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Śivasūtravimarśinī: Seção III (aforismos 12 a 22)
Tradução normal
Introdução
A Śivasūtravimarśinī continua: Kṣemarāja continua a comentar os aforismos.
Este é o segundo grupo de 11 aforismos dos 45 aforismos que formam a terceira Seção (que versa sobre Āṇavopāya). Como você sabe, a obra inteira é composta dos 77 aforismos dos Śivasūtra-s mais os respectivos comentários.
É claro que também inserirei os aforismos de Śiva sobre os quais Kṣemarāja estiver comentando. Apesar de que não comentarei sobre os sūtra-s originais ou sobre o comentário de Kṣemarāja, escreverei algumas notas para esclarecer certos pontos sempre que for necessário. Se você quiser uma explicação detalhada dos significados ocultos dessa escritura, vá a "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.
O Sânscrito de Kṣemarāja estará em verde escuro, enquanto os aforismos originais de Śiva serão exibidos em vermelho escuro. Por sua vez, dentro da transliteração, os aforismos originais estarão em marrom, enquanto os comentários de Kṣemarāja estarão em preto. Além disso, dentro da tradução, os aforismos oriiginais de Śiva, ou seja, os Śivasūtra-s, estarão em verde e preto, enquanto o comentário de Kṣemarāja terá palavras tanto em preto quanto em vermelho.
Leia a Śivasūtravimarśinī e experimente Supremo Deleite, querido Śiva.
Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.
Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.
Aforismo 12
अस्य च—
धीवशात्सत्त्वसिद्धिः॥१२॥
धीः तात्त्विकस्वरूपविमर्शनविशारदा (...विशादा) धिषणा तद्वशात्सत्त्वस्य स्फुरत्तात्मनः सूक्ष्मस्यान्तरपरिस्पन्दस्य सिद्धिरभिव्यक्तिर्भवति। नाट्ये च सात्त्विकाभिनयसिद्धिर्बुद्धिकौशलादेव लभ्यते॥१२॥
Asya ca—
Dhīvaśātsattvasiddhiḥ||12||
Dhīḥ tāttvikasvarūpavimarśanaviśāradā (...viśādā) dhiṣaṇā tadvaśātsattvasya sphurattātmanaḥ sūkṣmasyāntaraparispandasya siddhirabhivyaktirbhavati| Nāṭye ca sāttvikābhinayasiddhirbuddhikauśalādeva labhyate||12||
E (ca), desse (Yogī) (asya)—
Por meio (vaśāt) da inteligência espiritual superior (dhī), (Yogī chega a) se dar conta (siddhiḥ) da cintilante e sutil vibração interna da perfeita consciência do Eu (sattva)||12||
Dhī (dhī) (é) a inteligência (dhiṣaṇā) proficiente (viśāradā) (ou) hábil (viśādā) na consciência (vimarśana) da verdadeira (tāttvika) natureza essencial (sva-rūpa). Por meio (vaśāt) dessa (inteligência espiritual superior) (tad), há (bhavati) siddhi (siddhiḥ) (ou) um "dar-se conta" --isto é, uma manifestação, um efeito de tornar-se evidente-- (abhivyaktiḥ) de Sattva (sattvasya), (ou seja,) da sutil (sūkṣmasya) vibração --parispanda-- (parispandasya) interna (āntara) cuja essência (ātmanaḥ) (é) Sphurattā --a cintilante e perfeita consciência do Eu-- (sphurattā)|
Também (ca), em um drama dançante (nāṭye), siddhi ou perfeição (siddhiḥ) na representação (abhinaya) de Sattva ou o sentimento interno (sāttvika) é obtida (labhyate) unicamente (eva) por meio da destreza (kauśalāt) da inteligência (buddhi)1 ||12||
1 Primeiro de tudo: Aqui, o termo "Sattva" não tem nenhuma relação sequer com o célebre Guṇa ou qualidade de Prakṛti (Ver Trika 5). Agora, o sábio postulou uma analogia com relação a nāṭya ou drama dançante: Enquanto, em Yoga, há siddhi ou um ato de dar-se conta de Sattva (a cintilante e sutil vibração interna da perfeita consciência do Eu) por meio de dhī (a inteligência espiritual superior), em um drama dançante, há siddhi ou perfeição na representação de Sattva (sentimento interno) por meio da destreza da inteligência (buddhi), ou seja, por meio de talento. O termo "buddhi" é, nesse caso, sinônimo de "धी" - "dhī", mas no significado comum dessa palavra, isto é, inteligência. Agora, está claro.
Aforismo 13
एवं स्फुरत्तात्मकसत्त्वासादनादेवास्य योगिनः—
सिद्धः स्वतन्त्रभावः॥१३॥
सिद्धः सम्पन्नः स्वतन्त्रभावः सहजज्ञत्वकर्तृत्वात्मकमशेषविश्ववशीकारि स्वातन्त्र्यम्। यदुक्तं श्रीश्रीनाथपादैः
श्रयेत्स्वातन्त्र्यशक्तिं स्वां सा श्रीकाली परा कला।
इति। श्रीस्वच्छन्देऽपि
सर्वतत्त्वानि भूतानि वर्णा मन्त्राश्च ये स्मृताः।
नित्यं तस्य वशास्ते वै शिवभावनयानया॥
इति॥१३॥
Evaṁ sphurattātmakasattvāsādanādevāsya yoginaḥ—
Siddhaḥ svatantrabhāvaḥ||13||
Siddhaḥ sampannaḥ svatantrabhāvaḥ sahajajñatvakartṛtvātmakamaśeṣaviśvavaśīkāri svātantryam| Yaduktaṁ śrīśrīnāthapādaiḥ
Śrayetsvātantryaśaktiṁ svāṁ sā śrīkālī parā kalā|
iti| Śrīsvacchande'pi
Sarvatattvāni bhūtāni varṇā mantrāśca ye smṛtāḥ|
Nityaṁ tasya vaśāste vai śivabhāvanayānayā||
iti||13||
Dessa forma (evam), ao alcançar (āsādanāt eva) o Sattva (sattva) que consiste em (ātmaka) Sphurattā --a cintilante e perfeita consciência do Eu-- (sphurattā), (no caso) desse (asya) Yogī (yoginaḥ)—
O estado (bhāvaḥ) no qual se é Independente e Livre (svatantra) (é) alcançado (siddhaḥ)||13||
Siddha (siddhaḥ) (quer dizer) "cumprido, atingido, alcançado" (sampannaḥ), (enquanto) svatantrabhāva (svatantra-bhāvaḥ) (significa) Liberdade (svātantryam) que subjuga o universo inteiro (aśeṣa-viśva-vaśīkāri) (e) cuja natureza (ātmakam) é Conhecimento (jñatva) (e) Atividade (kartṛtva) naturais (sahaja)|
Isso (yad) (foi) dito (uktam) pelo muito venerável Nāthapāda (śrīśrī-nāthapādaiḥ):
"Deveria-se recorrer (śrayet) ao seu próprio (svām) Poder (śaktim) de Liberdade Absoluta (svātantrya). Ela --esse Poder-- (sā) (é) a venerável Kālī (śrī-kālī), a Mais Alta (parā) Kalā --Śakti ou Poder-- (kalā... iti)1 "|
No venerável Svacchandatantra (śrīsvacchande), também (foi declarado) (api):
"Todos (sarva) os tattva-s ou princípios --as 36 categorias da manifestação universal-- (tattvāni), os seres vivos (bhūtāni), as letras (varṇāḥ) e (ca) os mantra-s (mantrāḥ) que (ye) são conhecidos (smṛtāḥ); (todos) eles (te) estão sempre sujeitos (nityam... vaśāḥ) a ele --ao Yogī-- (tasya), verdadeiramente (vai), por meio dessa contemplação (bhāvanayā anayā) de Śiva (śiva... iti)"|
(Ver VII, 245 no Svacchandatantra)
||13||
1 O termo Kalā é outro termo que qualquer tradutor sempre preferiria deixar sem traduzir. Por quê? Porque a quantidade de possíveis e "longos" significados é muito variada (Dê uma olhada em Guturais no glossário Trika para ter uma ideia). Além disso, existe uma série de significados adicionais derivados de raízes. Mas, por enquanto, a tradução "Śakti ou Poder" é mais que suficiente. O termo Parā significa "a Mais Alta" nesse caso, mas há outra possível tradução derivada de uma raíz também. Oh Deus, seja misericordioso conosco, meros mortais! Bem, continue lendo.
Aforismo 14
एष स्वतन्त्रभावोऽस्य—
यथा तत्र तथान्यत्र॥१४॥
यत्र देहे योगिनः स्वाभिव्यक्तिर्जाता तत्र यथा तथान्यत्र सर्वत्र सदावहितस्य सा भवति। यथोक्तं श्रीस्वच्छन्दे
स्वच्छन्दश्चैव स्वच्छन्दः स्वच्छन्दो विचरेत्सदा।
इति। श्रीस्पन्देऽपि
लभते तत्प्रयत्नेन परीक्ष्यं तत्त्वमादरात्।
यतः स्वतन्त्रता तस्य सर्वत्रेयमकृत्रिमा॥
इति॥१४॥
Eṣa svatantrabhāvo'sya—
Yathā tatra tathānyatra||14||
Yatra dehe yoginaḥ svābhivyaktirjātā tatra yathā tathānyatra sarvatra sadāvahitasya sā bhavati| Yathoktaṁ śrīsvacchande
Svacchandaścaiva svacchandaḥ svacchando vicaretsadā|
iti| Śrīspande'pi
Labhate tatprayatnena parīkṣyaṁ tattvamādarāt|
Yataḥ svatantratā tasya sarvatreyamakṛtrimā||
iti||14||
O seu (asya) estado (eṣaḥ... bhāvaḥ) de ser Independente e Livre (svatantra)1 —
Tal como (yathā) (é) ali (tatra), assim (tathā) (é) em outro lugar (anyatra), (isto é, "assim como esse Yogī independente pode exibir Liberdade em seu próprio corpo, também é capaz de fazer isso em qualquer lugar"; esse é o sentido)||14||
Assim como (yathā) o seu próprio (sva) (poder de) manifestação (abhivyaktiḥ) aparece (jātā) ali (tatra) —nesse corpo (yatra dehe) do Yogī (vāhinīnām)—, da mesma forma (tathā), esse (poder de manifestação) (apāna) do (Yogī) que está sempre atento (sadā-avahitasya) (também) ocorre (bhavati) em outro lugar (anyatra), (ou seja,) em todos os lugares (sarvatra)|
Como (yathā) (foi) dito (uktam) no venerável Svacchandatantra (śrī-svacchande):
"(O Senhor dos Yogī-s) vaga (vicaret) sempre (sadā) livre (svacchandaḥ ca eva svacchandaḥ svacchandaḥ), (seja no começo, no meio ou no fim)2 "||
(Ver VII, 260 no Svacchandatantra)
Nas Spandakārikā-s (spande), também (foi estabelecido) (api):
"Esse (tad) princípio (do Spanda) (tattvam) deveria ser inspecionado (parīkṣyam) com cuidado (prayatnena) (e) respeito (ādarāt), [pelo qual esse grupo de órgãos e instrumentos --intelecto, ego, mente, poderes de percepção e poderes de ação--, (ainda que) inconsciente, (procede) como (se fosse) consciente por si mesmo, (e,) junto com o grupo interno (de Karaṇeśvarī-s ou deusas dos sentidos)], ingressa (labhate) [nos estados de "Pravṛtti" --isto é, ir em direção às coisas externas--, "Sthiti" --manter essas mesmas coisas externas por um tempo-- (e) "Saṁhṛti" --dissolver essas coisas no próprio Ser--], já que (yatas) essa (iyam) Sua (tasya) natural (akṛtrimā) Liberdade (svatantratā) (existe) em todos os lugares (sarvatra... iti)3 "||
(Ver Spandakārikā-s I, 7)
||14||
1 Literalmente: Esse (eṣaḥ) seu --pertencente a ele-- (asya) estado (bhāvaḥ) de ser Independente e Livre (svatantra). Como isso fica estranho, optei por traduzir a frase de maneira mais legível.
2 Para entender por que traduzi dessa maneira, cito, agora, o comentário de Kṣemarāja no seu Svacchandoddyota: "नित्यमादिमध्यान्तकोटिष्वयं श्रीस्वच्छन्दभैरव एव स्फुरन् स्थितः - इति यावत्॥" - "Nityamādimadhyāntakoṭiṣvayaṁ śrīsvacchandabhairava eva sphuran sthitaḥ - iti yāvat||" - "Esse Sagrado e Livre Bhairava --o Ser Supremo-- continua a aparecer ou manifestar-se constantemente, ou seja, no início, no meio e at no fim. Essa é a explicação".
Em outras palavras, o Ser Supremo (Bhairava) continua a se manifestar no senhor dos Yogī-s, seja no começo, no meio ou no fim de tudo (passado, presente e futuro). Em suma, semelhante Yogī vaga constantemente em um estado de Liberdade.
3 Como a estrofe I, 7 está estreitamente ligada à anterior (I, 6), tive que incluir a anterior entre colchetes. Dê uma olhada nessas estrofes (I, 6-7) nas Spandakārikā-s para entender plenamente o que estou dizendo.
