Sanskrit & Trika Shaivism (English-Home)

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 Aprendendo Sânscrito - Primeiros Passos (3)

Aprofundando-se na língua sânscrita e suas filosofias - Parte 2


 Introdução

Olá, Gabriel Pradīpaka novamente. Neste documento, nos aprofundaremos em dois importantes temas. Primeiro, falarei do que cada sistema filosófico considera como "Iluminação". Muitas pessoas falam de Iluminação, mas não sabem o que a Iluminação realmente é. Cada "darśana" (filosofia) tem um ponto de vista diferente sobre ela. O assunto não é tão fácil como algumas pessoas poderiam pensar. Finalmente, lhe ensinarei mais coisas sobre Sânscrito e Yoga.

Mais uma coisa, a Tabela Táttvica é indispensável para entender o âmago do ensinamento que darei agora. Vá a ela de tempos em tempos para informação adicional. Vamos ao trabalho.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 O que é a iluminação segundo as seis filosofias tradicionais e o Trika?

A Iluminação é o objetivo de todos os sistemas filosóficos da Índia. Mas o que significa, segundo cada um deles? Essa é uma questão interessante, que estudaremos juntos. Bem, comecemos:

As seis filosofias tradicionais são Āstikadarśana-s, ou seja, consideram os Veda-s como a fonte infalível de conhecimento espiritual. Essas seis escolas ortodoxas podem ser divididas em dois grupos: (1) escolas diretamente baseadas nos Veda-s e (2) escolas indiretamente baseadas nos Veda-s, que, mesmo assim, aceitam seu testemunho e tentam mostrar a harmonia entre os seus sistemas e os Veda-s. As primeiras são duas famosas filosofias: (a) Vedānta ou Uttaramīmāṁsā e (b) Pūrvamīmāṁsā. As últimas são quatro filosofias, duas das quais (Sāṅkhya e Yoga) são famosas: (a) Nyāya, (b) Vaiśeṣika, (c) Sāṅkhya e (d) Yoga (na verdade, "Pātañjalayoga", um Yoga em particular que consiste de oito membros ou etapas, e foi concebido pelo sábio Patañjali). Comecemos nosso estudo com o Nyāya e o Vaiśeṣika (Vá a Primeiros Passos (2) e clique no link "As seis filosofias tradicionais e o Trika" para mais informação):

NYĀYA E VAIŚEṢIKA

Estas duas escolas concordam entre si em relação à Iluminação ou Libertação. Utilizam o termo "Apavarga" para designar Mokṣa ou Iluminação. Apavarga significa "fuga à dor, a emancipação da alma da existência corporal, que é cheia de dor". É uma clássica escola "Saccit" (Sat + Cit), ou seja, na Libertação, só se experimenta "Sat" (existência infinita) e "Cit" (consciência infinita), mas não "Ānanda" ou "suprema felicidade". Então, Apavarga é desprovido de dor ou prazer. De fato, não há nenhuma experiência, qualquer que seja. Segundo essa escola filosófica, atinge-se a Libertação final cultivando-se virtudes éticas e obtendo-se a visão da real essência ou natureza das categorias ou tattva-s (níveis da Criação). Deve-se notar que as categorias ou tattva-s listadas por Nyāya e Vaiśeṣika não são as mesmas do sistema Trika. Nem um pouco. Nyāya e Vaiśeṣika dividem as categorias em três grupos: Dravya (substância), Guṇa (qualidade) e Karma (atividade). Cada um desses grupos contém o seu próprio número de categorias. É um longo estudo que certamente faremos em profundidade mais adiante.

SĀṄKHYA

Esta escola utiliza o termo "Kaivalya" (isolamento ou indiferença) para designar a Iluminação. É um sistema Saccit, ou seja, não há "felicidade" no Kaivalya. Não há nem prazer nem dor, apenas um contínuo estado pacífico. O processo de se atingir o Kaivalya é longo, sem dúvida.

Tentarei explicar a você de forma concisa "uma maneira" de se atingir Kaivalya ou Iluminação. É claro, é muito difícil atingi-lo em apenas uma sessão de meditação, haha! É um longo processo, apesar de eu o estar descrevendo em alguns passos simples:

1) Primeiramente, você deve ser capaz de concentrar sua mente em um particular objeto de concentração. Quando a concentração (Dhāraṇā) é mantida por um longo tempo, isso se chama meditação (Dhyāna). Leva-se muitos anos para conseguir uma meditação "real" por um longo período de tempo. Se você não consegue concentrar a sua mente dessa maneira, o segundo passo será impossível de ser finalizado. Vá à nossa seção de Trika para mais informação (por favor, comece seu estudo de Meditação 1 ou você estará perdendo muitas informações indispensáveis).

