismos originais estarão em marrom, enquanto os comentários de Kṣemarāja estarão em preto. Além disso, dentro da tradução, os aforismos oriiginais de Śiva, ou seja, os Śivasūtra-s, estarão em verde e preto, enquanto o comentário de Kṣemarāja terá palavras tanto em preto quanto em vermelho.
Leia a Śivasūtravimarśinī e experimente Supremo Deleite, querido Śiva.
Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.
Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.
Aforismo 23
यदा त्वन्तर्मुखतुर्यावधानावष्टम्भप्रकर्षलभ्यं तुर्यातीतपदमेवमयं न समाविशत्यपि तु पूर्वापरकोटिसंवेद्यतुर्यचमत्कारमात्र एव सन्तुष्यन्नास्ते तदास्य—
मध्येऽवरप्रसवः॥२३॥
पूर्वापरकोट्योस्तुर्यरसमास्वादयतो मध्ये मध्यदशायामवरोऽश्रेष्ठः प्रसवो व्युत्थानात्मा कुत्सितः सर्गो जायते। न तु विद्यासंहारे तदुत्थस्वप्नदर्शनम् (२-१०) इत्युक्तसूत्रार्थनीत्या सदा व्यामुह्यतीत्यर्थः। उक्तं श्रीमालिनीविजये
वासनामात्रलाभेऽपि योऽप्रमत्तो न जायते।
तमनित्येषु भोगेषु योजयन्ति विनायकाः॥
तस्मान्न तेषु संसक्तिं कुर्वीतोत्तमवाञ्छया।
इति प्रागपि संवादितम्॥२३॥
Yadā tvantarmukhaturyāvadhānāvaṣṭambhaprakarṣalabhyaṁ turyātītapadamevamayaṁ na samāviśatyapi tu pūrvāparakoṭisaṁvedyaturyacamatkāramātra eva santuṣyannāste tadāsya—
Madhye'varaprasavaḥ||23||
Pūrvāparakoṭyosturyarasamāsvādayato madhye madhyadaśāyāmavaro'śreṣṭhaḥ prasavo vyutthānātmā kutsitaḥ sargo jāyate| Na tu vidyāsaṁhāre tadutthasvapnadarśanam (2-10) ityuktasūtrārthanītyā sadā vyāmuhyatītyarthaḥ| Uktaṁ śrīmālinīvijaye
Vāsanāmātralābhe'pi yo'pramatto na jāyate|
Tamanityeṣu bhogeṣu yojayanti vināyakāḥ||
Tasmānna teṣu saṁsaktiṁ kurvītottamavāñchayā|
iti prāgapi saṁvāditam||23||
No entanto (tu), quando (yadā) esse (Yogī) (ayam) não (na) entra (samāviśati) dessa forma (evam) no estado (padam) além de (atīta) Turya ou o Quarto Estado (turya) --isto é, Turyātīta, também denominado Turīyātīta, o Estado Mais Alto--, o qual é alcançável (labhyam) por meio da intensidade (yogī) do firme agarramento (avaṣṭambha) da (sua) atenção (avadhāna) em direção ao Turya (turya) interno (antarmukha), mas sim (api tu) continua (āste) sentindo-se bem contente (santuṣyan) meramente (mātraḥ eva) com o camatkāra --deleite cheio de assombro-- (camatkāra) de Turya (turya) percebido (saṁvedya) nos pontos (koṭi) inicial (pūrva) (e) final (apara) (de vigília, sono e sono profundo), então (tadā), no seu caso (asya)—
Na etapa intermediária, (ou seja, nem na etapa inicial, nem na final de vigília, sono e sono profundo) (madhye), há geração (prasavaḥ) de (estados mentais) inferiores (avara)||23||
Nesse caso do Yogī que desfrutou (āsvādayataḥ) do elixir (rasam) de Turya (turya) nos pontos (koṭyoḥ) inicial (pūrva) (e) final (apara) (dos três estados comuns de consciência), em madhya (madhye) —no estado ou etapa intermediária (madhya-daśāyām)—, surge (jāyate) avaraprasava --lit. geração inferior-- (avaraḥ... prasavaḥ), (isto é,) uma depreciável (kutsitaḥ) manifestação (sargaḥ) (de estados mentais) inferiores (aśreṣṭhaḥ) que é característica de vyutthāna --qualquer estado exceto Samādhi, isto é, vyutthāna é a condição comum que a maior parte das pessoas experimenta-- (vyutthāna-ātmā)|
"Durante a submersão (saṁhāre) do Conhecimento (Puro) (vidyā), ocorre a aparição (darśanam) de modificações mentais (como em um sonho) (svapna), as quais surgem (uttha) por causa disso (tad), (isto é, 'as quais surgem por causa da submersão do Conhecimento Puro previamente citada'). (II, 10) (da escritura atual) (2-10 iti)". Como indica o significado (artha-nītyā) do aforismo (sūtra) citado (ukta), ele não se confunde (na tu... vyāmuhyati) perpetuamente (sadā). Esse é o sentido (iti arthaḥ)|
(A este respeito) expressou-se (uktam) no venerável Mālinīvijayatantra (śrī-mālinīvijaye):
"(No entanto,) para aquele que (yaḥ... tam) não (na) permanece (jāyate) atento (apramattaḥ), mesmo se (api) obtiver --lit. na obtenção-- (lābhe) meramente (mātra) impressões latentes (que gerem poderes sobrenaturais) (vāsanā), os Vināyaka-s --um certo tipo de demônios-- (vināyakāḥ) incitam e impelem (yojayanti) a prazeres (bhogeṣu... iti) transitórios (anityeṣu). Portanto (tasmāt), por meio do (seu) desejo (vāñchayā) de (alcançar) a Mais Alta Realidade (uttama), (tal Yogī) não deveria entrar em estreito contato (na... saṁsaktim kurvīta) com esses (prazeres transitórios) (teṣu... iti)"|
(Isso) também (api) (foi) citado (saṁvāditam) previamente (prāk) --no comentário sobre II, 10--1 ||23||
1 A estrofe foi citada quando Kṣemarāja comentou sobre o 10o aforismo da segunda Seção. A estrofe aparece lá de maneira fragmentada: primeiro foram citadas as duas primeiras linhas e depois foi citada a terceira linha isoladamente mais perto do final do comentário. Especifiquei tudo isso na minha tradução de II, 10.
Aforismo 24
एवमेव प्रसवेऽपि प्रवृत्ते यदि तुर्यरसावष्टम्भेन मध्यपदं सिञ्चति पुनरपि तदा—
मात्रास्वप्रत्ययसन्धाने नष्टस्य पुनरुत्थानम्॥२४॥
मात्रासु पदार्थेषु स्वप्रत्ययसन्धानम्।
चक्षुषा यश्च दृश्येत वाचा वा यश्च गोचरः।
मनश्चिन्तयते यानि बुद्धिर्यानि व्यवस्यति॥
अहङ्कृतानि यान्येव यच्च वेद्यतया स्थितम्।
यश्च नास्ति स तत्रैव त्वन्वेष्टव्यः प्रयत्नतः॥
इति श्रीस्वच्छन्दनिरूपितनीत्या विश्वमिदमहमिति चिद्घनात्मरूपतां सर्वत्रानुसन्दधतः पूर्वोक्तावरप्रसवान्नष्टस्यापहारिततुर्यैकघनचमत्कारमयस्वभावस्य पुनरुत्थानमुन्मज्जनं तदैक्यसम्पत्सम्पूर्णत्वं योगिनो भवतीत्यर्थः। तदुक्तं श्रीस्वच्छन्दे
प्रसह्य चञ्चलीत्येव योगिनामपि यन्मनः।
इत्युपक्रम्य
यस्य ज्ञेयमयो भावः स्थिरः पूर्णः समन्ततः।
मनो न चलते तस्य सर्वावस्थागतस्य तु॥
यत्र यत्र मनो याति ज्ञेयं तत्रैव चिन्तयेत्।
चलित्वा यास्यते कुत्र सर्वं शिवमयं यतः॥
इति।
विषयेषु च सर्वेषु इन्द्रियार्थेषु च स्थितः।
यत्र यत्र निरूप्येत नाशिवं विद्यते क्वचित्॥
इति च॥२४॥
Evameva prasave'pi pravṛtte yadi turyarasāvaṣṭambhena madhyapadaṁ siñcati punarapi tadā—
Mātrāsvapratyayasandhāne naṣṭasya punarutthānam||24||
Mātrāsu padārtheṣu svapratyayasandhānam|
Cakṣuṣā yaśca dṛśyeta vācā vā yaśca gocaraḥ|
Manaścintayate yāni buddhiryāni vyavasyati||
Ahaṅkṛtāni yānyeva yacca vedyatayā sthitam|
Yaśca nāsti sa tatraiva tvanveṣṭavyaḥ prayatnataḥ||
iti śrīsvacchandanirūpitanītyā viśvamidamahamiti cidghanātmarūpatāṁ sarvatrānusandadhataḥ pūrvoktāvaraprasavānnaṣṭasyāpahāritaturyaikaghanacamatkāramayasvabhāvasya punarutthānamunmajjanaṁ tadaikyasampatsampūrṇatvaṁ yogino bhavatītyarthaḥ| Taduktaṁ śrīsvacchande
Prasahya cañcalītyeva yogināmapi yanmanaḥ|
ityupakramya
Yasya jñeyamayo bhāvaḥ sthiraḥ pūrṇaḥ samantataḥ|
Mano na calate tasya sarvāvasthāgatasya tu||
Yatra yatra mano yāti jñeyaṁ tatraiva cintayet|
Calitvā yāsyate kutra sarvaṁ śivamayaṁ yataḥ||
iti|
Viṣayeṣu ca sarveṣu indriyārtheṣu ca sthitaḥ|
Yatra yatra nirūpyeta nāśivaṁ vidyate kvacit||
iti ca||24||
Dessa forma (evam eva), ainda (api) que ocorra a geração (de estados mentais inferiores) (prasave... pravṛtte), se (yadi) (o Yogī) também (punar api) borrifar (siñcati) o estado ou etapa intermediária (madhya-padam) agarrando firmemente (avaṣṭambhena) o elixir (rasa) de Turya --o Quarto Estado-- (turya), então (tadā)—
Quando há união (sandhāne) entre a verdadeira consciência do Eu (svapratyaya) e os objetos (mātrā), (há também) reaparição (punar utthānam) (da Bem-aventurança desse quarto estado de consciência que havia) desaparecido (naṣṭasya) (devido ao surgimento dos supracitados estados mentais inferiores --ver aforismo 23--)||24||
União (sandhānam) da verdadeira consciência do Eu (svapratyaya) com mātrā-s (mātrāsu) (ou) objetos (padārtheṣu)|
"Qualquer coisa que (yaḥ ca) se perceba (dṛśyeta) por meio dos olhos (cakṣuṣā) ou (vā) qualquer coisa que (yaḥ ca) (se transforme em) um objeto (gocaraḥ) por meio da fala (vācā); quaisquer coisas em que (yāni) a mente (manas) pense (cintayate), quaisquer coisas que (yāni) o intelecto (buddhiḥ) determine (vyavasyati); quaisquer coisas das quais (yāni eva) se aproprie o ego (ahaṅkṛtāni), qualquer coisa que (yaḥ ca) exista (sthitam) como cognocível (vedyatayā); e (inclusive) (ca) o que (yaḥ) não (na) existe (asti), Ele --Paramaśiva, que é uma compacta massa feita da Luz da Consciência-- (saḥ) deve ser investigado (anveṣṭavyaḥ) com grande aplicação e cuidado (prayatnataḥ) nessas (realidades,) (tatra) certamente (eva tu... iti)1 "||
(Ver XII, 163-164 no Svacchandatantra)
Conforme os preceitos (nītyā) definidos (nirūpita) pelo venerável (śrī) Svacchandatantra (svacchanda), no caso do (Yogī) que, em todo lugar e momento, repetida e intensamente se torna consciente (sarvatra anusandadhataḥ) de que a sua natureza (ātma-rūpatām) é uma compacta massa (ghana) de Consciência (cit) (dando-se conta de que) "Eu (aham) (sou) este (idam) universo (viśvam... iti)", (sucede) um reaparecimento (punar utthānam) (ou) surgimento (unmajjanam) da própria natureza essencial (sva-bhāvasya), repleta (maya) da Bem-aventurança (camatkāra) do (aparentemente) removido (apahārita) Turya (turya) —uma única e compacta massa (de Consciência) (eka-ghana)— --como o Yogī não estava suficientemente atento, Turya ou o Quarto Estado se ocultou dele--, a qual --isto é, a própria natureza essencial-- tinha desaparecido (naṣṭasya) devido à previamente mencionada geração (pūrva-ukta... prasavāt) de (estados mentais) inferiores (avara). (Em suma,) sobrevém (bhavati) ao Yogī (yoginaḥ) plena obtenção ou realização (sampad-sampūrṇatvam) da (sua) unidade (aikya) com isso --com Turya-- (tad). Esse é o significado (iti arthaḥ)|
Esse (mesmo ensinamento) (tad) foi dito (uktam) no venerável Svacchandatantra (śrīsvacchande), começando com (upakramya):
"Visto que (yad) inclusive (api) a mente (manas) dos Yogī-s (yoginām), à força (prasahya), move-se de um lado a outro (cañcalīti eva... iti)2 "||
(Ver porção final de IV, 311 no Svacchandatantra)
(seguido por:)
"Cuja (yasya) mente --como o assento de sentimentos e pensamentos-- (bhāvaḥ) está repleta (mayaḥ) do Mais Alto Princípio --como sendo o seu único objeto de pensamento-- (jñeya), é firme (sthiraḥ) (e) totalmente (samantatas) desprovida de desejos (pūrṇaḥ). Sua (tasya) mente (manas) não (na) se move (calate), --isto é, não se desvia do Mais Alto Princípio--, ainda que (tu) ele ingresse em (gatasya) todos (sarva) os estados (avasthā) --ainda que ele atravesse todo tipo de circunstâncias--. Onde quer que (yatra yatra) (a sua) mente (manas) vá (yāti), (o Yogī) deveria pensar (cintayet) no Mais Alto Princípio (jñeyam) ali mesmo (tatra eva). Como (yatas) tudo (sarvam) está repleto de (mayam) Śiva (śiva), onde (kutra) irá (sua mente) (yāsyate) após se mover (calitvā... iti)?3 "||
(Ver IV, 312-13 no Svacchandatantra)
e (ca) (terminando com):
"Em todos os objetos (viṣayeṣu... sarveṣu) e (ca... ca) em todos os propósitos/objetivos (sarveṣu... artheṣu) dos sentidos (indriya) --em suma, o desfrute dos objetos-- —; (o melhor dos Yogī-s) que possa estar envolvido (sthitaḥ) (com essas realidades), onde quer que (yatra yatra) ele possa investigar (nirūpyeta), não existe (na... vidyate) ausência de Śiva (aśivam) em nenhum lugar (kvacid... iti) --não há nenhum lugar onde não exista Śiva--4 "||
(Ver IV, 314 no Svacchandatantra)
||24||
1 Vamos esclarecer alguns pontos agora... bem, tanto quanto for possível (hehe!):
(1) "vācā vā yaśca gocaraḥ" - "ou qualquer coisa que (se transforme em) um objeto por meio da fala": Existem quatro níveis de fala, a saber, Parāvāk, Paśyantī, Madhyamā e Vaikharī. Por outro lado, Parāvāk (lit. fala suprema) é a etapa na qual o som (vācaka) e o objeto (vācya) que é denotado (manifestado) por tal com estão em absoluta unidade. Por outro lado, Vaikharī é a etapa na qual vācaka e vācya estão completamente separados. Vaikharī é a fala bruta, isto é, a que se expressa por meio da língua física. Em Vaikharī, ambos o som e o objeto por ele denotado são diferentes e completamente separados. No meio, há duas etapas intermediárias, a saber, Paśyantī e Madhyamā. Na primeira, o som e o objeto por ele denotado são diferentes um do outro mas não são separados; e, na segunda, o som e o objeto são diferentes e estão separados, mas estão separados um do outro "unicamente" a nível mental. O "gocara" ou objeto mencionado na estrofe do Svacchandatantra é vācya ou objeto. Por sua vez, com a palavra "vācā" ou "por meio da fala", o autor quer dizer "por meio de Paśyantī, Madhyamā e Vaikharī", pois, em Parāvāk, não há objetos de forma alguma. Tão simples! Isso mesmo! Hahaha! Isso é realmente hilário. Tantos significados escondidos em uma frase tão curta! Antes que você desmaie de frustração, por favor, dê uma olhada no significado de Parāvāk no glossário Trika.
