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 Aprendendo Sânscrito - Primeiros Passos (5)

O alfabeto sânscrito e os níveis de Criação - Parte 2


 Introdução

Olá, Gabriel Pradīpaka novamente. Bem, este é o segundo e último documento sobre a relação entre o alfabeto sânscrito e os níveis da Criação. Também há um apêndice em Primeiros Passos - 1, em que você encontrará mais informação relevante sobre esse importante tema.

Após ter explicado todo o desdobramento das letras desde "a" até "ha", Kṣemarāja agora fala sobre o mistério de Ahaṁ, Kūṭabīja, Sambodha, etc. Esses assuntos são muito abstrusos e complicados. No entanto, Kṣemarāja, por meio do seu simples comentário, os torna fáceis de entender. Essa é a virtude da sua palavra. Só um grande mestre pode tornar aquilo que é muito difícil em algo relativamente simples. Como você pode ver, o curto sétimo aforismo da Seção II dos Śivasūtra-s contém uma grande quantidade de conhecimentos. Somente um grande ser tal como o próprio Kṣemarāja é capaz de extrair o Néctar desses conhecimentos e mostrar uma maneira simples de entendê-los corretamente. Os meus próprios comentários sobre o comentário de Kṣemarāja não seriam necessários, mas de algum modo senti que poderia tornar as coisas ainda mais fáceis para você, e esse sentimento deu origem a eles. Eu espero que você experimente o Néctar das palavras de Kṣemarāja enquanto lê este documento do mesmo modo que eu, enquanto comentava sobre o comentário do santo.

Importante: Tudo que está entre parênteses e no itálico, na tradução, foi adicionado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que estiver entre hífens duplos (--...--) constitui informação adicional, adicionada por por mim para clarificar, exceto quando esses hífens duplos contêm uma palavra traduzida em vermelho.

Vamos ao trabalho.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Comentário por Kṣemarāja: Parágrafos 6, 7 & 8

Kṣemarāja continua a falar sobre os significados secretos contidos no aforismo 7, Seção II, dos Śivasūtra-s. Ouça-o:


... अत एव प्रत्याहारयुक्त्यानुत्तरानाहताभ्यामेव शिवशक्तिभ्यां गर्भीकृतमेतदात्मकमेव विश्वमिति महामन्त्रवीर्यात्मनोऽहंविमर्शस्य तत्त्वम्।...

... Ata eva pratyāhārayuktyānuttarānāhatābhyāmeva śivaśaktibhyāṁ garbhīkṛtametadātmakameva viśvamiti mahāmantravīryātmano'haṁvimarśasya tattvam|...

... Por conseguinte (atas eva), o princípio ou essência (tattvam) da consciência do Eu (aham-vimarśasya), cuja natureza (ātmanaḥ) é a Virilidade ou Poder (vīrya) do Grande (mahā) Mantra (mantra), (é como segue): "O universo (viśvam), por meio (yuktyā) do Pratyāhāra (pratyāhāra), está impregnado (garbhīkṛtam) por Anuttara e Anāhata (anuttarānāhatābhyām) (isto é, as letras "a" e "ha", respectivamente, as quais são) certamente (eva) Śiva e Śakti (śivaśaktibhyām). (Pela dita razão,) ele --em outras palavras, "o universo"-- somente (eva) consiste (ātmakam) Nisto --ou seja, "em Śiva e Śakti"-- (etad... iti)"|...

Por "Pratyāhāra", Kṣemarāja não está referindo-se ao bem conhecido aṅga ou etapa do Pātañjalayoga, onde você faz com que os indriya-s retirem-se para dentro, mas sim a algo completamente diferente. Na gramática do sânscrito, esse termo conota uma "combinação". O exato significado técnico de Pratyāhāra é o seguinte: "a inclusão de várias letras, afixos ou raízes (e similares) em forma de uma sílaba por meio da combinação (para encurtar) do primeiro membro com o Anubandha ou letra indicativa do último membro". Nesse caso, há uma união entre o Anuttara (a letra "a") e o Anāhata (a letra "ha"), que traz o "aha". Anuttara é a primeira letra do alfabeto, enquanto Anāhata é a última. Portanto, o termo "aha" inclui todas as letras em seu ventre, e, já que, de cada letra, surge um ou vários tattva-s (categorias ou níveis da Criação), o universo inteiro repousa em "aha". Mas algo está faltando aqui... o Bindu. Em Śiva ou Anuttara surge um Bindu ou Ponto. Esse Bindu é a Própria Śakti compactada em um Ponto. É Consciência massiva compactada em um Bindu. Nesse Bindu ou Divino Ventre, todos os seres e mundos estão contidos. Foi apropriadamente chamado de "Divino Ventre", mas é especial, já que dá origem a tudo o que está manifesto neste momento, mas, ao mesmo tempo, se dissolve nesse Ventre outra vez. É um tipo particular de Ventre, que tanto manifesta como reabsorve tudo simultaneamente.

