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Svātantryasūtram (Svatantryasutram) - Shaivismo Não-dual de Rosario
Os aforismos sobre a Liberdade Absoluta
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Introdução ao Svātantryasūtram
Oi, Gabriel Pradīpaka mais uma vez. Esta é a primeira escritura que componho em Sânscrito. Estou realizando este grande esforço por duas razões:
- Reconectar aspirantes espirituais com seu próprio Ser.
- Tornar a literatura em Sânscrito atual e totalmente viva.
Neste tempo de extrema tecnologia, não posso mais dizer "Antes que eu apoiasse o lápis sobre o papel...", mas sim "antes que eu começasse a digitar, na frente do meu monitor," o primeiro aforismo, tive que vencer ondas e mais ondas de demônios internos, hehe, dizendo-me que a missão era impossível e somente para grandes sábios. Se eu esperasse que Gabriel Pradīpaka se torne um grande sábio, esta escritura nunca teria sido composta, muito menos publicada. Após umas duas semanas lutando contra todas essas tropas que apareciam como múltiplos pensamentos cheios de temor, pude finalmente tomar suficiente impulso para começar a compor minha primeira escritura em Sânscrito. A tarefa parecia absolutamente imensa, não só porque a gramática sânscrita pode fazer com que mil leões fujam em um instante, mas também porque tive que explicar, mediante declarações breves, três temas complexos: Mais Alta Realidade, ignorância espiritual e reconhecimento do Ser (também denominado dar-se conta do Ser).
Felizmente para mim (e para todos), o ego nunca é o verdadeiro fazedor e os aforismos simplesmente surgiram espontaneamente. Meu trabalho foi principalmente escutar às escondidas as instruções que o Guru interno sussurrava e então anotar tudo isso em Sânscrito. É sempre assim, mas, até o momento em que se começa, não se pode compreender. Praticamente nada foi planejado de antemão. Tudo simplesmente fluiu naturalmente de dentro. Diferentemente do que a maioria das pessoas (inclusive eu, antes de escrever esta escritura) poderia crer, os aforismos não me foram passados em sucessão regular. Não, eles simplesmente apareceram e tive que reordená-los, como se fossem tijolos formando uma parede. Uma vez que a parede estava completa, não pude agregar mais aforismos, e isso foi tudo. Estranhamente, eu podia polir cada aforismo (tijolo), mas não podia modificá-los drasticamente ou inseri-los em algum outro lugar, porque a estrutura da parede não me permitia fazê-lo. Uma experiência muito interessante que eu quis compartilhar com o leitor. O sentimento de que nunca se é o verdadeiro fazedor é muito óbvio quando se compõe uma escritura em Sânscrito.
Expliquei sucintamente cada aforismo para esclarecer ainda mais o significado e deter toda possível distorção do sentido original. Para lançar mais luz sobre este tema, estou no processo de compor todo um extenso comentário, também em Sânscrito, sobre a presente escritura. Obviamente, estou sempre seguindo principalmente os ensinamentos do Trika (Shaivismo não dual da Cachemira), porque é a minha especialidade, mas adicionei as minhas próprias experiências pessoais também, tudo o que constitui o que agora chamo de: Trika de Rosario ou Shaivismo não dual de Rosario.
Todas as correções são bem-vindas, já que sempre me sinto como um novato em Sânscrito, pois posso facilmente esquecer, apesar de tantos anos estudando, de uma ou de todo o conjunto de milhares de regras e respectivas exceções. As pessoas poderiam dizer que sou um mau escritor, talvez, ou que o meu conhecimento de gramática sânscrita é pobre, mas nunca poderão dizer que não tentei ajudar os aspirantes espirituais ao máximo de minha capacidade, inclusive cruzando a linha das minhas próprias limitações. No final, tudo isto não é nada mais que uma gota do Seu Oceano de Compaixão. Então, leia o Svātantryasūtram e seja extremamente Feliz e Livre como o Ser.
Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi adicionado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está entre hifens duplos (--...--) constitui informação adicional esclarecedora também adicionada por mim.
Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.
Primeiro Capítulo: Paramārthapradīpakaḥ
(Explicação da Mais Alta Realidade)
यावचिन्त्यावात्मास्य शक्तिश्चैतौ परमार्थो भवतः॥१॥
Yāvacintyāvātmāsya śaktiścaitau paramārtho bhavataḥ||1||
Estes dois (etau), o Ser (ātmā) e (ca) Seu (asya) Poder (śaktiḥ) —os quais (yau) (são) inconcebíveis (acintyau)—, constituem (bhavataḥ) a Mais Alta Realidade (parama-arthaḥ)||1||
Sucinta exposição: O Ser é o Núcleo de tudo, e Seu Poder se tornou tudo. Chamo "o Ser" de Núcleo para trazer mais luz ao invés de mais escuridão. Se eu tivesse chamado-O de "Śiva", algumas pessoas poderiam considerá-Lo como o conhecido Śiva purânico, que é um grande asceta que vive em uma cova e cuja principal tarefa consiste em destruir o universo, etc. Outras pessoas poderiam pensar que, como Viṣṇu é maior que Śiva, é ele que deveria ser o Núcleo de tudo, e não Śiva. Por sua vez, existe também uma tendência de se considerar Śiva como impessoal, enquanto Viṣṇu é pessoal. Certamente não há fim para a tolice espiritual, porque não há diferença entre Śiva e Viṣṇu, realmente. De qualquer modo, outras pessoas poderiam sugerir que um nome melhor seria Brahman, etc. Para não cair em toda essa ignorante confusão de nomes e pontos de vista, escolhi atribuir o nome "Ser" ao Núcleo de tudo. Ao final, quando a iluminação espiritual chega, a própria mente se retira (como direi por meio de um aforismo mais adiante), e, em consequência, não há ninguém para pensar sobre se "Este Núcleo de tudo" é pessoal, impessoal, Śiva, Viṣṇu, Brahman, etc. O ego simplesmente colapsa e Isto que permanece é o Ser como essencialmente é.
Ele e Seu poder são totalmente inconcebíveis, isto é, estão além da esfera mental. O Jogo de nomes, pontos de vista e assim por diante é realizado por Seu Poder, que é sempre tão travesso. Em suma, a constante pergunta é sempre: "Alguém é completamente livre como o Ser?". Se a resposta for "Sim", atingiu-se a meta da vida. E, se a resposta for "Não", então deve-se, de algum modo, desfazer-se da própria escravidão. Esta escritura é, portanto, como um pequeno manual para o seu processo de libertação da escravidão. Não busco confundi-lo com nomes e complexos pontos de vista filosóficos. Minha meta é sempre a sua Libertação e nada mais que a sua Libertação. O Ser e Seu Poder constituem a Mais Alta Realidade. Uma vez que você possa alcançá-los, por assim dizer, será completamente livre como Eles Dois. O Ser e Seu Poder são "dois" unicamente na esfera das palavras, pois na realidade formam uma compacta massa de Liberdade Absoluta e Bem-Aventurança. Assim como o sol pode ser dividido em "núcleo do sol, superfície do sol, coroa", etc., assim também divido a Mais Alta Realidade em dois, no mundo das palavras, para explicá-la a você. O próximo aforismo falará sobre esse tema.