2) Uma vez que você tiver atingido mestria em meditação, você pode tentar tomar consciência da "real essência" de cada categoria ou tattva, dos mais baixos níveis até os mais altos. Vou utilizar um "bem pequeno e quadrado" pedaço de tecido azul para iniciar o processo de tomada de consciência. A cor azul deve ser "sólida" (sem estampas no tecido, por favor; isso é muito importante para tornar a concentração mais fácil). Há 25 categorias ou tattva-s, segundo o Sāṅkhya. Deve-se notar que as 25 categorias ou tattva-s postuladas pelo Sāṅkhya são as mesmas que as últimas 25 categorias do Trika (Shaivismo não-dual da Caxemira). De fato, o Trika só adicionou 11 categorias a mais às 25 do Sāṅkhya. É por isso que os níveis da Criação do Trika são 36 ao todo. Na verdade, podemos dizer que a doutrina das 36 categorias é uma espécie de reelaboração das 25 categorias do Sāṅkhya. O Trika não nega os ensinamentos do Sāṅkhya, mas sim os expande... no entanto, esse é "outro" looooongo tópico que, sem dúvida, estudaremos mais adiante:

(1) Puruṣa (espírito), (2) Prakṛti (matéria indiferenciada, a fonte de toda a matéria), (3) Mahat ou Buddhi (intelecto), (4) Ahaṅkāra (ego); [o grupo de Jñānendriya-s ou poderes de percepção é formado pelos tattva-s 5o ao 10o --note que a "mente" ou Manas está incluída--] (5) Manas (mente), (6) Śrotra (poder auditivo), (7) Tvak (poder tátil), (8) Cakṣus (poder visual), (9) Rasanā ou Jihvā (poder gustativo), (10) Ghrāṇa (poder olfativo); [o grupo de Karmendriya-s ou poderes de ação é formado pelos tattva-s 11o ao 15o] (11) Vāk (poder da fala), (12) Pāṇi (poder do manejo), (13) Pāda (poder da locomoção), (14) Pāyu (poder da excreção), (15) Upastha (poder da atividade sexual e tranquilidade); [o grupo de Tanmātra-s ou elementos sutis é formado pelos tattva-s 16o ao 20o] (16) Śabda (som como tal), (17) Sparśa (toque como tal), (18) Rūpa (cor como tal), (19) Rasa (sabor como tal), (20) Gandha (odor como tal); [o grupo de Mahābhūta-s ou elementos brutos é formado pelos tattva-s 21o ao 25o] (21) Ākāśa (éter ou espaço), (22) Vāyu (ar), (23) Agni ou Tejas (fogo), (24) Āpas (água) e (25) Pṛthivī (terra).

Bem, agora, sente-se e ponha aquele pedaço de tecido azul bem na sua frente, no chão. Você certamente se pergunta por que estou dizendo que você deve usar um tecido colorido para concentrar a sua mente. Veja, para tomar consciência da verdadeira essência de cada categoria, você deve começar a sua prática com um dos Mahābhūta-s (os cinco últimos tattva-s). Você "deve" escolher um deles: éter ou espaço, ar, fogo, água ou terra. É "geralmente" muito mais fácil concentrar a mente em algo usando o poder visual. Você poderia usar o poder olfativo, por exemplo, para concentrar sua mente em um odor em particular, mas seria um tanto difícil para algumas pessoas fazer isso por um certo período de tempo. Então, embora eu esteja usando os olhos neste exemplo, você pode readaptar a prática e usar um som, um toque, um sabor ou até mesmo um odor, se desejar. A presença de fogo (Agni ou Tejas) no tecido é a causa da sua cor. Assim, se você fixar os olhos, com a mente concentrada, no tecido, estará se concentrando em Agni ou fogo. Faça isso!

Se essa concentração for mantida por um longo tempo, você verá que o tecido parecerá encher todo o campo de visão. Agora, você não tem consciência de nenhum outro objeto além do tecido. Quando o seu campo de visão estiver enchido com o tecido azul, você tomará consciência da "real essência ou natureza" de Agni ou fogo. No entanto, leva-se tempo para atingir esse grau de concentração. Seja paciente e não fique desapontado "se você não conseguir atingi-lo de uma vez", haha!

