Sanskrit & Trika Shaivism (English-Home)

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 Śivamahimnaḥ stotram (Shiva Mahimna Stotram) (português - pura)

Hino que rende homenagem à grandeza de Śiva - Tradução pura


 Introdução

Gabriel Pradīpaka, mais uma vez. O autor desta conhecida escritura é Puṣpadanta, um renomado Gandharva (músico celestial), que compôs este hino para apaziguar a ira de Śiva. Por que Śiva estava zangado? Porque Puṣpadanta, enquanto tentava roubar algumas flores do jardim de um rei, pisou sem querer em uma "erva" em particular que é muito querida por Śiva. É uma longa estória, na verdade. Contudo, o importante no presente hino recai nas descrições detalhadas de uma série de eventos associados com Śiva. É, também, um hino cheio de devoção. É por isso que é altamente recomendado para o Svādhyāya (Estudo e Recitação de Escrituras Sagradas, segundo Patañjali).

Note que há, por assim dizer, dois tipos de Śiva: (1) O Śiva védico, que aparece nos Veda-s como Rudra. No entanto, na literatura com base nos Veda-s (i.e. Purāṇa-s, Itihāsa, etc.), surge a denominação "Śiva". Esse Śiva é o deus pertencente à célebre trilogia (Brahmā --Criador--, Viṣṇu --Preservador--, Śiva --Destruidor--). É um Śiva "pessoal", que é principalmente "mitológico". (2) O Śiva do Trika, que se identifica com o próprio Ser. O Trika (Shaivismo não dual da Caxemira) estabelece que Śiva é o recôndito Espírito que habita a tudo e a todos. É um Śiva "sem forma e impessoal" que resulta de um longo desenvolvimento que se iniciou no Śiva Védico. Se você não compreende qual é a diferença, nunca compreenderá porque eu digo que "Você é Śiva", mas não necessariamente o "deus destruidor da supracitada trilogia", e por aí vai. O Śiva Védico é pessoal, enquanto que o Śiva do Trika é impessoal e universal.

Como você pode ver, o conceito de Śiva no sistema Trika é muito mais amplo e inclui tudo (inclusive o Śiva Védico). Geralmente falo do Śiva do Trika, e não do védico. Entendeu?... muito bem. É claro que, na verdade, não há dois Śiva-s, mas, sim, dois conceitos Dele; porém, você deve entender os dois para não cometer nenhum equívoco. Em outras palavras, quando eu falo de Śiva como um yogī que vive numa caverna, etc., estou falando do "Śiva védico", mas quando falo de Śiva como sendo a eterna Testemunha que vive em todos, etc., estou falando do "Śiva do Trika". Bem, as palavras são limitadas, como você seguramente sabe, mas espero que tenha entendido o núcleo da minha explicação. E, agora, o hino.

Este é um documento de "tradução pura", ou seja, você não encontrará nenhum Sânscrito original, mas haverá, às vezes, uma quantidade mínima de Sânscrito transliterado nas próprias traduções das estrofes. É claro, não haverá nenhuma tradução palavra por palavra.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi adicionado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está entre hífens duplos (--...--) constitui informação esclarecedora adicional também adicionada por mim. Uma vez ou outra, alguns termos importantes podem ser destacados com cor.

Ao início


 Estrofes 1 a 7 (incluindo uma estrofe preliminar em honra de Gaṇeśa)

-Hino que rende homenagem à grandeza de Śiva-

Inclino-me perante os pés de lótus do Senhor (que remove) obstáculos (e) produz a destruição de (todos) os pesares, que é o filho com rosto de elefante de Umā --esposa de Śiva--, que é servido pelas tropas de espíritos e fantasmas (de Śiva), etc. e que belamente come maçãs-de-elefante e jambos.