(2) "Manaścintayate yāni" - "quaisquer coisas em que a mente pense": Esse "yāni" ou "quaisquer coisas que" está no plural (gênero neutro). Refere-se a sukha (prazer), etc.
(3) "Ahaṅkṛtāni yānyeva" - "quaisquer coisas das quais se aproprie o ego": Aqui, novamente, "yāni" está no plural (gênero neutro). Ego é o tattva ou categoria 15 no esquema da manifestação universal de acordo com o Trika. O ego está constantemente apropriando-se de coisas, atributos, humores e por aí vai. Por exemplo: "Isto é meu" (o ego toma posse de uma coisa) ou "Sou tão esperto" (agora é a vez de um atributo) ou "Estou triste" (agora o cara se apropria de um humor, ou seja, estar triste), etc. Se você precisar de mais exemplos, simplesmente se dê conta do que o ego está fazendo dentro de você nesse exato momento. Mas, apesar da intensa atividade de apropriação realizada por esse simpático ego incansável, o "Eu" permanece só e nunca é tocado por nenhuma outra coisa, atributo, humor, etc.
(4) "yacca vedyatayā sthitam" - "qualquer coisa que exista como cognoscível": Um cognoscível é simplesmente um objeto. Chama-se "cognoscível" porque pode ser conhecido pelo Sujeito (o Senhor Supremo). Qualquer coisa que possa ser conhecida pelo Sujeito é um cognoscível. Isso foi simples, certo?
(5) "Yaśca nāsti" - "e (inclusive) o que não existe": Em outras palavras, "e inclusive o que não é perceptível como uma realidade manifesta".
(6) "sa..." - "Ele -Paramaśiva, que é uma compacta massa feita da Luz da Consciência--...": Isso não é invenção minha, e sim algo que o próprio sábio Kṣemarāja comenta sobre essa estrofe no seu Svacchandoddyota: "स इति चित्प्रकाशघनः परमशिवो..." - "Sa iti citprakāśaghanaḥ paramaśivo..." - "(O termo) 'Ele' (significa) Paramaśiva, que é uma compacta massa feita da Luz da Consciência". A palavra original para "Ele" é "saḥ", mas "ḥ" (Visarga) deve ser omitido diante de uma consoante ("t" em "tatraiva" na estrofe acima) pela 10a Regra do Sandhi de Visarga.
Em poucas palavras, o Ser Supremo deve ser investigado com grande aplicação e cuidado em todas essas realidades.
2 Primeiro, uma messagem dirigida aos estudantes de Sânscrito: Antes que vocês encham a minha caixa de entrada, hehe, com peguntas e/ou queixas sobre essa estranha conjugação "cañcalīti", deixe-me explicar o seguinte passo a passo: "cañcalīti" é um Frequentativo (também chamado Intensivo) da raiz "cal" (mover-se) conjugado na 3a P singular, Tempo Presente. Como você sabe, o Frequentative intensifica a ação do verbo, por exemplo, "calati" significa "ele(a) move-se", mas "cañcalīti" significa "ele(a) move-se intensamente, para lá e para cá, de um lado a outro, etc.". Você poderia dizer, "NÃO, então deveria ser cañcalyate", nas o assunto não é tão simples. Existem dois tipos de Frequentativo: um é Ātmanepadī e o outro é Parasmaipadī. O espécime "cañcalyate" é Ātmanepadī, enquanto "cañcalīti" é Parasmaipadī. O primeiro é muito comum em Sânscrito clássico, enquanto o segundo "geralmente" aparece nos Veda-s. Então, é muito provável que você não encontre nenhuma explicação sobre o Frequentativo Parasmaipadī em uma gramática sânscrita elementar. Você precisa de uma avançada para isso. Mas tome cuidado, porque a raiz "cal" (mover-se) forma o seu Frequentativo Parasmaipadī de forma irregular. E, se alguém, por acaso, tiver a brilhante ideia de que "cañcalīti" é "cañcalī + iti", isso não é possível de modo algum. Por quê? Porque mesmo se você considerasse "cañcalī" como o gênero feminino de "cañcala" (que se move de um lado a outro), ainda que "cañcalā" fosse mais correcto, "manas" (a mente) tem gênero neutro. Consequentemente, a estrutura da oração fica completamente quebrada. Então, acredite ou não, aqui está um exemplo de um Frequentativo Parasmaipadī que aparece em um Tantra, quando, em geral, aparecem nos Veda-s. Muito bem, é suficiente. Com essa breve explicação, preveni que a minha pobre caixa de entrada seja inundada, legal!
Agora, para todas as pessoas que estão lendo este documento, Kṣemarāja specifica, no seu Svacchandoddyota: "कुटिलं चलति भोगाभिलाषेण व्युत्थानमेव धावति नाभिष्टं पदमवष्टभ्नाति यदिति यस्मादेवम्॥३११॥" - "Kuṭilaṁ calati bhogābhilāṣeṇa vyutthānameva dhāvati nābhiṣṭaṁ padamavaṣṭabhnāti yaditi yasmādevam||311||" - "(O termo) 'yad' (na estrofe significa) 'visto que (inclusive a mente dos Yogī-s) é assim'. (Então, visto que tal mente) não se apodera do Estado desejado --Nirvyutthānasamādhi ou um Samādhi desprovido de qualquer estado comum de consciência--, move-se e corre atrás do torcido vyutthāna --o estado comum consciência-- devido ao desejo de desfrute".
Adicionei a palavra Nirvyutthānasamādhi porque o sábio o introduziu enquanto comentava a primeira porção dessa estrofe (a qual foi citada na atual escritura). Nesse contexto, Samādhi deve ser entendido como o Estado Supremo onde um Yogī permanece penetrando tudo. Sucintamente, Samādhi é, nesse caso, a obtenção de unidade com todas as coisas. Muito bem!
3 A tradução é complicada, como é comum com o Svacchandatantra. Portanto, preciso citar o Svacchandoddyota novamente para que você compreenda tudo da forma como deveria. As duas primeiras linhas pertencem à estrofe IV, 312. Kṣemarāja comenta o seguinte no seu excelente Svacchandoddyota: "ज्ञेयं च यथा व्याख्यातं परतत्त्वं भाव आशयः स्थिरो निश्चलः पूर्णो निराकाङ्क्षः समन्ततः सर्वंसर्विकया तुरप्यर्थे॥३१२॥" - "Jñeyaṁ ca yathā vyākhyātaṁ paratattvaṁ bhāva āśayaḥ sthiro niścalaḥ pūrṇo nirākāṅkṣaḥ samantataḥ sarvaṁsarvikayā turapyarthe||312||" - "Como foi explicado, 'jñeya' --lit. cognoscível-- é o Mais Alto Princípio --ou seja, o Ser Supremo como o único objeto de conhecimento, por assim dizer, para semelhante Yogī--. (O termo) 'bhāva' (significa) a mente como o assento de sentimentos e pensamentos. 'Sthira' (é) firme, sem movimento. (O significado da palavra) 'pūrṇa' (é) desprovido de desejos, que não deseja nada. 'Samantatas' (significa) 'completamente, plenamente'. (E) 'tu' (deve ser interpretado) no sentido de 'ainda que'".
A terceira e quarta linhas pertencem à estrofe IV, 313. O sábio comenta como segue: "मन एव परतत्त्वैक्यभावनावासितं कर्तृ यथोक्तं ज्ञेयं सर्वत्र चिन्तयत्येव।" - "Mana eva paratattvaikyabhāvanāvāsitaṁ kartṛ yathoktaṁ jñeyaṁ sarvatra cintayatyeva|" - "Manas --a mente--, o fazedor, estando influenciado pela contemplação da unidade com o Mais Alto Princípio, pensa a todo momento somente no supracitado jñeya --o Ser Supremo como o único objeto de conhecimento do Yogī--".
4 Agora, o comentário inteiro de Kṣemarāja sobre essa estrofe em seu Svacchandoddyota:
"इन्द्रियाणि चार्थश्चैन्द्रियकं प्रयोजनं विषयोपभोगस्तेषु स्थितो योगिवरो यो निरूप्येत विचार्येत यत्र कुत्रापि नास्याशिवमस्ति सर्वस्यास्य प्रकाशमानतया प्रकाशघनशिवैकात्म्यात्॥३१४॥" - "Indriyāṇi cārthaścaindriyakaṁ prayojanaṁ viṣayopabhogasteṣu sthito yogivaro yo nirūpyeta vicāryeta yatra kutrāpi nāsyāśivamasti sarvasyāsya prakāśamānatayā prakāśaghanaśivaikātmyāt||314||" - "Sentidos e 'artha' ou 'propósito/objetivo dos sentidos', (isto é,) desfrute dos objetos—; o melhor dos Yogī-que possa estar envolvido com essas (realidades), onde quer que ele possa investigar ou examinar, não há nenhum estado desprovido de Śiva para ele. Tudo aparece como a Luz da Consciência no seu caso, devido à (sua) identificação com Śiva, que é uma compacta massa de Luz||314||".
Espero ter sido suficientemente hábil e tenha interpretado os significados de maneira adequada. Agora, você pode entender a minha forma de traduzir a estrofe IV, 314 do Svacchandatantra.