Uma vez atingido esse estado em que o tecido parece encher todo o campo de visão, concentre a sua atenção em uma fração (metade, primeiramente) desse tecido azul que agora, como eu disse antes, parece encher todo o campo de visão. Você deve continuar concentrando sua mente nessa fração, até que ela pareça crescer e encher todo o campo de visão. Então, você deve concentrar a sua atenção numa fração dessa fração, ou seja, 1/4 do tecido original. Novamente, mantenha sua mente concentrada nessa área até que cresça e encha todo o campo de visão. Continue a reduzir a área de concentração dessa maneira (1/8, 1/16, 1/32, etc.). Finalmente, quando a área de concentração for muito pequena para ser reduzida novamente, você perceberá que um estado gradual de quietude começa a impregnar a sua mente e poder visual. A razão é a seguinte: para a atividade ótica funcionar, o poder visual precisa de "algo para ver". Como a área de concentração é muito "pequena", o "combustível ótico" está para acabar, e, consequentemente, o poder visual está prestes a parar. Muito bem, logo antes da parada do poder visual e do subsequente desaparecimento gradual de todo o conhecimento relativo a Agni ou fogo (cor e calor), os olhos podem transmitir somente o mais sutil vestígio de sensação necessária à cognição. E esse é o Tanmātra conhecido como Rūpa (cor como tal). Os Tanmātra-s são chamados de "como tal" porque são os padrões que tornam possível a percepção sensorial. Eles não têm qualidades e, portanto, são elementos "como tal". Portanto, Rūpatanmātra (tattva 18) é o sutil conhecimento de Agni ou fogo (a cor azul no tecido) produzido pela quantidade mínima de "combustível ótico" em forma de "cor azul", nesse caso.

Como eu disse, leva-se um longo tempo para finalizar todo o processo, mas o fruto resultante é digno do esforço. Você não é mais um escravo dos seus olhos e mente por detrás, pois você tomou plena consciência da essência de tudo o que contém cor e calor no universo, ou seja, Agni ou fogo. Você não precisa fazer uma prática similar para cada um dos Mahābhūta-s restantes, mas, se você quiser, faça. Mesmo que você atinja completo controle do fogo por meio dessa prática, o seu objetivo não deve ser adquirir meros poderes inferiores sobre os elementos, mas sim conseguir tomar consciência da Realidade por trás deste universo. O Sāṅkhya estabelece que Puruṣa é essa Realidade final que você atingirá usando o processo que eu lhe ensinei.

3) A partir deste ponto, você empreende a ação de dar-se conta dos Indriya-s compostos pelos Jñānendriya-s (tattva-s 5o ao 10o, incluindo Manas ou mente) e os Karmendriya-s (tattva-s 11o ao 15o). Note que vou usar as palavras "apreensão" e "total compreensão" como sinônimos desta ação de "dar-se conta" ou "tomar consciência". Para dar-se conta dos Indriya-s (nesse caso, Cakṣus ou poder visual --tattva 8--), faça o seguinte: Quando os sentidos, por meio dos quais os Indriya-s funcionam, se acalmam por completo devido à sua apreensão dos Tanmātra-s, o ego ou Ahaṅkāra (tattva 4) se retira deles. Quando isso acontece, você chega a dar-se conta de que todos esses Indriya-s estão impregnados por Ahaṅkāra e que o próprio Ahaṅkāra é a causa última do processo de cognição. Segundo o exemplo que estamos desenvolvendo, após a apreensão do Rūpatanmātra, você chega a entender que o seu próprio poder visual, ou o Indriya chamado Cakṣus (isto é, Cakṣurindriya), com o qual você percebia o supracitado Tanmātra, está penetrado por Ahaṅkāra ou ego. Uma suprema felicidade invade todo o seu ser quando você toma consciência dos Indriya-s, pois você entende que os Jñānendriya-s e os Karmendriya-s são meramente os canais usados pelo ego para entrar em contato com o mundo externo. Você não precisa tomar consciência de cada Indriya individualmente. Nesse exemplo, a sua apreensão do Cakṣurindriya (poder visual) já seria o bastante. Por meio da compreensão da verdadeira natureza dos Indriya-s, muitos poderes chegam a você: clarividência e o resto dos "clari" poderes associados com cada Indriya.