O venerável Puṣpadanta --lit. "aquele que tem dentes semelhantes a flores"-- disse:

Se o louvor (realizado) por alguém que não conhece nem um pouco os limites ou extensão da Sua grandeza fosse inadequado; então até as invocações em louvor a Você (vertidas) por Brahmā, etc. --ādi-- (teriam) declinado e decaído. Além disso, (se) todos os que (o) exaltam de acordo com o desenvolvimento de suas próprias inteligências não podem ser repreendidos, (então,) oh Hara --Śiva--, este "Parikara" --uma larga série de epítetos ou adjetivos-- (em Sua honra escrito) por mim no hino não pode ser censurado tampouco||1||


Sua grandeza está certamente além do alcance da mente --mānasa-- e da fala. Até mesmo a Śruti --esse termo é normalmente sinônimo de "Veda-s", embora devesse ser utilizado somente para designar as porções Mantra e Brāhmaṇa dos supracitados Veda-s-- tremulamente descreve essa (grandeza), à exclusão (de qualquer outro apelativo, como) "não isso". (Então,) por quem Ele --Śiva-- (será) louvado? Quantos tipos de qualidades (possui Śiva?). Por quem (Śiva virá) a ser percebido? Entretanto, (onde existe uma pessoa) cuja mente (e) fala não caiam no estado ou condição em que (Você) entra posteriormente?||2||


Oh Brahma --o Absoluto--!, é (por acaso) surpreendente que até mesmo o guru --preceptor-- dos deuses --isto é, "Bṛhaspati"-- (tivesse pronunciado) palavra(s) (em louvor) a Você, que é o autor --nirmitavān-- do Supremo Néctar --ou seja, "os Veda-s"--, o qual consiste em palavras repletas do mel (do conhecimento)? "Purifico minha fala, certamente, por meio do meritório ato de descrever as Suas qualidades ou atributos"... para esse propósito, (meu) intelecto decididamente empreendeu essa (tarefa), oh Destruidor das (três) cidades! --isto é, Śiva é chamado de "puramathana", pois destruiu as três cidades pertencentes aos três filhos do demônio conhecido como Tāraka--||3||


Sua Soberania ou Senhorio, que (é composta por) (1) "aquilo que produz manifestação do mundo" --ou seja, "Brahmā"--, (2) "aquilo que produz proteção do mundo" --ou seja, "Viṣṇu"--, (3) "aquilo que produz reabsorção do mundo" --ou seja, "Rudra"--, possui uma tripla essência a qual se separa ou dispõe (nos Veda-s) segundo o triplo corpo ou forma que consiste nos diferentes Guṇa-s --modalidades de "Prakṛti"--. Oh outorgador de dádivas!, neste mundo, algumas pessoas com mente estúpida criam injuriosos e desagradáveis (argumentos) para perturbar. (Somente) desfrutam (desses argumentos) os ímpios e os profanos em relação a isso --ou seja, "em relação à Soberania de Śiva"--||4||


"Que desejo ele (satisfaz)?; que corpo ele (assume)?; (e) que meio, suporte e material o Criador (utiliza para) manifestar os três mundos?", --"iti" representa as vírgulas e "ca" é um mero expletivo aqui--. Essa falaz maneira de arguir, que é (também) muito pouco sábia e inoportuna, acerca de Você e (a Sua) Soberania ou Senhorio que ultrapassa (todo) pensamento ou raciocínio, (provém) de uma pessoa confusa. (Essa mesma forma falaz de argumentar) faz com que algumas pessoas falem (ressonantemente somente) para que o mundo perca consciência e caia presa do engano||5||


"Os mundos (existem) sem nenhuma origem, mesmo apesar de consistirem de partes ou porções? Há criação dos mundos a despeito da (existência) de alguém presidindo os mundos (previamente mencionados)? Ou, (se) não há nenhum Senhor, que assistente prestaria ajuda na manifestação dos mundos?". Baseando-se nesse (tipo de raciocínio), oh Você, que é o mais excelente entre os deuses!, essas pessoas estúpidas e de raciocínio lento levantam dúvidas sobre Você||6||


"Os três Veda-s, o Sāṅkhya, o Yoga, a doutrina de Paśupati --ou seja, a doutrina Śaiva-- (e a doutrina) Vaiṣṇava --que diz respeito ao Senhor Viṣṇu--"; (nessas) diferentes fonte(s) (existe), assim, este e aquele caminho até o Mais Alto (Estado) --isto é, há diversas maneiras de dar-se conta do Supremo Ser ou Śiva--. Para os homens dedicados a múltiplos caminhos, direitos e distorcidos, de acordo com a variedade de seus apetites, Você é a única meta a alcançar, assim como o oceano em relação às águas --isto é, a água dos rios, da chuva, etc. desemboca por último no oceano--||7||