Aforismo 25
इत्थमासादितप्रकर्षो योगी—
शिवतुल्यो जायते॥२५॥
तुर्यपरिशीलनप्रकर्षात्प्राप्ततुर्यातीतपदः परिपूर्णस्वच्छस्वच्छन्दचिदानन्दघनेन शिवेन भगवता तुल्यो देहकलाया अविगलनात्तत्समो जायते। तद्विगलनेन साक्षाच्छिव एवासावित्यर्थः। तथा च श्रीकालिकाक्रमे
तस्मान्नित्यमसन्दिग्धं बुद्ध्वा योगं गुरोर्मुखात्।
अविकल्पेन भावेन भावयेत्तन्मयत्वतः॥
यावत्तत्समतां याति भगवान्भैरवोऽब्रवीत्।
इति॥२५॥
Itthamāsāditaprakarṣo yogī—
Śivatulyo jāyate||25||
Turyapariśīlanaprakarṣātprāptaturyātītapadaḥ paripūrṇasvacchasvacchandacidānandaghanena śivena bhagavatā tulyo dehakalāyā avigalanāttatsamo jāyate| Tadvigalanena sākṣācchiva evāsāvityarthaḥ| Tathā ca śrīkālikākrame
Tasmānnityamasandigdhaṁ buddhvā yogaṁ gurormukhāt|
Avikalpena bhāvena bhāvayettanmayatvataḥ||
Yāvattatsamatāṁ yāti bhagavānbhairavo'bravīt|
iti||25||
Desse modo (ittham), o Yogī (yogī) que obteve (āsādita) preeminência e excelência (prakarṣaḥ)—
(Esse soberbo Yogī que alcançou o quarto estado) torna-se (jāyate) igual (tulyaḥ) a Śiva (śiva)||25||
Por meio da intensidade (prakarṣāt) do contato (pariśīlana) com Turya ou o Quarto Estado (turya), ele alcança o estado (prāpta... padaḥ) de Turyātīta --lit. que está além de Turya-- (turya-atīta) (e) torna-se (jāyate) igual (tulyaḥ) ao divino e adorável --digno de adoração-- (bhagavatā) Śiva (śivena), que é uma perfeitamente (paripūrṇa) transparente (svaccha) (e) livre (svacchanda) massa (ghanena) de Consciência (cit) (e) Bem-aventurança (ānanda); (e,) enquanto o aspecto corporal (deha-kalāyā) não desaparecer (avigalanāt) --enquanto ainda estiver vivo--, (tal Yogī) é (jāyate) como (samaḥ) Ele (tad)|
Com o desaparecimento (vigalanena) disso --do corpo após a morte-- (tad), esse (Yogī) (asau) (é) o Próprio Śiva (śivaḥ eva) em pessoa (sākṣāt)|
(Também disse-se) assim (tathā ca) no venerável Kālikākrama (śrī-kālikākrame):
"O glorioso (bhagavān) Bhairava --o Senhor Supremo-- (bhairavaḥ) disse (abravīt): 'Portanto (tasmāt), tendo compreendido (buddhvā) sempre (nityam) (e) sem nenhuma dúvida (asandigdham), a partir da boca (mukhāt) do guru --mestre espiritual-- (guroḥ), o meio de união (com Śiva) (yogam), deve-se contemplar (Śiva) (bhāvayet), desprovido de pensamentos (avikalpena), com emoção --com sentimento-- (bhāvena)1 (e) com um sentido de identificação (mayatvataḥ) com Ele (tad), até que (yāvat) alcance (yāti) igualdade ou identidade (samatām) com Ele (tad... iti)'"|
||25||
1 "Avikalpena bhāvena" pode ser traduzido opcionalmente como "com um estado desprovido de pensamentos", porque a palavra "bhāva", além de "sentimento, emoção" e outra gigantesca pilha de possíveis significados, significa "estado, condição". Muito bem, eu só queria esclarecer esse ponto.
Aforismo 26
एवमपि च येनेदं तद्धि भोगत इत्याद्युक्तरीत्या उपनतभोगातिवाहनमात्रप्रयोजनाद्देहस्थितिरस्य नातिक्रमणीयेत्याह—
शरीरवृत्तिर्व्रतम्॥२६॥
प्रोक्तदृशा शिवतुल्यस्य योगिनः शिवाहम्भावेन वर्तमानस्य शरीरे वृत्तिर्वर्तनं यत् तदेव व्रतं स्वस्वरूपविमर्शात्मकनित्योदितपरपूजातत्परस्य नियमेनानुष्ठेयमस्य। तथा च श्रीस्वच्छन्दे
सुप्रदीप्ते यथा वह्नौ शिखा दृश्येत चाम्बरे।
देहप्राणस्थितो ह्यात्मा तद्वल्लीयेत तत्पदे॥
इत्युक्त्या देहप्राणाद्यवस्थितस्यैव शिवसमाविष्टत्वमुक्तम्। न पुनस्तस्य देहस्थितिव्यतिरिक्तं व्रतमुपयुक्तम्। यदुक्तं श्रीत्रिकसारे
देहोत्थिताभिर्मुद्राभिर्यः सदा मुद्रितो बुधः।
स तु मुद्राधरः प्रोक्तः शेषा वा अस्थिधारकाः॥
इति। श्रीकुलपञ्चाशिकायामपि
अव्यक्तलिङ्गिनं दृष्ट्वा सम्भाषन्ते मरीचयः।
लिङ्गिनं नोपसर्पन्त्यतिगुप्ततरा यतः॥
इति॥२६॥
Evamapi ca yenedaṁ taddhi bhogata ityādyuktarītyā upanatabhogātivāhanamātraprayojanāddehasthitirasya nātikramaṇīyetyāha—
Śarīravṛttirvratam||26||
Proktadṛśā śivatulyasya yoginaḥ śivāhambhāvena vartamānasya śarīre vṛttirvartanaṁ yat tadeva vrataṁ svasvarūpavimarśātmakanityoditaparapūjātatparasya niyamenānuṣṭheyamasya| Tathā ca śrīsvacchande
Supradīpte yathā vahnau śikhā dṛśyeta cāmbare|
Dehaprāṇasthito hyātmā tadvallīyeta tatpade||
ityuktyā dehaprāṇādyavasthitasyaiva śivasamāviṣṭatvamuktam| Na punastasya dehasthitivyatiriktaṁ vratamupayuktam| Yaduktaṁ śrītrikasāre
Dehotthitābhirmudrābhiryaḥ sadā mudrito budhaḥ|
Sa tu mudrādharaḥ proktaḥ śeṣā vā asthidhārakāḥ||
iti| Śrīkulapañcāśikāyāmapi
Avyaktaliṅginaṁ dṛṣṭvā sambhāṣante marīcayaḥ|
Liṅginaṁ nopasarpantyatiguptatarā yataḥ||
iti||26||
E (ca), inclusive (api) dessa maneira (evam) --ou seja, ainda que ele tenha alcançado plena identificação com o Senhor Supremo--, segundo o método (rītyā) descrito (ukta) (nas escrituras), (ou seja,) "Como (yena) (existe) esse (corpo) (idam), então (tad hi), por meio de bhoga ou objeto de desfrute (bhogataḥ), etc. (iti ādi)", visto que, (enquanto o corpo viver,) o propósito (prayojanāt) é meramente (mātra) deixar que passem os objetos de desfrute que cruzarem o seu caminho (upanata-bhoga-ativāhana)1 , a continuação (sthitiḥ) do corpo (deha) desse (Yogī) (asya) não (na) deve ser negligenciada (atikramaṇīyā). (Śiva) disse (āha) assim (iti) (no seguinte aforismo)—
A permanência (vṛttiḥ) no corpo (śarīra) (é seu) voto (vratam), (tisto é, mantém uma forma física devido à sua enorme compaixão pela humanidade; é, na verdade, um ato piedoso de sua parte)||26||
Em concordância com o ponto de vista (dṛśā) mencionado (previamente) (prokta), com referência ao Yogī (yoginaḥ) que é como (tulyasya) Śiva (śiva) (e) que vive (vartamānasya) com o estado (bhāvena) (de) "Eu (aham) (sou) Śiva (śiva)", o qual (se denomina) (yad) permanência (vṛttiḥ) (ou) existência (vartanam) no corpo (śarīre), (é) certamente (tad eva) (seu) voto (vratam). (Assim,) no caso (específico) desse (Yogī) (asya) que está completamente consagrado (tatparasya) à adoração (pūjā) do sempre presente (nitya-udita) (Ser) Supremo (para) na forma (ātmaka) da consciência (vimarśa) de sua própria (sva) natureza essencial (sva-rūpa), (tal voto) é observado (anuṣṭheyam) como um ato de piedade (niyamena)|
(Foi declarado) assim (tathā ca) no venerável Svacchandatantra (śrī-svacchande) (também):
"Assim como (yathā), em um fogo bem aceso (su-pradīpte... vahnau), a chama (śikhā) é vista (dṛśyeta ca) no céu (ambare), da mesma forma (tad-vat), o Ser (ātmā), (embora) certamente (hi) exista (sthitaḥ) em corpo e energia vital (deha-prāṇa), está fundido (līyeta) em Seu Estado (tad-pade... iti) --no estado de Śiva--2 "||
(Ver IV, 398 no Svacchandatantra)
De acordo com o que foi expresso (na estrofe do Svacchandatantra) (uktyā), declara-se que (uktam) existe uma condição de estar repleto de (samāviṣṭatvam) Śiva (bhavati) no (Yogī) que (ainda) existe (avasthitasya eva) em corpo (deha), energia vital (prāṇa), etc. (ādi) --embora ele ainda mantenha o corpo, energia vital, etc., está totalmente fundido com Deus!--|
Nenhum (na punar) voto (vratam) que não seja (vyatiriktam) a manutenção (sthiti) do corpo (deha) é adequado (upayuktam) para ele (tasya)|
Isso (yad) (foi) dito (uktam) no venerável Trikasāra (śrī-trikasāre):
"Aquele que (yaḥ) é sábio (budhaḥ) está sempre marcado (sadā mudritaḥ) com Mudrā-s --Selos-- (mudrābhiḥ)3 que surgem (utthitābhiḥ) a partir do corpo (deha). Diz-se que (proktaḥ) somente ele (saḥ tu) carrega (dharaḥ) Mudrā-s (mudrā). O restante das pessoas (śeṣāḥ) certamente (vai) carrega (dhārakāḥ) ossos (asthi... iti)"||
Também (api), no venerável Kulapañcāśikā (śrī-kulapañcāśikāyām), (foi dito que):
"Após ver (dṛṣṭvā) alguém que não tenha nenhuma marca (religiosa) (a-vyakta-liṅginam), os Marīci-s --os Poderes Supremos-- (marīcayaḥ) conversam (sambhāṣante) (com ele). Eles não se reúnem com (na upasarpanti) aquele que tenha marcas (religiosas) (liṅginam), porque (yatas) (tais Poderes Supremos) são muito ocultos e misteriosos (atiguptatarāḥ... iti)"||
||26||
1 Permita-me ser mais específico com relação a isso: "upanata" significa "que cruzou o caminho" (no sentido figurado de "trazido pelo acaso"), "bhoga" é "objeto de desfrute" e "ativāhana" é "deixar passar". Em suma, "deixar que passem os objetos de desfrute que cruzarem o seu caminho", no sentido de "usufruir esses objetos à medida que chegam naturalmente e, então, deixá-los ir embora". Não há nem apego, nem aversão no processo. O sábio está falando sobre um grande Yogī que alcançou Libertação final em vida, obviamente. A grande maioria das pessoas só deseja mais objetos que aqueles que aparecem em "naturalmente" em seu caminho. Além disso, desenvolvem apego e aversão no processo. Todo esse comportamento ignorante não lhes traz nada mais que imensa aflição e dor. Bem, você certamente conhece essa história, hehe.