4) A apreensão do Ahaṅkāra ou ego (tattva 4) envolve o seguinte procedimento: Após reconhecer que os Indriya-s são absolutamente impregnados pelo Ahaṅkāra (o sentido do eu), dirija a sua atenção ao próprio ego. Todos os processos mentais foram interrompidos, e você permanece somente nesse sentido do eu. Isso é a apreensão do Ahaṅkāra. Você entende completamente que todo o processo do mundo emergiu do ego e que será dissolvido por último nesse mesmo ego (a sua fonte) novamente.

5) Em seguida, você chega ao Buddhi ou intelecto (tattva 3). Essa categoria também é conhecida como Mahat, porque é "o grande tattva", do qual até mesmo o ego surgiu. Buddhi é o "último" conhecedor e fazedor. É o "mais puro" sentido do eu. Para alcançá-lo, você deve refletir sobre o sentido do eu do nível do Ahaṅkāra, para que o supracitado sentido do eu torne-se mais e mais puro. O sentido do eu é "eu sou". De fato, "tudo" é "eu sou", pois "tudo" emergiu, em último caso, do "eu sou". Não obstante, quando você chega ao primitivo "eu sou", que não tem associação com nenhuma forma, pensamento ou desejo, você tomou consciência de Buddhi ou Mahat. Buddhi é esse "eu" que é conectado aos Indriya-s por meio do ego ou Ahaṅkāra. Esse "eu" não é realmente um conhecedor ou fazedor por si mesmo, mas, por meio da operação de Indriya-s e do Ahaṅkāra, é forçosamente transformado em um conhecedor ou fazedor. Por exemplo, você vê uma maçã, e é simplesmente "uma maçã". Então, você coloca um espelho na frente dela. É, agora, "uma maçã refletida em um espelho". A própria maçã nunca teve a intenção de interpretar esse papel, mas a presença de um espelho torna-a "uma maçã com um reflexo". Então, Buddhi é o "último" conhecedor. Todos os poderes vêm a uma pessoa que toma consciência desse tattva, mas ela deve ser indiferente a eles e continuar avançando.

6) Buddhi surgiu da própria Prakṛti (tattva 2) ou matéria indiferenciada. A palavra Prakṛti pode ser dividida em dois termos: Pra (fonte) e Kṛti (Criação). Então, Prakṛti é a fonte de toda a Criação. Prakṛti é formada por três Guṇa-s ou qualidades, conhecidas como Sattva, Rajas e Tamas. Sattva é composto por Jñāna (conhecimento). Rajas consiste em Icchā (vontade). Tamas é composto por Kriyā (ação). Na própria Prakṛti, esses Guṇa-s estão absolutamente "quietos" e "equilibrados". De repente, um desequilíbrio ocorre, e toda a série de tattva-s (a partir do Buddhitattva até a última categoria) se manifesta. Então, Buddhi é simplesmente a primeira fase desse desequilíbrio. E, consequentemente, Buddhi está em mutação devido ao estado de desequilíbrio dos Guṇa-s nela. É claro, sua mutação é extremamente sutil se comparada à dos Mahābhūta-s (Elementos Brutos), mas uma mudança ainda está ocorrendo. Sattva é predominante em Buddhi, Rajas é predominante em Ahaṅkāra e Tamas é predominante em Manas. Ou seja, em Buddhi o conhecimento é predominante, enquanto vontade é predominante em Ahaṅkāra e ação é predominante em Manas. Note que usei o termo "predominante". Não há nenhum tattva, de Buddhi até o último, que seja composto por somente "um" Guṇa; em vez disso, eles são uma mistura de 3 Guṇa-s, sendo uma dessas qualidades predominante.

Se você se der conta de Prakṛti, também se dará conta de Puruṣa, pois ambos estão estreitamente unidos. Portanto, o seu objetivo deve ser "equilibrar os Guṇa-s novamente". Quando eles estão equilibrados, o resultado final é Prakṛti, ou seja, você entra nessa condição se você conseguir trazer os Guṇa-s a um estado de equilíbrio. Se você entra em Prakṛti, você entra em Puruṣa. Simples!

7) Mas como se dar conta de Prakṛti? O truque consiste em tornar os Guṇa-s (Sattva, Rajas e Tamas) completamente equilibrados. Como Prakṛti é simplesmente a condição em que as três qualidades (Guṇa-s) estão em equilíbrio absoluto, se você alcançar essa condição, você obviamente atinge Prakṛti e, portanto, Puruṣa. Há um estado dos Guṇa-s conhecido como "a mais sutil ou elevada condição". Cada qualidade tem o seu respectivo aspecto ou forma mais sutil ou mais alta.