Ao início


 Estrofes 8 a 14

"Um grande touro, uma vara com a forma de um pé de cama --ou seja, uma vara com uma caveira na ponta--, um machadinho, a peluda pele de um tigre, cinzas, cobras-capelo e uma caveira --iti indica vírgulas--"; somente essas coisas são os Seus principais e característicos implementos, oh Outorgador de dádivas! Mesmo assim, os deuses se apoderam de diversas "Ṛddhi(s)" --isto é, prosperidade, riqueza, sucesso, etc.--, (as quais são produzidas) por Sua (mera) concentração no (espaço entre) as sobrancelhas. Indubitavelmente, a miragem dos objetos não agita alguém que se deleita no seu próprio Ser||8||


Alguns (estabelecem que) tudo é eterno; entretanto, outro(s) (dizem que) tudo isto não é eterno. (Por sua vez, ainda) outro(s) declaram, em relação a este mundo que consiste em diferentes objetos e propriedades, que é tanto eterno quanto efêmero --adhrauvya--. Oh Destruidor das (três) cidades!, surpreendido, por assim dizer, perante esses (pontos de vista) referentes a toda esta (Criação), não sinto vergonha em louvá-Lo... (minha) loquacidade (é) realmente audaz!||9||


Brahmā --o Criador--, de cima, (e) Viṣṇu --o Preservador--, de baixo, procederam com esforço para definir exatamente a Sua Soberania ou Senhorio (quando você tomou) a forma de uma coluna de fogo; (mas) não bastou --ou seja, eles fracassaram--. (Entretanto,) posteriormente, (somente) quando ambos louvaram a (Śiva) abundantemente com devoção e fé, oh Girīśa --"Senhor da Montanha", um epíteto de Śiva--, ele --Śiva-- apresentou Sua própria (natureza essencial) perante os dois. Que ato respeitoso em Sua honra (, como o que realizaram Brahmā e Viṣṇu,) não é (, no final das contas,) frutífero?||10||


Tendo eliminado toda penetração hostil --isto é, todos os inimigos ao redor-- dos três mundos --lit. "tendo trazido os três mundos a uma condição carente de penetração hostil"-- sem esforço, o (demônio) de dez bocas --"Rāvaṇa", famoso rival de Rāmacandra-- tinha os seus (vinte) braços (ainda) governados pelo desejo --lit. "coceira"-- de lutar. (Após isso,) oh Destruidor das três cidades!, (Rāvaṇa) dispôs a fileira formada por (suas dez) cabeças de lótus como uma oferenda --bali-- perante (os Seus) pés, que são (tão belos) como um lótus, (valha a redundância. Procedeu dessa maneira) por causa de (sua) firme devoção por Você. Esse (ato de entrega) ocorreu de repente||11||


(Contudo,) para esse (mesmo demônio), não houve lugar de repouso, nem sequer no mais baixo dos infernos --ou também, "na região inferior"--, quando (Você) ociosamente moveu a ponta --śiras-- do Seu --tava-- polegar, (já que ele) também marchou contra Kailāsa, a Sua Morada --adhivasati--, (e tentou tomá-la) mediante o poder de seus (inúmeros) braços semelhantes a um bosque, cuja força havia sido obtida por meio do serviço a Você. Certamente, o homem malévolo se confunde devido à opulência||12||


Oh outorgador de dádivas!, quanto a Bāṇa, que havia convertido os três mundos em dóceis servos, (ele gozava) inclusive da riqueza de Sutrāman --um epíteto de Indra, o senhor do Céu, que significa "aquele que guarda ou protege bem"--, a qual é extremamente excelente, no reino inferior (o qual governava como rei. Na verdade,) isso não é estranho, (já que) esse (rei demônio) adorava Seus pés. A que prosperidade não conduz o ato de inclinar a (própria) cabeça para Você? --ou seja, não existe prosperidade que esteja fora do alcance de alguém que incline a cabeça para Você--||13||


Oh Você, que possui três olhos!, essa mancha (azul) na Sua garganta, que apareceu porque Você reteve (, lá, ) o veneno (chamado de Kālakūṭa) quando O dominou a compaixão para com os deuses e demônios que estavam aterrorizados pela inesperada destruição do universo, certamente (O) embeleza. Ah!, até mesmo a (previamente mencionada) alteração na condição corporal dessa (Suprema Deidade), que gosta de estilhaçar o medo no mundo, é digna de louvor||14||