Aforismo 15
न चैवमप्युदासीनेनानेन भाव्यमपि तु—
बीजावधानम्॥१५॥
कर्तव्यमिति शेषः। बीजं विश्वकारणं स्फुरत्तात्मा परा शक्तिः। यदुक्तं श्रीमृत्युजिद्भट्टारके
सा योनिः सर्वदेवानां शक्तीनां चाप्यनेकधा।
अग्नीषोमात्मिका योनिस्तस्याः सर्वं प्रवर्तते॥
इत्यादि। तत्र परशक्त्यात्मनि बीज अवधानं भूयो भूयश्चित्तनिवेशनं कार्यम्॥१५॥
Na caivamapyudāsīnenānena bhāvyamapi tu—
Bījāvadhānam||15||
Kartavyamiti śeṣaḥ| Bījaṁ viśvakāraṇaṁ sphurattātmā parā śaktiḥ| Yaduktaṁ śrīmṛtyujidbhaṭṭārake
Sā yoniḥ sarvadevānāṁ śaktīnāṁ cāpyanekadhā|
Agnīṣomātmikā yonistasyāḥ sarvaṁ pravartate||
ityādi| Tatra paraśaktyātmani bīja avadhānaṁ bhūyo bhūyaścittaniveśanaṁ kāryam||15||
Mesmo assim --isto é, mesmo depois de ter obtido os previamente mencionados poderes sobrenaturais-- (evam api), esse (Yogī) não deveria tornar-se indiferente (na ca eva... udāsīnena anena bhāvyam), mas sim (api tu)—
(Esse Yogī deve conceder toda sua) atenção (avadhānam) à Semente, (em outras palavras, "à Mais Alta Śakti ou a perfeita consciência do Eu que é a fonte de toda a manifestação") (bīja)||15||
"Deve ser concedida ou prestada" (kartavyam), isso deve ser adicionado (ao aforismo para completar o sentido) (iti śeṣaḥ) --em outras palavras, "deve-se conceder ou prestar atenção à Semente"--|
A Semente (bījam) (é) a Mais Alta (parā) Śakti ou Poder (śaktiḥ) que é a causa (kāraṇam) do universo (viśva) (e) cuja natureza (ātmā) (consiste em) Sphurattā --a cintilante e perfeita consciência do Eu-- (sphurattā)|
Isso (yad) é declarado (uktam) no mais venerável Mṛtyujit --Netratantra-- (śrī-mṛtyujit-bhaṭṭārake):
"Ela --a Mais Alta Śakti-- (sā) (é), de diversas maneiras (anekadhā), a Fonte (yoniḥ) de todos os deuses (sarva-devānām) e (ca) também (api) das śakti-s ou poderes (śaktīnām). (Essa) Fonte (yoniḥ) tem o fogo e a lua como Sua natureza (agnī-soma-ātmikā)1 . Tudo (sarvam) se origina (pravartate) Dela --dessa Fonte-- (tasyāḥ), etc. (iti ādi)"||
(Ver VII, 40 no Netratantra)
(Deve-se conceder ou prestar) atenção (avadhānam) a essa (tatra) Semente (bīje) cuja essência (ātmani) (é) a Mais Alta (parā) Śakti ou Poder (śakti), (ou seja,) deve-se realizar (kāryam) concentração (citta-niveśanam) (nessa Semente) de novo e de novo (bhūyas bhūyas)||15||
1 Fogo e lua significam coisas diferentes segundo os contextos: por exemplo, conhecimento e atividade, etc.
Aforismo 16
एवं हि सत्यसौ योगी—
आसनस्थः सुखं ह्रदे निमज्जति॥१६॥
आस्यते नित्यमैकात्म्येन स्थीयत अस्मिनित्यासनं परं शाक्तं बलं यस्तत्र तिष्ठति परिहृतपरापरध्यानधारणादिसर्वक्रियाप्रयासो नित्यमन्तर्मुखतया तदेव परामृशति यः स सुखमनायासतया ह्रदे विश्वप्रवाहप्रसरहेतौ स्वच्छोच्छलत्तादियोगिनि परामृतसमुद्रे निमज्जति देहादिसङ्कोचसंस्कारब्रोडनेन तन्मयीभवति। यदुक्तं श्रीमृत्युजिद्भट्टारक एव
नोर्ध्वे ध्यानं प्रयुञ्जीत नाधस्तान्न च मध्यतः।
नाग्रतः पृष्ठतः किञ्चिन्न पार्श्वोरुभयोरपि॥
नान्तःशरीरसंस्थाने न बाह्ये भावयेत्क्वचित्।
नाकाशे बन्धयेल्लक्ष्यं नाधो दृष्टिं निवेशयेत्॥
न चाक्ष्णोर्मीलनं किञ्चिन्न किञ्चिद्दृष्टिबन्धनम्।
अवलम्बं निरालम्बं सालम्बं न च भावयेत्॥
नेन्द्रियाणि न भूतानि शब्दस्पर्शरसादि यत्।
सर्वं त्यक्त्वा समाधिस्थः केवलं तन्मयो भवेत्॥
सावस्था परमा प्रोक्ता परस्य परमात्मनः।
निराभासं पदं तत्तु तत्प्राप्य विनिवर्तते॥
इति॥१६॥
Evaṁ hi satyasau yogī—
Āsanasthaḥ sukhaṁ hrade nimajjati||16||
Āsyate nityamaikātmyena sthīyata asminityāsanaṁ paraṁ śāktaṁ balaṁ yastatra tiṣṭhati parihṛtaparāparadhyānadhāraṇādisarvakriyāprayāso nityamantarmukhatayā tadeva parāmṛśati yaḥ sa sukhamanāyāsatayā hrade viśvapravāhaprasarahetau svacchocchalattādiyogini parāmṛtasamudre nimajjati dehādisaṅkocasaṁskārabroḍanena tanmayībhavati| Yaduktaṁ śrīmṛtyujidbhaṭṭāraka eva
Nordhve dhyānaṁ prayuñjīta nādhastānna ca madhyataḥ|
Nāgrataḥ pṛṣṭhataḥ kiñcinna pārśvorubhayorapi||
Nāntaḥśarīrasaṁsthāne na bāhye bhāvayetkvacit|
Nākāśe bandhayellakṣyaṁ nādho dṛṣṭiṁ niveśayet||
Na cākṣṇormīlanaṁ kiñcinna kiñciddṛṣṭibandhanam|
Avalambaṁ nirālambaṁ sālambaṁ na ca bhāvayet||
Nendriyāṇi na bhūtāni śabdasparśarasādi yat|
Sarvaṁ tyaktvā samādhisthaḥ kevalaṁ tanmayo bhavet||
Sāvasthā paramā proktā parasya paramātmanaḥ|
Nirābhāsaṁ padaṁ tattu tatprāpya vinivartate||
iti||16||
Sendo (isso) (sati) assim (evam hi), esse (asau) Yogī (yogī)—
Estabelecido (sthaḥ) no poder da Suprema Śakti (ou a perfeita consciência do Eu, que é como um "assento" para ele) (āsana), (o Yogī iluminado) facilmente (sukham) mergulha (nimajjati) no Lago (da divina e imortal Consciência) (hrade)||16||
Āsana ou assento é (iti āsanam) (aquilo) sobre o qual ele --o Yogī-- se senta (āsyate), (isto é,) aquilo sobre o qual ele permanece (sthīyate asmin) constantemente (nityam) com (um sentimento de) unidade ou identidade (aikātmyena). (Aqui, Āsana ou assento significa) o poder (balam) da Suprema Śakti (param śāktam). Aquele (saḥ) que (yaḥ) permanece (tiṣṭhati) ali (tatra) (e) que (yaḥ) sempre (nityam) se apodera mentalmente (parāmṛśati) dessa mesma (Realidade) --do poder da Suprema Śakti-- (tad eva), de maneira introspectiva (antar-mukhatayā), depois de abandonar (parihṛta) todos (sarva) os esforços (prayāsaḥ) (que envolvam) atividade (kriyā) (tais como) superior --que tange a Śāktopāya-- (para) (e) inferior --que tange a Āṇavopāya-- (apara) meditação (dhyāna), concentração (dhāraṇā), etc. (ādi), facilmente (sukham) —sem fazer nenhum esforço (anāyāsatayā)— mergulha (nimajjati) no Lago (hrade) —torna-se (bhavati) idêntico (mayī) a esse (Lago) (tad) fundindo (broḍanena) as impressões residuais (saṁskāra) da contração (saṅkoca) (na forma de) corpo (deha), etc. (ādi)—. (Em outras palavras, ele mergulha) no supremo oceano da imortalidade (para-amṛta-samudre), que possui (a característica) (yogini) de ser transparente (svaccha), subir (ucchalattā), etc. (ādi), (e) que é a causa (hetau) da expansão (prasara) do contínuo fluxo universal (viśva-pravāha)|
Isso (yad) (foi) dito (uktam) no mais venerável Mṛtyujit --Netratantra-- (śrī-mṛtyujit-bhaṭṭārake eva):
"A meditação (dhyānam) (não) deveria ser direcionada (prayuñjīta) nem (na) para cima (ūrdhve), nem (na) para baixo (adhastāt), nem (na ca) para o meio (madhyataḥ), nem (na) para a frente (agratas) (ou) para trás (pṛṣṭhatas), nem (na) sequer (api) para algo (kiñcid) (localizado) nos dois lados (pārśvoḥ ubhayoḥ)1 .
Não (na) se deveria contemplar (nem) (bhāvayet) algo (kvacid) que resida (saṁsthāne) dentro (antar) do corpo (śarīra), nem (na) (algo) fora (bāhye). (Não) se deveria fixar o olhar (bandhayet lakṣyam) nem (na) no céu (ākāśe), (e) nem (na) se deveria direcionar (niveśayet) a vista (dṛṣṭi) a (algo) localizado abaixo (adhas)2 .
Nenhum (na kiñcid) fechamento (mīlanam) dos (próprios) olhos (cākṣṇoḥ) (e absolutamente) nenhum (na kiñcid) ato de fixar (bandhanam) o (próprio) olhar (dṛṣṭi) --o que envolve manter os olhos bem abertos sem pestanejar--; não (na ca) se deveria contemplar (bhāvayet) algo (nem) como suporte (avalambam), (nem) uma negação de suporte (nirālamba), (nem) um suporte de novo e de novo (sālambam)3 .
(Não se deveriam contemplar) nem (na) os Indriya-s --Poderes de percepção e ação, tattva-s 17 a 26-- (indriyāṇi), nem (na) on Mahābhūta-s --Elementos brutos, tattva-s 32 a 36-- (bhūtāni), (nem) o que (yad) (é composto de) Som como tal (śabda), Toque como tal (sparśa), Sabor como tal (rasa), etc. (ādi) --os cinco Tanmātra-s ou Elementos sutis, tattva-s 27 a 31--. Após abandonar (tyaktvā) tudo (isso) (sarvam), estabelecido (sthaḥ) em Samādhi (samādhi), (o Yogī) deveria identificar-se unicamente (kevalam... mayaḥ bhavet) com Isso --com a Mais Alta Realidade-- (tad)4 .
Diz-se que isso é (sā... proktā) o Estado (avasthā) Supremo (paramā) do Mais Alto (parasya), (isto é,) do Ser Supremo (parama-ātmanaḥ). Essa (tad) Condição (padam) (é) desprovida de manifestações (externas) (nis-ābhāsam) --isto é, nada aparece ou se manifesta nesse Estado--. Tendo-o alcançado (tad-prāpya) --isto é, tendo alcançado esse Estado--, (o Yogī) para (de transmigrar) (vinivartate... iti)5 "||
(Ver VIII, 41-45 no Netratantra)
||16||
1 O sábio Kṣemarāja comenta sobre todas essas estrofes do Netratantra detalhadamente no seu Netroddyota (seu comentário erudito sobre o Netratantra), mas o assunto é tão extenso e complexo que não posso apresentá-lo "completamente em sânscrito" através de meras notas explicativas aqui (por exemplo, para explicar uma estrofe dessa série de cinco estrofes, ele cita várias estrofes do Vijñānabhairavatantra, cada uma das quais necessitaria de uma explicação "especial" por minha parte, além da tradução). Para uma explicação mais detalhada sobre esse tipo de tema complexo/longo, consulte sempre a seção "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika. De qualquer forma, nessa primeira estrofe (41), o sábio especifica clara e brevemente o seguinte: "ऊर्ध्वे द्वादशान्तेऽधः कन्दादौ मध्ये हृदादावग्रतः पृष्ठतः पार्श्वयोस्तत्पुरुषसद्योजातादिरूपम्।" - "Ūrdhve dvādaśānte'dhaḥ kandādau madhye hṛdādāvagrataḥ pṛṣṭhataḥ pārśvayostatpuruṣasadyojātādirūpam|" - "Para cima —em direção ao (ūrdhva)dvādaśānta (ou ponto no final de 12 dedos a partir do espaço entre as sobrancelhas até Brahmarandhra, em cima da cabeça)—; para baixo —em direção ao Kanda --a fonte em forma de ovo de todos os canais no corpo sutil--, etc.—; para o meio —em direção ao coração, etc.—, para a frente, para trás, para (algo situado) nos dois lados —em direção àquilo cuja forma é Tatpuruṣa, Sadyojāta, etc. --de forma resumida, Tatpuruṣa, Sadyojāta, Vāmadeva and Aghora--—".