Anusvāra ou "ṁ" representa Bindu no alfabeto sânscrito. Em Devanāgarī original, é um simples "ponto" posto em cima da letra. Por sua vez, como Kṣemarāja sabiamente assinala, Anuttara ("a") é Śiva, enquanto que Anāhata ("ha") é Śakti. Assim, o Bindu deve ser colocado acima do "ha", o que indica que, mesmo que Anuttara ou Śiva apareça como o universo inteiro por meio de Seu próprio Poder ou Śakti, Ele permanece não-dividido o tempo inteiro. Bindu simboliza a "não-divisão" em Śiva ou Anuttara, apesar da manifestação massiva dos tattva-s produzida por Śakti ou Anāhata. Por essa razão, "Ahaṁ" representa TUDO, em outras palavras, Śiva, Śakti, o universo e o fato de que Śiva permanece o mesmo, ainda que Śakti (Seu Poder) manifeste miríades de mundos dentro Dela Mesma. E "Ahaṁ" significa "Eu" em sânscrito, no sentido de  que "Eu sou Śiva-Śakti e o universo, mas, paradoxalmente, não obstante, não assumo divisão". Agora, "Ahaṁ" em Devanāgarī:

अहं

Kṣemarāja continua a comentar:


... यथोक्तमस्मत्परमेष्ठिश्रीमदुत्पलदेवपादैः

प्रकाशस्यात्मविश्रान्तिरहम्भावो हि कीर्तितः।
उक्ता सैव च विश्रान्तिः सर्वापेक्षानिरोधतः॥
स्वातन्त्र्यमथ कर्तृत्वं मुख्यमीश्वरतापि च।

इति।...

... Yathoktamasmatparameṣṭhiśrīmadutpaladevapādaiḥ

Prakāśasyātmaviśrāntirahambhāvo hi kīrtitaḥ|
Uktā saiva ca viśrāntiḥ sarvāpekṣānirodhataḥ||
Svātantryamatha kartṛtvaṁ mukhyamīśvaratāpi ca|

iti|...

... Tal como (yathā) foi dito (uktam) por meio dos versos (pādaiḥ... iti) de Utpaladeva (utpaladeva), nosso (asmat) eminente (śrīmat) (e) supremo Mestre (parameṣṭhi):

"O Descanso ou Repouso (viśrāntiḥ) da Luz da Consciência (prakāśasya) dentro de Si Mesma (ātma) (é) indubitavelmente (hi) conhecido (kīrtitaḥ) como o conceito de "eu" (aham-bhāvaḥ). Isso (sā) é certamente (eva ca) chamado (uktā) de Descanso ou Repouso (viśrāntiḥ), já que exclui (nirodhataḥ) toda (sarva) expectativa (apekṣā). Ademais (atha), é Liberdade Absoluta (svātantryam), Principal (mukhyam) Condição de Fazedor (kartṛtvam), bem como (api ca) Completa Supremacia (īśvaratā... iti)"|...

Quando você "descansa" completamente dentro do seu próprio Ser, que é Śiva, você está totalmente consciente da Verdadeira Consciência do Eu. Como foi expresso pelo próprio Utpaladeva, não há nenhuma expectativa nesse repouso, ou seja, não há desejo. É uma condição natural e espontânea em que você não espera absolutamente nenhuma realização. De fato, nem sequer deseja a Libertação.

Além do mais, Utpaladeva também declara que esse Estado é Liberdade Absoluta (Svātantrya), Principal Condição de Fazedor (kartṛtvaṁmukhyam) e Completa Supremacia (īśvaratā). Em outras palavras, tem total Liberdade, Onipotência e Soberania... O que mais se poderia dizer acerca de Śiva, o Senhor?


... तदियत्पर्यन्तं यन्मातृकायास्तत्त्वं तदेव ककारसकारप्रत्याहारेणानुत्तरविसर्गसङ्घट्टसारेण कूटबीजेन प्रदर्शितमन्त इत्यलं रहस्यप्रकटनेन।...

... Tadiyatparyantaṁ yanmātṛkāyāstattvaṁ tadeva kakārasakārapratyāhāreṇānuttaravisargasaṅghaṭṭasāreṇa kūṭabījena pradarśitamanta ityalaṁ rahasyaprakaṭanena|...

... Portanto (tad), o que (yad) até agora (foi denominado) (iyat-paryantam) "a essência (tattvam) de Mātṛkā (mātṛkāyāḥ)", isso mesmo (tad eva) foi mostrado (pradarśitam) ao final (ante) por meio do Kūṭabīja --a letra kṣa-- (kūtabījena). (Esse Kūṭabīja) é um Pratyāhāra (pratyāhāreṇa) da letra (kāra) "ka" (ka) (e) da letra (kāra) "sa" (sa). (Dessa forma, esse Kūṭabīja) se forma a partir da combinação (sanghaṭṭa) das essências --sāra-- (sāreṇa) de Anuttara (anuttara) (e) Visarga (visarga) (respectivamente). Chega (iti-alam) de trazer à luz (prakaṭanena) o que é secreto (rahasya)!|...

A essência ou "alma" de Mātṛkā é "Kūṭabīja". A palavra "kūṭa" significa "o mais alto, excelente, misterioso, etc.". E "bīja" significa "semente, letra". Então, por um lado, o termo "Kūṭabīja" é um nome místico da letra "kṣa". Por outro lado, de um ponto de vista gramatical, "kūṭa" é um nome técnico de uma letra resultante da combinação de duas consoantes. Aqui, as duas consoantes são "ka" e "sa". A sua combinação dá origem à letra "kṣa". Por essa razão, "kṣa" é chamado de letra (bīja) Kūṭa. "Kṣa" às vezes é posto, no alfabeto, após "ha". É por isso que, em algumas escrituras, se diz o seguinte: "De a a kṣa", em vez de "De a a ha".