2 O comentário completo de Kṣemarāja sobre essa estrofe em seu Svacchandoddyota diz:
"देहमन्त्रप्राणात्मशिवपदानामौचित्यात् काष्ठारणिवह्नितच्छिखाम्बराणि दृष्टान्तः। तेनारणिमन्थनयुक्त्या सुप्रदीप्ते प्रज्वलिते वह्नौ सति यथा शिखा ज्वाला दाह्यं दग्ध्वाम्बरे दृश्यते तत्र लयात् तदात्मभावं प्राप्तावलोक्यते तद्वद्दिव्यकरणमन्त्रारणिसमुत्तेजनेन देहे यः प्राणस्तस्मिन् सुप्रदीप्ते मध्योर्ध्ववाह्युदानाग्नितामायाति देहे स्थितो य आत्मा प्रोक्त शुद्धविज्ञानकेवलरूपो वह्निशिखातुल्यः समनान्तं समस्तं देहदारुं दघ्द्वा तस्मिन्पदे लीयते निरुपाधिपरमशिवैकात्म्यमेत्येवेत्यर्थः॥३९८॥" - "Dehamantraprāṇātmaśivapadānāmaucityāt kāṣṭhāraṇivahnitacchikhāmbarāṇi dṛṣṭāntaḥ| Tenāraṇimanthanayuktyā supradīpte prajvalite vahnau sati yathā śikhā jvālā dāhyaṁ dagdhvāmbare dṛśyate tatra layāt tadātmabhāvaṁ prāptāvalokyate tadvaddivyakaraṇamantrāraṇisamuttejanena dehe yaḥ prāṇastasmin supradīpte madhyordhvavāhyudānāgnitāmāyāti dehe sthito ya ātmā prokta śuddhavijñānakevalarūpo vahniśikhātulyaḥ samanāntaṁ samastaṁ dehadāruṁ daghdvā tasminpade līyate nirupādhiparamaśivaikātmyametyevetyarthaḥ||398||" - "Por conveniência, uma comparação (foi feita) entre madeira, (dois) pedaços de madeira utilizados para fazer fogo por fricção, fogo, sua chama --isto é, a chama do fogo-- e o céu e os estados de corpo, mantra, enegia vital, Ser e Śiva (respectivamente) --em suma, a analogia é assim: 'madeira - corpo', '(dois) pedaços de madeira utilizados para fazer fogo por fricção - mantra', 'fogo - energia vital', 'chama - Ser' e 'céu - Śiva'--. Portanto, assim como, quando há fogo bem aceso, o śikhā ou chama que queima o combustível é vista no céu, vê-se (essa chama) alcançando a sua verdadeira natureza ao fundir-se nisso --ao céu--, da mesma forma, a energia vital que está no corpo, ao ser muito encendiada pelos (dois) pedaços de maneira na forma de mantra ou som divino, torna-se o fogo de udāna, que flui para cima através da passagem do meio --através de Suṣumnā-- quando está bem aceso. Diz-se que o Ser, cuja natureza é unicamente Consciência pura, reside no corpo (também). Ele é como a chama de um fogo. Queimando toda a madeira conhecida como corpo, a qual termina em Samanā, (esse Ser) se funde a esse Estado, (ou seja,) Ele certamente alcança unidade com Nirupādhiparamaśiva ou Paramaśiva sem atributos. Esse é o significado."
Muito bem! Agora, com essa didática explicação do sábio Kṣemarāja, o significado dessa estrofe está realmente bem claro. Para mais informação sobre Samanā, etc., leia Meditação 6 e estrofe/comentário III, 5 da presente escritura.
3 Nesse contexto em particular, o termo Mudrā refere-se a Selos realizados por partes do corpo (por exemplo, mãos) ou inclusive pelo corpo inteiro. Se você escutar muitas pessoas que falam (ou inclusive escrevem) sobre Yoga, o significado de Mudrā é Selo, porque aparentemente fecha/sela o circuito no seu sistema de modo que a energia não saia, permanecendo preservada internamente. De qualquer forma, esse é um bom exemplo de por que sempre opino que apenas os especialistas e eruditos em Yoga podem dizer algo que seja digno de ser ouvido. Em primeiro lugar, a energia não pode sair, pois não há "fora" ou "dentro" no caso de Śakti. Isso é muito difícil de entender para as pessoas comuns, que estão convencidas de que há um universo lá fora distinto deles mesmos e cujos objetivos são geralmente mundanos, mas qualquer aspirante com suficiente experiência em Yoga pode compreender a mim perfeitamente. Se algum praticante de Yoga ainda não conseguir me entender, bem, ele ou ela ainda não está suficientemente maduro(a) de um ponto de vista espiritual.
Então, não deveria haver nenhum medo de "perder" energia porque o circuito está "aberto". Na verdade, o conceito de "energia" também é complicado, porque, na verdade, é "poder" (Śakti). Śakti é sempre a possessão de Śiva (Você!) e nunca pode ser perdido de nenhuma forma. É unicamente a própria Māyā ou Ignorância que força uma pessoa a acreditar que Śakti poderia escapar do sistema se o circuito está aberto. Oh, meu bom Deus, estive escutando esse conceito errôneo de "Mudrā-s que impedem que Śakti escape do seu sistema" por anos, hehe; sim, certamente a minha própria Māyā!
Portanto, para remover esse conceito máyico, posso dizer o seguinte: O verdadeiro propósito de Mudrā é fazer com que a mente se una com o Ser. É por isso que se denomina "Selo". Existem outros significados derivados de várias raízes, mas o que dei a você é o principal significado na grande maioria dos contextos. E, de fato, ninguém pode realizar "genuínos" Mudrā-s à vontade, e sim estas surgem espontaneamente devido à Graça do Senhor. É por isso que a estrofe estabelece que somente um grande Yogī carrega Mudrā-s, enquanto o resto das pessoas que realiza esses Selos apenas carrega ossos.
Aforismo 27
एवंविधस्यास्य—
कथा जपः॥२७॥
अहमेव परो हंसः शिवः परमकारणम्।
इति श्रीस्वच्छन्दनिरूपितनीत्या नित्यमेव पराहंभावनामयत्वात्।
तस्य देवातिदेवस्य परबोधस्वरूपिणः।
विमर्शः परमा शक्तिः सर्वज्ञा ज्ञानशालिनी॥
इति श्रीकालिकाक्रमनिरूपितनीत्या महामन्त्रात्मकाकृतकाहंविमर्शारूढस्य यद्यदालापादि तत्तदस्य स्वात्मदेवताविमर्शानवरतावर्तनात्मा जपो जायते। यदुक्तं श्रीविज्ञानभैरवे
भूयो भूयः परे भावे भावना भाव्यते हि या।
जपः सोऽत्र स्वयं नादो मन्त्रात्मा जप्य ईदृशः॥
इति। तथा
सकारेण बहिर्याति हकारेण विशेत्पुनः।
हंसहंसेत्यमुं मन्त्रं जीवो जपति नित्यशः॥
षट्शतानि दिवारात्रौ सहस्राण्येकविंशतिः।
जपो देव्या विनिर्दिष्टः सुलभो दुर्लभो जडैः॥
इति॥२७॥
Evaṁvidhasyāsya—
Kathā japaḥ||27||
Ahameva paro haṁsaḥ śivaḥ paramakāraṇam|
iti śrīsvacchandanirūpitanītyā nityameva parāhaṁbhāvanāmayatvāt|
Tasya devātidevasya parabodhasvarūpiṇaḥ|
Vimarśaḥ paramā śaktiḥ sarvajñā jñānaśālinī||
iti śrīkālikākramanirūpitanītyā mahāmantrātmakākṛtakāhaṁvimarśārūḍhasya yadyadālāpādi tattadasya svātmadevatāvimarśānavaratāvartanātmā japo jāyate| Yaduktaṁ śrīvijñānabhairave
Bhūyo bhūyaḥ pare bhāve bhāvanā bhāvyate hi yā|
Japaḥ so'tra svayaṁ nādo mantrātmā japya īdṛśaḥ||
iti| Tathā
Sakāreṇa bahiryāti hakāreṇa viśetpunaḥ|
Haṁsahaṁsetyamuṁ mantraṁ jīvo japati nityaśaḥ||
Ṣaṭśatāni divārātrau sahasrāṇyekaviṁśatiḥ|
Japo devyā vinirdiṣṭaḥ sulabho durlabho jaḍaiḥ||
iti||27||
Desse tipo (de Yogī) (evaṁvidhasya asya)—
(Sua) conversa (kathā) (é) o murmúrio (de um Mantra ou oração) (japaḥ)||27||
"Eu (aham) (sou) certamente (eva) o Mais Alto (paraḥ) Ser ou Espírito (haṁsaḥ), (Eu sou) Śiva (śivaḥ), a Causa (kāraṇam) Suprema (parama... iti)"||
(Ver porção final de IV, 399 no Svacchandatantra)
Como foi definido (nirūpita-nītyā) no venerável (śrī) Svacchandatantra (svacchanda), (sua conversa é o murmúrio de um Mantra ou de uma oração,) já que (tal Yogī) está constantemente repleto (nityam eva... mayatvāt) da mais alta (para) contemplação (bhāvanā) (da consciência) do Eu (aham)|
"A consciência (do Eu) (vimarśaḥ) (ou) o Supremo (paramā) Poder (śaktiḥ), que é onisciente (sarvajñā), (isto é,) que está repleto (śālinī) de conhecimento (jñāna), pertence Àquele (tasya) que é o maior Deus (atidevasya) entre os deuses (deva) (e) cuja natureza (sva-rūpiṇaḥ) a Mais Alta (para) Consciência (bodha... iti)"||
Como se definiu (nirūpita-nītyā) no venerável (śrī) Kālikākrama (kālikākrama), qualquer (yad yad) conversa (ālāpa), etc. (ādi), do (Yogī) que alcançou (ārūḍhasya) a não produzida (akṛtaka) consciência do Eu (ahaṁ-vimarśa), que consiste (ātma) no grande (mahā) Mantra (mantra), tudo isso (tad tad) equivale (jāyate) ao seu (asya) japa --murmúrio de um Mantra ou oração-- (japaḥ), cuja essência (ātmā) é a incessante (avarata) repetição (āvartana) da consciência (vimarśa) da deidade (do grande Mantra) (devatā), que é o próprio (sva) Ser (ātma)1 |
Esse (mesmo ensinamento) (yad) foi expresso (uktam) no venerável Vijñānabhairavatantra (śrī-vijñānabhairave):
"Essa (yā) contemplação (bhāvanā) que se realiza (bhāvyate hi) de novo e de novo (bhūyas bhūyas) com relação ao Mais Alto (pare) Estado (bhāve) (é) japa (japaḥ saḥ) nesse (contexto) (atra). Tal (īdṛśaḥ) som (nādaḥ) espontâneo --que soa por si mesmo-- (svayam) cuja natureza (ātmā) é um Mantra (mantra) (constitui) o objeto de japa (japyaḥ... iti) --esse som espontâneo deve ser contemplado de novo e de novo--2 "||
Além disso (tathā), (declara-se na mesma escritura):
"(O mantra sutil) 'Haṁsa, Haṁsa' (haṁsahaṁsa iti) sai (bahis yāti) com o som (kāreṇa) 'Sa' (sa) e entra (viśet) novamente (punar) com o som (kāreṇa) 'Ha' (ha). (Por essa razão), o ser vivo (jīvaḥ) constantemente (nityaśaḥ) murmura (japati) esse (amum) mantra (mantram). Dia e noite (divārātrau), (esse ser vivo o murmura) 21.600 (vezes) (ṣaṭśatāni... sahasrāṇi ekaviṁśatiḥ). O murmúrio (japaḥ) da Deusa (devyāḥ) foi indicado (vinirdiṣṭaḥ) como muito fácil (sulabhaḥ) (para os sábios, mas) difícil (durlabhaḥ) para os que não o são (jaḍaiḥ... iti)3 "||
||27||
1 A deidade do grande Mantra é Śiva (o próprio Ser). Esse Śiva é inseparável de Sua Śakti ou divino Poder que aparece como "consciência do Eu". Portanto, o grande Mantra está sendo repetido automática e incessantemente na forma de "Aham" ou "Eu". Sem "Eu", nada poderia manifestar-se. Então, como esse sublime Yogī está constantemente consciente de "Aham", todas as suas conversas são como o seu japa.
2 Como indicado na nota anterior, japa, no caso desse grande Yogī, não é nem mesmo o murmúrio de um mantra como geralmente se entende, e sim simplesmente a contemplação do Mais Alto Estado (o Estado de Śiva). Aham ou Eu é o som que continua soando por si mesmo incessantemente. Portanto, a contemplação de Aham ou Eu (o Mais Alto Estado) é o que constitui japa para esse ser de espírito elevado. Agora, tudo está claro, certo?