Ao início


 Estrofes 15 a 21

Oh Senhor!, aquele --Kāmadeva, o deus do amor-- cujas flechas são sempre vitoriosas e não erram nunca o alvo em nenhum lugar deste mundo formado por deuses, demônios (e) seres humanos --nara--, (simplesmente) O considerou --lit. "considera"-- similar a um deus inferior, e (, devido a isso,) tornou-se uma lembrança que vive (unicamente) na memória (dos homens). Sem dúvida, uma ofensa (lançada) contra os que têm controle de si mesmos não conduz ao bem-estar||15||


Devido ao golpe dos (Seus) pés, a terra repentinamente duvida; (de fato, a totalidade dos) três mundos --lit. "os (três) passos de Viṣṇu--, que são compostos por uma multidão de planetas despedaçados pelos (Seus) braços semelhantes a barras de ferro, experimentou perplexidade. De repente, o céu se torna miserável, (já que seus) lados inclinados são golpeados pelos ondulantes e emaranhados cachos (da Sua cabeleira quando) Você dança para proteger o mundo. Realmente, (o Seu próprio) Poder e Supremacia (são) desfavoráveis (nessa ocasião), não há dúvidas quanto a isso||16||


Esse contínuo fluxo de águas --esse é um epíteto do rio celestial denominado "Mandākinī"-- que se estende através do Céu, (e cuja) beleza, aparecendo como espuma, é intensificada por uma multidão de estrelas, vê-se (tão) diminuto (quanto) uma gota de água na Sua cabeça. O mundo (é) produzido por esse (mesmo rio sagrado) na forma de (sete) ilhas circundadas pelo oceano. Desse modo, a partir dessa (declaração), a Sua Divina Forma, que possui firme e constante grandeza, (pode ser facilmente) inferida por analogia||17||


(A Sua) biga (era) a terra, o cocheiro (era) Brahmā --também chamado de "Śatadhṛti", que significa literalmente "aquele que tem cem sacrifícios"--, o monte Meru --também denominado "Agendra", que significa literalmente "rei das montanhas"-- (era o Seu) arco; do mesmo modo, as duas rodas da (Sua) biga (eram) o sol --arka-- e a lua --candra--, (e) Viṣṇu --também conhecido como "Rathacaraṇapāṇi", que significa literalmente "aquele que tem em suas mãos a roda de uma biga"-- (era a Sua) flecha quando Você quis queimar --didhakṣu-- as três cidades, (as quais eram como) grama (para Você. Apesar de tudo isso), qual é o objetivo desse ressonante ato? (Na verdade,) os Pensamentos do Senhor não dependem de mais nada, (mas, sim,) estavam brincando com objetos à Sua disposição||18||


Oh Destruidor das três cidades!, Hari --ou seja, Viṣṇu--, após ter colocado (sua) oferenda de mil lótus aos Seus pés, (notou) que faltava um (lótus) nessa (oferenda. Então,) arrancou (um dos) seus próprios olhos de lótus (para resolver esse problema. Como resultado,) a abundância da (sua) devoção (foi) convertida (por Você) naquela bela Roda (chamada de "Sudarśana"), que permanece alerta para proteger os três mundos||19||


Quando um sacrifício --kratu-- termina --lit. "cai no sono"--, Você permanece desperto para recompensar quem o realizou. Como um ritual de sacrifício que cessou dará frutos sem a adoração ao Puruṣa ou Pessoa Suprema --isto é, Śiva--? Por essa razão, após tornarem-se conscientes de que Você (é) aquele que dá o fruto nos sacrifícios, e munidos de fé na Śruti --ou seja, os Veda-s--, as pessoas decididamente realizam atos de sacrifício||20||