Nesse contexto, a palavra "tattva" deve ser entendida como "sāra", ou seja, "essência, alma, âmago, núcleo". A letra "Kṣa" é a essência do Poder que gera as letras, ou seja, Mātṛkā. Kṣemarāja afirma que essa letra é formada a partir da união de "ka" --a essência de Anuttara ou "a" (Śiva)-- com "sa" --a essência de Visarga--. Por Visarga, ele não está se referindo ao "ḥ", mas sim ao "ā" (Śakti). Há três tipos de Visarga: "ā" (Para ou Supremo), "ḥ" (Parāpara ou Supremo/Não-supremo) e "ha" (Apara ou Não-supremo). Ainda que comumente só se refira ao "ḥ" como Visarga, deve-se notar que é, na verdade, Parāparavisarga ou Visarga Supremo/Não-supremo. Agora, uma tabela:

OS TRÊS TIPOS DE VISARGA
Letra Nome Comentário
ā Paravisarga
Visarga Supremo
A Própria Śakti, a Mais Alta Forma de Visarga.
: Parāparavisarga
ou Visarga Supremo/Não-supremo
Essa letra é comumente chamada de "Visarga". Os dois pontos de que se compõe indicam que Śiva (o ponto superior) permanece no Seu próprio Ser imutável apesar da manifestação do universo por Śakti (o ponto inferior). Em outras palavras, Śiva permanece a mesma realidade não-dual, ainda que Śakti desdobre dualidade.
ha Aparavisarga
ou Visarga Não-supremo
A forma bruta de Visarga. Não é, realmente, uma letra formal, mas sim um som produzido pela inalação. Também é chamado de "Prāṇabīja".

"Ka" é a essência do "a" ou Anuttara, já que o Kavarga (grupo Ka ou Guturais: ka, kha, ga, gha e ṅa) emerge de "a". Por sua vez, "sa" é a essência de Visarga ("ā" ou Paravisarga, para ser exato) porque é pura Icchāśakti (Poder de Vontade), o Próprio Poder Criativo. Por meio de "sa", "ā" manifesta o universo inteiro. "Sa" é também o som produzido por exalação e, dessa maneira, indica uma emissão ou manifestação. Esse assunto é certamente profundo, e a minha explicação não teria fim, certamente!

Kṣemarāja finalmente diz: "Chega de trazer à luz o que é secreto!". E essa é uma grande verdade. Nós somos realmente sortudos, porque ele vai, compassivamente, continuar a falar do que é secreto e misterioso, mesmo apesar da sua declaração anterior.

Ao início


 Comentário por Kṣemarāja: Parágrafos 9, 10 & 11

Kṣemarāja continua a comentar:

... एवंविधायाः

... न विद्या मातृकापरा।

इत्याम्नायसूचितप्रभावाया मातृकायाः सम्बन्धिनश्चक्रस्य प्रोक्तानुत्तरानन्देच्छादिशक्तिसमूहस्य चिदानन्दघनस्वस्वरूपसमावेशमयः सम्यग्बोधो भवति।...

... Evaṁvidhāyāḥ

... na vidyā mātṛkāparā|

ityāmnāyasūcitaprabhāvāyā mātṛkāyāḥ sambandhinaścakrasya proktānuttarānandecchādiśaktisamūhasya cidānandaghanasvasvarūpasamāveśamayaḥ samyagbodho bhavati|...

... (Sambodha, no aforismo,) é (bhavati) Completa (samyak) Iluminação (bodhaḥ) que consiste (mayaḥ) em uma absorção (samāveśa) na própria Natureza Essencial (sva-sva-rūpa), que é uma Compacta Massa (ghana) de Consciência (cit) (e) Felicidade (ānanda). (Completa Iluminação) com relação ao supracitado (prokta) grupo (cakrasya... samūhasya) de poderes (śakti) (integrado por) Anuttara (anuttara), Ānanda (ānanda), Icchā (icchā), etc. (ādi), (e que) está conectado (sambandhinaḥ) com Mātṛkā (mātṛkāyāḥ), cuja --ou seja, de Mātṛkā-- Eficácia ou Poder (prabhāvāyāḥ) foi indicada (sūcita) nas Escrituras Reveladas (āmnāya) da seguinte maneira (evaṁvidhāyāḥ... iti):

"... Não há nenhum (na) conhecimento (vidyā) mais alto (parā) que (o de) Mātṛkā (mātṛkā)"|...

Kṣemarāja diz que "Sambodha", no aforismo que estamos estudando (isto é, Śivasūtra-s, Seção II, 7o aforismo), significa "Samyakbodha" ou "Completa Iluminação". Ou seja, ele diz que o prefixo "sam" é uma abreviação de "samyak" (completo/a). "K" em "samyak" muda para "g" pela 3a sub-regra da 2a Regra de Sandhi Consonantal. O sétimo aforismo estudado em Primeiros Passos (4) e no documento atual --Primeiros Passos (5)-- declara que:

मातृकाचक्रसम्बोधः॥७॥
Mātṛkācakrasambodhaḥ||7||

(De um guru contente, provém) a Iluminação (sambodhaḥ) segundo o grupo (cakra) de letras (mātṛkā)||7||

Então, essa Completa Iluminação ou Sambodha é nada mais que uma Absorção na Própria Natureza Essencial, que é uma Massa Compacta de Consciência (Śiva) e Felicidade (Śakti). Sambodha é uma Completa Compreensão do grupo de poderes (Śaktisamūha ou Śakticakra). Esse grupo de poderes é composto por "a, ā, i, etc.", como você sabe.