3 Para mais informação sobre esse tema, revise Varṇa em Meditação 5.
Aforismo 28
ईदृग्जपव्रतवतोऽस्य चर्यामाह—
दानमात्मज्ञानम्॥२८॥
प्रोक्तचैतन्यरूपस्यात्मनो यज्ज्ञानं साक्षात्कारस्तदस्य दानं दीयते परिपूर्णं स्वरूपं दीयते खण्ड्यते विश्वभेदो दायते शोध्यते मायास्वरूपं दीयते रक्ष्यते लब्धः शिवात्मा स्वभावश्चानेनेति कृत्वा।
अथ च दीयत इति दानमात्मज्ञानमेवानेनान्तेवासिभ्यो दीयते। तदुक्तम्
दर्शनात्स्पर्शनाद्वापि वितताद्भवसागरात्।
तारयिष्यन्ति योगीन्द्राः कुलाचारप्रतिष्ठिताः॥
इति॥२८॥
Īdṛgjapavratavato'sya caryāmāha—
Dānamātmajñānam||28||
Proktacaitanyarūpasyātmano yajjñānaṁ sākṣātkārastadasya dānaṁ dīyate paripūrṇaṁ svarūpaṁ dīyate khaṇḍyate viśvabhedo dāyate śodhyate māyāsvarūpaṁ dīyate rakṣyate labdhaḥ śivātmā svabhāvaścāneneti kṛtvā|
Atha ca dīyata iti dānamātmajñānamevānenāntevāsibhyo dīyate| Taduktam
Darśanātsparśanādvāpi vitatādbhavasāgarāt|
Tārayiṣyanti yogīndrāḥ kulācārapratiṣṭhitāḥ||
iti||28||
(Por meio do aforismo seguinte, Śiva) falou (āha) sobre a conduta ou comportamento (caryām) desse (Yogī) (asya) que pratica esses japa e vrata --Ver os dois aforismos anteriores-- (īdṛk-japavratavataḥ)—
O Conhecimento (jñānam) do Ser (ātma) (é seu) presente (dānam) (para todos nós)||28||
Esse (yad) conhecimento (jñānam) do Ser (ātmanaḥ), que é (rūpasya) a previamente mencionada --Ver I, 1-- (prokta) Consciência Absoluta (caitanya), consiste em dar-se conta (desse Ser) (sākṣātkāraḥ). Esse (conhecimento) (tad) (é) seu (asya) presente (dānam). E, considerando (as raízes das quais deriva o termo dāna ou presente) (iti kṛtvā): "A perfeita (paripūrṇa) natureza essencial (sva-rūpam) é dada (como presente) (dīyate). (Por meio desse presente,) corta-se (dīyate) (ou) divide-se (khaṇḍyate) a diferença (bhedaḥ) (entre Śiva e) o universo (viśva) --isto é, a dualidade --; limpa-se (dāyate) (ou) purifica-se (śodhyate) a essência (sva-rūpam) de Māyā (māyā) e (ca) preserva-se (dīyate) (ou) protege-se (rakṣyate) o estado inato (sva-bhāvaḥ) —cuja natureza (ātmā) é Śiva (śiva)— que foi adquirido (labdhaḥ) por esse (grande Yogī) (anena)1 "|
No entanto --ou seja, apesar dos possíveis significados do termo dāna ou presente segundo as distintas raízes-- (atha ca), o conhecimento (jñānam eva) do Ser (ātma) (é) um presente (dānam), pois é dado (dīyate iti) (ou) concedido (dīyate) por ele (anena) aos alunos que moram perto de ou em sua casa (antevāsibhyaḥ)2 --então, o principal significado é o que deriva da raiz "dā" ou "dar"--|
Esse (mesmo ensinamento) (tad) foi (claramente) expresso (uktam) (por meio da seguinte estrofe):
"Os melhores Yogī-s (yogi-indrāḥ), bem estabelecidos (pratiṣṭhitāḥ) em Kulācāra --a unidade de Śiva (o Senhor), Śakti (Seu Poder) e nara (a alma individual)-- (kula-ācāra), resgatarão (tārayiṣyanti) (os seres limitados) do vasto (vitatāt) oceano da existência transmigratória (bhava-sāgarāt) por meio de sua (mera) presença (darśanāt) ou (vā api) toque (sparśanāt... iti)3 "||
||28||
1 De maneira sucinta, para os estudantes de Sânscrito, as raízes são as seguintes: dā (dar, casa ou classe 3), do (cortar, casa ou classe 2), dai (limpar, casa ou classe 1) e dī (preservar, casa ou classe 2).
2 A palavra "antevāsibhyaḥ" é o Dativo (plural, masculino) de "antevāsin". O casi Nominativo (singular, masculino) é "antevāsī" ou "um aluno que mora perto de ou na casa do seu mestre". É muito interessante o que o sábio Kṣemarāja escreveu, porque se esperaria "śiṣyebhyaḥ" ou "aos śiṣya-s ou alunos", de maneira geral, não importando se moram perto ou longe do seu mestre. Eu poderia ter ignorado esse detalhe e traduzido como "aos alunos", mas não teria sido exato. De acordo com a estrofe que ele cita posteriormente, o sábio está dando mais importância à concessão de Graça por meio de vista ou toque. Daí a necessidade de ter os alunos ao alcance, de um ponto de vista físico.
3 Aqui, a estrofe ensina que os principais entre os Yogī-s libertarão os seres condicionados por meio da sua mera presença (isto é, por meio da vista) e, também, por meio do toque. Outro nome para "conhecimento do Ser" é "Graça", isto é, "Graça divina" ou "anugraha". Segundo a minha tradição, a Graça pode ser "adicionalmente" concedida aos alunos por meio de um mantra ou mediante mero saṅkalpa ou volição, ou seja, conforme a vontade. Evidentemente, esses dois métodos adicionais são geralmente usados com aqueles alunos que não são antevāsī-s, isto é, que não moram perto de ou ou na casa do seu guru (por exemplo, eu!). Como Kṣemarāja está falando sobre os antevāsī-s nesse contexto, os únicos métodos para iniciar discípulos são os realizados por meio da vista (dṛk) e do toque (sparśa).
Aforismo 29
यथोक्तनीत्या शिवतुल्यतया नित्यमेवं व्रतजपचर्यानिष्ठत्वान्निजशक्तिचक्रारूढः स एव तत्त्वत उपदेश्यानां प्रतिबोधक इत्याह—
योऽविपस्थो ज्ञाहेतुश्च॥२९॥
अवीन् पशून् पातीत्यविपं कवर्गादिषु माहेश्वर्याद्याः पशुमातरः (३-१९) इत्यभिहितदृशा माहेश्वर्यादिशक्तिचक्रं तत्र तिष्ठति विदितस्वमाहात्म्यत्वात्प्रभुत्वेन यः प्रतपति स ज्ञाहेतुर्जानातीति ज्ञा ज्ञानशक्तिस्तस्या हेतुरुपदेश्यान् ज्ञानशक्त्या प्रतिबोधयितुं क्षमः। अन्यस्तु शक्तिचक्रपरतन्त्रीकृतत्वात्स्वात्मन्यप्रभविष्णुः कथमन्यान्प्रबोधयेत्। यच्छब्दापेक्षया सूत्रेऽत्र तच्छब्दोऽध्याहार्यः। च शब्दो ह्यर्थे। योऽयमविपस्थः स यस्माज्ज्ञानप्रबोधनहेतुस्तस्माद्युक्तमुक्तं दानमात्मज्ञानम् (३-२८) इति।
अन्ये तु अक्षरसारूप्यात्प्रब्रूयादिति निरुक्तस्थित्या यो इति योगीन्द्रो वि इति विज्ञानं प इति पदं स्थ इति पदस्थ इत्यस्यान्त्यमक्षरम्। ज्ञ इति ज्ञाता हे इति हेयस्तु इति तुच्छता विसर्जनीयेन विसर्गशक्तिश्चकारेणानुक्तसमुच्चयार्थेन कर्ता परामृश्यत इत्याश्रित्य यो योगीन्द्रो विमर्शशक्त्या स्वरूपात्मविज्ञानपदस्थः स ज्ञाता कर्ता चावगन्तव्यस्तदा चास्य हेयतां तुच्छतां निःसारतां न तूपादेयतामासादयतीति व्याचक्षते। एतच्च न नः प्रतिभाति पदार्थसङ्गतेर्नातिचारुत्वात्प्रतिसूत्रं चेदृशव्याख्याक्रमस्य सहस्रशो दर्शयितुं शक्यत्वात्॥२९॥
Yathoktanītyā śivatulyatayā nityamevaṁ vratajapacaryāniṣṭhatvānnijaśakticakrārūḍhaḥ sa eva tattvata upadeśyānāṁ pratibodhaka ityāha—
Yo'vipastho jñāhetuśca||29||
Avīn paśūn pātītyavipaṁ kavargādiṣu māheśvaryādyāḥ paśumātaraḥ (3-19) ityabhihitadṛśā māheśvaryādiśakticakraṁ tatra tiṣṭhati viditasvamāhātmyatvātprabhutvena yaḥ pratapati sa jñāheturjānātīti jñā jñānaśaktistasyā heturupadeśyān jñānaśaktyā pratibodhayituṁ kṣamaḥ| Anyastu śakticakraparatantrīkṛtatvātsvātmanyaprabhaviṣṇuḥ kathamanyānprabodhayet| Yacchabdāpekṣayā sūtre'tra tacchabdo'dhyāhāryaḥ| Ca śabdo hyarthe| Yo'yamavipasthaḥ sa yasmājjñānaprabodhanahetustasmādyuktamuktaṁ dānamātmajñānam (3-28) iti|
Anye tu akṣarasārūpyātprabrūyāditi niruktasthityā yo iti yogīndro vi iti vijñānaṁ pa iti padaṁ stha iti padastha ityasyāntyamakṣaram| Jña iti jñātā he iti heyastu iti tucchatā visarjanīyena visargaśaktiścakāreṇānuktasamuccayārthena kartā parāmṛśyata ityāśritya yo yogīndro vimarśaśaktyā svarūpātmavijñānapadasthaḥ sa jñātā kartā cāvagantavyastadā cāsya heyatāṁ tucchatāṁ niḥsāratāṁ na tūpādeyatāmāsādayatīti vyācakṣate| Etacca na naḥ pratibhāti padārthasaṅgaternāticārutvātpratisūtraṁ cedṛśavyākhyākramasya sahasraśo darśayituṁ śakyatvāt||29||
Segundo o que foi estabelecido (yathā-ukta-nītyā), ele é sempre igual (tulyatayā nityam) a Śiva (śiva). (Portanto,) somente ele (saḥ eva) (pode ser) realmente (tattvatas) um mestre --alguém que faz com que uma pessoa reconheça a sua natureza essencial-- (pratibodhakaḥ) de alunos (upadeśyānām), porque, ao estar devoto (niṣṭhatvāt) a vrata, japa e caryā ou práticas religiosas (vrata-japa-caryā) dessa forma (evam), alcançou (domínio sobre) (ārūḍhaḥ) o seu próprio (nija) grupo (cakra) de poderes (śakti). (Śiva) disse (āha) assim (iti) (no seguinte aforismo)—
Aquele que (yaḥ) (está) estabelecido (no grupo de poderes ou Śakticakra) (avipasthaḥ) (é) verdadeiramente (ca) um meio (hetuḥ) de sabedoria (jñā)||29||
[O termo "avipasthaḥ" --estabelecido (no grupo de poderes ou Śakticakra)-- deve ser interpretado da seguinte forma:] avipa (avipam) (significa) "aquele que protege (pāti) os avi-s (avīn) (ou) animais --os seres limitados-- (paśūn)", (ou seja,) o grupo (cakram) de poderes (śakti) (composto por) Māheśvarī (māheśvarī), etc. (ādi), de acordo com o ponto de vista (dṛśā) declarado (abhihita) (em) "Māheśvarī (māheśvarī) e outras deusas (ādyāḥ) (que têm sua esfera de influência) no grupo (varga) 'ka' (ka), etc. (ādiṣu), (e que são) as mães (mātaraḥ) dos seres limitados (paśu), (tornam-se as deidades regentes de tal Yogī). (III, 19) (da presente escritura) (3-19 iti)". (O termo "sthaḥ" em "avipasthaḥ" significa que) esse (grande Yogī) (yaḥ) permanece (tiṣṭhati) ali --nesse grupo de poderes ou Śakticakra-- (tatra) (e) brilha (pratapati) como o senhor (de tais poderes) (prabhutvena), pois conhece o seu exaltado estado ou posição (vidita-sva-māhātmyatvāt) --lit. pois o seu exaltado estado ou posição é conhecido--. Ele (saḥ) (é) "jñāhetuḥ" (ou) "um meio de sabedoria" (jñāhetuḥ), (pois é) o meio ou fonte (hetuḥ) dessa (tasyā) "jñā" (jñā) —"aquilo que conhece (jānāti iti)"—, (ou seja,) Jñānaśakti ou Poder de Conhecimento (jñāna-śaktiḥ). (Por essa razão,) ele está apto (kṣamaḥ) para instruir e despertar (pratibodhayitu) (seus) alunos (upadeśyān) pelo Poder de Conhecimento --isto é, mediante a sua sabedoria-- (jñānaśaktyā)|
No entanto (tu), outro ser (além desse tipo de Yogī) (anyaḥ), ao estar sujeito (paratantrīkṛtatvāt) ao grupo (cakra) de poderes (śakti), não é um senhor (aprabhaviṣṇuḥ) de si mesmo (sva-ātmani). (Então,) como (katham) ele despertaria (prabodhayet) outros (anyān)?|
Com relação (apekṣayā) à palavra (śabda) "yaḥ" --que-- (yad) (que aparece) nesse (atra) aforismo (sūtre), a palavra (śabdaḥ) "saḥ" --ele-- (tad) deve ser adicionada (para completar o sentido) (adhyāhāryaḥ) --dando como resultado "aquele que"--|
A palavra (śabdaḥ) "ca" (ca) (foi utilizada) no sentido de (arthe) "hi" --verdadeiramente, certamente, etc.-- (hi)|
Visto que (yasmāt) ele (saḥ) —esse (Yogī) (ayam) que está estabelecido (no grupo de poderes ou Śakticakra) (avipasthaḥ)— (é) um meio (hetuḥ) para despertar (prabodhana) conhecimento (jñāna), portanto (tasmāt), foi dito corretamente que (yuktam uktam): "O Conhecimento (jñānam) do Ser (ātma) (é seu) presente (dānam) (para todos nós). (III, 28) (da presente escritura) (3-28 iti)"|