1 Um fervente desejo por Libertação e a renúncia subsequente em relação a tudo o que é, por último, um obstáculo no seu caminho a essa Libertação é a mais sutil ou elevada forma de Rajas ou Rajoguṇa.
2 A capacidade de interromper todos os pensamentos e as correspondentes atividades sensoriais, e manter a mente nesse estado, é a mais sutil ou elevada forma de Tamas ou Tamoguṇa.
3 O conhecimento discriminador por meio do qual você apreende a diferença entre Buddhi (intelecto mutável) e Puruṣa (Ser imutável) é a mais sutil ou elevada forma de Sattva ou Sattvoguṇa.

Algumas pessoas desenvolvem somente os dois primeiros aspectos mais elevados, mas carecem de conhecimento discriminador ou "Sāṅkhya". Então, eles atingem uma condição "similar" àquela da Iluminação, mas que ainda não é a verdadeira Libertação final segundo o Sāṅkhya. Então, essas pessoas devem desenvolver o supracitado conhecimento discriminador, pois é o aspecto mais elevado do Sattva (o Guṇa que ainda não está propriamente equilibrado nelas). Elas ainda não podem entrar plenamente em Prakṛti até que esse aspecto seja desdobrado. Se a forma mais sutil do Sattva não amanhecer nelas, vão permanecer em uma condição entre Buddhi e Prakṛti, ou seja, semi-iluminada.

Outras pessoas já ficam contentes em Buddhi ou Mahat (intelecto). Experimentam muita felicidade e muitos poderes sobrenaturais ali. Esse comportamento mostra uma clara falta de discernimento. Elas deveriam desenvolver "renúncia" (Rajas no seu mais alto aspecto), e consequentemente parar a mente, assim como as atividades sensoriais (Tamas no seu mais alto aspecto). Depois disso, elas deveriam desdobrar o conhecimento discriminador da distinção entre Puruṣa (seu próprio e imutável Ser) e Buddhi (o intelecto mutável). Se assim o fizerem, no final, alcançarão a Libertação. Bem, já é o bastante.

YOGA

Este, na verdade, é o "Yoga de Patañjali". Patañjali é o nome do sábio que o criou. Também é conhecido como "Aṣṭāṅgayoga" (Yoga dos oito membros). Um estudo conciso das oito etapas desse particular Yoga foi desenvolvido por mim no documento anterior [Primeiros Passos (2)].

Pātañjalayoga (Yoga de Patañjali) é outro epíteto para esse famoso Yoga. É estreitamente unido ao Sāṅkhya. De fato, ambos os sistemas estão de acordo entre si no que diz respeito à Libertação. No entanto, o Yoga utiliza predominantemente Kriyāśakti (Poder de Ação) para atingir a Iluminação, enquanto o Sāṅkhya utiliza predominantemente Jñānaśakti (Poder de Conhecimento). A prática preferida pelo Sāṅkhya é a tomada de consciência dos tattva-s (que expliquei previamente), enquanto o Yoga faz necessário que o aspirante percorra um caminho constituído por oito etapas ou membros (aṅga-s). Assim como Nyāya e Vaiśeṣika (os dois primeiros sistemas tradicionais), Sāṅkhya e Yoga "podem ser" considerados como um único sistema "duplo" chamado de: Sāṅkhya-Yoga. Obviamente, cada um desses sistemas mantém a sua própria individualidade.

A palavra "Yoga" significa "união ou aquilo que traz união". O objetivo no Yoga é a união da alma individual, condicionada, com o Supremo Ser. O mais alto estado no Yoga é conhecido como Kaivalya ou absoluto isolamento. Isolamento de quê? No Sāṅkhya, isolamento significa "desapego de Prakṛti". Prakṛti é a fonte de toda a matéria nesse universo. Então, quando você atinge Kaivalya, se livra da matéria e de todos os subsequentes problemas materiais (doença, morte, etc.). No Yoga, isolamento conota uma igualdade entre a pureza da contemplação e a pureza do indivíduo que contempla. Pela palavra "pureza", não me refiro somente às suas implicações morais, mas sim a "união". Quando o indivíduo que contempla torna-se um com o objeto de contemplação, ambos o indivíduo e a contemplação tornaram-se realmente puros. E isso é Yoga, e isso é Kaivalya, e isso é Libertação final segundo Patañjali.