Oh Outorgador de refúgio!, Você --tvam--, que tem gosto por conceder constantemente os frutos dos sacrifícios, arruinou --ababhraṁśas ou abhraṁśayas-- (aquele famoso) sacrifício (no qual) Dakṣa --pai de Satī; Satī foi a primeira esposa de Śiva--, um especialista em atos de sacrifício e um mestre de todos os seres que possuem um corpo, era o sacrificador; (por sua vez,) o ofício de "ṛtvij" --os sacerdotes que participam do sacrifício-- era levado a cabo pelos (próprios) Sábios védicos --Ṛṣi-s--, (enquanto que) as tropas de deuses (eram) os sacerdotes que supervisionavam. Indubitavelmente, (os) sacrifícios (realizados) para enfeitiçar (outras pessoas acabam sendo) desfavoráveis para a fé de quem os realiza||21||

Ao início


 Estrofes 22 a 28

Oh Senhor!, a Sua violenta fúria na forma de um caçador, ainda hoje, não abandona aquele senhor de (todos) os seres vivos --isto é, Brahmā ou o Criador, na conhecida trilogia--, que foi ferido pelas (flechas do dito) caçador com arco em mãos, (e) fugiu inclusive ao Céu, temeroso (de Você. Tudo isso aconteceu porque Brahmā) se tornou excessivamente luxurioso para com sua própria filha. (De fato, tomou) a forma --vapus-- de um antílope com patas brancas para ter relações sexuais (com ela quando a mesma) se converteu em um cervo vermelho (para escapar dele)||22||


Oh Destruidor das (três) cidades!, se a deusa (Pārvatī), (cuja) esperança se baseia em sua própria beleza e encanto, inclusive depois de ter visto previamente (como) Puṣpāyudha --lit. "aquele que tem flores como arma", um epíteto de Kāmadeva, o deus do amor--, armado com um arco, (foi) instantaneamente incinerado (por Você) como (se fosse) uma folha de grama, (ainda) pensa que Você é governado por uma mulher, oh (Śiva), que é dedicado a (todo tipo de) restrições!, (tão somente) porque (ela) ocupa metade do (Seu) corpo... (bem,) oh Outorgador de dádivas, as mulheres jovens (são), muito certamente, inexperientes e simples!||23||


Oh Destruidor de Smara --isto é, Kāmadeva, o deus do amor--!, (o Seu) lugar de jogos (está) nos crematórios, (e) os Piśāca-s --uma classe de demônios-- (são os Seus) companheiros. (Você) unta (Seu próprio corpo) com as cinzas das piras funerárias, (e,) inclusive, (usa) uma guirlanda (feita com) numerosos crânios humanos. Dessa maneira, (que) todo o Seu comportamento seja chamado de "não auspicioso"!... No entanto, oh Outorgador de dádivas!, Você é o Mais Alto Bem-estar para aqueles que (O) recordam||24||


Tendo mergulhado a mente no Ser de acordo com os preceitos das escrituras, (e) controlado a respiração, com (seus) olhos cheios de lágrimas (já que experimentam) uma Felicidade que provoca a ereção do pelo (dos seus corpos, os sábios) autocontrolados, quando contemplam o Deleite (e se) submergem, por assim dizer, no Lago feito --mayaḥ-- de Néctar, apoderam-se --no sentido de que "se tornam conscientes"-- do Princípio Interno em grande medida. Você (é), certamente, esse (Princípio Interno)||25||


"Você (é) o sol, Você (é) a lua, Você é o ar, Você (é) o fogo --lit. "aquele que leva as oblações"--, Você (é) a água, Você (é) o espaço; (e, de fato,) Você (é) verdadeiramente a terra e Você (é) o Ser" --"iti" indica vírgulas--. Assim, (que) os que passaram por uma transformação --ou seja, os sábios-- mantenham limitadas descrições --lit. "palavra(s)"-- acerca de Você! Entretanto, neste mundo, nós não conhecemos aquela realidade que Você não é||26||


Oh Outorgador de refúgio!, a palavra Om O denota separadamente por meio de (suas) três letras, (que consistem em diversas) formas, etc., (as quais representam) os três Veda-s, os três estados (de consciência) --isto é, vigília, sono e sono profundo--, os três mundos, bem como os três deuses. (Dessa forma, Você) está sendo descrito como (aquela Realidade) que atravessou (múltiplas) modificações ou mudanças. (Por sua vez,) por meio (desses mesmos três) finos e sutis sons --dhvani--, (a palavra Om O denota) como um todo, (já que) contém o Quarto (estado de consciência) --isto é, a Testemunha do resto dos estados--, (que é) a Sua (Trascendental) Morada ou Condição||27||