Entretanto (tu), outros (autores) (anye), a partir do ponto de vista (sthityā) de nirukta --um tipo de explicação ou interpretação das palavras-- (nirukta) (baseado na máxima) "segundo a similitude (sārūpyāt) das sílabas (akṣara), expressaria (prabrūyāt)" --isto é, segundo a similitude das sílabas, um termo em particular expressa um significado que deriva de palavras vinculadas a essas sílabas--, (sustentam que): "yo" (yo iti) (indica) yogīndra —um senhor entre os Yogī-s— (yogi-indraḥ), "vi" (vi iti) (indica) vijñāna —conhecimento especial— (vijñānam), "pa" (pa iti) (sugere) pada —estado— (padam) (e) "sthaḥ" --estabelecido-- (sthaḥ iti), que é a última (antyam) sílaba (akṣaram) dessa (expressão) --de Yo'vipasthaḥ no aforismo--, (forma, junto com "pada", o termo) "padasthaḥ" —estabelecido em um estado— (padasthaḥ iti)|
"Jña" (jña iti) (indica) jñātā —conhecedor— (jñātā), "he" (he iti) (indica) heya —rejeitável— (heyaḥ), "tu" (tu iti) (indica) tucchatā —falta de valor— (turya), (e,) mediante Visarga --"ḥ" no final de hetuḥ no aforismo--, (visarjanīyena) (estaria sendo sugerido) o poder criativo (visarga-śaktiḥ). Com a palavra (kāreṇa) "ca" (ca), não expressada (aqui) (anukta) em um sentido conjuntivo (samuccaya-arthena) --a partícula "ca" não deve ser entendida aqui da maneira usual, ou seja, como a mera conjunção "e"--, menciona-se (parāmṛśyate) um agente ou fazedor (kartā). Empregando-se assim (iti āśritya) (esse método de interpretação, esses outros autores) explicam (vyācakṣate) (o aforismo da seguinte forma:)
"Aquele que (yaḥ) é um senhor entre os Yogī-s (yogi-indraḥ), por meio do poder (śaktyā) da consciência (do Eu) (vimarśa), está estabelecido (sthaḥ) em um estado (pada) de conhecimento especial (vijñāna) sobre a natureza (ātma) de seu próprio Ser essencial (sva-rūpa). Ele (saḥ) deve ser considerado como (avagantavyaḥ) conhecedor (jñātā) e (ca) fazedor (kartā). Nesse caso (tadā ca), rejeita (heyatām... āsādayati) este (universo) (asya), considerando(-o) sem valor e insubstancial (tucchatām niḥsāratām... āsādayati). (Em poucas palavras,) ele não (na tu) aceita (o universo) (upādeyatām... āsādayati iti)1 "|
Esse (tipo de interpretação) (etad ca) não (na) nos (naḥ) satisfaz (pratibhāti), pois não está muito de acordo (na aticārutvāt) com a associação ou relação (saṅgateḥ) entre os significados (artha) das palavras (pada) e (ca) porque é possível (śakyatvāt) mostrar (darśayitum), em cada (prati) aforismo (sūtram), uma sucessão (kramasya) de tais (īdṛśa) explicações (vyākhyā) aos milhares (sahasraśaḥ)||29||
1 Essa porção é bem complicada no que tange à sua tradução. É por isso que, para o bem de todos os estudantes de Sânscrito (e também para o bem próprio bem, hehe), esclarecerei o processo de tradução por meio de uma nota explicativa. Segundo o meu conhecimento atual, a tradução correta é a que escrevi, isto é, "Nesse caso (tadā ca), ele rejeita (heyatām... āsādayati) este (universo) (asya), considerando(-o) sem valor e insubstancial (tucchatām niḥsāratām... āsādayati). (Em poucas palavras,) ele não (na tu) aceita (o universo) (upādeyatām... āsādayati iti)|". Muito bem, essa tradução surgiu para satisfazer os requerimentos de uma mente ocidental moderna, mas e se formos mais literais e começarmos a pensar como os antigos?: "Nesse caso (tadā ca), ele alcança (āsādayati) o estado de ser rejeitável (heyatām), a falta de valor (tucchatām) (e) o estado de ser insubstancial (niḥsāratām) desse (universo) (asya). (Em poucas palavras,) ele não (na tu) alcança (āsādayati) (sua) aceitabilidade (upādeyatām... iti)|". Ai, isso doeu!
Bem, suponho que, agora, a estrutura da frase em Sânscrito e a minha maneira de traduzir estejam claras para os estudantes.
Aforismo 30
अस्य च—
स्वशक्तिप्रचयोऽस्य विश्वम्॥३०॥
यतोऽयं शिवतुल्य उक्तस्ततो यथा
शक्तयोऽस्य जगत्कृत्स्नम्...।
इत्याद्याम्नायदृष्त्या शिवस्य विश्वं स्वशक्तिमयं तथास्यापि स्वस्याः संविदात्मनः शक्तेः प्रचयः क्रियाशक्तिस्फुरणरूपो विकासो विश्वम्। यदुक्तं श्रीमृत्युजिति
यतो ज्ञानमयो देवो ज्ञानं च बहुधा स्थितम्।
नियन्त्रितानां बद्धानां त्राणं तन्नेत्रमुच्यते॥
कालिकाक्रमेऽपि
तत्तद्रूपतया ज्ञानं बहिरन्तः प्रकाशते।
ज्ञानादृते नार्थसत्ता ज्ञानरूपं ततो जगत्॥
न हि ज्ञानादृते भावाः केनचिद्विषयीकृताः।
ज्ञानं तदात्मतां यातमेतस्मादवसीयते॥
अस्तिनास्तिविभागेन निषेधविधियोगतः।
ज्ञानात्मता ज्ञेयनिष्ठा भावानां भावनाबलात्॥
युगपद्वेदनाज्ज्ञानज्ञेययोरेकरूपता।
इति॥३०॥
Asya ca—
Svaśaktipracayo'sya viśvam||30||
Yato'yaṁ śivatulya uktastato yathā
Śaktayo'sya jagatkṛtsnam...|
ityādyāmnāyadṛṣtyā śivasya viśvaṁ svaśaktimayaṁ tathāsyāpi svasyāḥ saṁvidātmanaḥ śakteḥ pracayaḥ kriyāśaktisphuraṇarūpo vikāso viśvam| Yaduktaṁ śrīmṛtyujiti
Yato jñānamayo devo jñānaṁ ca bahudhā sthitam|
Niyantritānāṁ baddhānāṁ trāṇaṁ tannetramucyate||
Kālikākrame'pi
Tattadrūpatayā jñānaṁ bahirantaḥ prakāśate|
Jñānādṛte nārthasattā jñānarūpaṁ tato jagat||
Na hi jñānādṛte bhāvāḥ kenacidviṣayīkṛtāḥ|
Jñānaṁ tadātmatāṁ yātametasmādavasīyate||
Astināstivibhāgena niṣedhavidhiyogataḥ|
Jñānātmatā jñeyaniṣṭhā bhāvānāṁ bhāvanābalāt||
Yugapadvedanājjñānajñeyayorekarūpatā|
iti||30||
E (ca), desse (Yogī) (asya)—
O universo (viśvam) (é) a expansão ou desdobramento (pracayaḥ) de seu próprio (sva... asya) Poder (śakti)||30||
Visto que (yatas) foi dito que ele é (ayam... uktaḥ) como (tulyaḥ) Śiva (śiva), portanto (tatas), assim como (yathā) a partir do ponto de vista (dṛṣtyā) dos textos sagrados (āmnāya), o universo (viśvam) de Śiva (śivasya) está repleto da (mayam) Sua própria (sva) Śakti ou Poder (śakti):
"Seus (asya) poderes (śaktayaḥ) (são) o mundo (jagat) inteiro (kṛtsnam), etc. (iti-ādi)1 "|
assim (tathā), o universo (viśvam) (é) um desdobramento (pracayaḥ) (ou) expansão (vikāsaḥ) —um brilho (sphuraṇa-rūpaḥ) do Poder (śakti) de Ação (kriyā) (que manifesta o mundo)— de sua própria (asya api svasyāḥ) Śakti (śakteḥ), cuja natureza (ātmanaḥ) é Consciência (saṁvid)|
Isso (yad) também (foi) declarado (uktam) no venerável Mṛtyujit --Netratantra-- (śrī-mṛtyujiti):
"Visto que (yatas) Deus (devaḥ) é a Mais Alta Realidade como Consciência pura (jñāna-mayaḥ) e (ca) Jñāna (ou Consciência) (jñānam) existe (sthitam) em muitas formas (bahudhā), (e já que Deus torna-se) o Protetor (trāṇam) dos seres restritos ou condicionados (niyantritānām) —dos que vivem em escravidão (baddhānām)—, portanto (tad), diz-se que Ele é (ucyate) Netra (netram... iti)2 "||
(Ver IX, 12 no Netratantra)
e também (api) no Kālikākrama (kālikākrame):
"A consciência (jñāna) brilha --torna-se manifesta-- (prakāśate) dentro (antar) (e) fora (bahis) de diversas maneiras (tad-tad-rūpatayā) --por exemplo, dentro como prazer, fora como uma vasilha, etc.--. Não há (na) existência (sattā) de objetos (artha) sem (ṛte) consciência (jñānāt). Portanto (tatas), o mundo (jagat) (é) uma forma (rūpam) de consciência (jñāna). Sem (ṛte) consciência (jñānāt), os objetos (bhāvāḥ) não são (na hi) percebidos (viṣayīkṛtāḥ) por ninguém (kenacid). A consciência (jñānam) tornou-se (yātam) a natureza (ātmatām) desses (objetos) (tad) (e,) por meio dela (etasmāt), (cada um deles) é determinado e claramente distinguido (avasīyate). Pela aplicação (yogatas) de afirmação e negação (niṣedha-vidhi), há divisão --lit. com/por meio da divisão-- (vibhāgena) de bhāva-s ou objetos positivos e negativos --manifestos e não manifestos-- (asti-na-asti). (Percebe-se que) a objetividade --o estado de ser um objeto ou jñeya-- (jñeya-niṣṭhā) dos objetos (bhāvānām) tem como essência a consciência (jñāna-ātmatā) pela força de (balāt) bhāvanā ou dar-se conta da própria natureza (bhāvanā). No caso de conhecimento e cognoscível (jñāna-jñeyayoḥ), eles são o mesmo --lit. (há) uma única forma-- (eka-rūpatā), devido a uma apreensão simultânea (yugapad-vedanāt... iti) --em suma, conhecimento e cognoscível (objeto sendo conhecido) são percebidos ao mesmo tempo, pois, se um deles não está presente, não há existência--"|
||30||
1 Esse "etc." representa os três pontos.
2 Dado que essa estrofe contém conhecimento muito profundo, citarei todo o comentário que Kṣemarāja escreveu sobre ela em seu Netroddyota. Como subproduto, você entenderá por que traduzi a estrofe da maneira específica como o fiz: "देवः परमेश्वरो ज्ञानमयश्चिन्मात्रपरमार्थः। तच्च ज्ञानं बहुधेति स्वातन्त्र्यात्सङ्कोचमाभास्य नानात्वमाश्रित्य स्थितम्। अतश्च सङ्कोचाभासभाजो ये निगूहितस्वरूपतया नियन्त्रिता आभासिता देवेन तत एव बद्धास्तेषां नानादर्शनोपासाभिः स्वस्वरूपप्रथाहेतुतया यतो देवस्त्राणं तस्मान्निरुक्तदृशा नेत्रमुच्यते न तु चक्षुर्गोलकतया॥१२॥" - "Devaḥ parameśvaro jñānamayaścinmātraparamārthaḥ| Tacca jñānaṁ bahudheti svātantryātsaṅkocamābhāsya nānātvamāśritya sthitam| Ataśca saṅkocābhāsabhājo ye nigūhitasvarūpatayā niyantritā ābhāsitā devena tata eva baddhāsteṣāṁ nānādarśanopāsābhiḥ svasvarūpaprathāhetutayā yato devastrāṇaṁ tasmānniruktadṛśā netramucyate na tu cakṣurgolakatayā||12||" - "Deus, o Senhor Supremo, é 'jñānamaya' --lit. repleto de conhecimento--, (ou seja,) a Mais Alta Realidade na forma de Conhecimento puro. Esse Jñāna (ou Conhecimento), após assumir multiplicidade (e) manifestar contração por meio de (Sua) Liberdade Absoluta, existe 'em muitas formas'. É por isso que aqueles que participam da manifestação da contração, ao estar oculta (ou velada) a sua natureza essencial, são manifestados por Deus como seres restritos (ou condicionados). E, por essa razão, estão em escravidão. (No entanto,) por meio das suas --dos seres condicionados-- adorações e homenagens prescritas pelos diversos sistemas filosóficos e doutrinas, Deus (torna-se) seu 'Trāṇa' ou Protetor, pois Ele se torna a causa para a expansão da sua --deles-- natureza essencial --a natureza essencial desses seres limitados deixa de estar oculta--. Devido a isso, de um ponto de vista etimológico, diz-se que Ele é 'Netra' --em outras palavras, o termo Netra é a abreviação de 'niyantritānāṁ trāṇam' ou 'protetor dos seres restritos/limitados'--. (Ele) não é (chamado 'Netra') no sentido de 'globo ocular' --já que o significado usual do termo "netra" é "olho"--||12||".