PŪRVAMĪMĀṀSĀ

Obviamente, como Pūrvamīmāṁsā é baseada predominantemente em rituais, alcança-se a Iluminação por meio de práticas ritualísticas. Além dos rituais formais, eles consideram como libertadoras todas aquelas ações cuja base é Dharma. Dharma é o dever religioso declarado nos Veda-s. Assim, Libertação em Pūrvamīmāṁsā é libertar-se das ações e de seus respectivos frutos. Quando alguém é livre dos frutos de qualquer ação, é livre para agir em completa liberdade. Mais informação sobre esse sistema.

UTTARAMĪMĀṀSĀ ou VEDĀNTA

Como você certamente sabe, há três tipos maiores de Vedānta. Assim, há três pontos de vista diferentes acerca da Libertação final. Vamos estudá-los um por um, de uma maneira sistemática:

1) Advaitavedānta (Vedānta não dual): Conhecimento ou Jñāna é o meio último para a Libertação. Uma pessoa é essencialmente Brahma, mas, por causa de Māyā ou Ignorância, esqueceu sua recôndita natureza e vaga por este mundo. Já que Brahma está aqui eternamente, a Iluminação não é vista como algo novo, mas sim como o "dar-se conta" Daquilo que é a sua própria essência. A corda foi erroneamente confundida com uma cobra. Então, quando você percebe que é apenas uma corda, atinge a Libertação. Contudo, a corda sempre foi uma "corda". Além do mais, como Brahma é inerentemente "nirguṇa" (sem atributos), quando você atinge a Libertação final, a sua experiência é também "nirguṇa". Não há nenhuma "forma" de Deus ali.

2) Viśiṣṭādvaitavedānta (Vedānta não-dual qualificado): A Iluminação é alcançada por último mediante devoção ou Bhakti. Na Libertação, vive-se em Vaikuṇṭha (morada de Viṣṇu) experimentando inefável felicidade o tempo todo. Ali, é capaz de contemplar a forma de Deus mediante olhos não-físicos. Como você pode ver, há uma "forma" de Deus na Libertação de acordo com esse sistema.

3) Dvaitavedānta (Vedānta dual): "Prasāda", ou a graça de Deus, é o meio último para a Libertação. Alcança-se por uma série de meios: Bhakti (devoção), Jñāna (conhecimento), Niṣkāmakarma (ação desprovida de desejos), etc. Quando uma pessoa é libertada, continua "eternamente" separada de Deus, mas reside em um dos quatro níveis de Ānandatāratamya. Essas quatro etapas são as seguintes:

ĀNANDATĀRATAMYA ou OS QUATRO TIPOS DE FELICIDADE
SĀLOKYA
Entrar em Vaikuṇṭha (o mundo de Viṣṇu ou Deus)
SĀMĪPYA
Estar próximo ao Senhor
SĀRŪPYA
Ter a forma do Senhor
SĀYUJYA
Estar unido ao Senhor

Como você pode ver, a forma de Deus também aparece aqui na Libertação. Isto é, Viśiṣṭādvaitavedānta e Dvaitavedānta têm uma Iluminação "saguṇa" (com atributos), enquanto que Advaitavedānta tem uma Iluminação "nirguṇa" (sem atributos). Mais informação sobre esse sistema. Já é o bastante.

TRIKÁ ou Shaivismo Não-dual da Caxemira

Para esse sistema, a Iluminação consiste no reconhecimento (pratyabhijñā) de que uma pessoa é inerentemente o próprio Śiva ou Deus. De fato, Śiva é tudo. O yogī junta a sua identidade separada com Śiva e percebe que sempre foi Ele. Apesar de o "dar-se conta" ser "não-dual", o conceito de Libertação, no Trika, é diferente do Advaitavedānta. Vejamos as diferenças:

1) Śiva se dá conta de sua própria divindade mediante Sua própria e livre Vontade, e não por causa da destruição de alguma Māyā. No Trika, Māyā surge do próprio Śiva, de modo a velar Sua recôndita natureza. Ele o faz para que a Peça Divina se manifeste. Então, não há nenhuma Māyā se opondo à Sua Vontade.

2) Apesar de Śiva ser similar a Nirguṇabrahma (Brahma sem atributos, segundo Advaitavedānta), Ele está sempre unido a Śakti (Seu Poder consciente que manifesta "formas"). Portanto, a Libertação final está além dos conceitos de "saguṇa" (com atributos) e "nirguṇa" (sem atributos). Tanto Śiva quanto Śakti surgem de Paramaśiva (o Supremo Śiva), que está além de todos os conceitos (duais e não-duais).