तयोरुभयोः स्वरूपं स्वातन्त्र्यानन्दात्मकैकघनत्वेनापि तत्सन्तताध्ययनाय वचोविषय एव द्विधाकृतम्॥२॥
Tayorubhayoḥ svarūpaṁ svātantryānandātmakaikaghanatvenāpi tatsantatādhyayanāya vacoviṣaya eva dvidhākṛtam||2||
Mesmo que (api) a natureza essencial (sva-rūpam) Deles (tayoḥ) dois (ubhayoḥ) (seja) uma massa compacta (eka-ghanatvena) composta de (ātmaka) Liberdade Absoluta (svātantrya) (e) Bem-Aventurança (ānanda), ela é dividida em dois (dvidhā-kṛtam) —somente (eva) na esfera (viṣaye) das palavras (vacas)— para o seu estudo minucioso (tad-santata-adhyayanāya)||2||
Sucinta exposição: O Ser é Liberdade Absoluta e Seu Poder é Bem-Aventurança. Ambos formam uma massa compacta (isto é, onipresente). Em outras palavras, a Mais Alta Realidade é sempre "Um sem segundo", mas, no mundo das palavras, é dividida em dois para ser estudada em detalhes. Quando essa divisão ocorre, torna-se mais fácil o ato de chegar a reconhecer ou dar-se conta da Mais Alta Realidade. Então, a própria Mais Alta Realidade gera essa divisão na esfera das palavras como uma ajuda para que os aspirantes espirituais se deem conta Dela mais rapidamente.
आत्मा प्रकाशात्मकशुद्धबोधोऽपि सोऽहमिति वचोविषये स्मृतः॥३॥
Ātmā prakāśātmakaśuddhabodho'pi so'hamiti vacoviṣaye smṛtaḥ||3||
Embora (api) o Ser (ātmā) (seja) Consciência (bodhaḥ) pura (śuddha) que consiste em (ātmaka) Prakāśa ou Luz (prakāśa), Ele (saḥ) é denominado (smṛtaḥ) "Eu" (aham iti) na esfera (viṣaye) das palavras (vacas)||3||
Sucinta exposição: O Ser é Consciência pura, a saber, o Sujeito Supremo que nunca é objeto. Por conseguinte, não se pode percebê-Lo na forma de "isto" ou "aquilo". Ele nem sequer pode ser delineado de alguma maneira. De qualquer forma, no mundo das palavras, Ele é chamado de "Eu" ou também "Eu real" para mostrar que Ele é superior ao falso "eu" ou ego.
या प्रथमस्पन्दात्मिकास्य शक्तिः साहंविमर्श एव॥४॥
Yā prathamaspandātmikāsya śaktiḥ sāhaṁvimarśa eva||4||
Seu (asya) Poder (śaktiḥ sā), que (yā) constitui (ātmikā) a primeira (prathama) Vibração (spanda), (é) a consciência do Eu (aham-vimarśaḥ) verdadeiramente (eva)||4||
Sucinta exposição: Na natureza imutável do Ser, ocorre repentinamente uma leve tensão na forma de uma vibração sutil. Esse é o Seu Poder aparecendo como consciência do Eu, isto é, como Isto que torna o "Eu" (o Ser) consciente da Sua própria existência. Tanto o Ser quanto o Seu Poder formam então: "Eu Sou". Sem o Seu poder, o Ser não pode saber sobre a sua própria existência, muito menos sobre a existência do universo. Esta é uma das razões por que direi que o Ser está em solidão no próximo aforismo. Para mais informação, leia Śiva e Śakti em Trika 2.
तस्मादहंविमर्शरूपात्प्रथमस्पन्दात्परमस्य शक्तिस्त्रिविधा भवति॥५॥
Tasmādahaṁvimarśarūpātprathamaspandātparamasya śaktistrividhā bhavati||5||
Após essa (tasmāt... param) primeira (prathama) Vibração (spandāt) na forma (rūpāt) de consciência do Eu (aham-vimarśa), Seu (asya) Poder (śaktiḥ) se torna (bhavati) triplo (trividhā)||5||
Sucinta exposição: Seu Poder, depois de torná-Lo consciente de Sua própria existência, parte-se em três poderes: Poder de Vontade, Poder de Conhecimento e Poder de Ação. Para mais informação, leia Trika 3.
त्रिविधा भूत्वा सा विश्वमुत्पादयति॥६॥
Trividhā bhūtvā sā viśvamutpādayati||6||
Depois de ter se tornado (bhūtvā) triplo (trividhā), Ele --Seu Poder-- (sā) manifesta (utpādayati) o universo (viśvam)||6||
Sucinta exposição: Através destes três Poderes de Vontade, Conhecimento e Ação, o Poder do Ser é capaz de manifestar o universo inteiro, passo a passo. Para mais informação, leia Trika 4, Trika 5 e Trika 6.
विश्वमिदमस्य शक्त्या जन्यते न तु प्रत्यक्षमात्मनैव॥७॥
Viśvamidamasya śaktyā janyate na tu pratyakṣamātmanaiva||7||
Este (idam) universo (viśvam) é gerado (janyate) por Seu Poder (asya śaktyā) e não (na tu) pelo Ser (ātmanā) Mesmo (eva) diretamente (pratyakṣam)||7||
Sucinta exposição: É o Seu Poder (a leve tensão no Corpo do imutável Ser) que produz o universo, e não Ele Próprio. Isso é muito importante. Se alguém pudesse perguntar ao Ser sobre a existência do universo ou algo assim, Ele responderia: "De que universo você está falando?". Ele está sempre sozinho e sem segundo. Ele chega a ser consciente de Sua própria existência e da existência do universo através do Seu poder, e não de outro modo. Ainda assim, Ele está sempre no mesmo Estado. Nunca se move nem sequer um milímetro. É por isso que Ele é conhecido como o Núcleo de tudo.
सा शक्तिरहंविमर्शभावेन तत्स्फारात्मकविश्वरूपेण वा तिष्ठति॥८॥
Sā śaktirahaṁvimarśabhāvena tatsphārātmakaviśvarūpeṇa vā tiṣṭhati||8||
O Poder (do Ser) (sā śaktiḥ) permanece (tiṣṭhati) como (bhāvena) a consciência do Eu (aham-vimarśa) ou (vā) na forma do (rūpeṇa) universo (viśva), que é (ātmaka) uma expansão (sphāra) desta --da consciência do Eu-- (tad)||8||
Sucinta exposição: O Poder do Ser, a leve tensão no imutável Corpo cósmico do Ser, aparece de duas maneiras: como "Eu Sou" (a consciência do Eu que a tudo permeia, por exemplo, "Eu sou Gabriel", "Eu sou John", "Eu sou Michel", etc.) ou como o universo formado por mentes, corpos, objetos externos, etc. O universo é somente uma expansão de "Eu Sou", da mesma maneira que "Eu sou Gabriel" é uma expansão de "Eu Sou" em mim mesmo.
आत्मा सदा विविक्तं तिष्ठति॥९॥
Ātmā sadā viviktaṁ tiṣṭhati||9||
O Ser (ātmā) permanece (tiṣṭhati) sempre (sadā) em solidão (viviktam)||9||
Sucinta exposição: O Ser não tem nada a ver com o que o Seu Poder faz. Nem o Seu Estado é perturbado por tudo isso. Ele permanece em absoluta solidão, ou seja, é o Um sem segundo, a Testemunha imparcial no meio de todos esses pensamentos, objetos, pessoas e assim sucessivamente. Nunca muda, nunca perece, nunca é perdido ou ganho, etc. Permanece sempre como aquilo que essencialmente é. O resto dos processos: pensamentos, objetos, pessoas, mudanças, nascimento, morte, escravidão, Libertação, etc. são só o resultado do Jogo do Seu próprio Poder e não "realmente" Seu próprio fazer. Sim, não há maneira de descrever tudo isso sem parecer contraditório. É assim porque as palavras estão sempre no campo da limitação.