Leia o glossário Trika para aprender mais sobre dvādaśānta e Kanda. Lá, estão os cinco aspectos ou cabeças de Śiva: (1) Tatpuruṣa (em direção ao leste --para a frente-- e simbolizando Śakti, o segundo tattva ou categoria), (2) Sadyojāta (em direção ao oeste --para trás-- e simbolizando Sadāśiva, o terceiro tattva ou categoria), (3) Vāmadeva (em direção ao norte --para a esquerda-- e simbolizando Īśvara, o quarto tattva ou categoria), (4) Aghora (em direção ao sul --para a direita-- e simbolizando Sadvidyā, o quinto tattva ou categoria) —esses primeiros quarto aspectos ou cabeças foram mencionadas acima por Kṣemarāja com relação à meditação direcionada para frente, para trás e para algo localizado nos dois lados (esquerda e direita)—, e, finamente, (5) Īśāna (orientado para cima e simbolizando Śiva, o primeiro tattva ou categoria). Esse assunto é muito mais complexo e massivo, certamente... apenas raspei a superfície. Portanto, simplesmente confie em mim, por favor.
2 Essa é a estrofe VIII, 42 no Netratantra. O grande Kṣemarāja cita a 28a estrofe do Vijñānabhairavatantra para explicar a contemplação de algo que reside dentro do corpo. Essa estrofe specifica meditação em Kuṇḍalinī surgindo a partir do Mūlādhāra (o cakra localizado na raiz da coluna vertebral) e subindo até Brahmarandhra, em cima da cabeça. Em seguida, ele cita a estrofe 122 do mesmo livro para explicar a contemplação de algo situado fora. Essa estrofe versa sobre a obtenção da vacuidade a partir da concentração em um determinado objeto. Finalmente, para explicar a concentração no céu e em algo localizado abaixo, cita as estrofes 76 e 115 do Vijñānabhairavatantra, respectivamente. A primeira versa sobre meramente fixar o próprio olhar em uma porção do céu, enquanto a segunda explica como fixar os olhos em um espaço dentro de um poço muito profundo de modo que se possa alcançar dissolução da mente.
3 Essa é a estrofe VIII, 43 no Netratantra. Kṣemarāja cita a estrofe 88 do Vijñānabhairavatantra para descrever o fechamento dos olhos. Essa estrofe versa sobre a contemplação da terrível forma de Bhairava (o Senhor Śiva), onde primeiramente fecham-se os olhos e contempla-se a terrível escuridão diante de si, etc. Posteriormente, o sábio usa a estrofe 60 da mesma escritura para dar um exemplo do ato de fixar o olhar. Essa estrofe recomenda lançar o olhar em direção a uma região na qual não haja árvores, em direção a uma montanha, uma parede, etc., para fazer com que as flutuações mentais parem de funcionar.
Em seguida, para explicar o profundo significado da palavra "avalamba", ele diz: "अवलम्ब्यत इति अवलम्बो ध्येय आकारस्" - "avalambyata iti avalambo dhyeya ākāras" - "Avalamba ou suporte é uma forma (que se usa) como objeto de meditação (para que a atenção) se prenda contra ela". O sábio cita a estrofe 62 do Vijñānabhairavatantra para exemplificar isso. Essa estrofe descreve a concentração mental no intervalo entre dois bhāva-s ou objetos que surgem na própria mente. Quando o primeiro bhāva aparece, o meditador se prende a ele e nunca permite que o segundo se manifeste. Nesse sentido, o primeiro é denominado "positivo", enquanto o segundo é designado como "negativo". Enquanto o meditador continuar a fixar firmemente a sua atenção sobre o primeiro bhāva, desliza em direção ao intervalo entre os dois bhāva-s (um que surgiu e outro que nunca surgiu... sim, parece loucura, mas estou dizendo a verdade).
E o sábio explica "nirālamba" citando a 61a estrofe, que descreve a concentração no intervalo entre dois bhāva-s ou objetos. Ambos os bhāva-s são positivos, isto é, é permitido que surjam, mas, ao mesmo tempo, eles são "negados/rejeitados", no sentido de que a atenção está no intervalo entre os dois. É por isso que isso é denominado nirālamba ou negação do suporte (ālamba).
Por último, Kṣemarāja explica "sālamba" desta maneira: "सहालम्बेन वर्तते सालम्बं साकारं ज्ञानम्" - "sahālambena vartate sālambaṁ sākāraṁ jñānam" - "sālamba (é) um conhecimento ou percepção baseado em formas que (consequentemente) ocorre utilizando algo como suporte". Depois disso, ele cita a 98a estrofe do Vijñānabhairavatantra, que descreve a concentração em um bhāva que aparece como desejo ou conhecimento na mente. Esse bhāva é positivo, já que é permitido que ele surja. Depois, se uma pessoa fixar o seu olhar nisso considerando-o como o seu próprio Ser que se manifesta desse modo, ela tem uma visão desse mesmo Ser. De qualquer forma, o suporte ou ālamba desaparece constantemente e deve-se trazê-lo de volta de novo e de novo para continuar a concentração. É por isso que traduzi da maneira como fiz acima, isto é, "... um suporte de novo e de novo". Essa é a diferença entre "avalamba" e "sālamba", enquanto, no primeiro, a concentração está firme em um bhāva ou objeto que surgiu na mente (não permitindo de forma alguma que o segundo bhāva surja), no último, o bhāva se perde constantemente e deve-se recuperá-lo para prosseguir. Obviamente, o método sālamba é o que a maioria das pessoas usa quando se senta para meditar. Chega disso por enquanto.
4 Preciso traduzir o comentário de Kṣemarāja sobre o significado de Samādhi nesse contexto:
"... समाधिस्थ इत्यकिञ्चिच्चिन्तकत्वेन स्वस्वरूपविमर्शनप्रवणस्तन्मय इत्यानन्दपदसंलीनसमरसज्ञानमयः॥४४॥" - "... samādhistha ityakiñciccintakatvena svasvarūpavimarśanapravaṇastanmaya ityānandapadasaṁlīnasamarasajñānamayaḥ||44||" - "'... Estabelecido em Samādhi', (ou seja,) consagrado à consciência de sua própria natureza essencial (e, consequentemente,) identificado com Isso sem pensar em nada. (Em outras palavras,) repleto de Conhecimento homogêno que está estreitamente conectado com o estado de Ānanda ou (divina) Bem-aventurança||44||".
Tive que esclarecer isso muito bem para que o leitor não considere Samādhi aqui da mesma forma como definiu Patañjali em seus Yogasūtra-s (Ver definição de Samādhi --Concentração Perfeita-- em Yogasūtra-s III, 3).
5 Kṣemarāja comenta brevemente sobre VIII, 45 em seu Netroddyota:
"सांसारिकीं स्थितिमुज्झति॥४५॥" - "Sāṁsārikīṁ sthitimujjhati||45||" - "Abandona-se o estado transmigratório||45||".
Aforismo 17
तदेवं नाडीसंहाराद्याणवोपायक्रमासादितमोहजयोन्मज्जच्छुद्धविद्यात्मकशाक्तबलासादनप्रकर्षादात्मीकृतपरामृतह्रदात्मकशाम्भवपदो योगी—
स्वमात्रानिर्माणमापादयति॥१७॥
स्वस्य चैतन्यस्य सम्बन्धिनी मात्रा चिद्रसाश्यानतात्मांशस्तद्रूपं यथेष्टवेद्यवेदकावभासात्मकं निर्माणमापादयति निर्मितत्वेन दर्शयति। यदुक्तं श्रीस्वच्छन्दे
तदेव भवति स्थूलं स्थूलोपाधिवशात्प्रिये।
स्थूलसूक्ष्मविभेदेन तदेकं संव्यवस्थितम्॥
इति। प्रत्यभिज्ञायामपि
आत्मानमत एवायं ज्ञेयीकुर्यात्पृथक्स्थिति।
ज्ञेयं न तु...॥
इति। आगमेऽपि
जलं हिमं च यो वेद गुरुवक्त्रागमात्प्रिये।
नास्त्येव तस्य कर्तव्यं तस्यापश्चिमजन्मता॥
इत्यनेनैवाशयेनोक्तम्। एतदेव
इति वा यस्य संवित्तिः क्रीडात्वेनाखिलं जगत्।
स पश्यन्सततं युक्तो जीवन्मुक्तो न संशयः॥
इत्यनेन स्पन्दे प्रतिपादितम्॥१७॥
Tadevaṁ nāḍīsaṁhārādyāṇavopāyakramāsāditamohajayonmajjacchuddhavidyātmakaśāktabalāsādanaprakarṣādātmīkṛtaparāmṛtahradātmakaśāmbhavapado yogī—
Svamātrānirmāṇamāpādayati||17||
Svasya caitanyasya sambandhinī mātrā cidrasāśyānatātmāṁśastadrūpaṁ yatheṣṭavedyavedakāvabhāsātmakaṁ nirmāṇamāpādayati nirmitatvena darśayati| Yaduktaṁ śrīsvacchande
Tadeva bhavati sthūlaṁ sthūlopādhivaśātpriye|
Sthūlasūkṣmavibhedena tadekaṁ saṁvyavasthitam||
iti| Pratyabhijñāyāmapi
Ātmānamata evāyaṁ jñeyīkuryātpṛthaksthiti|
Jñeyaṁ na tu...||
iti| Āgame'pi
Jalaṁ himaṁ ca yo veda guruvaktrāgamātpriye|
Nāstyeva tasya kartavyaṁ tasyāpaścimajanmatā||
ityanenaivāśayenoktam| Etadeva
Iti vā yasya saṁvittiḥ krīḍātvenākhilaṁ jagat|
Sa paśyansatataṁ yukto jīvanmukto na saṁśayaḥ||
ityanena spande pratipāditam||17||
(Sendo) isso (tad) assim (evam), através da preeminência e excelência (prakarṣāt) alcançadas (āsādana) pelo poder (bala) da Śakti (śākta) que consiste em (ātmaka) Śuddhavidyā --Conhecimento Puro1 -- (śuddha-vidyā), que surge (unmajjat) a partir da conquista (jaya) de Moha ou Ilusão --Māyā-- (moha), que é obtida (āsādita) por meio de uma sucessão (krama) de métodos (upāya) āṇava --que tangem a Āṇavopāya-- (āṇava) (tais como) dissolução (da energia vital) (saṁhāra) nos canais sutis (nāḍī), etc. (ādi) --Ver III, 5--, o Yogī (yogī) se apodera do estado (ātmī-kṛta... padaḥ) de Śiva (śāmbhava), que (não) é (nada mais que) (ātmaka) o Lago (hrada) da suprema (para) imortalidade (amṛta)—
(Esse mesmo Yogī libertado pode) produzir (nirmāṇam āpādayati) (qualquer tipo de forma de acordo com) a medida ou aspecto da Consciência criativa, (que é seu "āsana" ou "assento" --ver aforismo 16--) (svamātrā)||17||
(O termo svamātrā significa) a medida (mātrā) relativa à (sambandhinī) sua própria (svasya) Consciência (criativa) (caitanyasya), (em suma,) à porção (aṁśaḥ) cuja natureza é (ātmā) uma coagulação (āśyānatā) da essência (rasa) da Consciência (cit)2 . Segundo a medida dessa (Consciência criativa) (tad-rūpam), (o Yogī libertado) efetua (āpādayati) a produção (nirmāṇam) que consiste (ātmakam) na manifestação (avabhāsa) de conhecedores --seres-- (vedaka) (e) cognoscíveis --objetos-- (vedya) conforme (yathā) ele desejar --lit. desejado-- (iṣṭa). (Em outras palavras,) ele mostra (todas essas coisas) (darśayati) manifestando(-as) (nirmitatvena)|
Isso (yad) é estabelecido (uktam) no venerável Svacchandatantra (śrī-svacchande):
"Oh querida (priye)!, somente (eva) Isso (tad)3 existe (bhavati) como o que é bruto (sthūlam), devido ao (Seu) desejo (vaśāt) de aparecer (upādhi) como o que é bruto (sthūla). Somente (ekam) Isso (tad) aparece como (saṁvyavasthitam) as variedades ou divisões (vibhedena) de bruto (sthūla) (e) sutil (sūkṣma... iti)"||
(Ver IV, 295 no Svacchandatantra)
Na Īśvarapratyabhijñā (pratyabhijñāyām), (declarou-se) também (api):
"Por causa dessa mesma (Vimarśaśakti --lit. o poder da consciência manifestadora--) (atas eva), Ele (ayam) faz com que Ele mesmo se torne o jñeya ou cognoscível --o objeto-- (ātmānam... jñeyī-kuryāt). O cognoscível (jñeyam) não (na tu) tem uma existência separada (pṛthak-sthiti... iti). [Se (Ele) dependesse --lit. estando orientado em direção a-- desse (cognoscível), a Sua Liberdade Absoluta seria quebrada]4 "|
(Ver I, 5, 15 na Īśvarapratyabhijñā)
Também (api) no Āgama --escritura revelada-- (āgame), foi dito (o seguinte) (uktam) com essa mesma intenção (anena eva āśayena):
"Oh querida (priye)!, aquele que (yaḥ) conhece (veda), por meio do que provém (āgamāt) da boca (vaktra) do (seu) preceptor espiritual (guru), que água (jalam) e (ca) gelo (himam) (são a mesma coisa, está plenamente libertado). Para ele (tasya), não há nada mais a ser feito (na asti eva... kartavyam). O estado de ter um último nascimento (apaścima-janmatā) lhe pertence (tasya) --isto é, ele não terá nenhum nascimento posterior, pois, tendo atingido a meta da existência, ele não necessita mais de Saṁsāra ou Transmigração--"||
Esse mesmo (ensinamento) (etad) foi explicado (pratipāditam) nas Spandakārikā-s (spande) por meio deste (aforismo) (anena):
"Ou (iti vā) aquele (saḥ) que tem esse (yasya) conhecimento ou compreensão (saṁvittiḥ) (e) está constantemente (satatam) unido (com o Ser Supremo) (yuktaḥ) vê (paśyan) o mundo (jagat) inteiro (akhilam) como um jogo (divino) (krīḍātvena). Ele está libertado em vida (jīvanmuktaḥ), (sobre isso) não há nenhuma (na) dúvida (saṁśayaḥ... iti)"||
(Ver Spandakārikā-s II, 5)
||17||
1 Esse não é, de maneira alguma, o quinto tattva ou categoria da manifestação universal (também conhecido como Sadvidyā). Conhecimento Puro nesse contexto não é nada mais que uma expansão do conhecimento limitado. Leia II, 10 da atual escritura para compreender isso plenamente.