3) No Advaitavedānta, Māyā é o poder ilusório da ignorância. Quando é removida por meio de Jñāna (Conhecimento), uma pessoa percebe a sua própria natureza. Percebe que é Nirguṇabrahma. No entanto, em Trika, Māyā não é um poder ilusório de ignorância, mas sim uma força real que é desdobrada por Śakti (o Poder de Śiva) para que o universo inteiro se manifeste. Então, Māyā não é um estorvo no seu caminho à Libertação. Māyā atua no papel de "aparentemente" limitar os poderes de Śiva. Quando Śiva torna-se "aparentemente" limitado por Sua própria Māyā, o universo emerge brilhantemente diante Dele.

No Trika, a supracitada Iluminação é alcançada por meio de quatro meios ou Upāya-s: "Anupāya, Śāmbhavopāya, Śāktopāya e Ānavopāya". Vá à seção de Trika e leia todos os documentos. Ali, você aprenderá muitas coisas interessantes sobre esses quatro Upāya-s. Bem, já é o bastante.

Ao início


 Mais ensinamentos sobre a conexão entre o Sânscrito e o Yoga

Uma das escrituras mais competentes acerca do Haṭhayoga é conhecida como Haṭhayogapradīpikā. Você deve se perguntar, o que é realmente Haṭhayoga? Haṭhayoga é uma ciência que utiliza posturas físicas (Āsana-s), vários tipos de respirações (Prāṇāyāma), seis ações purificadoras (Ṣaṭkarma-s), etc., de modo a levar um aspirante até a Rājayoga (Yoga Real). Rājayoga foi desenvolvido principalmente pelo sábio Patañjali, em seus Yogasūtra-s. Isso é especificado na primeira estrofe de Haṭhayogapradīpikā, do Yogī Svātmarāma (o autor de Haṭhayogapradīpikā):

अथ हठयोगप्रदीपिका।
श्रीआदिनाथाय नमोऽस्तु तस्मै येनोपदिष्टा हठयोगविद्या।
विभ्राजते प्रोन्नतराजयोगमारोढुमिच्छोरधिरोहिणीव॥१॥

Atha haṭhayogapradīpikā|
Śrīādināthāya namo'stu tasmai yenopadiṣṭā haṭhayogavidyā|
Vibhrājate pronnatarājayogamāroḍhumicchoradhirohiṇīva||1||

E agora (atha), (a escritura) que lança luz (pradīpikā) sobre o Haṭhayoga (haṭhayoga) (começa): Saudação(ões) (namas astu) àquele (tasmai) venerável (śrī) Senhor (nāthāya) Primordial (ādi) by pelo qual (yena) foi ensinada (upadiṣṭā) a ciência do Haṭhayoga (haṭhayoga-vidyā) que brilha (vibhrājate) na forma (iva) de uma escada (adhirohiṇī) para o desejoso (icchoḥ) de ascender (āroḍhum) ao superior (pronnata) Rājayoga --lit. "Yoga Real"-- (rājayogam)||1||

(1a estrofe, Capítulo I)

Portanto, Yogī Svātmarāma claramente declarou que o Haṭhayoga deve ser utilizado como um caminho para o Rājayoga. Atualmente, muitos professores de Haṭhayoga estão direcionando erroneamente seus estudantes. Ensinam essa antiga ciência espiritual como uma mera ginástica ou até "esporte". Nessa era de decadência, as tergiversações realmente não têm fim. No entanto, Yogī Svātmarāma afirma que o Haṭhayoga é uma espécie de escada para ascender ao Rājayoga. No Haṭhayoga, você prepara seu corpo e mente para o Rājayoga. No Rājayoga, você aprende a entrar no Samādhi ou Perfeita Concentração. Quando você domina o Samādhi, a Libertação final está à mão. Como você pode ver, quando conhece o Sânscrito, você pode ler as escrituras  "originais" do Yoga e descobrir o que os fundadores "realmente" ensinaram desde o início. Então, você é capaz de aprender diretamente da fonte, sem nenhum tradutor "chato" (hehe!) no meio.