Śakticakra ou Śaktisamūha se relaciona com Mātṛkā (Poder que dá origem às letras). Kṣemarāja também diz que a Eficácia ou Poder (prabhāvā) de Mātṛkā foi assinalada nas Escrituras Reveladas ou Āgama. Entretanto, você vai certamente notar que ele usou a palavra "āmnāya" e não "āgama". Ambas as palavras devem ser consideradas como sinônimos, nesse caso. Essa palavra (isto é, āmnāya) que ele usa aqui também pode significar "Sagrada Tradição". Assim, Kṣemarāja poderia estar dizendo que a Eficácia ou Poder de Mātṛkā foi indicada na sua Tradição Espiritual. As duas traduções são possíveis, então.

E essa Eficácia foi mencionada estabelecendo-se que "Não há nenhum conhecimento mais alto que (o de) Mātṛkā".

Kṣemarāja continua a comentar:


... एतच्चेह दिङ्मात्रेणोट्टङ्कितम्।...

... Etacceha diṅmātreṇoṭṭaṅkitam|...

... Isto (etad ca) (foi) tratado (uṭṭankitam) aqui (iha) mediante mera (mātreṇa) indicação (dik)|...

Todo esse assunto sobre Mātṛkā foi tratado aqui por meio de mera indicação, ou seja, não houve aprofundamento. Você deve pensar... "Oh, querido Kṣemarāja, você está me provocando". Não, Kṣemarāja não está te provocando nem um pouco. Tudo do que ele falou sobre Mātṛkā é só uma pequena migalha que caiu da mesa dos Vidyeśvara-s (os Senhores do Conhecimento). Os Vidyeśvara-s vivem em você como Você Mesmo... mas, para dar-se conta disso, você precisa abandonar toda a ignorância ou Māyā. Como se alcança isso? Por meio da Completa Iluminação ou Sambodha acerca do grupo de letras ou Mātṛkā.

No final das contas, é unicamente o Guru interior que lhe fornecerá esse Sambodha quando você merecê-lo. Você deve simplesmente realizar as práticas espirituais recomendadas pelo seu próprio guru (ou seja, meditação, serviço, canto, repetição de um Mantra ou qualquer outra prática que ele considerar conveniente para você realizar). Nada mais precisa ser feito. No devido curso do tempo, o Guru interior se sentirá contente pela sua devoção e sincero desejo de Emancipação, e lhe dará o supracitado presente. Por meio dessa Completa Iluminação ou Sambodha, você se dará conta de que o Guru interior é o verdadeiro "Você" em você, ou seja, alcançará total identificação com Ele. O Guru interno é Śiva, seu próprio Ser, é claro.

Posteriormente, você perceberá que Śiva impregna tudo, dentro e fora. De fato, compreenderá que não há nem dentro nem fora, pois somente um Ser (Você, Śiva) é o solitário habitante desse sonho cósmico conhecido como universo. Esse "dar-se conta" é denominado "Śivavyāpti" em Trika, e é considerado como sendo a maior realização. É a Libertação final, é a Suprema Felicidade e Beatitude, é... o que mais posso dizer sobre isso? Experimente você mesmo!

Kṣemarāja continua a dizer:


... विततं त्वस्मत्प्रभुपादैः श्रीपरात्रिंशकाविवरणतन्त्रालोकादौ प्रकाशितम्।...

... Vitataṁ tvasmatprabhupādaiḥ śrīparātriṁśakāvivaraṇatantrālokādau prakāśitam|...

... (Isto foi) certamente (tu) difundido (vitatam) (e) revelado (prakāśitam) por meio dos versos (pādaiḥ) de nosso (asmat) Mestre (prabhu) nos veneráveis (śrī) Parātriṁśakāvivaraṇa (parātriṁśakāvivaraṇa), Tantrāloka (tantrāloka), etc. (ādau)|...

Em suma, Kṣemarāja deixa claro que o ensinamento que foi brevemente indicado aqui é tratado em profundidade nas obras escritas pelo seu próprio Mestre ou Prabhu (Abhinavagupta). Isso é simples de entender e não precisa de uma explicação adicional da minha parte, precisa?

Ao início


 Comentário por Kṣemarāja: Parágrafos 12 & 13

Kṣemarāja diz que:

... उक्तं च श्रीसिद्धामृते

सात्र कुण्डलिनी बीजजीवभूता चिदात्मिका।
तज्जं ध्रुवेच्छोन्मेषाख्यं त्रिकं वर्णास्ततः पुनः॥
आ इत्यवर्णादित्यादि यावद्वैसर्गिकी कला।
ककारादिसकारान्ताद्विसर्गात्पञ्चधा स च॥
बहिश्चान्तश्च हृदये नादेऽथ परमे पदे।
बिन्दुरात्मनि मूर्धान्ते हृदयाद्व्यापको हि सः।
आदिमान्त्यविहीनास्तु मन्त्राः स्युः शरदभ्रवत्।
गुरोर्लक्षणमेतावदादिमान्त्यं च वेदयेत्॥
पूज्यः सोऽहमिव ज्ञानी भैरवो देवतात्मकः।
श्लोकगाथादि यत्कञ्चिदादिमान्त्ययुतं यतः।
तस्माद्विदंस्तथा सर्वं मन्त्रत्वेनैव पश्यति।

इति।...