परमार्थो स्वातन्त्र्यानन्दस्वभावघनो नाभावत्वं सम्पूर्णशून्यता कदाचिदस्ति॥१०॥
Paramārtho svācchandyānandasvabhāvaghano nābhāvatvaṁ sampūrṇaśūnyatā kadācidasti||10||
A Mais Alta Realidade (parama-arthaḥ), que é uma massa compacta (ghanaḥ) cuja natureza (sva-bhāva) (consiste de) Liberdade (svācchandya) (e) Bem-Aventurança (ānanda), não é nunca (na... kadācid asti) inexistência (abhāvatvam), (ou seja,) vazio (śūnyatā) absoluto (sampūrṇa)||10||
Sucinta exposição: Tanto o Ser quanto o Seu Poder são sempre existentes e nunca inexistentes. Se a Mais Alta Realidade fosse vazio absoluto, ninguém A teria percebido em primeiro lugar, e, consequentemente, ninguém se daria conta de que é a Mais Alta Realidade. Como existe sempre "Alguém" que constantemente se dá conta da presença da Mais Alta Realidade (ou seja, a Própria Mais Alta Realidade aparecendo como "Eu Sou"), não há nunca inexistência, a saber, vazio absoluto. Esse tema é extremamente sutil.
नास्य परमार्थस्याभावो जातुचित्साधितुं शक्यते॥११॥
Nāsya paramārthasyābhāvo jātucitsādhituṁ śakyate||11||
A inexistência (abhāvaḥ) desta (asya) Mais Alta Realidade (parama-arthasya) não pode nunca (na... jātucid... śakyate) ser provada (sādhitum)||11||
Sucinta exposição: A inexistência do Ser e Seu Poder nunca pode ser provada, porque aquele que a prova "deve primeiro existir". Se o negador da Sua existência não existe, como então ele poderia tentar negá-la? E, se o negador existe, então há existência, e não vazio absoluto. Por essa razão, o ateísmo que aparece na forma de negadores da Mais Alta Realidade só reafirma a Sua existência. Enquanto há um certo argumento para a existência de um ateu na forma de alguém que não acredita em um "Deus pessoal dotado de características humanas, etc.", ou então alguém que não acredita em um "Deus impessoal", não existe nunca argumento para a existência de um ateu que conceba a Mais Alta Realidade como vazio absoluto. Se a Mais Alta Realidade fosse vazio absoluto (nada absoluto), o próprio ateu não existiria, em primeiro lugar. Ainda que tal pessoa insista em se chamar "ateu" por pura teimosia, ela só está provando a existência da Mais Alta Realidade com suas afirmações. Em suma, inexistência ou vazio absoluto nunca ocorre e, como consequência, nunca pode ser provada. Esse tema foi elucidado extensivamente pelo sábio Kṣemarāja enquanto comentava, em seu Spandanirṇaya, sobre os aforismos 12-13 das Spandakārikā-s.
परमार्थः परमं पदं कृत्स्नस्य विश्वस्य भित्तिभूतस्तदभावस्य तथा॥१२॥
Paramārthaḥ paramaṁ padaṁ kṛtsnasya viśvasya bhittibhūtastadabhāvasya tathā||12||
A Mais Alta Realidade (parama-arthaḥ), o Estado (padam) Supremo (paramam), atua como o fundo ou substrato (bhitti-bhūtaḥ) de todo o universo (kṛtsnasya viśvasya) e também (tathā) de sua ausência --da ausência do universo-- (tad-abhāvasya)||12||
Sucinta exposição: O Ser e Seu Poder em forma de "consciência do Eu" (Eu Sou) são o constante suporte de tudo o que existe. Pode-se pensar Neles dois como a terra e a mãe natureza. Enquanto que a terra provê a base para a Vida, a mãe natureza a desdobra. Da mesma maneira, O Ser está sempre no mesmo Estado de Liberdade Absoluta. Sobre Ele, o Poder do Ser desdobra o Jogo chamado universo ou ausência do universo. Quando o universo é manifestado, a Mais Alta Realidade é o substrato, e, quando o universo é dissolvido, a Mais Alta Realidade continua sendo o substrato dessa dissolução. Depois, quando o universo é manifestado novamente, a Mais Alta Realidade está aqui outra vez, como o alicerce de tudo o que está manifesto. Esse ciclo em que o universo aparece e desaparece continua e continua até que se perceba a Verdade, isto é, até que se atinja a Libertação.
यत्त्वेकरसं सर्वेषां भूतानामेतत् परमं पदम्॥१३॥
Yattvekarasaṁ sarveṣāṁ bhūtānāmetat paramaṁ padam||13||
O Estado (padam) Supremo (paramam) (é) Aquilo --lit. "Isto"-- (etad) que (yad) certamente (tu) tem um sabor (eka-rasam) em todos os seres (sarveṣām bhūtānām)||13||
Sucinta exposição: O Estado Supremo, a Mais Alta Realidade, é sempre experimentado como o mesmo "Eu Sou" por todos os seres. Nunca muda nem sequer um pouco. É por isso que o aforismo afirma que o Estado Supremo tem sempre só um sabor.
एषा परमा दशा सर्वदारोध्या॥१४॥
Eṣā paramā daśā sarvadārodhyā||14||
Este (eṣā) Estado (daśā) Supremo (paramā) (é) sempre (sarvadā) carente de obstrução (arodhyā)||14||
Sucinta exposição: Como o Estado Supremo é uma massa compacta de Liberdade e Bem-Aventurança, ocupa tudo. Por exemplo, durante os diversos estados de vigília, sonho e sono profundo, o Ser permanece como a Testemunha desses três estados. É uma massa compacta que permeia todos eles. Se não fosse uma massa compacta, não se detectaria a transição de um estado ao seguinte (por exemplo, da vigília ao sono). Além disso, haveria problemas para explicar os processos da memória, porque, com cada mudança de estado, tudo o que se experienciou em um estado anterior seria esquecido. Como não é esse o caso, ou seja, detectam-se as transições de um estado ao seguinte, e a memória se mantém segura, tudo isso indica a presença de "Algo ou Alguém" que não muda através dos estados e é onipresente. Como a Mais Alta Realidade é assim, nunca é obstruída por nada, porque "tudo o que ocorre" está sempre se sucedendo "nos estados" e nunca "Nela Mesma".
