Parāprāveśikā (português)
Uma escritura que versa sobre a Suprema Śakti ou Poder e os 36 tattva-s ou categorias
Introdução
Olá, Gabriel Pradīpaka novamente. "Parāprāveśikā" significa literalmente "inerente (prāveśikā) ao (Poder) Supremo (parā)", ou "que penetra/ingressa (prāveśikā) no (Poder) Supremo (parā)". Optei por traduzir o título dessa escritura de maneira mais descritiva: "Uma escritura que ingressa nos mistérios da Suprema Śakti ou Poder". Esse texto foi composto pelo sábio Kṣemarāja, um discípulo do grande Abhinavagupta. Kṣemarāja é o mesmo autor que escreveu o Spandanirṇaya, o Pratyabhijñāhṛdayam, a Śivasūtravimarśinī, e muitas outras escrituras essenciais do Trika (Shaivismo não dual da Caxemira - Ver a respectiva seção desse site se desejar mais informação sobre Trika).
Essa escritura consiste em um aforismo introdutório principal, que é seguido de um curto comentário em prosa. Quis traduzir essa escritura porque, nela, o sábio fala dos tattva-s ou categorias da manifestação universal. Ensino tattva-s na seção Trika desse site... claro... mas quis que você lesse os escritos originais em Sânscrito, de modo que você tenha um encontro de primeira mão com esse tipo de conhecimento. Essa não é a mais importante escritura que fala sobre tattva-s, já que o Ṣaṭtriṁśattattvasandoha (de Amṛtānandanātha) os descreve em total detalhe, especialmente quando é lido em conjunto com o comentário de Rājānakānanda. De qualquer forma, a Parāprāveśikā é uma maneira mais simples de te introduzir ao tema "tattva-s" diretamente a partir da fonte sânscrita.
Apesar de que haverá abundantes notas explicativas, recomendo especialmente que você consulte a Tabela de Tattva-s enquanto lê essa escritura, para, dessa maneira, ter um conhecimento resumido dos tattva-s. Obviamente, a subseção "Panorama" [Trika 1 (português), Trika 2 (inglês), etc.] dentro da seção Trika é uma "leitura obrigatória" para ter conhecimento sobre eles em profundidade.
A Parāprāveśikā versa principalmente sobre Śakti em Seu aspecto Parā ou Supremo. Śakti é o divino Poder de Śiva, segundo o sistema Trika. Ela aparece de maneira resplandescente em três formas: Parā (Suprema), Parāparā (Suprema|não Suprema) e Aparā (não Suprema). A primeira está cheia de unidade, a segunda é uma mistura de unidade e diversidade, e a última produz cessação da unidade. Outra maneira de descrever isso é a seguinte: Abheda (unidade), Bhedābheda (unidade na diversidade) e Bheda (diversidade). Essa é uma das razões pelas quais "Trika" (triplo) é o nome pelo qual se conhece o Shaivismo não dual da Caxemira. As pessoas conhecem o aspecto Aparā de Śakti, não é mesmo?, hehe. Por sua vez, elas experimentam Parāparā Śakti em sono profundo. Porém, o aspecto Parā, embora esteja sempre presente como a raiz de tudo, é praticamente desconhecido para a maioria das pessoas. Um paradoxo!
Bem, Kṣemarāja aniquilará essa ignorância por meio do seu primoroso Parāprāveśikā. Aproveite!
Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim. Note que tenho uma versão unicamente em Sânscrito do Parāprāveśikā, isto é, nenhuma tradução prévia, transliteração, etc. Dessa forma, terei que confiar na Graça de Śiva e no meu próprio conhecimento escasso de Sânscrito e Trika. No entanto, se você for um erudito de Sânscrito especialista no sistema Trika e encontrar algum possível erro ou má interpretação, por favor informe o problema a mim por meio de uma simples mensagem. Obrigado desde já!
Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.