... Uktaṁ ca śrīsiddhāmṛte

Sātra kuṇḍalinī bījajīvabhūtā cidātmikā|
Tajjaṁ dhruvecchonmeṣākhyaṁ trikaṁ varṇāstataḥ punaḥ||
Ā ityavarṇādityādi yāvadvaisargikī kalā|
Kakārādisakārāntādvisargātpañcadhā sa ca||
Bahiścāntaśca hṛdaye nāde'tha parame pade|
Bindurātmani mūrdhānte hṛdayādvyāpako hi saḥ|
Ādimāntyavihīnāstu mantrāḥ syuḥ śaradabhravat|
Gurorlakṣaṇametāvadādimāntyaṁ ca vedayet||
Pūjyaḥ so'hamiva jñānī bhairavo devatātmakaḥ|
Ślokagāthādi yatkañcidādimāntyayutaṁ yataḥ|
Tasmādvidaṁstathā sarvaṁ mantratvenaiva paśyati|

iti|...

... Na venerável (śrī) Siddhāmṛta (siddhāmṛte) (foi) também (ca) declarado (uktam) (por Śiva Mesmo a Pārvatī, sua consorte):

"Aqui (atra), essa (sā) Kuṇḍalinī (ghana), cuja natureza (ātmikā) é a Consciência (cit), é (bhūtā) a Semente (bīja) e a Vida (jīva). Uma e outra vez (punar), surge (jam) dessa (tad) Morada (astataḥ) de letras (varṇa) uma tríade (trikam) composta (ākhyam) por Dhruva (dhruva), Icchā (icchā) (e) Unmeṣa (unmeṣa) --isto é, as vogais "a, i e u", respectivamente--.

A partir da letra (varṇāt) "a" (a) (emerge) "ā" (ā iti), e assim sucessivamente (iti-ādi), justamente até (yāvat) a porção (kalā) do Visarga (vaisargikī) --Parāparavisarga ou "ḥ", para ser preciso--. Do Visarga (visargāt) (se produz o grupo de letras) que começa (ādi) na letra (kāra) "ka" (ka) (e) termina --anta-- (antāt) na letra (kāra) "sa" (sa). E (ca), (por sua vez,) esse (Visarga) (saḥ) (aparece) em cinco maneiras (pañcadhā):

(1) Fora, (na forma do universo) (bahis) e (ca... ca) dentro (antar), (2) no coração (hṛdaye), (3) em nāda --isto é, na garganta, nesse caso-- (nāde) (e) certamente (atha) (4) na Etapa (pade) Suprema (parama) --entre as sobrancelhas--. (Ademais,) esse (saḥ) Bindu --ou seja, Visarga-- (binduḥ) indubitavelmente (hi) penetra (vyāpakaḥ) do coração (hṛdayāt) até (5) o topo (ante) do crânio (mūrdha), (em outras palavras), até o Ser (Mesmo) (ātmani).

Entretanto (tu), os mantra-s (mantrāḥ) desprovidos (vihīnāḥ) de "a" (a) inicial (ādi) (e) "ma" (ma) final (antya) --desprovidos de "aham" ou Eu, Śiva--, são (syuḥ) como (vat) nuvens (abhra) outonais (śarat). A característica (essencial) (laksaṇam) de um Guru (guroḥ) (é que) ele explica (a seus discípulos) (ca vedayet) (esse Mahāmantra ou Grande Mantra) cuja medida (etāvat) (é como segue:) começa (ādi) com "a" (a) (e) termina (antyam) com "ma" (ma) --como é óbvio, refere-se a "Aham" ou Eu, Śiva--.

Esse (saḥ) Conhecedor (jñānī), (esse) Divino (devatā-ātmakaḥ) Bhairava (bhairavaḥ), deve ser adorado (pūjyaḥ) como (iva) Eu Mesmo (aham). Em vista de que (yatas) --para esse Guru-- qualquer coisa (yatkiñcid), quer seja um hino de louvação (śloka), uma canção laudatória (ghāthā), etc. (ādi), está unido ou conectado (yutam) com (o Mahāmantra ou Grande Mantra) que começa (ādi) com "a" (a) (e) termina (antya) com "ma" (ma); portanto (tasmāt), ao conhecer (tal Guru) (vidan) desse modo (tathā), vê (paśyati) tudo (sarvam) somente (eva) como sendo um Mantra (mantratvena... iti)"|...

Siddhāmṛta é uma escritura famosa. Kṣemaraja extraiu cinco lindas estrofes dela de modo a esclarecer o assunto ainda mais. Siddhāmṛta declara que Kuṇḍalinī é a Semente e a Vida, e a Morada das letras a partir da qual surge a tríade "a, i e u". A vogal "a" é denominada "Dhruva" (que significa "fixo", e também "estrela polar"), pois é "fixa" como a estrela polar. Essa vogal é a corporificação de Śiva, o qual é uma Realidade "fixa", por assim dizer. Possui outro epíteto: "Anuttara". Por sua vez, a vogal "i" é denominada "Icchā", já que é o próprio Poder de Vontade (Icchāśakti), do qual o universo inteiro se manifestou. Por último, "u" é denominado "Unmeṣa", pois representa a "abertura dos olhos de Śiva", isto é, Śiva (Você) é plenamente consciente de Si e do universo. Esse supremo estado de consciência é cheio de Conhecimento divino ou Jñānaśakti (Poder de Conhecimento).