Se a Mais Alta Realidade pudesse ser obstruída por algo, haveria interrupção da existência do universo. Como ninguém nunca experienciou total inexistência (já que há sempre alguém que existe mesmo no meio do vácuo), está provado que a Mais Alta Realidade nunca é obstruída por absolutamente nada. Nunca há total aniquilação da Mais Alta Realidade, porque sempre há alguém vendo como o resto dos seres morre, etc. Ao final, Este que sempre sobrevive e existe inclusive após a maior aniquilação universal é sempre a Mais Alta Realidade. Se tivesse alguma vez existido uma aniquilação total, ninguém existiria agora. Igualmente, ninguém poderia lembrar-se dela. Já que todas as aniquilações são sempre lembradas, tem que haver "alguém" sobrevivendo sempre. Este, como eu disse previamente, é a Mais Alta Realidade. Deste modo, a ausência de total morte, total inexistência, total inconsciência, total "tudo" é provada plenamente pelo mesmo processo de detectar a presença de "alguém" que constantemente percebe a morte, o vazio, a inconsciência, etc. Sim, pode-se insistir que tudo isso (ou seja, inexistência total, morte total, etc.) seja uma "sólida realidade", mas é só mera teimosia "sólida" e nunca algo que se possa provar mediante argumentos "sólidos". A própria existência de alguém prova a existência, consciência, eternidade, etc. da Mais Alta Realidade. Daí que Ela seja sempre "carente de obstrução".
परमार्थो घन इत्युच्यते स्वसर्वव्यापकत्वात्॥१५॥
Paramārtho ghana ityucyate svasarvavyāpakatvāt||15||
Diz-se que (ucyate) a Mais Alta Realidade (parama-arthaḥ) (é) uma "massa compacta" (ghanaḥ) devido à Sua onipresença (sva-sarvavyāpakatvāt)||15||
Sucinta exposição: Permeia todos os estados da consciência como a sua imutável Testemunha: vigília, sonho e sono profundo. A expressão "svasarvavyāpakatvāt" também pode ser traduzida como "porque permeia tudo", ou seja, "porque impregna tudo". Se a Mais Alta Realidade não fosse imutável nem uma massa compacta, não se poderiam detectar mudanças e transições através dos estados de consciência. O que está mudando constantemente é só uma manifestação do Poder do Ser e nunca a Mais Alta Realidade como essencialmente é.
न परमार्थात्पृथक् किञ्चिदप्यस्ति॥१६॥
Na paramārthātpṛthak kiñcidapyasti||16||
Não há absolutamente nada (na... kiñcid api asti) além da (pṛthak) Mais Alta Realidade (paramārthāt)||16||
Sucinta exposição: Como tudo o que existe é uma expansão do Poder do Ser, não existe nunca nada que não seja a Mais Alta Realidade. Se algo existe, é a manifestação do Seu Poder. E, como o Poder do Ser está sempre em unidade com o Ser, ao final, tudo o que existe brilha constantemente com a Luz da Mais Alta Realidade.
Segundo Capítulo: Ajñānapradīpakaḥ
(Explicação da ignorância espiritual)
आत्मा स्वतन्त्रो विश्वस्य सत्तां नैव जानाति॥१॥
Ātmā svatantro viśvasya sattāṁ naiva jānāti||1||
O Ser (ātmā), o Livre (svatantraḥ), não (na eva) sabe (jānāti) da existência (sattām) de um universo (viśvasya)||1||
Sucinta exposição: Como o Ser é sempre um com Seu Poder, tudo o que esse Poder manifesta é sempre visto como repleto da Divindade. Não há nenhum universo que exista separadamente do Seu Poder e, por conseguinte, Dele Mesmo. Ele também ignora a existência de um universo durante o estado em que o Ser é experimentado sem o Seu Poder emergindo como o universo, isto é, quando é experimentado como Consciência pura unicamente consciente da sua própria existência na forma de "Eu Sou". Que dirá de quando o Ser inconcebivelmente habita totalmente absorto em Si Mesmo, nem sequer consciente de Sua própria existência como "Eu Sou". Por todas essas razões, Ele nunca sabe sobre a existência do universo. O universo é só o Jogo do Seu Poder.
विश्वमस्य शक्तेः स्फारमात्रम्॥२॥
Viśvamasya śakteḥ sphāramātram||2||
O universo (viśvam) (é) unicamente (mātram) a expansão (sphāra) do Seu Poder (asya śakteḥ)||2||
Sucinta exposição: O universo é a expansão do Seu Poder e não algo mais. Uma mente comum não pode entender essa verdade, porque essa mente é uma manifestação do Seu Poder também. Quando o Poder do Ser está em íntima comunhão com Ele, o universo desaparece. Portanto, o universo (essa manifestação mutante) nunca é a Mais Alta Realidade como Ela essencialmente é, pois aparece e desaparece. O universo é somente uma expansão do Seu Poder.
तत्सत्यानुपलब्धिरज्ञानमेव॥३॥
Tatsatyānupalabdhirajñānameva||3||
A ausência de percepção (anupalabdhiḥ) dessa (tad) verdade (satya) (é) ignorância espiritual (ajñānam) verdadeiramente (eva)||3||
Sucinta exposição: Quando se perde de vista essa verdade, ou seja, quando se perde de vista o Livre e, em consequência, começa-se a acreditar que o universo não é a expansão de Seu Poder, mas sim "algo mais", esse estado é conhecido como ignorância espiritual no sentido de Āṇavamala tal como o próximo aforismo estabelecerá.
अज्ञानमिहाणवमलम्॥४॥
Ajñānamihāṇavamalam||4||
A ignorância espiritual (ajñānam) (é) Āṇavamala (āṇava-malam) neste contexto (iha)||4||
Sucinta exposição: Āṇavamala é uma contração do Poder de Vontade (uma das três formas que Seu Poder assume ao manifestar o universo). A ignorância espiritual também é conhecida como impureza espiritual. Faz com que o Ser sinta que Ele não é o Ser, mas sim "um indivíduo limitado". Isso é deliberado, a saber, o Ser voluntariamente assume esse estado condicionado manifestado pelo Seu próprio Poder. Quando o Ser, por Sua própria Livre Vontade, perde de vista a Sua própria Perfeição (Plenitude) e a eterna verdade de que este universo é sempre uma expansão do Seu Poder, isso marca a Sua entrada na ignorância espiritual, o que dá como resultado uma identificação com os iminentes corpos causal, sutil e físico. Leia Trika 4 para obter mais informação.
अज्ञानादेव सर्वा अन्याः परिमितता उत्थिताः॥५॥
Ajñānādeva sarvā anyāḥ parimitatā utthitāḥ||5||
Todas (sarvāḥ) as outras (anyāḥ) limitações (parimitatāḥ) surgem (utthitāḥ) da ignorância espiritual (ajñānāt eva)||5||
Sucinta exposição: A partir do próprio Āṇavamala, brota o resto das limitações (os outros dois mala-s ou impurezas, junto com Māyā e seus Kañcuka-s). Novamente, para obter elucidação adicional, leia Trika 4.
अणुरात्मा खल्वज्ञानेन तु बद्धः॥६॥
Aṇurātmā khalvajñānena tu baddhaḥ||6||
Um ser limitado (aṇuḥ) (é) certamente (khalu) o Ser (ātmā), mas (tu) atado (baddhaḥ) pela ignorância espiritual (ajñānena)||6||
Sucinta exposição: Não existe nenhuma diferença entre o ser limitado e o Ser, realmente, mas, no Jogo exibido pelo Seu próprio Poder, a única diferença seria a presença da ignorância espiritual. Quando o Ser decide de novo se livrar voluntariamente da ignorância espiritual, isso é conhecido como Libertação ou iluminação espiritual. Falarei sobre isso por meio de outro aforismo depois. Ainda assim, o Ser permanece sempre igual, ou seja, como o Núcleo de tudo. Se o Ser mudasse mesmo só um pouco, então não seria a Mais Alta Realidade, mas sim outra manifestação do Seu Poder.