Muito bem! E lembre-se: esteja a sua natureza essencial oculta ou expandida (ou uma mistura), a Mais Alta Realidade é sempre o seu verdadeiro Ser. Se você ler essa escritura e pensar que o autor está falando sobre "outra" pessoa que atingiu esse tão alto estado de consciência, está pensando erroneamente e só está acumulando conhecimento inútil. Se você não se der conta da sua natureza essencial ao ler, tataḥ kim (e agora? --lit. então o quê?--). Assim, a verdade é que esta escritura versa sobre Você unicamente! O universo inteiro conta a Sua história, querido Senhor!
Aforismo 31
न केवलं सृष्टिदशायां निजशक्तिविकासोऽस्य विश्वं यत्तत्पृष्ठपातिनौ—
स्थितिलयौ॥३१॥
स्वशक्तिप्रचय इत्यनुवर्तते। क्रियाशक्त्याभासितस्य विश्वस्य तत्तत्प्रमात्रपेक्षं कञ्चित्कालं बहिर्मुखत्वावभासनरूपा या स्थितिश्चिन्मयप्रमातृविश्रान्त्यात्मा च यो लयस्तावेतावेतस्य स्वशक्तिप्रचय एव तत्तद्वेद्यं ह्याभासमानं विलीयमानं च निजसंविच्छक्त्यात्मकमेवान्यथास्य संवेदनानुपपत्तेः। अत एव श्रीकालिकाक्रमे
अस्तिनास्तिविभागेन...।
इत्यादि स्थितिलयपरत्वेनोक्तम्। तथा
सर्वं शुद्धं निरालम्बं ज्ञानं स्वप्रत्ययात्मकम्।
यः पश्यति स मुक्तात्मा जीवन्नेव न संशयः॥
इति॥३१॥
Na kevalaṁ sṛṣṭidaśāyāṁ nijaśaktivikāso'sya viśvaṁ yattatpṛṣṭhapātinau—
Sthitilayau||31||
Svaśaktipracaya ityanuvartate| Kriyāśaktyābhāsitasya viśvasya tattatpramātrapekṣaṁ kañcitkālaṁ bahirmukhatvāvabhāsanarūpā yā sthitiścinmayapramātṛviśrāntyātmā ca yo layastāvetāvetasya svaśaktipracaya eva tattadvedyaṁ hyābhāsamānaṁ vilīyamānaṁ ca nijasaṁvicchaktyātmakamevānyathāsya saṁvedanānupapatteḥ| Ata eva śrīkālikākrame
Astināstivibhāgena...|
ityādi sthitilayaparatvenoktam| Tathā
Sarvaṁ śuddhaṁ nirālambaṁ jñānaṁ svapratyayātmakam|
Yaḥ paśyati sa muktātmā jīvanneva na saṁśayaḥ||
iti||31||
O universo (viśva) não (na) somente (kevalam) (é) a expansão (ou desdobramento) (vikāsaḥ) de seu próprio (nija... asya) poder (śakti) na etapa ou estado (daśāyām) de (sua) manifestação (sṛṣṭi), (mas também) com referência (yad) aos outros dois (estados) que seguem (pṛṣṭhapātinau) esse (tad)—
Tanto a manutenção (do universo) (sthiti) (quanto sua) reabsorção (layau) (são também o desdobramento de seu Poder)||31||
(A frase) "(são também) o desdobramento (pracayaḥ) de seu (sva) Poder (śakti... iti)" (deveria) seguir (anuvartate) (o aforismo para completar o sentido) --é por isso que essa frase já foi adicionada entre parênteses à tradução do aforismo--|
Sthiti ou manutenção (sthitiḥ) do universo (viśvasya) manifestada (ābhāsitasya) pelo Poder (śaktyā) de Ação (kriyā), a qual --ou seja, sthiti-- (yā) é (rūpā) uma manifestação (avabhāsana) externa (bahirmukhatva) (que dura) algum (kañcid) tempo (kālam), com relação a (apekṣam) diversos (tad-tad) experimentadores (pramātṛ)1 , e (ca) laya ou reabsorção (layaḥ), que (yaḥ) é (ātmā) um repouso (viśrānti) no Experimentador --o próprio Ser-- (pramātṛ), o qual é Consciência pura (cit-maya), esses mesmos dois --sthiti e laya-- (tau etau)2 (são) somente (eva) uma expansão ou desdobramento (pracayaḥ) de seu próprio (etasya sva) Poder (śakti) --do poder do Yogī, que é igual a Śiva--. Realmente (hi), os diversos (tad-tad) objetos cognoscíveis (vedyam) que aparecem (ābhāsamānam) e (ca) desaparecem (vilīyamānam) --isto é, que se tornam manifestos e não manifestos-- consistem unicamente (ātmakam eva) no seu próprio (nija) Poder Consciente --o Poder da Consciência-- (saṁvid-śakti), já que, de outro modo, haveria impossibilidade (anyathā... anupapatteḥ) de apreensão ou percepção (saṁvedana) desse (universo) (asya) --sendo menos literal mas mais explícito, "já que a apreensão ou percepção desse universo seria impossível de outro modo", ou seja, se os objetos que aparecem e desaparecem não fossem unicamente o seu próprio Poder, o ato de percebê-los não seria possível--|
Por essa mesma razão (atas eva), (quando,) no venerável Kālikākrama (śrī-kālikākrame), (declara-se que):
"Há uma divisão --lit. com/por meio da divisão-- (vibhāgena) de bhāva-s ou objetos positivos e negativos --manifestos e não manifestos--, etc. (asti-na-asti... ityādi)"||
(essa afirmação) foi dita (uktam) com relação a (paratvena) manutenção e reabsorção (do universo) (sthiti-laya)|
Então (tathā):
"Aquele (saḥ) que (yaḥ) percebe (paśyati) a Consciência (jñānam) completamente (sarvam) pura (śuddham), que está desprovida de suporte --não depende de nenhum objeto para existir-- (nis-ālambam) (e) cuja natureza (ātmakam) é o próprio (sva) pratyaya ou consciência do Eu (pratyaya), (é) uma alma emancipada (mukta-ātmā) em vida (jīvan eva)3 ; (sobre isso) não há dúvidas (na saṁśayaḥ... iti)"||
||31||
1 Para mais informação sobre os sete experimentadores, leia a nota 4 em III, 19 desta escritura.
2 Para studantes de Sânscrito: "tau" é o Nominativo dual (masculino) de "tad" e "etau" é o Nominativo dual (masculino) de "etad". Normalmente, "tad" significa "aquilo", enquanto "isso" é indicado pela palavra "etad". De qualquer forma, "tad" também pode significar "isso" segundo o contexto. Nesse caso, traduzir "tau" como "esses dois" é mais adequado do que traduzi-lo como "aqueles dois". E, é claro, a expressão inclui "mesmos", quando "tad" e "etad" se juntam, por exemplo, tau etau (os quais, pela 6a Regra Primária do Sandhi de Vogais, tornam-se "tāvetau"... mas o autor poderia ter escrito opcionalmente "tā etau" pela 7a Regra Primária do Sandhi de Vogais): "aqueles mesmos dois", ou ainda, nesse caso, "esses mesmos dois". Você pode confirmar o que eu disse sobre "tad" também significar "isso" simplesmente consultando qualquer dicionário decente de sânscrito.
3 Para studantes de Sânscrito novamente: Quando "n" está no final de uma palavra e é precedido por uma vogal "curta", transforma-se em "nn" se for seguido por uma vogal, de acordo com a 2a sub-regra da 15a Regra do Sandhi de Consoantes. É por isso que a expressão original "jīvan eva" tornou-se "jīvanneva" na estrofe. Evidentemente, o autor conhecia essa regra! (brincadeira).
Aforismo 32
नन्वेवं सृष्टिस्थितिलयावस्थास्वन्योन्यभेदावभासमयीष्वस्य स्वरूपान्यथात्वमायातमित्याशङ्काशान्त्यर्थमाह—
तत्प्रवृत्तावप्यनिरासः संवेत्तृभावात्॥३२॥
तेषां सृष्ट्यादीनां प्रवृत्तावप्युन्मज्जनेऽपि नास्य योगिनः संवेत्तृभावात्तुर्यचमत्कारात्मकविमर्शमयादुपलब्धृत्वान्निरासश्चलनं तन्निरासे कस्यचिदप्यप्रकाशनात्। यदुक्तं तत्रैव
नाशेऽविद्याप्रपञ्चस्य स्वभावो न विनश्यति।
उत्पत्तिध्वंसविरहात्तस्मान्नाशो न वास्तवः॥
यतोऽविद्या समुत्पत्तिध्वंसाभ्यामुपचर्यते।
यत्स्वभावेन नष्टं न तन्नष्टं कथमुच्यते॥
इति। एतदेव स्पन्दे
अवस्थायुगलं चात्र कार्यकर्तृत्वशब्दितम्।
कार्यता क्षयिणी तत्र कर्तृत्वं पुनरक्षयम्॥
तथा।
कार्योन्मुखः प्रयत्नो यः केवलं सोऽत्र लुप्यते।
तस्मिँल्लुप्ते विलुप्तोऽस्मीत्यबुधः प्रतिपद्यते॥
न तु योऽन्तर्मुखो भावः सर्वज्ञत्वगुणास्पदम्।
तस्य लोपः कदाचित्स्यादन्यस्यानुपलम्भनात्॥
इत्यनेनोक्तम्॥३२॥
Nanvevaṁ sṛṣṭisthitilayāvasthāsvanyonyabhedāvabhāsamayīṣvasya svarūpānyathātvamāyātamityāśaṅkāśāntyarthamāha—
Tatpravṛttāvapyanirāsaḥ saṁvettṛbhāvāt||32||
Teṣāṁ sṛṣṭyādīnāṁ pravṛttāvapyunmajjane'pi nāsya yoginaḥ saṁvettṛbhāvātturyacamatkārātmakavimarśamayādupalabdhṛtvānnirāsaścalanaṁ tannirāse kasyacidapyaprakāśanāt| Yaduktaṁ tatraiva
Nāśe'vidyāprapañcasya svabhāvo na vinaśyati|
Utpattidhvaṁsavirahāttasmānnāśo na vāstavaḥ||
Yato'vidyā samutpattidhvaṁsābhyāmupacaryate|
Yatsvabhāvena naṣṭaṁ na tannaṣṭaṁ kathamucyate||
iti| Etadeva spande
Avasthāyugalaṁ cātra kāryakartṛtvaśabditam|
Kāryatā kṣayiṇī tatra kartṛtvaṁ punarakṣayam||
tathā|
Kāryonmukhaḥ prayatno yaḥ kevalaṁ so'tra lupyate|
Tasmim̐̐llupte vilupto'smītyabudhaḥ pratipadyate||
Na tu yo'ntarmukho bhāvaḥ sarvajñatvaguṇāspadam|
Tasya lopaḥ kadācitsyādanyasyānupalambhanāt||
ityanenoktam||32||
Uma dúvida (nanu)!: "Dessa forma (evam), (no caso de um grande Yogī orientado em direção a objetos,) seu (estado interno) (asya) experimenta anyathātva --lit. diferença-- ou uma interrupção na consciência (anyathātvam āyātam) de sua natureza essencial (sva-rūpa) durante os estados (avasthāsu) de manifestação, manutenção e reabsorção (do universo) (sṛṣṭi-sthiti-laya), cujas aparências (avabhāsa-mayīṣu) diferem (bheda) entre si (anyonya... iti)" --em suma, já que manifestação, manutenção e reabsorção do universo diferem entre si com relação à aparência, o estado interno do grande Yogī também deve mudar toda vez que ele experimenta esses três, um após o outro--. Para (artham) extinguir (śānti) (essa) dúvida (āśaṅkā), (Śiva) disse (āha)—
Mesmo que (api) possam ocorrer (pravṛttau) esses (três processos anteriores, a saber, manifestação, manutenção e reabsorção do universo) (tad), não há nenhuma interrupção (anirāsaḥ) (no estado interno do grande Yogī), devido à (sua) condição (bhāvāt) de (Supremo) Conhecedor (saṁvettṛ)||32||
Mesmo que (api... api) possam ocorrer (pravṛttau) (ou) surgir (unmajjane) esses (processos) (teṣām), (isto é,) manifestação, etc. (sṛṣṭi-ādīnām), não há nenhuma (na) interrupção (nirāsaḥ) (ou) movimento (calanam) (no estado interno) desse Yogī (asya yoginaḥ) por causa da (sua) condição (bhāvāt) como o (Supremo) Conhecedor (svapratyaya), (ou seja,) dado que ele é o Percebedor repleto (mayāt upalabdhṛtvāt) da bem-aventurada (camatkāra-ātmaka) consciência (vimarśa) de Turya --o Quarto Estado-- (turya) (e) visto que não haveria manifestação (aprakāśanāt) de absolutamente nada (kasyacidapi) no caso de uma interrupção (nirāse) nisso --em seu estado como o Conhecedor Supremo-- (tad)1 |
Essa (verdade) (yad) foi declarada (uktam) nesse mesmo (livro) --no Kālikākrama-- (tatra eva):
"Quando há desaparecimento (nāśe) do que foi manifestado (prapañcasya) pela Ignorância ou Māyā (avidyā), a própria natureza essencial --a natureza essencial da Consciência-- (sva-bhāvaḥ) não (na) desaparece (vinaśyati). Como há ausência (virahāt) do aparecimento --manifestação-- (utpatti) (e) desaparecimento (dhvaṁsa) (no que concerne à Consciência), portanto (tasmāt), não há (na) desaparecimento (nāśaḥ) real (vāstavaḥ) (no caso Dela). Visto que (yatas) (inclusive) a Ignorância (avidyā) é mencionada figurativamente (upacaryate) como aparecendo e desaparecendo (samutpatti-dhvaṁsābhyām), então como (katham) (pode-se) dizer que (ucyate) Ela --a Consciência-- (tad) desapareceu (naṣṭam) (quando) essa (Consciência) (yad), por natureza (sva-bhāvena), nunca (na) desapareceu (naṣṭam... iti)?"||
Isso (etad) foi mencionado (uktam) por este (aforismo) (anena) nas Spandakārikā-s (spande):
"Diz-se (śabditam) que (existen) dois (yugalam) estados (avasthā) nesse (princípio do Spanda) (ca atra), (a saber,) o estado de ação (kārya... tva) (e) o estado de fazedor (kartṛtva). Dentre eles (tatra), o estado de ação (kāryatā) é perecível (kṣayiṇī), mas (punar) o estado de fazedor (kartṛtvam) (é) imperecível (akṣayam... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s I, 14)
e também (tathā) (por estes dois outros aforismos):
"Somente (kevalam) o esforço (prayatnaḥ... saḥ) que (yaḥ) é direcionado (unmukhaḥ) à ação (kārya) desaparece (lupyate) nesse (estado de Samādhi) (atra). Quando esse (esforço) desaparece (tasmin lupte), (só) um tolo (abudhaḥ) pensaria (pratipadyate) 'Eu desapareci' (viluptaḥ asmi iti).