2 A criação em Trika não é como a obra de um artesão, ou seja, como algo criado por alguém que utilizou ferramentas externas e finalmente produziu algo que é distinto dele mesmo. NÃO. É apenas a Consciência ou Caitanya que se torna tudo e todos constantemente, isto é, Ela coagula, toma a forma dessas coisas e seres sem recorrer a nada mais que a Sua própria essência. É por isso que o termo "manifestação" é mais apropriado ou correto que "criação" em um contexto de Trika.
3 Em seu Svacchandoddyota, Kṣemarāja descreve "Isso" como "महाप्रकाशात्मा श्रीस्वतन्त्रनाथः" - "Mahāprakāśātmā śrīsvatantranāthaḥ" - "O venerável e livre Senhor cuja natureza é a Grande Luz". Resumindo, Ele não é outro que Caitanya ou Consciência em Liberdade absoluta.
4 Tive que traduzir estrofe inteira para mostrar o significado completo. A parte restante, que foi omitida e marcada com três pontos, é: "तदौन्म्य्ख्यात्खण्ड्येतास्य स्वतन्त्रता॥१५॥" - "tadaunmykhyātkhaṇḍyetāsya svatantratā||15||". Sua tradução aparece entre colchetes no mesmo texto acima. Adicionalmente, agreguei o termo "Vimarśaśakti" à minha tradução. Por quê? Porque antes que o eminente sábio Abhinavagupta (guru de Kṣemarāja) comentasse sobre essa estrofe (na verdade, ele comentou sobre as estrofes 15 e 16 ao mesmo tempo) em seu Īśvarapratyabhijñāvimarśinī (o grande comentário erudito sobre a Īśvarapratyabhijñā de Utpaladeva), ele levantou uma objeção na qual aparece o termo Vimarśaśakti. Em seguida, as estrofes 15 e 16 dissipam essa dúvida levantada por ele, obviamente. Esses autores (Abhinavagupta, Kṣemarāja, etc.) geralmente usam o método de levantar objeções para tornar os seus comentários mais interessantes e didáticos (didático para eruditos de sânscrito, obviamente, haha!). Muito bem, agora tudo está claro. Apenas confie em mim sempre, leitor, porque, em geral, estou lendo muitas escrituras "insanamente longas" simultaneamente enquanto traduzo a atual. Às vezes não posso explicar tudo em detalhes, como você sabe, ou ou essa tradução viraria uma enciclopédia inteira.
Aforismo 18
न चैवं स्वशक्तिनिर्मितभूतभावशरीरवतोऽस्य जन्मादिबन्धः कश्चिदित्याह—
विद्याविनाशे जन्मविनाशः॥१८॥
प्रोक्तायाः सहजविद्याया अविनाशे सततोन्मग्नतया स्फुरणे जन्मनोऽज्ञानसहकारिकर्महेतुकस्य दुःखमयस्य देहेन्द्रियादिसमुदायस्य नाशो विध्वंसः सम्पन्न एव। यदुक्तं श्रीकण्ठ्याम्
सप्रपञ्चं परित्यज्य हेयोपादेयलक्षणम्।
तृणादिकं तथा पर्णं पाषाणं सचराचरम्॥
शिवाद्यवनिपर्यन्तं भावाभावोपबृंहितम्।
सर्वं शिवमयं ध्यात्वा भूयो जन्म न प्राप्नुयात्॥
इति। श्रीस्वच्छन्दे
सुनिर्वाणं परं शुद्धं गुरुपारम्परागतम्।
तद्विदित्वा विमुच्येत गत्वा भूयो न जायते॥
इति। श्रीमृत्युजित्यपि
तत्त्वत्रयविनिर्मुक्तं शाश्वतं त्वचलं ध्रुवम्।
दिव्येन योगमार्गेण दृष्ट्वा भूयो न जायते॥
इति॥१८॥
Na caivaṁ svaśaktinirmitabhūtabhāvaśarīravato'sya janmādibandhaḥ kaścidityāha—
Vidyāvināśe janmavināśaḥ||18||
Proktāyāḥ sahajavidyāyā avināśe satatonmagnatayā sphuraṇe janmano'jñānasahakārikarmahetukasya duḥkhamayasya dehendriyādisamudāyasya nāśo vidhvaṁsaḥ sampanna eva| Yaduktaṁ śrīkaṇṭhyām
Saprapañcaṁ parityajya heyopādeyalakṣaṇam|
Tṛṇādikaṁ tathā parṇaṁ pāṣāṇaṁ sacarācaram||
Śivādyavaniparyantaṁ bhāvābhāvopabṛṁhitam|
Sarvaṁ śivamayaṁ dhyātvā bhūyo janma na prāpnuyāt||
iti| Śrīsvacchande
Sunirvāṇaṁ paraṁ śuddhaṁ gurupāramparāgatam|
Tadviditvā vimucyeta gatvā bhūyo na jāyate||
iti| Śrīmṛtyujityapi
Tattvatrayavinirmuktaṁ śāśvataṁ tvacalaṁ dhruvam|
Divyena yogamārgeṇa dṛṣṭvā bhūyo na jāyate||
iti||18||
Dessa forma (evam), não há nenhuma (na ca... kaścid) escravidão (bandhaḥ) (na forma) de nascimento (janma), etc. (ādi), para aquele que adquiriu um corpo (śarīravataḥ) criado (nirmita) a partir de sua própria (sva) Śakti ou Poder (śakti), o qual --corpo-- consiste em bhūta-s --Mahābhūta-s ou Elements brutos (tattva-s 32 a 36)-- (bhūta) (e) bhāva-s --Tanmātra-s ou Elementos sutis (tattva-s 27 a 31), emoções, etc.-- (bhāva). (O autor dos Śivasūtra-s, Śiva,) disse assim (iti āha)—
Enquanto Sahajavidyā ou Śuddhavidyā, (o Conhecimento Natural ou Puro) (vidyā) não desaparecer (avināśe), (a possibilidade de outro) nascimento (janma) desaparece (para esse sublime Yogī) (vināśaḥ)||18||
Enquanto não houver desaparecimento (avināśe) do previamente citado (proktāyāḥ) Conhecimento Natural (sahajavidyāyāḥ), (ou seja,) enquanto (o mesmo) continuar a ser manifestado (sphuraṇe) como uma constante realidade emergente (unmagnatayā), cumpre-se (sampannaḥ), certamente (eva), o desaparecimento (nāśaḥ) (ou) cessação (vidhvaṁsaḥ) de (outro) nascimento (janmanaḥ) que consiste da multidão (samudāyasya) de corpo (deha), sentidos (indriya), etc. (ādi), cheio (mayasya) de dor (duḥkha) (e) causado (hetukasya) pelas (próprias) ações (karma) com a cooperação (sahakāri) da Ignorãncia (ou Māyā e sua progênie) (ajñāna)1 |
Isso (yad) é estabelecido (uktam) no venerável Kaṇṭhī (śrī-kaṇṭhyām):
"Tendo deixado (parityajya) (o mundo) com (seus) fenômenos (sa-prapañcam) que aparecem como (lakṣaṇam) o que é aceitável (upādeya) (ou) rejeitável (heya), e também (tathā) (como) uma folha de grama (tṛṇa) e coisas similares (ādikam), uma folha (parṇam), uma pedra (pāṣāṇam), junto com (sa) os seres móveis e imóveis (cara-acaram), que começam com (ādi) Śiva --tattva ou categoria 1-- (śiva) (e) terminam (paryantam) com a terra --tattva ou categoria 36-- (avani), acompanhados (upabṛṁhitam) pelas entidades positivas e negativas (bhāva-abhāva); (e), após meditar (dhyātvā) em tudo (sarvam) como sendo idêntico com (mayam) Śiva (śiva), (o meditador) não obtém (na prāpnuyāt) um nascimento (janma) outra vez (bhūyas... iti)"||
(E), no venerável Svacchandatantra (śrī-svacchande):
"A excelente (su) emancipação (nirvāṇam) proveniente de (āgatam) uma tradição (pārampara) de preceptores espirituais (guru) (é) altamente (param) pura (śuddham). Tendo conhecido essa (emancipação) --tendo-a experimentado-- (tad-viditvā), (o Yogī) liberta-se (em vida) (vimucyeta)2 , (e,) após a morte (gatvā), não nasce (na jāyate) novamente (bhūyas... iti)3 "|
(Ver IV, 240-241 no Svacchandatantra)
Também (foi dito) (api) no venerável Mṛtyujit --Netratantra-- (śrī-mṛtyujiti):
"Tendo visto (dṛṣṭvā), por meio do divino (divyena) caminho (mārgeṇa) do Yoga (yoga), o que está livre (vinirmuktam) dos três tattva-s ou princípios (tattva-traya), o que é certamente eterno (śāśvatam tu), imutável (acalam) (e) permanente (dhruvam), não se nasce (na jāyate) de novo (bhūyas... iti)4 "||
(Ver VIII, 26-27 no Netratantra)
||18||
1 Enquanto o Conhecimento Natural ou Puro continua a ser manifestado como uma constante realidade emergente, haverá cessação de outro nascimento para um tão grande Yogī. O nascimento consiste de uma multidão (grande quantidade) de coisas (por exemplo, corpo, sentidos, etc.), está cheio de dor e ocorre pela lei do Karma (isto é, é produzido pelas próprias ações). Também recebe a cooperação ou assistência da Ignorância na forma de Māyīyamala (impureza máyica que gera diferença e separação) e Kārmamala (impureza que gera confusão com relação à natureza do verdadeiro Fazedor). Veja Trika 4 para mais informação sobre esses dois mala-s ou impurezas. Finalmente, como os corpos manifestados pelo Yogī libertado surgem a partir da sua própria Icchāśakti e não através da lei do Karma, o renascimento não é possível de maneira alguma para esse sublime Yogī, pois todas as ações realizadas por esses corpos não são kármicas e, por conseguinte, não produzirão outro nascimento para ele.
2 O sábio Kṣemarāja comentou, em seu Svacchandoddyota: "विमुच्यत इति जीवन्नेव विमुक्तः स्यात्" - "vimucyata iti jīvanneva vimuktaḥ syāt" - "'vimucyate' (significa) que (o Yogī) liberta-se em vida". É por isso que adicionei "em vida" na minha tradução, embora "vimucyate" signifique simplesmente "liberta-se".
3 Kṣemarāja explica essa última porção da estrofe em seu comentário sobre o Svacchandatantra: "गत्वेति देहान्ते तदैकात्म्यमेति॥" - "gatveti dehānte tadaikātmyameti||" - "'gatvā' (significa) 'ao final do corpo' --quando chega a morte--; (nese momento,) alcança-se unidade com Isso --com a Mais Alta Realidade, e, consequentemente, não nasce outra vez--". Segundo o Trika e a maioria dos sistemas filosóficos da Índia, um indivíduo nasce como ser humano unicamente para obter Emancipação. Cada sistema, obviamente, postula a Emancipação de maneira distinta. Em Trika, a Libertação final é o mesmo que alcançar unidade com a Mais Alta Realidade. É por isso que outro nascimento não é necessário no caso de uma alma libertada.