अयं बन्धोऽस्य शक्तेः क्रीडा केवलम्॥७॥
Ayaṁ bandho'sya śakteḥ krīḍā kevalam||7||
Esta (ayam) escravidão (bandhaḥ) (é) somente (kevalam) um Jogo (krīḍā) do Seu Poder (asya śakteḥ)||7||
Sucinta exposição: A escravidão resultante devido à presença de ignorância espiritual é só um Passatempo do Seu Poder. Isso não pode ser compreendido pela mente comum, pois, como eu disse há um tempo, esta mente é somente um produto do Poder do Ser. De qualquer forma, a verdade de que a aparente escravidão do Ser é unicamente um jogo levado a cabo por Seu Poder pode ser captada pelo Ser por meio da sua própria Graça.
अणवोऽज्ञानमूलका अस्या दिव्यायाः क्रीडायाः फलम्॥८॥
Aṇavo'jñānamūlakā asyā divyāyāḥ krīḍāyāḥ phalam||8||
Os seres limitados (aṇavaḥ), enraizados na (mūlakāḥ) ignorância espiritual (ajñāna), (são) o resultado (phalam) deste divino Jogo (asyāḥ divyāyāḥ krīḍāyāḥ)||8||
Sucinta exposição: Todos os seres limitados, baseados em ignorância espiritual, são o fruto do divino Jogo do Seu Poder. Cada ser condicionado que está por aqui não é nada mais que o Ser assumindo voluntariamente limitação. Quando um ser limitado se dá conta disso, diz-se que é "liberado" ou "iluminado", espiritualmente falando. Tal alma liberada foi sempre idêntica ao Ser, mas não se dava conta disso. Quando se dá conta, se dá conta de que sempre se deu conta. Isso tampouco pode ser entendido por uma mente comum, obviamente, salvo de um ponto de vista teórico. Não obstante, pode-se dar conta da própria identidade com o Ser por meio da Sua Graça. Quando digo "identidade" quero dizer "exatamente isso" e não "semelhança". Todos são plenamente o Ser, quer se deem ou não conta disso. Se alguém não fosse o Ser de maneira total, jamais poderia dar-se conta Dele totalmente. Esse sutil ensinamento é difícil de compreender, mas absolutamente certo.
अज्ञानं पश्चाद्बन्धश्चात्मनः स्वाच्छन्द्यं दर्शयतः॥९॥
Ajñānaṁ paścādbandhaścātmanaḥ svācchandyaṁ darśayataḥ||9||
A ignorância espiritual (ajñānam) e (ca) a subsequente (paścāt) escravidão (bandhaḥ) exibem (darśayataḥ) a Liberdade Absoluta (svācchandyam) do Ser (ātmanaḥ)||9||
Sucinta exposição: O ato de Ele assumir ignorância espiritual e experimentar a escravidão resultante é um ato que mostra a Sua Liberdade Absoluta. O Ser é tão Livre que pode ser um indivíduo limitado e logo, num instante, tornar-se ilimitado de novo. Não há modo de descrevê-Lo ou pensar sobre Ele com exatidão. É totalmente inconcebível. Nesse sentido, a presença de ignorância espiritual não nega, mas sim reafirma o Seu Estado de Liberdade e Independência Totais.
Terceiro Capítulo: Svātmapratyabhijñāpradīpakaḥ
(Explicação do reconhecimento do próprio Ser)
आत्मन एषा परमा दशा यद्यपि सर्वेषु भूतेषु वर्तते तथापि नैव सर्वैस्तैः प्रत्यभिज्ञायते॥१॥
Ātmana eṣā paramā daśā yadyapi sarveṣu bhūteṣu vartate tathāpi naiva sarvaistaiḥ pratyabhijñāyate||1||
Embora (yadi api) este (eṣā) Estado (daśā) Supremo (paramā) do Ser (ātmanaḥ) exista (vartate) em todos os seres (sarveṣu bhūteṣu), não obstante (tathā api) não é (na eva) reconhecido (pratyabhijñāyate) por todos eles (sarvaiḥ taiḥ)||1||
Sucinta exposição: Embora todos os seres sejam sempre o mesmíssimo Ser, ainda assim nem todos eles reconhecem essa verdade. É por isso que tem sentido a busca pela libertação da escravidão.
सर्वमिदं स्वस्वातन्त्र्यमपि दर्शयति॥२॥
Sarvamidaṁ svasvātantryamapi darśayati||2||
Tudo (sarvam) isto (idam) mostra (darśayati) Sua (sva) Liberdade Absoluta (svātantryam) também (api)||2||
Sucinta exposição: Salvo o Ser, quem poderia ser tão Livre a ponto de permanecer atado em alguns seres, mas livre em outros? Por causa disso, essa condição de exibir liberdade em alguns seres e escravidão em outros não é nada mais que outra reafirmação da Sua inerente Liberdade Absoluta.
यस्मादात्मा स्वेच्छयैवाज्ञानेनाणवमलेन बद्धस्तस्मात्स्वाच्छन्द्येनाप्यज्ञानेन मुक्तः॥३॥
Yasmādātmā svecchayaivājñānenāṇavamalena baddhastasmātsvācchandyenāpyajñānena muktaḥ||3||
Já que (yasmāt) o Ser (ātmā) fica atado (baddhaḥ) pela ignorância espiritual (ajñānena) —por Āṇavamala (āṇava-malena)— devido a Sua própria Vontade Livre (sva-icchayā eva), por isso (tasmāt) Ele se liberta (muktaḥ) da ignorância espiritual (ajñānena) mediante Sua própria Vontade (svācchandyena) também (api)||3||
Sucinta exposição: Um indivíduo limitado não pode se desfazer da ignorância espiritual por si mesmo, porque sua suposta individualidade e limitação são uma invenção do Seu Poder. O que é uma invenção não pode alcançar a Mais Alta Realidade jamais. Nesse sentido, o próprio ego nunca pode libertar-se de todas as limitações por si mesmo, já que é uma manifestação, uma invenção, do Seu Poder. Só o Ser pode libertar-se da ignorância espiritual, porque Ele é "Real" (não uma invenção) e, além disso, foi Ele que voluntariamente caiu vítima do Āṇavamala em primeiro lugar. Oh Ser, agora atado e no momento seguinte liberto, inclino-me perante Você!
तस्य हेतोरणोः प्रयत्नोऽज्ञानं नाशयितुं न शक्नोति॥४॥
Tasya hetoraṇoḥ prayatno'jñānaṁ nāśayituṁ na śaknoti||4||
Por essa razão (tasya hetoḥ), o esforço (prayatnaḥ) de um indivíduo limitado (aṇoḥ) não pode (na śaknoti) remover (nāśayitum) a ignorância espiritual (ajñānam)||4||
Sucinta exposição: O indivíduo limitado na forma de um ego pode, por esforço, remover todas as limitações, menos Āṇavamala (ignorância espiritual). A remoção do Āṇavamala é realizada somente pelo Ser Real que primeiramente assumiu essa pesada limitação por Sua própria Vontade Livre. No caso de indivíduos condicionados que tenham superado todas as limitações, exceto o Āṇavamala, "o que farão depois, então?". Somente permanecer alerta a Sua Revelação. Ensino isso com um aforismo mais adiante.