Kuṇḍalinī é Śakti, é claro, e não é um epíteto: Então, por que temos que usar esses dois termos? Boa pergunta. Bem, ouça a minha resposta "dupla":

  1. De um ponto de vista estritamente técnico, Kuṇḍalinī é Śakti, só que localizada em um corpo. Quando você fala de sua própria "Śakti", por assim dizer, ou seja, Śakti em seu corpo, deve usar o termo Kuṇḍalinī. No entanto, quando você se refere ao Poder Cósmico que permeia tudo, você deve usar o termo Śakti. Entendeu? Certamente, a maioria das pessoas utiliza os termos como meros sinônimos.
  2. Kuṇḍalinī é um resíduo de Śakti. Em outras palavras, Śakti não é completamente "consumida", por assim dizer, ao longo de todo o processo de manifestação universal; permanece um pequeno resíduo. Esse resíduo se localiza dentro do corpo... hmmm... na verdade, dentro do corpo sutil... hmmm... mesmo que Kuṇḍalinī esteja além de todos os corpos, sem dúvida. Mesmo que "Kuṇḍalinī" literalmente signifique "enrolada". Kundalinī está enrolada no Mūlādhāracakra, na base da coluna vertebral.

Segundo o antigo conhecimento, há três maneiras nas quais aparece Kuṇḍalinī:

  1. Śaktikuṇḍalinī: o aspecto espiritual e adormecido de Kuṇḍalinī enrolado três vezes e meia no Mūlādhāracakra. A primeira volta do dito enrolamento se relaciona com o aspecto objetivo de Śakti, ou seja, os objetos cognoscíveis ou prameya-s. A segunda volta tem a ver com o aspecto do conhecimento, ou seja, se associa com o processo de conhecer esses mesmos objetos cognoscíveis. Esse processo é conhecido como "pramāṇa". Por sua vez, "pramāṇa" é também o próprio conhecimento dentro desse processo de conhecer. A terceira volta é ligada ao aspecto subjetivo, em suma, com o próprio experimentador "limitado" de todos esses prameya-s ou objetos cognoscíveis. A meia volta restante diz respeito a Pramā ou Conhecimento Verdadeiro. Em Pramā, sujeito e objeto permanecem em indistinguível união.
  2. Prāṇakuṇḍalinī: o aspecto mundano e desperto de Kuṇḍalinī, o qual está orientado externamente à vida. A Própria Śakti se torna Prāṇaśakti ou energia vital para manifestar e sustentar todos os seres vivos. Ela está dentro de todos eles, sem dúvida... é por isso que estão vivos.
  3. Parākuṇḍalinī: a Kuṇḍalinī que se deu conta da Sua divindade essencial. Quando Śaktikuṇḍalinī é, por fim, desperta, ascende até o centro de consciência, localizado no cocuruto (Sahasrāracakra) geralmente por meio de um processo gradual, passo a passo. Quando chega a esse cakra, Ela se torna consciente de Sua verdadeira natureza e é, então, chamada de Parākuṇḍalinī ou a Mais Elevada Kuṇḍalinī.

Essa não é a única maneira de se classificar a Kuṇḍalinī. Segundo outros, Kuṇḍalinī pode ser dividida em três classes:

  1. Prāṇakuṇḍalinī: A Kuṇḍalinī que mora no Mūlādhāracakra (na base da coluna vertebral).
  2. Citkuṇḍalinī: A Kuṇḍalinī que mora no Anāhatacakra (na área do coração).
  3. Parākuṇḍalinī: A Kuṇḍalinī que mora no Ājñācakra (no centro do crânio, à altura do espaço entre as sobrancelhas).

Como você certamente sabe, um verdadeiro mestre pode despertar o aspecto espiritual e adormecido de Kuṇḍalinī em você. Esse guru geralmente despertará a Prāṇakuṇḍalinī, que é comumente chamada de "Kuṇḍalinī". Contudo, se o discípulo for espiritualmente desenvolvido até certo ponto, poderia despertar a Citkuṇḍalinī no Anāhatacakra ou até a Parākuṇḍalinī no Ājñācakra... bem, este é também outro longo tópico.

Então, em resumo, a Kuṇḍalinī é Śakti residual que mora no próprio corpo. Essa Kuṇḍalinī é também chamada Mātṛkā ou "mãezinha não-compreendida", pelo fato de ser a fonte "não entendida" de todos os sons neste universo. É por isso que o Siddhāmṛta declara que Ela é uma Morada de letras.

Posteriormente, o Siddhāmṛta descreve como as várias letras surgem umas das outras... bem, já lhe expliquei isso. Não obstante, é interessante o aspecto quíntuplo do Visarga. Aqui, o autor está se referindo ao Visarga como Visargaśakti ou a Energia Manifestadora do Senhor Mesmo. Em suma, Visargaśakti é Śakti manifestando um universo de múltiplas formas. O Siddhāmṛta descreve como esse Visarga ou Visargaśakti aparece em cinco lugares específicos. Em relação às quatro áreas corporais mencionadas, se meditar-se nelas apropriadamente, atuam como uma espécie de "portais" a níveis superiores de consciência, que são uma manifestação de Visarga, entendeu? Vejamos cada um desses "portais":