Texto introdutório
पराप्रावेशिका
विश्वात्मिकां तदुत्तिर्णां हृदयं परमेशितुः।
परादिशक्तिरूपेण स्फुरन्तीं संविदं नुमः॥
Parāprāveśikā
Viśvātmikāṁ taduttirṇāṁ hṛdayaṁ parameśituḥ|
Parādiśaktirūpeṇa sphurantīṁ saṁvidaṁ numaḥ||
(Uma escritura) que ingressa nos (mistérios da) Suprema (Śakti ou Poder)
Louvamos (numaḥ) o Coração (hṛdayam)1 do Supremo (parama) Mestre ou Īśitā (īśituḥ)2 , (também) conhecido (saṁvidam)3 como a Sphurantī (sphurantīm)4 , que aparece na forma (rūpeṇa) de Śakti ou Poder (śakti) em Seus aspectos Parā --Supremo-- (parā), etc. (ādi), (que é tanto) imanente (ātmikām) (quanto) transcendente (uttīrṇām) (com relação ao) universo (viśva... tad)5 ||
1 Com "Coração", o sábio Kṣemarāja está referindo-se ao Núcleo de tudo, ou seja, a Suprema Śakti ou divino Poder do Senhor .
2 Com "Mestre" (Īśitā), está indicando o "Possuidor ou Proprietário" de tudo, ou seja, o Senhor .
3 Refere-se ao Coração, não ao Supremo Mestre .
4 "Sphurantī" é um termo técnico para designar a Śakti ou o divino Poder do Senhor Supremo. Como deriva da raiz "sphur" (vibrar, resplandecer), pode ser traduzido como "Aquela que vibra e resplandece". Assim, Sphurantī é o Poder vibrante que resplandece na forma desse universo. Essa é a melhor tradução que consigo conceber neste momento. Deixei o termo sem traduzir na estrofe porque a tradução seria muito longa e, "ainda assim", um tanto imprecisa, na minha humilde opinião. Algumas palavras são muito difíceis de traduzir com exatidão do Sânscrito para o português, pois o primeiro é muito mais complexo, rico e orientado à espiritualidade do que o segundo .
5 Śakti é o divino Poder de Śiva (o Senhor). Ela é tanto imanente ao universo (isto é, o universo é feito Dela) quanto transcendente a ele (ou seja, está além do universo manifestado por Ela Mesma). Segundo o Trika ou Shaivismo não dual da Caxemira, Śakti tem três aspectos: Parā, Parāparā e Aparā. Parā é o Seu aspecto Supremo, que manifesta unidade, enquanto Aparā é o seu aspecto inferior, que exibe o oposto, ou seja, cessação da unidade. Por sua vez, Parāparā (Parā-Aparā) é uma mistura de Parā e Aparā, ou seja, unidade na diversidade. Portanto, com a palavra "ādi" ou "etc.", Kṣemarāja refere-se aos aspectos Parāparā e Aparā de Śakti .
Texto