4 O sábio Kṣemarāja comenta, em seu Netroddyota, vários pontos sobre certos termos e expressões conflitantes nessa estrofe do Netratantra: (1) "दृष्ट्वा साक्षात्कृत्य" - "dṛṣṭvā sākṣātkṛtya" - "Após haver visto, (ou seja,) após ter percebido"; (2) "दिव्येन योगमार्गेण विकल्पहानोन्मिषदविकल्पविमर्शावष्टम्भोपायेन" - "divyena yogamārgeṇa vikalpahānonmiṣadavikalpavimarśāvaṣṭambhopāyena" - "pelo divino caminho do Yoga, (ou seja,) por meio do método baseado em avikalpavimarśa ou 'consciência desprovida de pensamentos' que brota com a cessação dos pensamentos"; (3) "तत्त्वत्रयं नरशक्तिशिवाख्यम्।" - "Tattvatrayaṁ naraśaktiśivākhyam|" - "Os três tattva-s ou princípios são conhecidos como nara (homem), Śakti e Śiva"; inclusive os dois últimos são manifestações Disso (Paramaśiva), que é livre dessa tripla divisão, em suma, Isso não é nem sequer um Senhor e Seu Poder, muito menos um (um assunto misterioso que não posso explicar em profundidade aqui); (4) "अचलमपरिणामि" - "acalamapariṇāmi" - "acala, (ou seja,) imutável"; e, finalmente, (5) "ध्रुवं नित्यम्" - "dhruvaṁ nityam" - "dhruva, (ou seja,) permanente".
Aforismo 19
यदा तु शुद्धविद्यास्वरूपमस्य निमज्जति तदा—
कवर्गादिषु माहेश्वर्याद्याः पशुमातरः॥१९॥
अधिष्ठात्र्यो भवन्तीति शेषः।
या सा शक्तिर्जगद्धातुः कथिता समवायिनी।
इच्छात्वं तस्य सा देवि सिसृक्षोः प्रतिपद्यते।
सैकापि सत्यनेकत्वं यथा गच्छति तच्छृणु॥
एवमेतदिति ज्ञेयं नान्यथेति सुनिश्चितम्।
ज्ञापयन्ती जगत्यत्र ज्ञानशक्तिर्निगद्यते॥
एवम्भूतमिदं वस्तु भवत्विति यदा पुनः।
जाता तदैव तत्तद्वत्कुर्वत्यत्र क्रियोच्यते॥
एवं सैषा द्विरूपापि पुनर्भेदैरनन्तताम्।
अर्थोपाधिवशात्प्राप्ता चिन्तामणिरिवेश्वरी॥
तत्र तावत्समापन्नमातृभावा विभिद्यते।
द्विधा च नवधा चैव पञ्चाशद्धा च मालिनी॥
बीजयोन्यात्मकाद्भेदाद्द्विधा बीजं स्वरा मताः।
कादिभिश्च स्मृता योनिर्नवधा वर्गभेदतः॥
बीजमत्र शिवः शक्तिर्योनिरित्यभिधीयते।
वर्गाष्टकविभेदेन माहेश्वर्यादि चाष्टकम्॥
प्रतिवर्णविभेदेन शतार्धकिरणोज्ज्वला।
रुद्राणां वाचकत्वेन तत्सङ्ख्यानां निवेशिता॥
इति श्रीमालिनीविजयनिरूपितनीत्या पारमेश्वरी परावाक् प्रसरन्तीच्छाज्ञानक्रियारूपतां श्रित्वा बीजयोनिवर्गवर्ग्यादिरूपा शिवशक्तिमाहेश्वर्यादिवाचकादिक्षान्तरूपां मातृकात्मतां श्रित्वा सर्वप्रमातृष्वविकल्पकसविकल्पकतत्तत्संवेदनदशास्वन्तःपरामर्शात्मना स्थूलसूक्ष्मशब्दानुवेधनं विदधाना वर्गवर्ग्यादिदेवताधिष्ठानादिद्वारेण स्मयहर्षभयरागद्वेषादिप्रपञ्चं प्रपञ्चयन्त्यसङ्कुचितस्वतन्त्रचिद्घनस्वस्वरूपमावृण्वाना सङ्कुचितपरतन्त्रदेहादिमयत्वमापादयति। तदुक्तं श्रीतिमिरोद्घाटेऽपि
करन्ध्रचितिमध्यस्था ब्रह्मपाशावलम्बिकाः।
पीठेश्वर्यो महाघोरा मोहयन्त्यो मुहुर्मुहुः॥
इति पूर्वमपि संवादितम्। ज्ञानाधिष्ठानं मातृका (१-४) इति सामान्येनोक्तमिदं तु प्राप्ततत्त्वोऽपि प्रमाद्यन् माहेश्यादिभिः पशुजनाधिष्ठातृभूताभिरपि शब्दानुवेधद्वारेण मोह्यत इत्याशयेनेति विशेषः॥१९॥
Yadā tu śuddhavidyāsvarūpamasya nimajjati tadā—
Kavargādiṣu māheśvaryādyāḥ paśumātaraḥ||19||
Adhiṣṭhātryo bhavantīti śeṣaḥ|
Yā sā śaktirjagaddhātuḥ kathitā samavāyinī|
Icchātvaṁ tasya sā devi sisṛkṣoḥ pratipadyate|
Saikāpi satyanekatvaṁ yathā gacchati tacchṛṇu||
Evametaditi jñeyaṁ nānyatheti suniścitam|
Jñāpayantī jagatyatra jñānaśaktirnigadyate||
Evambhūtamidaṁ vastu bhavatviti yadā punaḥ|
Jātā tadaiva tattadvatkurvatyatra kriyocyate||
Evaṁ saiṣā dvirūpāpi punarbhedairanantatām|
Arthopādhivaśātprāptā cintāmaṇiriveśvarī||
Tatra tāvatsamāpannamātṛbhāvā vibhidyate|
Dvidhā ca navadhā caiva pañcāśaddhā ca mālinī||
Bījayonyātmakādbhedāddvidhā bījaṁ svarā matāḥ|
Kādibhiśca smṛtā yonirnavadhā vargabhedataḥ||
Bījamatra śivaḥ śaktiryonirityabhidhīyate|
Vargāṣṭakavibhedena māheśvaryādi cāṣṭakam||
Prativarṇavibhedena śatārdhakiraṇojjvalā|
Rudrāṇāṁ vācakatvena tatsaṅkhyānāṁ niveśitā||
iti śrīmālinīvijayanirūpitanītyā pārameśvarī parāvāk prasarantīcchājñānakriyārūpatāṁ śritvā bījayonivargavargyādirūpā śivaśaktimāheśvaryādivācakādikṣāntarūpāṁ mātṛkātmatāṁ śritvā sarvapramātṛṣvavikalpakasavikalpakatattatsaṁvedanadaśāsvantaḥparāmarśātmanā sthūlasūkṣmaśabdānuvedhanaṁ vidadhānā vargavargyādidevatādhiṣṭhānādidvāreṇa smayaharṣabhayarāgadveṣādiprapañcaṁ prapañcayantyasaṅkucitasvatantracidghanasvasvarūpamāvṛṇvānā saṅkucitaparatantradehādimayatvamāpādayati| Taduktaṁ śrītimirodghāṭe'pi
Karandhracitimadhyasthā brahmapāśāvalambikāḥ|
Pīṭheśvaryo mahāghorā mohayantyo muhurmuhuḥ||
iti pūrvamapi saṁvāditam| Jñānādhiṣṭhānaṁ mātṛkā (1-4) iti sāmānyenoktamidaṁ tu prāptatattvo'pi pramādyan māheśyādibhiḥ paśujanādhiṣṭhātṛbhūtābhirapi śabdānuvedhadvāreṇa mohyata ityāśayeneti viśeṣaḥ||19||
Mas (tu), quando (yadā) a natureza essencial (sva-rūpam) de Śuddhavidyā ou Conhecimento Puro (śuddha-vidyā) que não pertence a esse (Yogī) (asya) afunda (nimajjati), então (tadā)—
Māheśvarī (māheśvarī) e outras deusas (ādyāḥ) (que têm sua esfera de influência) no grupo (varga) "ka" (ka), etc. (ādiṣu), (e que são) as mães (mātaraḥ) dos seres limitados (paśu), (tornam-se as deidades regentes de tal Yogī)||19||
"(Essas deusas) tornam-se (bhavanti) (seu --de tal Yogī--) deidades regentes (adhiṣṭhātryaḥ... iti)", isso deve ser adicionado (ao aforismo para completar o sentido) (iti śeṣaḥ)|
"Diz-se (kathitā) que essa (yā sā) Śakti ou Poder (śaktiḥ) do Criador (dhātuḥ) do mundo (jagat) (é) inerente (samavāyinī) (a Ele). Oh deusa (devi)!, Ela (sā) se transforma (pratipadyate) na Vontade (icchātvam) desse (Criador) (tasya) (quando) Ele está com desejo de manifestar (sisṛkṣoḥ) (o universo). Escute (tad śṛṇu) como (yathā) Ela (sā) se torna (gacchati) muitos (anekatvam) ainda que (api) seja (satī) uma (ekā):
Ao anunciar (jñāpayantī) com determinação (suniścitam) que 'Esse (etad) cognoscível ou objeto (jñeyam) (é) assim (evam... iti), (e) não (na) de outro modo (anyathā... iti)!', Ela é denominada (nigadyate) Poder de Conhecimento (jñāna-śaktiḥ) nesse mundo (jagati atra).
No entanto (punar), quando (yadā) Ela se manifesta (jātā) (como) 'Que essa coisa se torne (idam vastu bhavatu) de tal natureza (evam-bhūtam... iti)!', então (tadā eva), ao fazer (kurvatī) essa (coisa) (tad) assim (tad-vat) aqui (atra), diz-s que Ela é (ucyate) (o Poder de) Ação (kriyā).
Dessa forma (evam), embora (api) essa mesma (Śakti) (sā eṣā) tenha duas formas (principais) (dvi-rūpā), Ela atravessa (prāptā) intermináveis (anantatām) mudanças (bhedaiḥ), segundo (vaśāt) as características (upādhi) dos objetos (desejados) (artha). (Consequentemente, essa) Senhora (īśvarī) (é) como (iva) uma gema do pensamento (cintā-maṇiḥ) --que concede ao seu possuidor todos os desejos--.
Então (tatra), (quando a Senhora) assume primeiramente a condição (tāvat samāpanna... bhāvā) de mãe (mātṛ), Ela se divide (vibhidyate) em duas maneiras (dvidhā) e (ca... ca eva) em nove maneiras (navadhā), e (ca), (quando tal Senhora se divide em) cinquenta maneiras (pañcāśaddhā), (Ela se torna) a portadora de uma guirlanda (mālinī) (feita com as cinquenta letras do alfabeto sânscrito).
Com a divisão que consiste (ātmakāt bhedāt) em bīja (bīja) (e) yoni (yoni), Ela aparece de duas formas (dvidhā). As vogais (svarāḥ) são consideradas como (matāḥ) bīja ou semente (bījam). Com ka, etc. (ka-ādibhiḥ), diz-se que Ela é (smṛtā) yoni ou ventre --no sentido de útero-- (yoniḥ) --isto é, as consoantes são consideradas como yoni--. (Portanto,) de acordo com a divisão (bhedatas) dos varga-s ou grupos de letras (varga), (Ela aparece) em nove maneiras (navadhā)1 .
Nesse (contexto) (atra), bīja --vogal-- (bījam) (e) yoni --consoante-- (yoniḥ) são denominados (iti abhidhīyate) Śiva (śivaḥ) (e) Śakti (śaktiḥ). Com a divisão (vibhedena) em oito (aṣṭaka) grupos de letras (varga), (há) um grupo de oito (deidades) (aṣṭakam) (tais como) Māheśvarī (māheśvarī), etc. (ādi), certamente (ca).
(E,) segundo a divisão letra por letra (prativarṇa-vibhedena), Ela brilha (ujjvalā) como cinquenta (śata-ardha) raios (kiraṇa) --Ela aparece como as cinquenta letras do alfabeto sânscrito--. Ao ser a indicadora (vācakatvena) dos Rudra-s (rudrāṇām), cujo número chega (saṅkhyānām) a isso --a cinquenta-- (tad), Ela está estabelecida (nesse mesmo número) (niveśitā... iti)2 "||
(Ver Mālinīvijayatantra III, 5-13)
De acordo com o(s) preceito(s) (nītyā) definidos e apurados (nirūpita) pelo venerável Mālinīvijayatantra (śrī-mālinīvijaya), a Mais Alta Fala (parā-vāk) relativa ao Senhor Supremo (pārameśvarī) --isto é, a sua Śakti ou Poder-- se expande (prasarantī) recorrendo (śritvā) àquilo que está formado (rūpatām) por Vontade (icchā), Conhecimento (jñāna) (e) Ação (kriyā). (Posteriormente, Ela continua a expandir-se) tomando a forma (rūpā) de vogais (bīja), consoantes (yoni), grupos de letras (varga), letras pertencentes a esses grupos (vargī), etc. (ādi), depois de assumir (śritvā) a natureza (ātmatām) de Mātṛkā (mātṛkā), cuja forma (rūpām) começa com "a" (a-ādi) e termina em "kṣa" (kṣa-anta) --o alfabeto sânscrito inteiro--, (todas as quais --todas essas cinquenta letras--) são indicadoras (vācaka) de Śiva (śiva), Śakti (śakti), Māheśvarī (māheśvarī), etc. (ādi)3 . Em todos os experimentadores (sarva-pramātṛṣu)4 , quando ocorrem diversos estados (tad-tad-daśāsu) de conhecimento (saṁvedana) com pensamentos (savikalpaka) (e) sem pensamentos (avikalpaka), Ela realiza (vidadhānā), por meio da consciência interior (antar-parāmarśa-ātmanā), a aplicação --ou seja, a penetração, visto que as palavras penetram internamente-- (anuvedhanam) de palavras (śabda) brutas (sthūla) (e) sutis (sūkṣma). Por meio (dvāreṇa) da regência ou poder (adhiṣṭhāna), etc. (ādi), das deidades (devatā) dos grupos de letras (varga), das letras pertencentes a tais grupos (vargī), etc. (ādi), Ela exibe (prapañcayantī) a manifestação (prapañcam) de maravilha (smaya), alegria (harṣa), medo (bhaya), apego (rāga), aversão (dveṣa) e por aí vai (ādi). (E,) ocultando (āvṛṇvānā) a própria (sva) natureza essencial (sva-rūpam), que é uma não contraída --não condicionada-- (asaṅkucita) (e) independente (svatantra) massa (ghana) de Consciência (cit), Ela produz (āpādayati) identificação (mayatvam) com um contraído --condicionado-- (saṅkucita) (e) dependente (paratantra) corpo (deha), etc. (ādi)|
Isso (tad) foi dito (uktam) no venerável Timirodghāṭa (śrī-timirodghāṭe) também (api):
"As Mahāghorā-s --lit. "muito terríveis"-- (mahāghorāḥ), (isto é, as śakti-s ou poderes) que estão (sthāḥ) no meio (madhya) da Consciência (citi) em Karandhra --isto é, Brahmarandhra-- (ka-randhra), que enforcam (avalambikāḥ) por meio do nó corrediço de Brahmā (brahma-pāśa) (e) são as Senhoras (īśvaryaḥ) dos pīṭha-s ou assentos --os órgãos dos sentidos-- (pīṭha), iludem (mohayanti) repetidamente (muhur... muhur... iti)5 "||
(O que se citou acima) também (api) foi declarado (saṁvāditam) anteriormente (pūrvam) --em I, 4--|
"A base (adhiṣṭhānam) do conhecimento (limitado e contraído) (jñāna) (é) a Mãe não compreendida (mātṛkā). (I, 4) (da atual escritura) (1-4 iti)". É claro que (uktam... tu) isso (idam) foi expresso (uktam... tu) de maneira geral (sāmānyena). (Aqui, no aforismo atual --III, 19--, Mātṛkā é discutida mais especificamente), com a intenção (āśayena) (de mostrar que), "(se) mesmo (api) alguém que alcançou o Princípio (Supremo) (prāpta-tattvaḥ) é descuidado e não está atento (pramādyan) também é iludido (api... mohyate) por Māheśī --ou Māheśvarī--, etc. (māheśī-ādibhiḥ), que são (bhūtābhiḥ) as (deidades) regentes (adhiṣṭhātṛ) das pessoas limitadas (paśu-jana) por meio da aplicação --penetração-- (anuvedha-dvāreṇa) de palavras (śabda... iti)". Essa é a diferença (iti viśeṣaḥ) (entre ambas as análises --a análise expressa em I, 4 e a atual--)||19||
1 O alfabeto sânscrito em sua forma tradicional contém 8 varga-s ou grupos de letras:
- A-varga (Vogais), cuja deidade regente é Yogīśvarī (also called Mahālakṣmī)
- Ka-varga (Gutturals), cuja deidade regente é Brāhmī
- Ca-varga (Palatais), cuja deidade regente é Māheśvarī
- Ṭa-varga (Cerebrais), cuja deidade regente é Kaumārī
- Ta-varga (Dentais), cuja deidade regente é Vaiṣṇavī
- Pa-varga (Labiais), cuja deidade regente é Vārahī
- Ya-varga (Semivogais), cuja deidade regente é Aindrī (também chamada Indrāṇī)
- Śa-varga (Sibilantes, Sonora Aspirada + Kūṭabīja --o conjunto kṣa formado por "ka + sa", mas muito frequentemente considerada como uma letra por si mesma--), cuja deidade regente é Cāmuṇḍā
Agora, o alfabeto apresentado em sua forma tradicional "não" inclui Kūṭabīja (a letra kṣa), mas, quando o inclui, normalmente atribui-se a Kūṭabīja o oitavo varga ou grupo (Śa-varga). Bem, a pergunta do milhão é: Se existem 8 varga-s ou grupos, por que o Senhor disse isto acima?: "(Portanto,) de acordo com a divisão dos the varga-s ou grupos de letras, (Ela aparece) em nove maneiras". Simples: às vezes, considera-se como se Kūṭabīja formasse o seu próprio varga, isto é, um Kṣa-varga. Nesse caso especial, o total de varga-s seria 9, e não 8. Agora, essa porção do texto está clara, não é?
2 Para compreender plenamente esse assunto, tanto o professor quanto o aluno deveriam estar bem familiarizados com o conhecimento apresentado no Mālinīvijayatantra. De qualquer forma, aqui vamos: O Indicadora significa que Ela indica ou descreve esses cinquenta Rudra-s ou deidades atribuídas a cada yna das cinquenta letras do alfabeto sânscrito. O Senhor criou-a assim, ou seja, de cinquenta aspectos, e é por isso que Ela está estabelecida no número cinquenta. Além dos Rudra-s, existem cinquenta consortes para cada um deles, isto é, cinquenta Rudrāṇī-s. Oh, esse tema é tão longo e complexo. Sempre consulte "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika para mais informação detalhada.
3 Para mais informação sobre tudo isso, leia a minha explicação sobre o II, 7 da atual escritura: Primeiros Passos (4) e Primeiros Passos (5).
4 Existem sete experimentadores, ou, melhor, sete etapas para um único Experimentador:
(1) Śiva (sua esfera de ação são os tattva-s Śiva e Śakti, as primeiras duas categorias);
(2) Mantramaheśvara (sua esfera de ação é o Sadāśiva-tattva, a terceira categoria);
(3) Mantreśvara (sua esfera de ação é o Īśvara-tattva, a quarta categoria);
(4) Mantra (sua esfera de ação é o tattva Sadvidyā ou Śuddhavidyā, a quinta categoria);
(5) Vijñānākala (sua esfera de ação jaz entre os tattva-s Sadvidyā e Māyā, entre a quinta e sexta categorias);
(6) Pralayākala (sua esfera de ação é Māyā e seus cinco Kañcuka-s, a partir da sexta até a décima primeira categoria);
(7) Sakala (sua esfera de ação abrange desde Puruṣa --a décima segunda categoria-- até a última).
5 Como essa estrofe foi citada anteriormente por Kṣemarāja em I, 4 da atual escritura que estou traduzindo, leia a nota 2 para compreender seu significado.
Aforismo 20
यत एवमतः शुद्धविद्यास्वरूपमुक्तयुक्तिभिरासादितमपि यथा न नश्यति तथा सर्वदशासु योगिना सावधानेन भवितव्यमित्याह—
त्रिषु चतुर्थं तैलवदासेच्यम्॥२०॥
त्रिषु जागरादिषु पदेषु चतुर्थं शुद्धविद्याप्रकाशरूपं तुर्यानन्दरसात्मकं धाम तैलवदिति यथा तैलं क्रमेणाधिकमधिकं प्रसरदाश्रयं व्याप्नोति तथासेच्यम्। त्रिष्वपि पदेषून्मेषोपशान्त्यात्मकाद्यन्तकोट्योः परिस्फुरता तुर्यरसेन मध्यदशामप्यवष्टम्भयुक्त्या व्याप्नुयाद्येन तन्मयीभावमाप्नुयात्। जाग्रत्स्वप्नसुषुप्तेषु तुर्याभोगसम्भवः (१-७) इत्यनेनोद्यमशक्तिचक्रानुसन्ध्यवष्टम्भभाजः स्वरसप्रसरज्जागरादिपदेषु सत्तामात्रं तुर्यस्योक्तम्। त्रितयभोक्ता वीरेशः (१-११) इति शाम्भवोपायानुगुणहठपाकयुक्त्या जागरादिसंहारो दर्शितः। अनेन तु सूत्रेणाणवोचितावष्टम्भयुक्त्या दलकल्पं जागरादित्रयं तुर्यरसासिक्तं कार्यमित्युक्तमिति विशेषः॥२०॥
Yata evamataḥ śuddhavidyāsvarūpamuktayuktibhirāsāditamapi yathā na naśyati tathā sarvadaśāsu yoginā sāvadhānena bhavitavyamityāha—
Triṣu caturthaṁ tailavadāsecyam||20||
Triṣu jāgarādiṣu padeṣu caturthaṁ śuddhavidyāprakāśarūpaṁ turyānandarasātmakaṁ dhāma tailavaditi yathā tailaṁ krameṇādhikamadhikaṁ prasaradāśrayaṁ vyāpnoti tathāsecyam| Triṣvapi padeṣūnmeṣopaśāntyātmakādyantakoṭyoḥ parisphuratā turyarasena madhyadaśāmapyavaṣṭambhayuktyā vyāpnuyādyena tanmayībhāvamāpnuyāt| Jāgratsvapnasuṣupteṣu turyābhogasambhavaḥ (1-7) ityanenodyamaśakticakrānusandhyavaṣṭambhabhājaḥ svarasaprasarajjāgarādipadeṣu sattāmātraṁ turyasyoktam| Tritayabhoktā vīreśaḥ (1-11) iti śāmbhavopāyānuguṇahaṭhapākayuktyā jāgarādisaṁhāro darśitaḥ| Anena tu sūtreṇāṇavocitāvaṣṭambhayuktyā dalakalpaṁ jāgarāditrayaṁ turyarasāsiktaṁ kāryamityuktamiti viśeṣaḥ||20||
Devido ao fato de que (yatas) (é) dessa maneira (evam) --devido ao fato de que mesmo alguém que alcançou o Princípio Supremo ainda pode ser iludido por tais deidades--, portanto (atas), o Yogī deve ser assim tão atento e cuidadoso (tathā... yoginā sāvadhānena bhavitavyam) sob todas as circunstâncias (sarva-daśāsu) de modo que (yathā) a natureza essencial (sva-rūpam) do Conhecimento Puro (śuddha-vidyā) adquirido (por ele) (āsāditam api) não desapareça (na naśyati). (Śiva, o autor dos Śivasūtra-s,) disse assim (iti āha)—
O quarto estado de consciência, (o qual é uma Testemunha) (caturtham), deve ser vertido (āsecyam) como (vat) (um fluxo contínuo de) azeite (taila) nos (outros) três (triṣu), (isto é, na vigília, sono e sono profundo)||20||
(O termo) triṣu (triṣu) (significa) nos (outros três) estados (padeṣu) de vigília, etc. (jāgarā-ādiṣu). (A palavra) caturtha --lit. quarto-- (caturtham) (significa) a condição (dhāma) que consiste (ātmakam) no elixir (rasa) da bem-aventurança de Turya --a bem-aventurança do quarto estado de consciência-- (turya-ānanda), cuja natureza (rūpam) é a Luz (prakāśa) do Conhecimento Puro (śuddha-vidyā). (A expressão) "tailavat" (taila-vat iti) (significa que,) assim como (yathā) (um fluxo contínuo de) azeite (tailam), difundindo-se gradualmente (krameṇa... prasarat) mais e mais (adhikam adhikam), permeia (vyāpnoti) um recipiente (āśrayam), da mesma forma (tathā), (o quarto estado de consciência) deveria ser vertido (āsecyam) (em vigília, sono e sono profundo)|
Por meio do mecanismo (yuktyā) de agarrar firmemente --ou seja, de firme atenção no Ser, que é uma Testemunha-- (avaṣṭambha), (o Yogī) também deve permear (api... vyāpnuyāt) o estado (daśām) intermediário (madhya) com o elixir (rasena) de Turya --o Quarto Estado-- (uktam) que irrompe (parisphuratā) nos pontos inicial e final (ādi-anta-koṭyoḥ) —onde existe cessação (upaśānti-ātmaka) de unmeṣa --isto é, da exibição da manifestação universal-- (unmeṣa)— durante os três (triṣu api) estados (de vigília, sono e sono profundo) (padeṣu). Por meio disso --fazendo dessa forma-- (yena), (o grupo de três estados comuns de consciência) alcança (āpnuyāt) a condição (bhāvam) de identificação (mayī) com Isso --com Turya ou o Quarto Estado-- (tad)1 |
"(Mesmo) durante os diferentes (estados de consciência) (bhede) de vigília (jāgrat), sono (svapna) e sono profundo (suṣupta), existe (sambhavaḥ) o deleite e desfrute (ābhoga) do Quarto Estado (turya). (I, 7) (da atual escritura) (1-7 iti)". Por meio desse (aforismo) (anena), somente (mātra) declarou-se (uktam) a existência (sattā) de Turya (turyasya), o qual difunde (prasarat) seu próprio (sva) elixir (rasa) nos estados (padeṣu) de vigília (jāgarā), etc. (ādi), (no caso) de alguém que está dedicado a (bhājaḥ) agarrar firmemente (avaṣṭambha) a contínua consciência (anusandhi) do grupo (cakra) de poderes (śakti), (ou simplesmente em alguém no qual ocorra) udyama ou surgimento espontâneo (desse Quarto Estado) (udyama)|
"Aquele que é um desfrutador (do supracitado "ābhoga" ou divino deleite) (bhoktā) na tríade (de vigília, sono e sono profundo) (tritaya) (é) um mestre (īśaḥ) de (seus) sentidos (vīra). (I, 11) (da escritura atual) (1-11 iti)". (Nesse aforismo,) mostrou-se (darśitaḥ) a dissolução (saṁhāraḥ) da vigília (jāgarā), etc. (ādi), por meio do mecanismo (yuktyā) de haṭhapāka --lit. assimilação por meio da força ou obstinação-- (haṭha-pāka) de acordo com (anuguṇa) Śāmbhavopāya --o meio ou método que pertence a Śiva-- (śāmbhava-upāya)2 . Entretanto (tu), por meio desse (anena) aforismo --o atual-- (sūtreṇa) diz-se que (iti uktam) a tríade (trayam) de vigília (jāgarā), etc. (ādi), como (kalpam) a bainha de uma espada (dala)3 , deveria ser impregnada (āsiktam kāryam) pelo elixir (rasa) do Quarto Estado (turya) por meio do (previamente mencionado) mecanismo (yuktyā) de agarrar firmemente (avaṣṭambha), o qual é próprio de (ucita) Āṇavopāya --o meio ou método que tange a um aṇu ou indivíduo limitado-- (āṇava). Essa é a diferença (iti viśeṣaḥ) (entre esses aforismos, isto é, entre I, 7, I, 11 e o atual --III, 20--)||20||
1 Para entender completamente o que o sábio expressou nesse parágrafo, você precisa ser um Yogī bem familiarizado com esses processos. De qualquer forma, se você ainda não é tal Yogī, pode tentar entender isso intelectualmente. Escute: A maioria das pessoas experimenta o próprio Ser apenas no início e no final de cada um dos três estados comuns de consciência (vigília, sono e sono profundo). É claro, na etapa inicial da sua prática, uma pessoa é... como o resto. Então, a sua percepção do Ser como uma Testemunha ocorre apenas nos pontos inicial e final dos estados previamente mencionados. O estado no qual o próprio Ser reside é conhecido como Turya ou Quarto Estado, pois ele é distinto dos outros três. Quando um estado comum de consciência (seja vigília, sono ou sono profundo) começa ou termina, nesse ponto, há cessação de unmeṣa ou a exibição da manifestação universal. A palavra unmeṣa refere-se a qualquer manifestação em vigília (por exemplo, uma árvore), sono (por exemplo, cores estranhas) e sono profundo (por exemplo, vazio). Unmeṣa está presente unicamente "no meio" dos estados comuns de consciência. No início e no final deles, unmeṣa está ausente.