अनुपाय आत्मानुग्रहमात्रेण तात्कालिकं स्वस्वरूपप्रकाशनम्॥५॥
Anupāya ātmānugrahamātreṇa tātkālikaṁ svasvarūpaprakāśanam||5||
Em Anupāya (anupāye) (há) imediata (tātkālikam) revelação (prakāśanam) da própria (sva) natureza essencial (sva-rūpa) por meio da Graça do Ser, unicamente (ātma-anugraha-mātreṇa)||5||
Sucinta exposição: Sua Graça, disparada automaticamente pelas palavras de um genuíno mestre espiritual, desce imediatamente sobre um aspirante espiritual extremamente digno. Este é o upāya (meio ou método), onde existe muito pouco esforço por parte do aspirante. Não é um meio ou método real, mas sim a quase instantânea iluminação espiritual de um discípulo muito avançado.
अनुभवपुण्यराशीकरणार्थमन्ये त्रय उपायाः॥६॥
Anubhavapuṇyarāśīkaraṇārthamanye traya upāyāḥ||6||
Os outros (anye) três (trayas) meios ou métodos (upāyāḥ) (são) para (artham) acumular (rāśīkaraṇa) méritos (puṇya) (e) experiência (anubhava)||6||
Sucinta exposição: Esses métodos são: Śāmbhavopāya, Śāktopāya e Āṇavopāya. Através deles, um aspirante espiritual acumula mérito e experiência suficientes para receber a Graça do Próprio Ser. O Ser está sempre comprazido com Ele Mesmo, mas isso não significa que esteja comprazido com um aspirante espiritual. Alguém poderia dizer: "Mas o aspirante é também o Ser". Sim, mas Ele é tão inconcebivelmente Livre que pode estar comprazido e não comprazido ao mesmo tempo Consigo Mesmo. Já que esse comportamento está sempre além de todos os processos mentais, nunca tente compreendê-lo por meio da mente. Para entendê-lo plenamente necessita-se da Sua Graça e do resultante estado de dar-se conta do Ser.
शाम्भवोपाय इच्छोपाय आत्मन उद्यम उन्मज्जनेऽवहितता॥७॥
Śāmbhavopāya icchopāya ātmana udyama unmajjane'vahitatā||7||
Em Śāmbhavopāya (śāmbhava-upāye) —o meio ou método (upāye) no qual (se usa o Poder de) Vontade (icchā)—, (há) vigilância (avahitatā) relativa ao udyama (udyame) (ou) surgimento (unmajjane) do Ser (ātmanaḥ)||7||
Sucinta exposição: Este upāya (meio ou método) é para aspirantes avançados cuja única tarefa é permanecer alerta a Sua revelação. Permanecem vigilantes o tempo todo, com suas mentes interrompidas por completo. Quando chega o momento, Ele emerge de repente. Nenhum indivíduo limitado pode saber quando Ele surgirá dessa maneira, porque a Liberdade Absoluta é somente Dele. Essa explicação poderia parecer dualista, mas, na verdade, não é. Simplesmente não posso explicar exatamente em palavras, porque estas são uma manifestação do Seu Poder. Por conseguinte, as palavras sempre serão limitadas no tocante à descrição do insondável Ser.
शाक्तोपाये ज्ञानोपायेऽहंविमर्शेऽवधानम्॥८॥
Śāktopāye jñānopāye'haṁvimarśe'vadhānam||8||
Em Śāktopāya (śākta-upāye) —o meio ou método (upāye) no qual (se usa o Poder de) Conhecimento (jñāna)—, (há) atenção (avadhānam) à consciência do Eu (aham-vimarśe)||8||
Sucinta exposição: Este meio ou método é também demasiado avançado no caso da grande maioria dos aspirantes espirituais. A própria atenção é posta na consciência do Eu, isto é, no Seu Poder. Daí o nome "Śāktopāya" ou "o meio que pertence a Śakti (Seu Poder)". Aqui se repetem Mantra-s, mas não por um longo tempo, como no próximo meio, que descreverei em breve. O mantra é repetido uma vez ou por um período de tempo muito curto. O importante aqui é usar o Mantra para detectar a consciência do Eu em si mesmo. Como a consciência do Eu (o Seu Poder) é a fonte de todos os Mantra-s, o aspirante se torna consciente da consciência do Eu por meio de um Mantra. Muito simples de explicar, muito difícil de praticar para a maioria dos aspirantes.
आणवोपाये क्रियोपाये कस्मिंश्चिदन्यस्मिन्नप्यवधानं दत्तम्॥९॥
Āṇavopāye kriyopāye kasmiṁścidanyasminnapyavadhānaṁ dattam||9||
Em Āṇavopāya (āṇava-upāye) —o meio ou método (upāye) no qual (se usa o Poder de) Ação (kriyā)—, a atenção (avadhānam) se aplica (dattam) em algo mais (kasmiṁścid anyasmin api)||9||
Sucinta exposição: Este meio ou método é sempre o mais concorrido. Os principiantes em espiritualidade e inclusive os aspirantes intermediários andarão por aqui por muito tempo. A atenção não se aplica em Sua revelação ou na consciência do Eu, mas sim em algo mais (intelecto, energia vital, corpo ou objetos). Repetem-se Mantra-s também, como em Śāktopāya, mas por longos períodos de tempo e de modo mais mecânico. Ao final, um meio ou método leva ao outro, a saber, Āṇavopāya leva a Śāktopāya, e Śāktopāya leva a Śāmbhavopāya. Finalmente, Śāmbhavopāya leva à Libertação. A transição de um meio ao outro é geralmente gradual e leva muitos anos na maioria dos casos.
मोक्षो नान्यः स्वस्वभावप्रत्यभिज्ञायाः॥१०॥
Mokṣo nānyaḥ svasvabhāvapratyabhijñāyāḥ||10||
A Libertação (mokṣaḥ) não é nada mais que (na anyaḥ) um reconhecimento (pratyabhijñāyāḥ) da própria (sva) natureza essencial (sva-bhāva)||10||
Sucinta exposição: Libertação, também chamada de "remoção da ignorância espiritual", não é nada mais que um reconhecimento ou um dar-se conta do Ser, que é a natureza essencial em todos. Uma vez que se reconhece ou se dá conta do Ser, alcança-se a meta da vida. As palavras reconhecimento ou dar-se conta são usadas no lugar de conhecimento, porque o conhecimento é aplicado normalmente a objetos, não ao Sujeito Supremo. Enquanto se pode "conhecer" objetos e definir o que são, não se pode conhecer e definir o Ser, pois Ele é o Mais Alto Sujeito e, em consequência, está além do conhecimento. Às vezes, a expressão "conhecimento do Ser" é utilizada em maiúsculas, assim: "Conhecimento do Ser", para assinalar que esse Conhecimento não é conhecimento normal, mas sim especial. Para remover toda possível confusão, preferem-se as palavras reconhecimento ou dar-se conta.
आत्मनि प्रसन्ने मोक्षो भवति॥११॥
Ātmani prasanne mokṣo bhavati||11||
Quando o Ser está comprazido (ātmani prasanne), a Libertação (mokṣaḥ) tem lugar (bhavati)||11||
Sucinta exposição: Ele não é como uma pessoa que está contente com alguém ou algo assim. De qualquer maneira, é um modo de descrever o processo de descida da Sua Graça sobre um aspirante espiritual que seja suficientemente digno. A Libertação não terá lugar mediante esforços, então. Os esforços terminam quando esbarram em Āṇavamala (ignorância espiritual). Esta só é removida por Sua Graça e não por esforços, não importa o quanto se possa tentar. Daí que Śāmbhavopāya tenha a ver com vigilância quanto à Sua revelação, e não com concentrações na consciência do Eu, no intelecto, na energia vital, etc.