  1. Visargaśakti ou simplesmente Visarga é todo o universo, já que o próprio Visarga o produz constantemente. Obviamente, é Śakti que, por último, manifesta o mundo, mas Ela aparece como Visargaśakti ou Visarga para fazê-lo.
  2. Ela também mora no coração. Por "coração", o autor não está se referindo ao órgão físico, indubitavelmente, mas sim ao Anāhatacakra (um centro sutil localizado na zona cardíaca). Dentro do Anāhatacakra, você pode ouvir o som "não produzido por golpe" ou Anāhatanāda. Ninguém está fazendo esse som, e nada pode impedir que soe. A Própria Śakti, na forma de Visarga, está soando, certamente, como Anāhatanāda.
  3. Ela também se localiza na garganta. Por "garganta", o autor não está se referindo à garganta física, sem dúvida, mas sim ao Viśuddhacakra (um centro sutil localizado na zona laríngea). O Viśuddhacakra administra tudo o que se relaciona com "vāk ou fala" em você, e é por isso que foi chamado de "Nāda" (som) na estrofe. Quatro tattva-s são associados com esse cakra: Poder auditivo (Śrotrendriya - tattva 17), Poder da fala (Vāgindriya - tattva 22), Som como tal (Śabdatanmātra - tattva 27) e Éter ou Espaço (Ākāśa -- tattva 32). Ver Tabela Táttvica para mais informação.
  4. Também pode ser encontrada no espaço entre as sobrancelhas. Contudo, o autor está se referindo, na verdade, ao Ājñācakra (um centro sutil localizado no meio do crânio, à altura do espaço entre as duas sobrancelhas). É aqui chamado de "a Etapa Suprema", já que, quando Kuṇḍalinī chega aqui, você recebe o comando ou "ājñā" do guru interno (por essa razão, o cakra é chamado de Ājñā) sobre que você deve seguir até o centro de consciência localizado no cocuruto (Sahasrāra). Além disso, esse comando lhe permite transitar pelo "Caminho dos Siddha-s" até o Sahasrāracakra (o centro sutil localizado na parte superior do crânio).
  5. Ela também vive no Sahasrāracakra como a Própria Divina Śakti. Ah!, esqueci de lhe dizer o que é "O Caminho dos Siddha-s". Escute: A "Suṣumnānāḍī" é o canal sutil mais importante do corpo astral. Ela vai do Mūlādhāracakra (na base da coluna vertebral) até o Sahasrāracakra (na parte superior da cabeça). Bem, a porção da Suṣumnānaḍī que fica entre o Ājñācakra (localizado no centro do crânio) e o Sahasrāracakra é conhecida como "O Caminho dos Siddha-s" ou "Siddhapatha" em Sânscrito. Os Siddha-s são Seres Aperfeiçoados, ou seja, alcançaram o mais alto estado de consciência ou Śiva. Toda a pessoa que quiser chegar a essa condição divina deve percorrer "O Caminho dos Siddha-s", de Ājñā até Sahasrāra. O Āṇavamala macrocósmico [a limitação inata em todos os seres, ver "A região entre os tattva-s 5 e 6" em Trika 4 (português)] mora de maneira microcósmica acima do próprio Ājñācakra. Ninguém pode atravessar o Āṇavamala sem "Graça Divina". Essa Divina Graça não vem de ninguém de fora... de fato, nada vem de ninguém de fora... outro longo tópico. Bem, sem Graça Divina ou Anugraha, você não pode ir além do Āṇavamala. O comando do Guru interno que você recebe no Ājñācakra atua como uma chave "mágica" que abre a porta do Āṇavamala para você. Por essa razão, todos os seus esforços terminam completamente quando a Kuṇḍalinī chega ao Ājñācakra. Daí em diante, tudo é feito somente por Graça Divina, e, deste modo, a sua intervenção pessoal em forma de práticas espirituais não é mais necessária. Após atravessar o Siddhapatha ou O Caminho dos Siddha-s, a Kuṇḍalinī alcança o Núcleo de tudo no Sahasrāracakra, e você se torna um Siddha ou Ser Aperfeiçoado. Parabéns! Contudo, não se entrega nenhum certificado que prove que você é agora todo um Siddha, hehe.

Ahhh!, a quarta estrofe do Siddhāmṛta declara que qualquer mantra desprovido de Aham ou consciência do Eu é como uma nuvem outonal. As nuvens outonais não contêm chuva, e, dessa forma, são "inúteis", por assim dizer. Da mesma forma, um mantra sem Aham ou consciência do Eu é inútil. Mas o que tudo isso significa? Escute: Aham é Śiva-Śakti ou consciência do Eu. Se você repete um mantra, mas Você (Śiva-Śakti) não se identifica com esse mantra, não se verte nenhum Aham nele. Contudo, quando você se identifica com ele, nesse mantra se infunde Aham ou Você, e, assim, não é inútil como uma nuvem outonal, entende o que eu digo? Abandone toda a imaginação na qual um distante e misterioso guru está infundindo o seu próprio e divino Aham em um mantra secreto e blá blá blá... não, Você é Śiva e, cada vez que se dá conta da sua identidade com o mantra por meio de repetição, você está vertendo Aham ou consciência do Eu ou Śiva-Śakti nele. Se Você sente que é o mantra, o mantra é útil... se não, é inútil. É simples assim! Não sei porque algumas pessoas complicam tanto as coisas!

Certo, um bom guru explicará a você as letras "a" e "ma", de modo que todas as suas dúvidas sejam dissolvidas. Além disso, ele lhe ensinará a verdadeira essência de Aham ou consciência do Eu. Como eu lhe disse antes, tudo é Śiva. E, já que Śiva é o mantra, tudo é o mantra. E, como Você é o próprio mantra, tudo é Você. Śiva, mantra e Você são a mesma coisa. É realmente algo simples de entender.