"Bhava, Śarva, Rudra, Paśupati; e, da mesma forma, Ugra, junto a Mahādeva; bem como Bhīma e Īśāna" --"iti" denota vírgulas--. Esse (é) o grupo que consiste de oito nomes desse (Śiva). Oh Deus!, mesmo que a Śruti --os Veda-s-- examine com precisão cada um deles nesse (grupo), rendo homenagem a esta querida (e Trascendental) Morada ou (Supremo) Estado --dhāma-- (que é) Você --bhavān-- (, essencialmente)||28||

Ao início


 Estrofes 29 a 35

Oh Você, que gosta do fogo!; saudação(ões) ao Mais Próximo, e saudação(ões) ao Mais Remoto. Oh Destruidor de Kāmadeva --o deus do amor--!; saudação(ões) ao Menor, e também saudação(ões) ao Maior. Oh (Śiva) de três olhos!; saudação(ões) ao Mais Velho, e também saudação(ões) ao Mais Jovem. Saudação(ões) a Você, que é tudo --sarva--, e também saudação(ões) a Sarva --um epíteto de Śiva--, (já que Ele aparece na forma de) "aquilo e isto" --o sentido é que Śiva é chamado de "Sarva" porque é esta pessoa e aquela pessoa, este animal e aquele animal, este objeto e aquele objeto, etc... em suma, Ele é tudo e todos--||29||


Repetidas saudações a Bhava --um epíteto de Śiva que significa "Existência--, (aparecendo na forma de) Viśvotpatti --lit. "aquele que dá nascimento ao universo", ou seja, Brahmā, o Criador--, (no qual há) copioso Rajoguṇa --isto é, a qualidade chamada de "Rajas"--. Repetidas saudações a Hara --um epíteto de Śiva que significa "Destruidor"--, (aparecendo na forma de) Tatsaṁhāra --lit. "aquele que destrói esse (mesmo universo)", ou seja, Rudra, o Destruidor--, (no qual há) abundante Tamoguṇa --isto é, a qualidade chamada de "Tamas"--. Repetidas saudações a Mṛḍa --um epíteto de Śiva que significa "Compassivo" ou "Misericordioso"--, (aparecendo na forma de) Sattvodrikti --lit. "aquele que é rico em Sattvaguṇa ou a qualidade chamada de Sattva", ou seja, Viṣṇu, o Preservador-- para a felicidade de (todos) os seres vivos. Repetidas saudações a Śiva --lit. "Auspicioso"--, (aparecendo na forma do) resplandecente estado que é desprovido dos três Guṇa-s ou qualidades||30||


Quão pobremente desenvolvida (está) esta mente controlada pelos Kleśa-s --isto é, as conhecidas cinco Aflições: ignorância, ego, apego, aversão e medo da morte--; e quão interminável e perpétua (é) a Sua Prosperidade, que ultrapassa a fronteira (marcada pelos três) Guṇa-s ou qualidades! Dessa maneira, (mesmo que eu esteja) intensamente assustado (por isso), oh Outorgador de dádivas, a devoção me fez oferecer flores (em forma de) palavras aos Seus pés||31||


(Se uma quantidade de) fuligem --usada como uma espécie de tinta-- equivalente à montanha negra fosse (vertida) no oceano, que atuaria como recipiente --isto é, "como tinteiro"--; (se) um galho da melhor árvore dos deuses --isto é, o famoso Kalpavṛkṣa-- (fosse usado como) caneta, (e) a (própria) terra (como) a folha na qual escrever; (e) se Śāradā --ou seja, "Sarasvatī", a deusa dos rios, geralmente ligada à eloquência e à erudição--, tendo tomado posse (de todos esses implementos), (fosse) escrever eternamente; até mesmo essa (assombrosa associação), oh Senhor, não chegaria ao final de Suas boas qualidades --em outras palavras, todas as qualidades de Śiva não poderiam ser escritas mesmo se uma personagem tão grande quanto a Própria Sarasvatī fosse escrever com todos esses artigos por toda a eternidade--||32||