इह खलु परमेश्वरः प्रकाशात्मा प्रकाशश्च विमर्शस्वभावः विमर्शो नाम विश्वाकारेण विश्वप्रकाशेन विश्वसंहरणेन चाकृत्रिमाहमिति विस्फुरणम्। यदि निर्विमर्शः स्यादनीश्वरो जडश्च प्रसज्येत। एष एव च विमर्शः - चित् चैतन्यं स्वरसोदितापरावाक्स्वातन्त्र्यं परमात्मनो मुख्यमैश्वर्यं कर्तृत्वं स्फुरत्ता सारो हृदयं स्पन्द इत्यादिशब्दैरागमेषूद्घोष्यतेऽत एवाकृत्रिमाहमिति-सतत्त्वः स्वयम्प्रकाशरूपः परमेश्वरः पारमेश्वर्या शक्त्या शिवादिधरण्यन्तजगदात्मना स्फुरति प्रकाशते च। एतदेवास्य जगतः कर्तृत्वमजडत्वं च जगतः कार्यत्वमपि एतदधीनप्रकाशत्वमेवैवम्भूतं जगत् प्रकाशरूपात् कर्तुर्महेश्वरादिभिन्नमेव भिन्नवेद्यत्वेऽप्रकाशमानत्वेन प्रकाशनायोगाद्न किञ्चित्स्यादनेन च जगतास्य भगवतः प्रकाशात्मकं रूपं न कदाचिद्निरोधीयत एतत्प्रकाशनेन प्रतिष्ठां लब्ध्वा प्रकाशमानमिदं जगदात्मनः प्राणभूतं कथं निरोद्धुं शक्नुयात्कथं च तन्निरुध्य स्वयमवतिष्ठेतातश्चास्य वस्तुनः साधकमिदं वाधकमिदं प्रमाणमित्यनुसन्धानात्मकसाधकवाधकप्रमातृरूपतया चास्य सद्भावस्तत्सद्भावे किं प्रमाणम् - इति वस्तुसद्भावमनुमन्यतां तादृक्स्वभावे किं प्रमाणम् - इति प्रष्टृरूपतया च पूर्वसिद्धस्य महेश्वरस्य स्वयम्प्रकाशत्वं सर्वस्य स्वसंवेदनसिद्धम्। किञ्च प्रमाणमपि यमाश्रित्य प्रमाणं भवति तस्य प्रमाणस्य तदधीनशरीरप्राणनीलसुखादिवेद्यं चातिशय्य सदा भासमानस्य वेदकैकरूपस्य सर्वप्रमितिभाजः सिद्धावभिनवार्थप्रकाशस्य प्रमाणवराकस्य कश्चोपयोगः। एवं च शब्दराशिमयपूर्णाहन्तापरामर्शसारत्वात् परमशिव एव षट्त्रिंशत्तत्त्वात्मकः प्रपञ्चः। षट्त्रिंशत्तत्त्वानि च - १ शिव २ शक्ति ३ सदाशिव ४ ईश्वर ५ शुद्धविद्या ६ माया ७ कला ८ विद्या ९ राग १० काल ११ नियति १२ पुरुष १३ प्रकृति १४ बुद्धि १५ अहङ्कार १६ मनः १७ श्रोत्र १८ त्वक् १९ चक्षुः २० जिह्वा २१ घ्राण २२ वाक् २३ पाणि २४ पाद २५ पायु २६ उपस्थ २७ शब्द २८ स्पर्श २९ रूप ३० रस ३१ गन्ध ३२ आकाश ३३ वायु ३४ वह्नि ३५ सलिल ३६ भूमय इत्येतानि।
अथैषां लक्षणानि। तत्र शिवतत्त्वं नाम इच्चाज्ञानक्रियात्मककेवलपूर्णानन्दस्वभावरूपः परमशिव एव। अस्य जगत् स्रष्टुमिच्छां परिगृहीतवतः परमेश्वरस्य प्रथमस्पन्द एवेच्छा शक्तितत्त्वमप्रतिहतेच्छत्वात्सदेवाङ्कुरायमाणमिदं जगत् स्वात्मनाहन्तयाच्छाद्य स्थितं रूपं सदाशिवतत्त्वमङ्कुरितं जगदहन्तयावृत्य स्थितमीश्वरतत्त्वमहन्तेदन्तयोरैक्यप्रतिपत्तिः शुद्धविद्या स्वस्वरूपेषु भावेषु भेदप्रथा माया यदा तु परमेश्वरः पारमेश्वर्या मायाशक्त्या स्वरूपं गृहयित्वा सङ्कुचितग्राहकतामश्नुते तदा पुरुषसञ्ज्ञोऽयमेव मायामोहितः कर्मबन्धनः संसारी परमेश्वरादभिन्नोऽप्यस्य मोहः परमेश्वरस्य न भवेत् - इन्द्रजालमिव ऐन्द्रजालिकस्य स्वेच्छया सम्पादितभ्रान्तेर्विद्याभिज्ञापितैश्वर्यस्तु चिद्घनो मुक्तः परमशिव एव। अस्य सर्वकर्तृत्वं सर्वज्ञत्वं पूर्णत्वं नित्यत्वं व्यापकत्वं च शक्तयोऽसङ्कुचिता अपि सङ्कोचग्रहणेन कलाविद्यारागकालनियतिरूपतया भवन्ति। अत्र कलानामास्य पुरुषस्य किञ्चित्कर्तृताहेतुर्विद्या किञ्चिज्ज्ञत्वकारणं रागो विषयेष्वभिष्वङ्गः कालो हि भावानां भासनाभासनात्मकानां क्रमोऽवच्छेदको भूतादिर्नियतिर्ममेदं कर्तव्यं नेदं कर्तव्यमिति नियमनहेतुरेतत्पञ्चकमस्य स्वरूपावरकत्वात्कञ्चुकमित्युच्यते महदादिपृथिव्यन्तानां तत्त्वानां मूलकारणं प्रकृतिरेषा च सत्त्वरजस्तमसां साम्यावस्थाविभक्तरूपा निश्चयकारिणी विकल्पप्रतिबिम्बधारिणी बुद्धिरहङ्कारो नाम - ममेदं