Não há nunca (na tu... kadācid syāt) cessação (lopaḥ) desse (tasya) estado ou natureza (bhāvaḥ) interna (antarmukhaḥ) que (yaḥ) (é) a moradia (āspadam) do atributo (guṇa) de onisciência (sarvajñatva), por causa da não percepção (anupalambhanāt) de outro (anyasya... iti)2 "||
(Ver Spandakārikā-s I, 15-16)
||32||
1 As mudanças são detectadas devido à presença de algo que é imutável. Se o Supremo Conhecedor ou Percebedor, isto é, a Consciência (Você!), viesse a mudar alguma vez, ou seja, se Ele experimentasse uma interrupção ou movimento na sua natureza essencial, então quem perceberia as outras mudanças? Como essas outras mudanças são percebidas durante todo o tempo à medida que acontecem (por exemplo, vigília, sonhos, prazer, dor, vazio, felicidade, coisas externas que envelhecem, etc.), a Mais Alta Realidade (Você!) nunca abandona o Seu estado essencial. É sadodita ou nityodita (lit. sempre surgido), isto é, sempre presente. Não se pode dizer a mesma coisa sobre tudo o que foi produzido pela Ignorância ou Māyā, a qual está repleta de realidades mutáveis. É por isso que aqueles que postulam que a Consciência muda estão totalmente equivocados.
2 Não somente nesse caso, mas sempre que você vir uma estrofe das Spandakārikā-s sendo citada, leia a respectiva explicação escrita pelo próprio sábio Kṣemarāja no Spandanirṇaya (seu comentário erudito sobre as Spandakārikā-s).
Aforismo 33
अस्य योगिनः—
सुखदुःखयोर्बहिर्मननम्॥३३॥
वेद्यस्पर्शजातयोः सुखदुःखयोर्बहिरिव नीलादिवदिदन्ताभासतया मननं संवेदनं न तु लौकिकवदहन्तास्पर्शनेनास्य हि स्वशक्तिप्रचयोऽस्य विश्वम् (३-३०) इत्युक्तसूत्रार्थनीत्या सर्वमहन्ताच्छादितत्वेन स्फुरति न तु नियतं सुखदुःखाद्येवेत्येवम्परमेतत्। योगी हि प्रशान्तपुर्यष्टकप्रमातृभावः कथं सुखदुःखाभ्यां स्पृश्यते। तथा च श्रीप्रत्यभिज्ञासूत्रविमर्शिन्याम्।
ग्राहकभूमिकोत्तीर्णानां वास्तवप्रमातृदशाप्रपन्नानां तत्तत्स्वहेतूपस्थापितसुखदुःखसाक्षात्कारेऽपि न तेषां सुखदुःखादि नोत्पद्यत एव वा सुखादि हेतुवैकल्यात्सहजानन्दाविर्भावस्तु तदा स्यात्॥
इत्युक्तम्। अत एव
न दुःखं न सुखं यत्र न ग्राह्यं ग्राहको न च।
न चास्ति मूढभावोऽपि तदस्ति परमार्थतः॥
इति स्पन्दे निरूपितम्॥३३॥
Asya yoginaḥ—
Sukhaduḥkhayorbahirmananam||33||
Vedyasparśajātayoḥ sukhaduḥkhayorbahiriva nīlādivadidantābhāsatayā mananaṁ saṁvedanaṁ na tu laukikavadahantāsparśanenāsya hi svaśaktipracayo'sya viśvam (3-30) ityuktasūtrārthanītyā sarvamahantācchāditatvena sphurati na tu niyataṁ sukhaduḥkhādyevetyevamparametat| Yogī hi praśāntapuryaṣṭakapramātṛbhāvaḥ kathaṁ sukhaduḥkhābhyāṁ spṛśyate| Tathā ca śrīpratyabhijñāsūtravimarśinyām|
Grāhakabhūmikottīrṇānāṁ vāstavapramātṛdaśāprapannānāṁ tattatsvahetūpasthāpitasukhaduḥkhasākṣātkāre'pi na teṣāṁ sukhaduḥkhādi notpadyata eva vā sukhādi hetuvaikalyātsahajānandāvirbhāvastu tadā syāt||
ityuktam| Ata eva
Na duḥkhaṁ na sukhaṁ yatra na grāhyaṁ grāhako na ca|
Na cāsti mūḍhabhāvo'pi tadasti paramārthataḥ||
iti spande nirūpitam||33||
Desse Yogī (asya yoginaḥ)—
(Esse sublime Yogī) considera (mananam) prazer e dor (sukhaduḥkhayoḥ) como algo externo (bahis)||33||
(Esse grande Yogī) considera --lit. consideração-- (mananam) (ou) percebe --lit. percepção-- (saṁvedanam) prazer e dor (sukha-duḥkhayoḥ) nascidos (jātayoḥ) do contato (sparśa) com objetos (vedya) como um mero --lit. como sendo uma mera aparência-- (ābhāsatayā) "Isto" --como algo percebido pela própria natureza essencial, que é "Eu" ou "Sujeito"-- (idantā). (Em poucas palavras, ele considera ou percebe os dois) como (iva) algo externo (bahis), (tal) como (vat) azul (nīla), etc. (ādi), e não (na tu) como (vat) as pessoas comuns (laukika) (os consideram, isto é,) como algo que toca --que entra em contato-- (sparśanena) com o "Eu" (ahantā). Nesse caso (asya hi), como expressa (ukta... nītyā) o significado (artha) do aforismo (sūtra) "O universo (viśvam) (é) a expansão ou desdobramento (pracayaḥ) de seu próprio (sva... asya) Poder (śakti). (III, 30) (da atual escritura) (3-30 iti)", tudo (sarvam) se manifesta brilhantemente (sphurati) vestindo --no sentido de "que consiste de, repleto de"-- (ācchāditatvena) a (sua) consciência do Eu (ahantā), e não (na tu) (como se) prazer, dor, etc. (sukha-duḥkha-ādi eva) estivessem conectados (com sua consciência do Eu) --como se essas experiências estivessem afetando de alguma forma o seu "Eu" ou natureza essencial-- (niyatam). Assim é a explicação segundo (iti evam) esse (etad) (aforismo) anterior (param)|
Como (katham) (pode) o Yogī (yogī hi), no qual o estado (bhāvaḥ) (de considerar) o corpo sutil --composto de intelecto, ego, mente e elementos sutis-- (puryaṣṭaka) como o Experimentador ou Conhecedor --o Ser-- (pramātṛ) foi extinto (praśānta), ser tocado --ser afetado-- (spṛśyate) por prazer e dor (sukha-duḥkhābhyām) (se esses dois estão relacionados com intelecto, ego e mente)?|
A mesma coisa foi dita também (tathā ca... uktam) no venerável Pratyabhijñāsūtravimarśinī (śrī-pratyabhijñāsūtravimarśinyām):
"Não há (na) prazer, dor, etc. (sukhaduḥkhādi) para aqueles (teṣām) que transcenderam (uttīrṇānām) a etapa (bhūmikā) de experimentador (limitado) --o que está controlado por Māyā ou Ignorância-- (grāhaka) (e) que alcançaram (prapannānām) o estado (daśā) do Experimentador (pramātṛ) Real --Śiva-- (vāstava), mesmo que (api) possa haver uma clara percepção (sākṣātkāre) de prazer (sukha) (e) dor (duḥkha) apresentados (upasthāpita) por suas (sva) diversas (tad-tad) causas (hetu)1 . Ou então (vā), (devido a uma imersão na Luz da Consciência,) prazer, etc. (sukha-ādi), não são produzidos --lit. não é produzido-- (na utpadyate eva) porque suas causas estão ausentes (hetu-vaikalyāt)2 . Então (tadā), (estejam eles em Turya ou Turyātīta), existe (somente) (syāt) manifestação ou presença (āvis-bhāvaḥ) de Bem-aventurança (ānanda) natural (sahaja), verdadeiramente (tu... iti)"||
É por isso que --lit. daí que-- (atas eva), por meio desse (aforismo) (anena), estabeleceu-se (nirūpitam) (a mesma verdade) nas Spandakārikā-s (spande):
"Onde (yatra) (não há) nem (na) dor (duḥkham) nem (na) prazer (sukham), nem (na) objeto (grāhyam) nem (na ca) sujeito (grāhakam), (onde) o estado (bhāvaḥ) de incosciência (mūḍha) nem (na ca) sequer (api) existe (asti)... isso (tad) é (asti), no mais alto sentido (paramārthatas... iti), (o princípio do Spanda)"||
(Ver Spandakārikā-s I, 5)
||33||
1 Esses grandes seres não experimentam prazer e dor nem mesmo enquanto atravessam vigília, sonho e sono profundo, porque descansam em Turya (o Quarto Estado), que é um estado de testemunho. Em outras palavras, eles percebem o drama do processo do mundo e, consequentemente, não podem experimentar prazer e dor como algo relativo ao seu "Eu" real. Percebem ambos como algo externo.
2 Quando os grandes Yogī-s alcançam Turyātīta, o estado além do Quarto (quando eles alcançam Consciência pura desprovida de qualquer manifestação universal), as causas de prazer e dor desaparecem completamente. Apego (rāga) e aversão (dveṣa) são as respectivas causas para prazer (sukha) e dor (duḥkha). Se as causas estão completamente ausentes porque uma pessoa está plenamente submersa na Luz do seu próprio Ser, os efeitos não podem surgir de maneira alguma. Simples!
Informação adicional
Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.
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