(O Gandharva ou músico celestial) denominado Puṣpadanta --lit. "aquele que tem dentes semelhantes a flores"--, que é o melhor de todo o grupo de assistentes de Śiva, compôs este belo hino dotado de longas métricas (em honra) do Senhor que tem a lua em Sua Cabeça --mauli-- e que é adorado por Indra --indreṇa--, sábios, deuses e demônios, e cuja Grandeza consiste em (intermináveis) atributos conectados (como miçangas em um colar), (apesar de Ele estar) desprovido de todo atributo --nirguṇa--||33||


Um ser humano de mente pura que recite com suprema devoção, dia a dia, impecavelmente, este hino (em honra) a Dhūrjaṭi --um epíteto de Śiva que significa "aquele que tem cachos emaranhados como se fossem uma carga"-- torna-se idêntico a Rudra --isto é, a Śiva--, no mundo de Śiva, (depois de morrer). Similarmente, (torna-se) famoso, tem (muitos) filhos, (goza de uma longa) vida e de uma riqueza mais abundante neste mundo||34||


Iniciação, caridade, austeridade, peregrinação (e) atividades (tais como) o Yoga, os sacrifícios etc. não valem (nem sequer) a décima sexta parte (do que vale) a recitação (deste) hino (em honra) à Grandeza (de Śiva)||35||

Ao início


 Estrofes 36 a 42

Este sagrado hino falado pelo (conhecido) músico celestial (chamado de Puṣpadanta e contendo) fascinantes e auspiciosas descrições sem igual acerca do Senhor está terminado||36||


Não há deus que seja maior que Maheśa --um epíteto de Śiva que significa "grande Senhor"--, não há hino de louvação que seja maior que (este) "Śivamahimnaḥ stotram". Não há Mantra --uma palavra sagrada-- que seja maior que Aghora --um epíteto de Śiva que quer dizer "não aterrorizante"--; (e) não há princípio que seja superior ao Guru --no sentido do quinto "kṛtya" ou ato de Śiva, que concede Graça divina a um ser limitado--||37||


O rei de todos os músicos celestiais, cujo nome é Kusumadaśana --um termo que é sinônimo de "Puṣpadanta", isto é, "aquele que tem dentes semelhantes a flores", já que kusuma = puṣpa (flor) e daśana = danta (dente)--, (é) o servo do Deus dos deuses, que leva a lua crescente em Sua cabeça --mauli--. Ele --ou seja, Puṣpadanta--, que certamente caiu de sua (prévia) glória devido à ira de Śiva --pois Puṣpadanta, sem querer, pisou numa erva que é sagrada para Śiva--, compôs este belo e divino hino de louvor (em honra) à Grandeza (desse mesmo Śiva, para obter Seu favor)||38||


Se um ser humano cuja mente está totalmente concentrada recita, com suas mãos unidas e formando uma concha, este infalível hino de louvor escrito por Puṣpadanta, o qual --refere-se ao hino-- é adorado por deuses e pelos melhores sábios, e que é a única causa para a Libertação Celestial, (então, essa pessoa,) louvada por Kinnara-s --um tipo de seres divinos--, vai até Śiva||39||


Maheśa --lit. "grande Senhor"--, o Senhor de (todos) os seres, agrada-se muito mediante (a recitação deste) hino saído --nirgata-- da boca de lótus do Venerável Puṣpadanta, que destrói --hara-- pecados (e) é querido --priya-- por Hara --i.e. Śiva--, (quer) seja aprendido de memória --kaṇṭhasthita--, recitado --paṭhita-- (ou simplesmente) ouvido com atenção --samāhita-- --uma tradução alternativa seria "(ou simplesmente) conservado (em casa)"--||40||


Desse modo, esta adoração que consiste em palavras é oferecida aos pés do Venerável Śaṅkara --um epíteto de Śiva que quer dizer "que causa prosperidade, benéfico, etc."--. Por meio dessa (oferenda, que) Sadāśiva --um epíteto de Śiva que significa "sempre auspicioso"--, o Senhor dos deuses, agrade-se comigo!||41||


Qualquer sílaba (ou) palavra que tenha sido omitida ou --lit. "ca" é "e"-- pronunciada fora do tempo, (possa) Deus perdoar tudo isso. Oh Supremo Senhor, fique satisfeito!||42||


Om̐, paz, paz, paz.

Ao início


 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.