शाम्भवशाक्ताणवोपायेष्वभ्यस्तेष्विच्छाज्ञानक्रियाशक्तय उत्थिताः॥१२॥
Śāmbhavaśāktāṇavopāyeṣvabhyasteṣvicchājñānakriyāśaktaya utthitāḥ||12||
Quando se praticam Śāmbhavopāya, Śāktopāya e Āṇavopāya (śāmbhava-śākta-āṇava-upāyeṣu abhyasteṣu), os Poderes (śaktayaḥ) de Vontade (icchā), Conhecimento (jñāna) (e) Ação (kriyā) (estão) ativos (utthitāḥ)||12||
Sucinta exposição: O Poder de Vontade está ativo em Śāmbhavopāya porque se permanece voluntariamente em um estado de vigilância com a mente totalmente quieta. O Poder de Conhecimento está ativo em Śāktopāya porque indaga-se sobre a raiz de tudo o que foi manifestado, isto é, sobre a consciência do Eu. O Poder de Ação está ativo em Āṇavopāya porque tem-se que realizar muitas coisas utilizando objetos, intelecto, corpo e energia vital.
मोक्षात्पूर्वं च तास्तिस्रः शक्तय आनन्दशक्तितां यान्ति॥१३॥
Mokṣātpūrvaṁ ca tāstisraḥ śaktaya ānandaśaktitāṁ yānti||13||
Antes (pūrvam ca) da Libertação (mokṣāt), esses (tāḥ) três (tisraḥ) Poderes (śaktayaḥ) se convertem em Poder de Bem-Aventurança (ānanda-śaktitāṁ yānti)||13||
Sucinta exposição: Quando a Sua Graça está a ponto de descer sobre um aspirante digno de louvação, todos esses poderes de Vontade, Conhecimento e Ação se convertem unicamente no Poder de Bem-Aventurança. Em outras palavras, o aspirante experimenta a consciência do Eu (o Seu Poder) plenamente, na forma de Felicidade massiva. É toda a Bem-Aventurança existente depositada em um lugar: o aspirante. A magnitude dessa experiência está além de toda descrição.
यावत्परमानन्दोन्मज्जनं चमत्कारप्रकर्षाद्विस्मयमुद्रा वर्तते॥१४॥
Yāvatparamānandonmajjanaṁ camatkāraprakarṣādvismayamudrā vartate||14||
Durante (yāvat) o surgimento (unmajjanam) da Bem-Aventurança (ānanda) Suprema (parama) há (vartate) Vismayamudrā --mudrā do assombro-- (vismaya-mudrā) devido à intensidade (prakarṣāt) da Felicidade da pura consciência do Eu (camatkāra)||14||
Sucinta exposição: A Bem-Aventurança é tão massiva, como alta voltagem, que o aspirante é forçado a abrir a boca totalmente. Às vezes, a língua fica para pendurada também. Esta é a mudrā do assombro, porque parece um gesto de grande surpresa: "Oh!". A surpresa jaz na extraordinária dimensão da Felicidade que se experimenta. Se um aspirante provido de mérito e experiência suficientes pudesse experimentar essa Bem-Aventurança Suprema, ingressaria em um estado de vazio de modo que o seu sistema não fosse danificado no processo. Só um discípulo muito avançado e experiente dotado de excepcional mérito será capaz de permanecer estável enquanto o Poder do Ser lhe é revelado plenamente. Se o aspirante não puder permanecer estável, ou seja, consciente, mas sim entrar em um estado de vazio, não está pronto ainda. Para desfrutar dessa Bem-Aventurança Suprema, o aspirante deve permanecer consciente enquanto ocorre. Essa estabilidade só é possível uma vez que se acumule suficiente experiência e mérito, e não antes.
इहास्याचिन्त्यशक्तेरहंविमर्शस्य सारं ज्ञायते॥१५॥
Ihāsyācintyaśakterahaṁvimarśasya sāraṁ jñāyate||15||
Aqui (iha), conhece-se (jñāyate) a essência (sāram) do Seu inconcebível Poder (asya acintya-śakteḥ) —a consciência do Eu (aham-vimarśasya)—||15||
Sucinta exposição: Com "conhece-se", eu quis dizer "experimenta-se, capta-se". Quando o aspirante fica inundado pela Felicidade Suprema e pode disfrutá-la sem entrar em um estado de vazio, dá-se conta do que é realmente o Seu inconcebível Poder. Esta é a segunda mais assombrosa experiência que um ser vivo pode ter. Explico esta declaração por meio do próximo aforismo.
परमानन्दस्य चोन्मज्जनमहन्तारसशालि न चास्ति मोक्षः स्वस्वातन्त्र्यशक्त्यभावात्॥१६॥
Paramānandasya conmajjanamahantārasaśāli na cāsti mokṣaḥ svasvātantryaśaktyabhāvāt||16||
Ainda que (ca) o surgimento (unmajjanam) da Bem-Aventurança Suprema (parama-ānandasya) (esteja) cheio (śāli) da seiva e vigor (rasa) da consciência do Eu (ahantā), ainda assim não é (na ca asti) Libertação (mokṣaḥ), devido à ausência (abhāvāt) do Seu (sva) Poder (śakti) de Liberdade Absoluta (svātantrya)||16||
Sucinta exposição: Quando Seu Poder de Liberdade Absoluta aparece, a Bem-Aventurança como se experimentava previamente se vai e é substituída por Paz além do entendimento humano. É como ter uma grande carga removida das costas. Essa gigantesca carga é a ignorância espiritual, que mantém uma pessoa na esfera da limitação. Isto é Libertação. Esta é a meta da vida. Esta é a experiência mais assombrosa que um ser vivo pode ter. Este é o Estado Supremo.
अस्मिन् पदे सहसैव शिखाग्रे सहस्रार उन्मनाभूमिरनुभूता॥१७॥
Asmin pade sahasaiva śikhāgre sahasrāra unmanābhūmiranubhūtā||17||
Neste estado (asmin pade), a etapa (bhūmiḥ) Unmanā (unmanā) é experimentada repentinamente (sahasā eva... anubhūtā) na ponta (agre) da śikhā --lit. tufo de cabelo na cabeça-- (śikhā) em Sahasrāra (sahasrāre)||17||
Sucinta exposição: A etapa de Unmanā se localiza na ponta da śikhā em Sahasrāra, embora, em realidade, esteja além do espaço e do tempo. Esse tema é explicado em plenos detalhes em Meditação 6. Sintetizando-o, a experiência é como a de uma "pluma" na cabeça. Depois de sentir essa "pluma" bem ali, em Sahasrāra, o Ser aparece como Ele essencialmente é. Isso não pode ser descrito de nenhum modo, porque a experiência não está dentro da esfera do espaço, tempo, palavras, mundo, individualidade e assim por diante. Mesmo assim, compus alguns aforismos a mais como uma descrição da experiência final no caminho espiritual, após milhares de nascimentos.