Por outro lado, Turya ou o Quarto Estado nunca deixa a sua própria natureza, ou seja, dura para sempre. Não é como os outros três estados, que são transitórios. Turya é evidente para a maioria das pessoas somente quando unmeṣa não está presente, mas, quando este último aparece, essas pessoas não são mais conscientes do seu Ser. À medida que o Yogī avança em sua prática, um dia, emerge o Conhecimento Puro (Śuddhavidyā) e ele se dá conta plenamente de que o seu próprio Ser é uma Testemunha de todas as experiências que ocorrem a ele em vigília, sono e sono profundo. Isso marca a obtenção de Turya. Desse estado em diante, ele deve fazer com que Turya impregne pouco a pouco todos os três estados, como um fluxo contínuo de azeite preenchendo um recipiente. Ao final, todos esses três estados comuns de consciência (vigília, sono e sono profundo) tornam-se idênticos a Turya e permanece somente "um Estado", isto é, o Yogī estará completamente e constantemente estabelecido em seu Ser. De fato, apenas um estado existe aqui para sempre. Os outros três estados são unicamente o bem-aventurado jogo de Śakti. Eles surgem quando Ela oculta (aparentemente) Turya e manifesta unmeṣa ou a exibição da manifestação universal. Além da minha explicação, tudo isso é uma questão de experiência pessoal. Portanto, torne-se um Yogī e experimente a sua própria imensidão. Muito bem, isso é suficiente.
2 Uma vez que esse aforismo (I, 11) aparece na primeira Seção, que trata sobre Śāmbhavopāya, a dissolução dos estados comuns de consciência (vigília, sono e sono profundo) é mostrada por meio do mecanismo de haṭhapāka ou assimilação de uma experiência por meio da força ou obstinação "em um só golpe" (figurativamente falando). Esse mecanismo é kramātikrama, já que vai além de krama ou sequência, isto é, o Yogī obtém o Quarto Estado em um passo. Obviamente, isso requer um enorme poder espiritual que está ausente na grande maioria dos aspirantes. A maior parte das pessoas começa o seu caminho espiritual a partir de Āṇavopāya e, no seu devido tempo, atinge Śāktopāya e Śāmbhavopāya (isso geralmente leva muitos anos, décadas ou inclusive a vida inteira). Pouquíssimos começam a partir de Śāktopāya e só os mais elevados iniciam a sua viagem espiritual a partir de Śāmbhavopāya. Obviamente, quanto menos elevado um aluno, maior o upāya (meio ou método) com o qual ele quer começar, hehe! Esse é o problema comum com as pessoas em geral: superestimam as suas capacidades para lidar com assuntos espirituais. Em uma classe de física quântica, a maioria das pessoas certamente permaneceria completamente em silêncio, mas, em uma classe de Yoga, as pessoas ficam constantemente opinando sobre quase tudo o que está em questão. Por quê? Por causa da sua própria ignorância aparecendo na forma de arrogância. Visto que Yoga é uma ciência tão complexa/profunda, somente os especialistas e eruditos em Yoga podem dizer algo que valha realmente a pena escutar.
3 Aqui, o termo "dala" significa "खड्गकोश" - "khaḍgakośa" ou a bainha de uma espada. Assim como a bainha de uma espada é distinta da espada mas pode sustentá-la, da mesma forma, os três estados comuns de consciência são distintos de Turya (o Quarto), mas podem sustentá-lo e ser preenchidos por Ele.
Aforismo 21
अत्रोपायमाह—
मग्नः स्वचित्तेन प्रविशेत्॥२१॥
प्राणादिस्थूलभावं तु त्यक्त्वा सूक्ष्ममथान्तरम्।
सूक्ष्मातीतं तु परमं स्पन्दनं लभ्यते यतः॥
इत्युपक्रम्य
... प्रविशेत्तत्स्वचेतसा॥
इति श्रीमृत्युजिद्भट्टारकनिरूपितनीत्या प्राणायामध्यानधारणादिस्थूलोपायान्परित्यज्य स्वचित्तेनाविकल्पकरूपेणान्तर्मुखान्तरविमर्शचमत्कारात्मना संवेदनेन प्रविशेत्समाविशेत्। कीदृक्सन् मग्नः शरीरप्राणादिप्रमातृतां तत्रैव चिच्चमत्काररसे मज्जनेन प्रशमयन्। तदुक्तम् श्रीस्वच्छन्दे
व्यापारं मानसं त्यक्त्वा बोधरूपेण योजयेत्।
तदा शिवत्वमायाति पशुर्मुक्तो भवार्णवात्॥
इति। श्रीविज्ञानभट्टारकेऽपि
मानसं चेतना शक्तिरात्मा चेति चतुष्टयम्।
यदा प्रिये परिक्षीणं तदा तद्भैरवं वपुः॥
इति। एतदेव ज्ञानगर्भे स्तोत्रे
विहाय सकलाः क्रिया जननि मानसीः सर्वतो विमुक्तकरणक्रियानुसृतिपारतन्त्र्योज्ज्वलम्।
स्थितैस्त्वदनुभावतः सपदि वेद्यते सा परा दशा नृभिरतन्द्रितासमसुखामृतस्यन्दिनी॥
इत्यनेन महागुरुभिर्निबद्धम्॥२१॥
Atropāyamāha—
Magnaḥ svacittena praviśet||21||
Prāṇādisthūlabhāvaṁ tu tyaktvā sūkṣmamathāntaram|
Sūkṣmātītaṁ tu paramaṁ spandanaṁ labhyate yataḥ||
ityupakramya
... praviśettatsvacetasā||
iti śrīmṛtyujidbhaṭṭārakanirūpitanītyā prāṇāyāmadhyānadhāraṇādisthūlopāyānparityajya svacittenāvikalpakarūpeṇāntarmukhāntaravimarśacamatkārātmanā saṁvedanena praviśetsamāviśet| Kīdṛksan magnaḥ śarīraprāṇādipramātṛtāṁ tatraiva ciccamatkārarase majjanena praśamayan| Taduktam śrīsvacchande
Vyāpāraṁ mānasaṁ tyaktvā bodharūpeṇa yojayet|
Tadā śivatvamāyāti paśurmukto bhavārṇavāt||
iti| Śrīvijñānabhaṭṭārake'pi
Mānasaṁ cetanā śaktirātmā ceti catuṣṭayam|
Yadā priye parikṣīṇaṁ tadā tadbhairavaṁ vapuḥ||
iti| Etadeva jñānagarbhe stotre
Vihāya sakalāḥ kriyā janani mānasīḥ sarvato vimuktakaraṇakriyānusṛtipāratantryojjvalam|
Sthitaistvadanubhāvataḥ sapadi vedyate sā parā daśā nṛbhiratandritāsamasukhāmṛtasyandinī||
ityanena mahāgurubhirnibaddham||21||
Com relação a isso --com relação a impregnar os três estados comuns com Turya-- (atra), (Śiva) disse (āha) o meio (upāyam)—
Deve-se entrar (nesse quarto estado de consciência --ver aforismo 20--) (praviśet) submergindo-se (nele) (magnaḥ) com sua própria (sva) mente (cittena), (a qual deve estar, obviamente, desprovida de todo pensamento)||21||
(No Mṛtyujit —também conhecido como Netratantra—, declara-se,) começando com (upakramya):
"Deixando (tu tyaktvā) a condição (bhāvam) bruta (sthūla) de prāṇa (prāṇa), etc. (ādi), e, então (atha), (abandonando inclusive) o sutil (sūkṣmam) (prāṇāyāma) interno (āntaram), a Vibração (spandanam) Suprema (paramam), que está além (ātītam tu) do (prāṇāyāma) sutil (sūkṣma), é obtida (labhyate) a partir disso --a partir de abandonar os prāṇāyāma-s bruto e sutil-- (yatas... iti)1 "||
(Ver VIII, 12 no Netratantra)
(e terminando com:)
"... entra-se (praviśet) (no Estado Supremo) com sua própria mente (sva-cetasā) como isso --isto é, como um conhecedor-- (tad.. iti)2 "|
(Ver primeira porção da estrofe VIII, 14 no Netratantra)
Por meio do(s) preceito(s) (nītyā) estabelecidos (nirūpita) no muito venerável (śrī... bhaṭṭāraka) Mṛtyujit --Netratantra-- (mṛtyujit), após abandonar completamente (parityajya) métodos (upāyān) brutos (sthūla) (como) prāṇāyāma (prāṇāyāma), meditação (dhyāna), concentração (dhāraṇā), etc. (ādi), deve-se ingressar (praviśet) (ou) penetrar (samāviśet) (em Turya ou o Quarto Estado) com sua própria mente (svacittena), (isto é,) com uma consciência (saṁvedanena) desprovida de pensamentos (avikalpaka-rūpeṇa) e cuja natureza (ātmanā) é um introvertido (antarmukha) camatkāra --bem-aventurança repleta de assombro-- (bhūtebhyaḥ) de consciência (vimarśa) interna (āntara) --de consciência do Eu--|
De que maneira (kīdṛk san)? Submergindo-se (nele) (magnaḥ), (em outras palavras,) extinguindo (praśamayan) (a noção) de que corpo (śarīra), energia vital (prāṇa), etc. (ādi), são o Pramātā ou Experimentador --o próprio Ser como Testemunha-- (pramātṛtām) por meio de imersão (majjanena) nisso mesmo (tatra eva), no elixir (rase) da bem-aventurança (camatkāra) da Consciência (cit) --em suma, "em Turya ou o Quarto Estado"--|
Isso (tad) foi dito (uktam) no venerável Svacchandatantra (śrī-svacchande):
"Abandonando (tyaktvā) (toda) atividade (vyāpāram) mental (mānasam), (o Yogī) deve unir-se (yojayet) (a Śiva) com (o toque de) uma consciência sem pensamentos (bodharūpeṇa). Então (tadā), o indivíduo limitado (paśuḥ), ao libertar-se (muktaḥ) do oceano (arṇavāt) da existência transmigratória --isto é, da miséria-- (bhava), alcança (āyāti) o estado de Śiva (śivatvam... iti)3 "||
(Ver IV, 437 no Svacchandatantra)
(E,) no muito venerável Vijñānabhairava (śrī-vijñāna-bhaṭṭārake), também (foi estabelecido o seguinte) (api):
"Oh querida (priye)!, quando (yadā) esse grupo de quatro (catuṣṭayam) (composto de) 'mente repleta de ideias e desejos (mānasam), intelecto indagador (cetanā), energia vital (śaktiḥ) e (ca) experimentador limitado (ātmā)' dissolve-se por completo (parikṣīṇam), então (tadā), (surge) esse (previamente mencionado) (tad) vapus ou natureza essencial (vapus) (denominado) Bhairava --o Senhor-- (bhairavam... iti)"||
Essa (etad) mesma (verdade) (eva) (foi expressa) no hino Jñānagarbha (jñānagarbhe stotre) por meio desta (estrofe) (anena), que foi composta (nibaddham) pelo grande preceptor espiritual (mahā-gurubhiḥ) --refere-se a Pradyumnabhaṭṭa, um dos principais discípulos de Kallaṭa, o eminente discípulo do próprio Vasugupta--:
"Oh Mãe (janani)!, depois de abandonar (vihāya) completamente (sarvatas) todas (sakalāḥ) as atividades (kriyāḥ) mentais (mānasīḥ), (emerge) uma condição esplêndida (ujjvalam) que é livre (vimukta) da dependência (pāratantrya) de ir atrás (anusṛti) das atividades (kriyā) dos sentidos (karaṇa). Esse (sā) Estado (daśā) Supremo (parā), que verte (syandinī) o néctar (amṛta) de uma inigualável (asama) felicidade (sukha) desprovida de estupefação ou espanto (atandrita), é percebido (vedyate) imediatamente (sapadi), por meio da Sua Graça (tvat-anubhāvataḥ), pelos homens (nṛbhiḥ) que estão (na previamente mencionada condição esplêndida) (sthitaiḥ... iti)"||
||21||
1 Para que você entenda por que traduzi a estrofe dessa maneira, preciso mostrar o que Kṣemarāja comenta sobre essa estrofe em seu Netroddyota: "प्राणादौ प्राणापानसमानेषु यः स्थूलो रेचकपूरकादिर्भावः स्वभावस्तं त्यक्त्वा उज्झित्वा अथेति एतत्स्थूलप्राणायामानन्तरभावि सूक्ष्ममान्तरमिति मध्यपथेन रेचनाचमनादिरूपं च तं त्यक्त्वा यतो यस्मात्सूक्ष्ममप्यतीतं परममिति प्राणाद्यचित्स्फुरत्तात्म स्पन्दनं लभ्यते..." - "Prāṇādau prāṇāpānasamāneṣu yaḥ sthūlo recakapūrakādirbhāvaḥ svabhāvastaṁ tyaktvā ujjhitvā atheti etatsthūlaprāṇāyāmānantarabhāvi sūkṣmamāntaramiti madhyapathena recanācamanādirūpaṁ ca taṁ tyaktvā yato yasmātsūkṣmamapyatītaṁ paramamiti prāṇādyacitsphurattātma spandanaṁ labhyate..." - "(A expressão 'Prāṇādisthūlabhāvaṁ tu tyaktvā' significa) 'deixando ou abandonando o bhāva —condição, estado— bruto que consiste em expiração, inspiração, etc., e (se concentra) em prāṇa, etc., (ou seja,) em prāṇa, apāna e samāna'. (A frase 'sūkṣmamathāntaram' significa) 'e então, abandonando o sutil (prāṇāyāma) que ocorre imediatamente após esse prāṇāyāma bruto (e) cuja natureza é expiração, absorção, etc., por meio do caminho médio --de Suṣumnā--'. 'Yatas', (isto é,) 'a partir do qual' --a partir do abandono dos prāṇāyāma-s bruto e sutil--, obtém-se a Vibração Suprema (ou Spanda), que está inclusive além do prāṇāyāma sutil --por isso é Suprema-- e cuja natureza essencial é Sphurattā ou Consciência localizada imediatamente antes da energia vital --Prāṇa--...".