न ममेदमित्यभिमानसाधनं मनः सङ्कल्पसाधनमेतत्त्रयमन्तःकरणम्। शब्दस्पर्शरूपरसगन्धात्मकानां विषयाणां क्रमेण ग्रहणसाधनानि श्रोत्रत्वक्चक्षुर्जिह्वाघ्राणानि पञ्च ज्ञानेन्द्रियाणि। वचनादानविहरणविसर्गानन्दात्मक्रियासाधनानि परिपाठ्य वाक्पाणिपादपायूपस्थानि पञ्च कर्मेन्द्रियाणि। शब्दस्पर्शरूपरसगन्धाः सामान्याकाराः पञ्च तन्मात्राणि। आकाशमवकाशप्रदं वायुः सञ्जीवनमग्निर्दाहकः पाचकश्च सलिलमाप्यायकं द्रवरूपं च भूमिर्धारिका
यथा न्यग्रोधबीजस्थः शक्तिरूपो महाद्रुमः।
तथा हृदयबीजस्थं जगदेतच्चराचरम्॥
इत्याम्नायनीत्या पराभट्टारिकारूपे हृदयबीजेऽन्तर्भूतमेतज्जगत्। कथं - यथा घटशरावादीनां मृद्विकाराणां पारमार्थिकं रूपं मृदेव यथा वा जलादिद्रवजातीनां विचार्यमाणं व्यवस्थितं रूपं जलादिसामान्यमेव भवति तथा पृथिव्यादिमायान्तानां तत्त्वानां सतत्त्वं मीमांस्यमानं सदित्येव भवेदस्यापि पदस्य निरूप्यमाणं धात्वर्थव्यञ्जकं प्रत्ययांशं विसृज्य प्रकृतिमात्ररूपः सकार एवावशिष्यते तदन्तर्गतमेकत्रिंशत्तत्वं ततः परं शुद्धविद्येश्वरसदाशिवतत्त्वानि ज्ञानक्रियासाराणि शक्तिविशेषत्वादौकारेऽभ्युपगमरूपेऽनुत्तरशक्तिमयेऽन्तर्भूतानि। अतः परमूर्ध्वाधः सृष्टिरूपो विसर्जनीय एवम्भूतस्य हृदयबीजस्य महामन्त्रात्मको विश्वमयो विश्वोत्तीर्णः परमशिव एवोदयविश्रान्तिस्थानत्वान्निज स्वभावः। ईदृशं हृदयबीजं तत्त्वतो यो वेद समाविशति च स परमार्थतो दीक्षितः प्राणान् धारयन् लौकिकवद्वर्तमानो जीवन्मुक्त एव भवति देहपाते परमशिवभट्टारक एव भवति॥
Iha khalu parameśvaraḥ prakāśātmā prakāśaśca vimarśasvabhāvaḥ vimarśo nāma viśvākāreṇa viśvaprakāśena viśvasaṁharaṇena cākṛtrimāhamiti visphuraṇam| Yadi nirvimarśaḥ syādanīśvaro jaḍaśca prasajyeta| Eṣa eva ca vimarśaḥ - cit caitanyaṁ svarasoditāparāvāksvātantryaṁ paramātmano mukhyamaiśvaryaṁ kartṛtvaṁ sphurattā sāro hṛdayaṁ spanda ityādiśabdairāgameṣūdghoṣyate'ta evākṛtrimāhamiti-satattvaḥ svayamprakāśarūpaḥ parameśvaraḥ pārameśvaryā śaktyā śivādidharaṇyantajagadātmanā sphurati prakāśate ca| Etadevāsya jagataḥ kartṛtvamajaḍatvaṁ ca jagataḥ kāryatvamapi etadadhīnaprakāśatvamevaivambhūtaṁ jagat prakāśarūpāt karturmaheśvarādabhinnameva bhinnavedyatve'prakāśamānatvena prakāśanāyogādna kiñcitsyādanena ca jagatāsya bhagavataḥ prakāśātmakaṁ rūpaṁ na kadācidnirodhīyata etatprakāśanena pratiṣṭhāṁ labdhvā prakāśamānamidaṁ jagadātmanaḥ prāṇabhūtaṁ kathaṁ niroddhuṁ śaknuyātkathaṁ ca tannirudhya svayamavatiṣṭhetātaścāsya vastunaḥ sādhakamidaṁ bādhakamidaṁ pramāṇamityanusandhānātmakasādhakabādhakapramātṛrūpatayā cāsya sadbhāvastatsadbhāve kiṁ pramāṇam - iti vastusadbhāvamanumanyatāṁ tādṛksvabhāve kiṁ pramāṇam - iti praṣṭṛrūpatayā ca pūrvasiddhasya maheśvarasya svayamprakāśatvaṁ sarvasya svasaṁvedanasiddham| Kiñca pramāṇamapi yamāśritya pramāṇaṁ bhavati tasya pramāṇasya tadadhīnaśarīraprāṇanīlasukhādivedyaṁ cātiśayya sadā bhāsamānasya vedakaikarūpasya sarvapramitibhājaḥ siddhāvabhinavārthaprakāśasya pramāṇavarākasya kaścopayogaḥ| Evaṁ ca śabdarāśimayapūrṇāhantāparāmarśasāratvāt paramaśiva eva ṣaṭtriṁśattattvātmakaḥ prapañcaḥ| Ṣaṭtriṁśattattvāni ca - 1 Śiva 2 Śakti 3 Sadāśiva 4 Īśvara 5 Śuddhavidyā 6 Māyā 7 Kalā 8 Vidyā 9 Rāga 10 Kāla 11 Niyati 12 Puruṣa 13 Prakṛti 14 Buddhi 15 Ahaṅkāra 16 Manaḥ 17 Śrotra 18 Tvak 19 Cakṣuḥ 20 Jihvā 21 Ghrāṇa 22 Vāk 23 Pāṇi 24 Pāda 25 Pāyu 26 Upastha 27 Śabda 28 Sparśa 29 Rūpa 30 Rasa 31 Gandha 32 Ākāśa 33 Vāyu 34 Vahni 35 Salila 36 Bhūmaya ityetāni|
Athaiṣāṁ lakṣaṇāni| Tatra śivatattvaṁ nāma icchājñānakriyātmakakevalapūrṇānandasvabhāvarūpaḥ paramaśiva eva| Asya jagat sraṣṭumicchāṁ parigṛhītavataḥ parameśvarasya prathamaspanda evecchā śaktitattvamapratihatecchatvātsadevāṅkurāyamāṇamidaṁ jagat svātmanāhantayācchādya sthitaṁ rūpaṁ sadāśivatattvamaṅkuritaṁ jagadahantayāvṛtya sthitamīśvaratattvamahantedantayoraikyapratipattiḥ śuddhavidyā svasvarūpeṣu bhāveṣu bhedaprathā māyā yadā tu parameśvaraḥ pārameśvaryā māyāśaktyā svarūpaṁ gṛhayitvā saṅkucitagrāhakatāmaśnute tadā puruṣasañjño'yameva māyāmohitaḥ karmabandhanaḥ saṁsārī parameśvarādabhinno'pyasya mohaḥ parameśvarasya na bhavet - indrajālamiva aindrajālikasya svecchayā sampāditabhrāntervidyābhijñāpitaiśvaryastu cidghano muktaḥ paramaśiva eva| Asya sarvakartṛtvaṁ sarvajñatvaṁ pūrṇatvaṁ nityatvaṁ vyāpakatvaṁ ca śaktayo'saṅkucitā api saṅkocagrahaṇena kalāvidyārāgakālaniyatirūpatayā bhavanti| Atra kalānāmāsya puruṣasya kiñcitkartṛtāheturvidyā kiñcijjñatvakāraṇaṁ rāgo viṣayeṣvabhiṣvaṅgaḥ kālo hi bhāvānāṁ bhāsanābhāsanātmakānāṁ kramo'vacchedako bhūtādirniyatirmamedaṁ kartavyaṁ nedaṁ kartavyamiti niyamanaheturetatpañcakamasya svarūpāvarakatvātkañcukamityucyate mahadādipṛthivyantānāṁ tattvānāṁ mūlakāraṇam prakṛtireṣā ca sattvarajastamasāṁ sāmyāvasthāvibhaktarūpā niścayakāriṇī vikalpapratibimbadhāriṇī buddhirahaṅkāro nāma - mamedaṁ na mamedamityabhimānasādhanaṁ manaḥ saṅkalpasādhanametattrayamantaḥkaraṇam| Śabdasparśarūparasagandhātmakānāṁ viṣayāṇāṁ krameṇa grahaṇasādhanāni śrotratvakcakṣurjihvāghrāṇāni pañca jñānendriyāṇi| Vacanādānaviharaṇavisargānandātmakriyāsādhanāni paripāṭhya vākpāṇipādapāyūpasthāni pañca karmendriyāṇi| Śabdasparśarūparasagandhāḥ sāmānyākārāḥ pañca tanmātrāṇi| Ākāśamavakāśapradaṁ vāyuḥ sañjīvanamagnirdāhakaḥ pācakaśca salilamāpyāyakaṁ dravarūpaṁ ca bhūmirdhārikā
Yathā nyagrodhabījasthaḥ śaktirūpo mahādrumaḥ|
Tathā hṛdayabījasthaṁ jagadetaccarācaram||