उन्मनायामुदितायां चित्तं संह्रियते॥१८॥
Unmanāyāmuditāyāṁ cittaṁ saṁhriyate||18||
Quando aparece Unmanā (unmanāyām uditāyām), a mente (cittam) é retirada (saṁhriyate)||18||
Sucinta exposição: Depois de ter a sensação de uma "pena" sobre a cabeça, a mente é retirada pelo Seu toque. Enquanto que, em geral, pode-se ouvir fortemente a voz da mente, quando o Ser revela-se a Si Mesmo a um aspirante, a voz da mente é ouvida como um sussurro distante que não importa a ninguém. Essa experiência é absolutamente impressionante, porque a invenção chamada "individualidade" vai-se junto com a mente.
इह स्वतन्त्रताभावेन स्वात्मप्रकाशनमस्ति॥१९॥
Iha svatantratābhāvena svātmaprakāśanamasti||19||
Aqui (iha), há (asti) revelação (prakāśanam) do próprio (sva) Ser (ātma) como (bhāvena) Liberdade Absoluta (svatantratā)||19||
Sucinta exposição: Quando tudo isso ocorre, sente-se a Própria Liberdade totalmente. Dá-se conta de que a individualidade e o respectivo universo associado a ela é somente uma invenção, uma manifestação do Seu Poder. Esse dar-se conta só é possível no caso de um aspirante extraordinário que fez tudo o que tinha que fazer antes. Se esse dar-se conta viesse antes que se estivesse pronto, entraria-se em um estado de vazio, exceto que o Ser decida conceder Libertação a um aspirante que não a merece. Como Ele é completamente Livre, não está atado a nenhuma regra, mas, em geral, dará a Sua Graça unicamente a aspirantes dignos, por razões óbvias.
तदात्मा ह्यात्मानं प्रत्यभिजानात्येव॥२०॥
Tadātmā hyātmānaṁ pratyabhijānātyeva||20||
Então (tadā), o Ser (ātmā) reconhece (pratyabhijānāti) o Ser (ātmānam), indubitavelmente (hi... eva)||20||
Sucinta exposição: Ao final, é sempre o Próprio Ser que revela ao Ser o Ser. Embora essa explicação pareça contraditória na esfera das palavras, é totalmente certa. Só o Ser Absolutamente Livre pode pôr em liberdade o Ser. Ninguém mais pode, ou seja, nenhum indivíduo limitado pode, porque todos os indivíduos limitados são invenções do Seu Poder e não a Mais Alta Realidade como Ela essencialmente é. Esta é a melhor maneira em que posso descrever o processo por meio de palavras.
मोक्षः सम्यगासक्त्यभावलक्षणः॥२१॥
Mokṣaḥ samyagāsaktyabhāvalakṣaṇaḥ||21||
A Libertação (mokṣaḥ) é caracterizada (lakṣaṇaḥ) pela completa (samyak) ausência (abhāva) de apego (āsakti)||21||
Sucinta exposição: Quando o Ser é abençoado com Sua própria Liberdade Absoluta, consequentemente experimenta total desapego. Pode viver neste planeta ou na galáxia mais remota do universo. É a mesma coisa para ele. Uma pessoa liberta pode manter um estado equânime sem nenhum tipo de esforço, em todo momento e sob todas as circunstâncias. Pode tomar a decisão de parecer uma pessoa normal também. Como o liberto é totalmente Livre como o Ser, pode fazer qualquer coisa. Sua permanência no Ser é a Mais Alta Realização. É isso que o aforismo seguinte descreverá.
एतत्परमं पदमुच्यते यतोऽस्मात्परतरं नान्यत्किञ्चिदस्ति॥२२॥
Etatparamaṁ padamucyate yato'smātparataraṁ nānyatkiñcidasti||22||
Diz-se que (ucyate) isto (etad) (é) o Estado (padam) Supremo (paramam) porque (yatas) não há absolutamente nada (na anyat kiñcid asti) superior (parataram) a Ele (asmāt)||22||
Sucinta exposição: É o Estado Supremo porque não há nenhuma outra experiência mais alta que Isto. Quando se tem tal reconhecimento ou estado de dar-se conta do Ser, imediatamente se compreende que não há absolutamente nada superior a Isto. Quando não se tem tal reconhecimento ou estado de dar-se conta do Ser, não se pode compreendê-lo. É simples assim!
आत्मैवाज्ञानेन स्वशक्तिविजृम्भितेन बद्धः स्वानुग्रहेण वा मुक्तः स स्वातन्त्र्यभरितः सर्वदा॥२३॥
Ātmaivājñānena svaśaktivijṛmbhitena baddhaḥ svānugraheṇa vā muktaḥ sa svātantryabharitaḥ sarvadā||23||
Quer o Ser (ātmā eva) esteja atado (baddhaḥ) por ignorância espiritual (ajñānena) —que é uma manifestação (vijṛmbhitena) de Seu próprio (sva) Poder (śakti)— ou (vā) liberto (muktaḥ) mediante Sua própria Graça (sva-anugraheṇa), Ele (saḥ) (está) cheio de (bharitaḥ) Liberdade Absoluta (svātantrya) em todo momento (sarvadā)||23||
Sucinta exposição: O Ser permanece em Seu próprio Estado Livre em todo momento, quer esteja atado pela ignorância espiritual ou liberto pela Sua própria Graça. Tanto escravidão como Libertação unicamente reafirmam Sua Independência e Liberdade Absolutas. Disso, não há dúvida alguma. Para entender plenamente esses ensinamentos, o Ser precisa dar-se conta do Ser diretamente.
कृतिः श्रीमुक्तानन्दपरमहंसोपजीविनः परमशिवदत्तोपदेशस्य गब्रिएल्प्रदीपकनाम्नो योगिनः। श्रीमदभिनवगुप्तस्य महाशिष्याय श्रीक्षेमराजाय नमोऽस्तु। इति शिवम्॥
Kṛtiḥ śrīmuktānandaparamahaṁsopajīvinaḥ paramaśivadattopadeśasya gabrielpradīpakanāmno yoginaḥ| Śrīmadabhinavaguptasya mahāśiṣyāya śrīkṣemarājāya namo'stu| Iti śivam||
(Esta é) a obra (kṛtiḥ) do yogī (yoginaḥ) chamado (nāmnaḥ) Gabriel Pradīpaka (gabriel-pradīpaka), que depende (upajīvinaḥ) do venerável Muktānanda Paramahaṁsa (śrī-muktānanda-paramahaṁsa) (e) que recebeu os ensinamentos (datta-upadeśasya) do Śiva Supremo (parama-śiva)|
Saudação(ões) (namas astu) ao venerável Kṣemarāja (śrī-kṣemarājāya), o grande discípulo (mahā-śiṣyāya) do ilustre Abhinavagupta (śrīmat-abhinavaguptasya)!|
Que haja bem-estar para todos (iti śivam)!||
Sucinta exposição: O nome do indivíduo (Gabriel Pradīpaka) como sendo o autor desta escritura é meramente uma formalidade. É por isso que escrevi "que recebeu os ensinamentos do Śiva Supremo", isto é, "que recebeu os ensinamentos do Ser Mesmo, o verdadeiro autor". Também presto respeito ao meu Guru (Muktānanda Paramahaṁsa), que acendeu a minha Luz com a Sua Luz. Finalmente, quis mencionar minha saudação ao grande sábio Kṣemarāja, pois a maioria das minhas traduções atuais são traduções das suas próprias escrituras. Aprendi tantas coisas dele durante tantos anos. Tudo isso foi a revelação do Ser para o Ser. Que possa haver bem-estar para o Ser que aparece na forma de todos, então!
Informação Adicional
Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.
Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.