Então, Haṭhayoga e Rājayoga estão estreitamente unidos entre si. Depois, Yogī Svātmarāma declara que:

प्रणम्य श्रीगुरुं नाथं स्वात्मारामेण योगिना।
केवलं राजयोगाय हठविद्योपदिश्यते॥२॥

Praṇamya śrīguruṁ nāthaṁ svātmārāmeṇa yoginā|
Kevalaṁ rājayogāya haṭhavidyopadiśyate||2||

Após ter-se curvado (primeiramente) (praṇamya) ao venerável (śrī) Guru (gurum), (que é) o Senhor Mesmo (nātham), a ciência (vidyā) do Haṭhayoga (haṭha) é ensinada (upadiśyate) pelo Yogī (yoginā) Svātmārāma (svātmārāmeṇa) somente (kevalam) (como meio) para o Rājayoga (rājayogāya)||2||

(2o parágrafo, Capítulo I)

Portanto, foi claramente declarado que o Haṭhayoga é ensinado para que uma pessoa possa atingir o Rājayoga. Então, o Haṭhayoga deve ser praticado sem perder de vista o objetivo final: Rājayoga. Haṭhayoga não é uma mera ginástica, e muito menos um "esporte" (isso é realmente absurdo, sem dúvida).

Patañjali mostra o verdadeiro significado do Yoga por meio do segundo aforismo de seus Yogasūtra-s:

योगश्चित्तवृत्तिनिरोधः॥२॥
Yogaścittavṛttinirodhaḥ||2||

Yoga (yogaḥ) é a supressão (nirodhaḥ) das modificações (vṛtti) da mente (citta)||2||

(2o parágrafo, Capítulo I)

Yoga é simplesmente "a supressão de todas as modificações mentais". A mente está mudando o tempo inteiro, ou seja, está sujeita a contínua mutação ou modificação. No Yoga, você tenta pôr fim a esse interminável processo mental. Por quê? A seguinte estrofe responde a essa pergunta:

तदा द्रष्टुः स्वरूपेऽवस्थानम्॥३॥
Tadā draṣṭuḥ svarūpe'vasthānam||3||

Então (tadā), há permanência (avasthānam) na natureza essencial (sva-rūpe) do Vidente (draṣṭuḥ)||3||

(3a estrofe, Capítulo I)

Em outras palavras, quando você apazigua a sua mente, é capaz de permanecer em sua própria natureza essencial, que é um Vidente ou Testemunha. Observe agora seus pensamentos. Estão constantemente mudando... mas há um Vidente, uma Testemunha por trás de todos eles. Esse Vidente é Você Mesmo. A Testemunha está lá por todo o tempo, mas, de algum modo, você não se dá conta Dela devido à confusão mental. Contudo, quando a mente for parada, o Vidente é claramente percebido. Quando você percebe que é essencialmente Ele, atinge Samādhi (Perfeita Absorção) e a Libertação está à mão. É assim tão simples! As estrofes restantes apenas mostram os métodos para produzir uma parada mental e os subsequentes estados que um aspirante experimenta ao longo desses processos yôguicos.

Como você pode ver, o Sânscrito é o sangue que circula nas escrituras yôguicas. Quando você estuda o Yoga, percebe imediatamente que é infestada de termos em Sânscrito. Muitas pessoas têm medo dessas palavras sânscritas e tentam traduzi-las às suas respectivas línguas nativas. E, quando não podem traduzi-las corretamente, começam a inventar novos termos, haha! Você tem que escutar alguns nomes "criativos" atribuídos a certas posturas yôguicas (Āsana-s) do Haṭhayoga. Engraçado, mas acaba se tornando absurdo! Acho que seria uma melhor política aprender Sânscrito e utilizar os termos apropriados. Bem, já é o bastante.

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 Notas finais

Foi um bom documento. Você aprendeu muitas coisas importantes sobre Iluminação segundo as seis filosofias tradicionais e o Trika. Apesar dos diferentes pontos de vista sustentados por cada um desses sistemas, há uma coisa que é uma característica comum: "Libertação espiritual". Um ser humano deveria primeiramente buscar por Libertação espiritual, pois nada é possível em um estado de escravidão. Se você ver a pessoa média hoje, notará que não é muito interessada em Libertação espiritual, por causa da "imaginação". A maioria das pessoas apenas "imagina" que é livre, e, dessa maneira, não estão interessadas em libertar-se dos grilhões da ignorância. Mesmo no Trika, o sistema que eu ensino, embora todo o ser humano seja inerentemente Śiva, não significa que todos "se deem conta" da sua verdadeira identidade e natureza. Então, mesmo que a ignorância seja considerada como um tattva ou categoria manifestada por Śiva, produz um forte e verdadeiro efeito na mente de um indivíduo limitado. Portanto, busque por Libertação espiritual perto do fim da sua vida.

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

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