Ityāmnāyanītyā parābhaṭṭārikārūpe hṛdayabīje'ntarbhūtametajjagat| Katham - Yathā ghaṭaśarāvādīnāṁ mṛdvikārāṇāṁ pāramārthikaṁ rūpaṁ mṛdeva yathā vā jalādidravajātīnāṁ vicāryamānaṁ vyavasthitaṁ rūpaṁ jalādisāmānyameva bhavati tathā pṛthivyādimāyāntānāṁ tattvānāṁ satattvaṁ mīmāṁsyamānaṁ sadityeva bhavedasyāpi padasya nirūpyamāṇaṁ dhātvarthavyañjakaṁ pratyayāṁśaṁ visṛjya prakṛtimātrarūpaḥ sakāra evāvaśiṣyate tadantargatamekatriṁśattattvaṁ tataḥ paraṁ śuddhavidyeśvarasadāśivatattvāni jñānakriyāsārāṇi śaktiviśeṣatvādaukāre'bhyupagamarūpe'nuttaraśaktimaye'ntarbhūtāni| Ataḥ paramūrdhvādhaḥ sṛṣṭirūpo visarjanīya evambhūtasya hṛdayabījasya mahāmantrātmako viśvamayo viśvottīrṇaḥ paramaśiva evodayaviśrāntisthānatvānnija svabhāvaḥ| Īdṛśaṁ hṛdayabījaṁ tattvato yo veda samāviśati ca sa paramārthato dīkṣitaḥ prāṇān dhārayan laukikavadvartamāno jīvanmukta eva bhavati dehapāte paramaśivabhaṭṭāraka eva bhavati||
Aqui (iha), a essência ou Ser (ātmā) (do) Senhor (īśvaraḥ) Supremo (parama) (é) certamente (khalu) Prakāśa ou Śiva (prakāśa); e (ca) Prakāśa (prakāśaḥ) (é) a natureza essencial (sva-bhāvaḥ) (de) Vimarśa ou Śakti (vimarśa)6 . Denomina-se (nāma) Vimarśa (vimarśaḥ) (Aquilo que, enquanto age) como aquele que manifesta (ākāreṇa), exibe --isto é, mantém-- (prakāśena) e (ca) dissolve (saṁhāraṇena) o universo (viśva... viśva... viśva), resplandece (visphuraṇam) (como) "o Eu (aham) natural" (akṛtrima... iti)7 |
Se (yadi) (a Consciência Suprema) fosse (syāt) destituída de Vimarśa ou Śakti (nirvimarśaḥ), seria, como consequência (prasajyeta), impotente (anīśvaraḥ), e(, como resultado,) (ca) inerte (jaḍaḥ)8 |
Além disso (ca), esse (eṣaḥ) mesmo (eva) Vimarśa (vimarśaḥ) é proclamado (udghoṣyate) nos Āgama-s ou Escrituras Reveladas (āgameṣu)9 por meio das palavras (śabdaiḥ): (1) Cit ou Consciência (cit), (2) Caitanya ou Consciência em total Liberdade para fazer e conhecer tudo (caitanyam), (3) Parāvāk ou Fala Suprema (parā-vāk) que é pronunciada (uditā) a partir do Seu próprio (sva) Rasa ou Essência Nectárea (rasa), (4) Svātantrya ou Liberdade Absoluta (svātantryam), (5) a Principal (mukhyam) Supremacia ou Soberania (aiśvaryam) do Ser --ātmā-- (ātmanaḥ) Supremo (parama), (6) Kartṛtva ou o Estado de ser um Fazedor ou Realizador (kartṛtvam), (7) Sphurattā ou Consciência Resplandecente (sphurattā), (8) Sāra ou Essência (sāraḥ), (9) Hṛdaya ou Coração (hṛdayam), (10) Spanda ou (Suprema) Vibração (spandaḥ), etc. (iti-ādi)10 . Por essa mesma razão (atas eva), o Senhor (īśvaraḥ) Supremo (parama), cuja verdadeira essência (satattvaḥ) (consiste em) "o Eu (aham) natural (akṛtrima... iti)" --ou seja, Vimarśa--, (e) cuja natureza (rūpaḥ) (é) o