E um guru verdadeiro recebe o seu conhecimento espiritual dos divinos Vidyeśvara-s ou Senhores do Conhecimento. Quem são esses misteriosos Vidyeśvara-s? No Īśvaratattva (tattva 4) há oito bhuvana-s ou mundos cujos nomes são os seguintes:

  1. Śikhaṇḍī
  2. Śrīkaṇṭha
  3. Trimūrti
  4. Ekarudra
  5. Ekanetra
  6. Śivottama
  7. Sūkṣma
  8. Ananta

Cada um desses mundos ou bhuvana-s tem uma espécie de regente ou patriarca. De fato, os nomes desses mundos são os nomes desses oito patriarcas que os governam. Aqui vão as suas cores:

  1. Śikhaṇḍī (marrom escuro)
  2. Śrīkaṇṭha (vermelho)
  3. Trimūrti (carmesim)
  4. Ekarudra (negro)
  5. Ekanetra (amarelo)
  6. Śivottama (azul)
  7. Sūkṣma (branco)
  8. Ananta ou também Ananteśa (vermelho sangue)

Por sua vez, seus nomes indicam os seus respectivos atributos:

  1. Śikhaṇḍī (que porta uma mecha de cabelo)
  2. Śrīkaṇṭha (que tem uma bela garganta)
  3. Trimūrti (que tem três formas)
  4. Ekarudra (Rudra sozinho)
  5. Ekanetra (que tem apenas um olho)
  6. Śivottama (o melhor dos seres auspiciosos)
  7. Sūkṣma (o sutil)
  8. Ananta (infinito) ou Ananteśa (senhor de Ananta --o mundo-- ou senhor infinito)

Esses oito patriarcas são os célebres Vidyeśvara-s ou Senhores do Conhecimento. São śakti-s ou poderes que administram todo o conhecimento neste universo. Eles vivem em Você como Você Mesmo.

Kṣemarāja finaliza agora a sua obra-prima na forma deste comentário por meio do último parágrafo (o 13o):


... एतच्च स्पन्दे

सेयं क्रियात्मिका शक्तिः शिवस्य पशुवर्तिनी।
बन्धयित्री स्वमार्गस्था ज्ञाता सिद्ध्युपपादिका॥

इत्यनेनैव भङ्ग्या सूचितम्॥७॥

... Etacca spande

Seyaṁ kriyātmikā śaktiḥ śivasya paśuvartinī|
Bandhayitrī svamārgasthā jñātā siddhyupapādikā||

ityanenaiva bhaṅgyā sūcitam||7||

... Isto (etad) (foi) também (estabelecido) (ca) nas Spandakārikā-s (spande):

"Este (iyam) mesmo (sā) Poder ou Śakti (śaktiḥ) de Śiva (śivasya), cuja natureza (ātmikā) é atividade (kriyā), permanece (vartinī) no paśu ou ser condicionado (paśu) (e o) ata (bandhayitrī). (Contudo, quando Śakti) é conhecida ou percebida (jñātā) como permanecendo (no supracitado paśu) (sthā) na forma do caminho (mārga) até o próprio Ser (sva), produz (upapādikā) êxito (siddhi)"||
(Ver Spandakārikā-s III, 16)

(Desta forma,) por meio desta (citação) (anena eva) foi indicada (sūcitam) (a mesma ideia), mas indiretamente (bhaṅgyā)||7||

O poder operativo de Śiva que reside em um ser limitado é o Mātṛkācakra ou grupo de letras. Como você sabe, as letras formam palavras, e as palavras orações e por aí vai. Esse grupo, que já lhe enganou uma vez, pode acabar sendo uma senda à Liberação se você compreendê-lo corretamente. Se a sua abordagem é apropriada, pode converter o Mātṛkācakra em uma via à Emancipação final. O entendimento correto é a chave aqui, como você pode ver. Não lute contra o Mātṛkācakra, o qual, por exemplo, produz todos os seus pensamentos. Em vez disso, tente entendê-lo e alcance Iluminação por meio dele. Todos os seus pensamentos surgem do Mātṛkācakra. Não os combata. Vá à sua fonte. Ali, achará o Mātṛkācakra, que é a Própria Śakti aparecendo na forma da Visargaśakti ou Poder Manifestador. Medite nessa fonte de letras e seja bendito para sempre.

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 Notas finais

Foi uma longa página, sem dúvida. Você aprendeu que é realmente inútil lutar contra o Mātṛkācakra e sua progênie (pensamentos, palavras, etc.). Em lugar disso, você sabe agora que deve tratar de compreendê-lo apropriadamente. Kṣemarāja analisou cada letra do alfabeto sânscrito (origem, propriedades, etc.). Seu comentário é uma obra-prima, não há dúvida, e merece ser lido várias vezes para captar plenamente o núcleo de seu ensinamento. Há pessoas que lutam contra Mātṛkā quando tentam esvaziar a sua mente de pensamentos. Só conseguem frustração como resultado. Contudo, há outras pessoas que usam esse divino conhecimento sobre Mātṛkā e deixam de lutar contra sua mente. Apenas tentam se conscientizar da origem de todos os pensamentos e, assim, obter conhecimento real sobre Mātṛkā. Quando se aproximam da Mātṛkā dessa maneira, o mesmo poder que uma vez os atou se torna agora a causa de Libertação e Felicidade. O que mais eu posso dizer? Nos vemos.

Ao início


 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

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