Em outras palavras, o Spanda não é nada mais que a Suprema Consciência do Eu, que está sempre antes de qualquer manifestação tal como energia vital, etc. Esse é o significado. Muito bem, agora tudo está completamente claro... obviamente, se você souber o que realmente são prāṇāyāma, Suṣumnā, etc. Se você não tiver nenhuma ideia, precisa reler os comentários sobre aforismos dessa escritura. Sinto muito, mas não posso explicar toda hora a mesma coisa, como você sabe, hehe. Certifique-se que você esteja bem familiarizado com esses termos sânscritos comuns, porque vai deparar-se constantemente com elas durante o seu estudo de Trika e outros sistemas filosóficos.
2 Kṣemarāja parece ter simplificado essa pequena porção, ou a leitura seria diferente. Leio do Netratantra VIII, 14: "... प्रविशेद्धाम परमं तत्स्वचेतसा।" - "... praviśeddhāma paramaṁ tatsvacetasā|" - "... entra-se no Estado Supremo com a sua própria mente como isso --isto é, como um conhecedor--".
Como "praviśet" é a conjugação do verbo "praviś" (entrar) no Modo Potencial, 3a P. singular (Parasmaipada), é geralmente traduzida como "ele(a) deve entrar". Mas, segundo o contexto, o Modo Potencial tem força de Tempo Presente e, como consequência, "praviśet" também pode ser traduzido corretamente como "ele(a) entra". É por isso que a minha tradução acima de "praviśet" está no Tempo Presente ("entra-se"), enquanto, no mesmo aforismo 21, traduzi essa conjugação como "deve-se entrar". Agora, você entende porque traduzi dessa maneira.
3 Novamente, visto que, nessa estrofe, o significado do termo "bodha" é obscuro, elucidarei esse sentido recorrendo ao Svacchandoddyota do eminente Kṣemarāja: "बोधरूपेणेति अविकल्पसंवित्स्पर्शेनैव" - "bodharūpeṇeti avikalpasaṁvitsparśenaiva" - "(a expressão) 'bodharūpeṇa' (significa) 'com o toque de uma consciência sem pensamentos'".
Aforismo 22
इत्थं च परमपदप्रविष्टस्यास्य वस्तुस्वाभाव्याद्यदा पुनः प्रसरणं भवति तदा—
प्राणसमाचारे समदर्शनम्॥२२॥
परस्फुरत्तात्मकशाक्तपरिमलसंस्कृतस्य प्राणस्य सम्यगिति विकसितसमग्रग्रन्थ्यात्मकान्तरावष्टम्भबलाद् आ ईषद्बहिर्मन्दमन्दं चारे प्रसरणे समं चिदानन्दघनात्मतयैकरूपं दर्शनं संवेदनमर्थात्सर्वदशास्वस्य भवतीत्यर्थः। उक्तं च श्रीमदानन्दभैरवे
उत्सृज्य लौकिकाचारमद्वैतं मुक्तिदं श्रयेत्।
स समं सर्वदेवानां तथा वर्णाश्रमादिके॥
द्रव्याणां समतादर्शी स मुक्तः सर्वबन्धनैः।
इति। अत एव श्रीप्रत्यभिज्ञायाम्
बुद्धिप्राणप्रसरेऽपि बाह्यदेशाद्युपादानानाहितसङ्कोचानां विश्वात्मस्वरूपलाभ एव॥
इत्युक्तम्॥२२॥
Itthaṁ ca paramapadapraviṣṭasyāsya vastusvābhāvyādyadā punaḥ prasaraṇaṁ bhavati tadā—
Prāṇasamācāre samadarśanam||22||
Parasphurattātmakaśāktaparimalasaṁskṛtasya prāṇasya samyagiti vikasitasamagragranthyātmakāntarāvaṣṭambhabalād ā īṣadbahirmandamandaṁ cāre prasaraṇe samaṁ cidānandaghanātmatayaikarūpaṁ darśanaṁ saṁvedanamarthātsarvadaśāsvasya bhavatītyarthaḥ| Uktaṁ ca śrīmadānandabhairave
Utsṛjya laukikācāramadvaitaṁ muktidaṁ śrayet|
Sa samaṁ sarvadevānāṁ tathā varṇāśramādike||
Dravyāṇāṁ samatādarśī sa muktaḥ sarvabandhanaiḥ|
iti| Ata eva śrīpratyabhijñāyām
Buddhiprāṇaprasare'pi bāhyadeśādyupādānānāhitasaṅkocānāṁ viśvātmasvarūpalābha eva||
ityuktam||22||
Dessa forma (ittham ca), no caso desse (Yogī) (asya) que entrou (praviṣṭasya) no Estado (pada) Supremo (parama), quando (yadā) há (bhavati) uma propagação --manifestação-- (prasaraṇam) novamente (punar) devido à natureza essencial (svābhāvyāt) da Realidade (vastu), então (tadā)—
Quando (ocorre) uma lenta, mas firme, propagação (samācāre) da energia vital (do Yogī) (prāṇa), (manifesta-se) a visão (darśanam) equânime (sama), (isto é, o Yogī se dá conta da unidade subjacente em tudo)||22||
"Da energia vital (do Yogī) (prāṇasya)" (significa) "disso que foi consagrado (saṁskṛtasya) por meio da fragrância (parimala) de Śakti (śākta), que é (ātmaka) a Mais Alta (para) Sphurattā ou a reluzente consciência do Eu (sphurattā)". (No aforismo, o termo "samācāre" é o caso Locativo singular de "samācāra". O prefixo "sam" em "samācāre" implica) "samyak" --derivado de "samyañc"-- (samyak iti) (ou) "pela força (balāt) de agarrar firmemente (avaṣṭambha) o (Ser) interior (antara), no qual todos (samagra) os nós (granthi) estão abertos --desatados-- (vikasita)"1 . (O prefixo) "ā" (em "samācāre") (ātmani) (indica) "um pouco (īṣat) lentamente (manda-mandam) para fora (bahis)", (enquanto a palavra) "cāre" (em "samācāre") (cāre) (significa) "na propagação (prasaraṇe)" --ou seja, quando ocorre uma propagação--. (O termo) "sama" (em "samadarśanam") (samam) (indica) "aquilo que aparece uniformemente (eka-rūpam) como (ātmatayā) uma massa (ghana) de Consciência --Śiva-- (cit) e Bem-aventurança --Śakti-- (ānanda)". (Finalmente,) "darśana" (darśanam) (significa) "consciência (saṁvedanam)". (Assim,) segundo o sentido (das palavras) —que foi explicado em detalhes— (arthāt), (samadarśana ou consciência que percebe tudo uniformemente como uma massa de Consciência e Bem-aventurança, isto é, "a visão equânime",) ocorre (bhavati) nesse (Yogī) (asya) sob todas as circunstâncias --isto é, em todos os estados de consciência, visto que eles estão completamente impregnados por Turya ou o Quarto Estado-- (sarva-daśāsu). Esse é o significado (iti arthaḥ)|
(Isso) também foi dito (uktam ca) no venerável Ānandabhairava (śrīmat-ānandabhairave):
"Após abandonar (utsṛjya) as práticas (ācāram) tradicionais (laukika), (o Yogī) deve recorrer (śrayet) ao não dualismo (advaitam), que dá Libertação (mukti-dam). Ele (saḥ) (contempla) de maneira equânime (samam) todos os deuses (sarva-devānām), e também (tathā) as castas (varṇa), as etapas da vida (āśrama), etc. (ādike)2 . Ele vê (darśī) (todas) as coisas (dravyāṇām) com equanimidade (samatā). Ele (saḥ) é livre (muktaḥ) de todos os vínculos (sarva-bandhanaiḥ... iti)"||
Por essa razão (atas eva), declara-se (uktam), no (comentário sobre) a venerável Īśvarapratyabhijñā (śrī-pratyabhijñāyām):
"Para aqueles que não possuem limitações (anāhita-saṅkocānām) (produzidas pela) suposição (upādāna) de espaço (deśa) externo (bāhya), etc. (ādi), ainda que (api) ocorra manifestação (prasare) de intelecto (buddhi) (e) energia vital (prāṇa), (há) percepção (lābhaḥ eva) de que a sua natureza essencial (sva-rūpa) é o Ser (ātma) do universo (viśva... iti) --resumindo, eles vêem que o seu ser é, na verdade, o Ser ou Alma do qual se compõe o universo--"||
||22||
1 No corpo sutil, encontram-se três nós (granthi-s) denominados Brahmagranthi, Viṣṇugranthi e Rudragranthi. Cada um desses nós marca uma limitação específica (um longo assunto!). Como o Ser interior é plenamente livre, foi designado poeticamente por Kṣemarāja como Aquele no qual todos os nós estão desatados. Esse é o significado.
2 O sistema de castas e etapas da vida é outro longo e complexo tema tratado em profundidade em muitas escrituras (por exemplo, o código de Manu). De qualquer forma, eis um resumo:
Há quatro castas: (1) Brāhmaṇa —sacerdotes—, (2) Kṣatriya —membros da ordem militar ou da ordem reinante—, (3) Vaiśya —pessoas que se ocupam do comércio e da agricultura— and (4) Śūdra —servos—. E existem quatro etapas da vida: (1) Brahmacārin —estudantes celibatários dos Veda-s até que atinjam 25 anos de idade—, (2) Gṛhastha —chefes de família; 25 a 50 anos—, (3) Vānaprastha —eremitas que deixaram as suas casas e famílias para dedicar-se a uma vida ascética na floresta; 50 a 75 amos— e (4) Sannyāsin —aqueles que renunciaram a todos os assuntos mundanos, de 75 em diante—.
Informação adicional
Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.
Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.
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