Próprio (svayam) Prakāśa (prakāśa)11 , vibra (sphurati) e (ca) brilha (prakāśate) através da Senhora ou Īśvarī (īśvaryā) de Parama --o Ser Supremo-- (pārama), (a qual é) Śakti ou Poder divino (śaktyā) aparecendo na forma (ātmanā) do mundo (jagat), (que é composto de trinta e seis tattva-s ou categorias) que começam (ādi) com Śiva (śiva) (e) e terminam (anta) com Dharaṇī ou terra (dharaṇī)12 |
Isso (etad) (é) o Kartṛtva --lit. a condição de ser um fazedor ou autor-- (kartṛtvam) desse (asya) mundo (jagataḥ), realmente (eva), e (ca) (tal Kartṛtva) não é um estado inerte (ajaḍatvam)13 . Inclusive (api) a manifestação (kāryatvam) do mundo (jagataḥ) torna-se perceptível (prakāśatvam) por causa (adhīna) desse (Kartṛtva ou Vimarśa) (etad), verdadeiramente (eva)14 . Tal (evam-bhūtam) mundo (jagat) não (é) realmente diferente (abhinnam eva) do Grande (mahā) Senhor (īśvarāt), o Fazedor ou Kartā (kartuḥ), cuja essência (rūpāt) é Prakāśa (prakāśa). Se fosse considerado (vedyatve) como distinto (Dele) (bhinna), (então,) ao ficar desprovido de Prakāśa ou Luz (aprakāśamānatvena), nada (na kiñcid) aconteceria --ou seja, nenhum universo apareceria-- (syāt) devido à ausência de associação (ayogāt) com Aquele que dá Luz --ou seja, o Próprio Senhor-- (prakāśana)15 . E (ca) a natureza (rūpaḥ) que consiste (ātmakaḥ) em Prakāśa (prakāśa) pertencente a esse (asya) Afortunado --isto é, o Senhor-- (bhagavataḥ) nunca é obstruída ou confinada (na kadācid nirodhīyate) por esse (anena) mundo (jagatā). Tendo-se estabelecido (pratiṣṭhām labdhvā) a partir do Seu (etad) ato de dar(-lhe) Luz (prakāśanena), esse (idam) mundo (jagat) torna-se perceptível (prakāśamānam); (dessa forma,) sendo (tal mundo) (bhūtam) o Seu (ātmanaḥ) sopro de vida (prāṇa), como (katham) poderia (śaknuyāt) obstruí(-lo) ou confiná(-lo) (niroddhum)?16 . Por outro lado (ca), (mesmo) tendo-o obstruído ou confinado (tad nirudhya) --isto é, mesmo se o mundo pudesse obstruir e confinar o Senhor--, como (katham) permaneceria ou existiria (svayam avatiṣṭheta)?17 Portanto (atas), apesar de que (ca) "pramāṇa" --um meio para adquirir Pramā ou conhecimento correto-- (pramāṇam iti) (é) isso (idam... idam) que prova (sādhakam) (ou) anula (bādhakam) o Seu (asya) Vastu ou Realidade --isto é, a existência do Senhor-- (vastunaḥ), mesmo assim (ca), o Seu (asya) Verdadeiro Ser (sat-bhāvaḥ) aparece na forma (rūpatayā) do Pramātā ou Sujeito --isto é, o Experimentador-- (pramātṛ) que prova (sādhaka) (ou) anula (bādhaka) baseando-se (ātmaka) em anusandhāna --isto é, uma rigorosa inspeção ou indagação-- (anusandhāna)18 . (Então,) o que (kim) pramāṇa (pramāṇa) (poderia ser usado) com relação ao Seu (tad) Sadbhāva ou Verdadeiro Ser (sat-bhāve)? Assim (iti), (como o Senhor é) o Verdadeiro Ser (sadbhāvam) (ou) Vastu --Realidade-- (vastu) dos que inferem (anumanyatām)19 , que (kim) pramāṇa (pramāṇam) (poderia ser aplicado) com relação a tal (tādṛk) Svabhāva ou Natureza Essencial (sva-bhāve)? Assim (iti), ao aparecer na forma (rūpatayā ca) daquele que indaga (praṣṭṛ), o próprio (svayam) estado de Prakāśa ou Luz (prakāśatvam) do Grande (mahā) Senhor --Īśvara-- (īśvarasya) (ou) Pūrvasiddha (pūrva-siddhasya) é provado (siddham) a partir da própria (sva) percepção (saṁvedana) de todos (sarvasya)20 |
Além disso (kiñca), mesmo (api) o pramāṇa (pramāṇam), por descansar (āśritya) Nele --no Pramātā ou Sujeito-- (yam), torna-se (bhavati) um meio para adquirir conhecimento correto (pramāṇam)21 . De que serve (kaḥ ca upayogaḥ) um miserável (varākasya) pramāṇa (pramāṇa), que aparece (todo o tempo) (prakāśasya) como uma coisa (artha) totalmente nova (abhinava), no que se refere a provar (siddhau) (a existência) Daquele que possui (bhājaḥ) todos (sarva) os "pramiti-s" --conhecimentos ganhos ou estabelecidos por meio de pramāṇa-- (pramiti), cuja única forma (eka-rūpasya) é o Conhecedor (vedaka), que está sempre presente (sadā bhāsamanasya) e (ca), (dessa forma,) ultrapassa (atiśayya) aquilo que é cognoscível (vedyam) , (tal como) corpo (śarīra), energia vital (prāṇa), a cor azul (nīla), prazer (sukha), etc. (ādi), os quais dependem (adhīna) dele (tad), (isto é,) desse (tasya) pramāṇa (pramāṇasya)?22 |
Dessa forma (evam ca), o Śiva (śivaḥ) Supremo (parama), por ser a Essência (sāratvāt) da lembrança (parāmarśa) da Perfeita (pūrṇa) consciência do Eu (ahantā), que consta (maya) de uma multidão (rāśi) de sons (śabda), é a manifestação universal (prapañcaḥ) composta (ātmakaḥ) de trinta e seis (ṣaṭ-triṁśat) tattva-s ou categorias (tattva)23 |
E (ca) estes (etāni) (são) os trinta e seis (ṣaṭ-triṁśat) tattva-s ou categorias (tattvāni):
(1) Śiva (1 Śiva), (2) Śakti (2 Śakti), (3) Sadāśiva --também chamado "Sādākhya"-- (3 Sadāśiva), (4) Īśvara (4 Īśvara), (5) Śuddhavidyā --também chamado "Sadvidyā"-- (5 Śuddhavidyā); (6) Māyā (6 Māyā), (7) Kalā (7 Kalā), (8) Vidyā (8 Vidyā), (9) Rāga (9 Rāga), (10) Kāla (10 Kāla), (11) Niyati (11 Niyati), (12) Puruṣa (12 Puruṣa), (13) Prakṛti --também chamado "Pradhāna"-- (13 Prakṛti), (14) Buddhi --também chamado "Mahat"-- (14 Buddhi), (15) Ahaṅkāra --também chamado "Asmitā"-- (15 Ahaṅkāra), (16) Manas (16 Manaḥ), (17) Śrotra --também chamado "Śravaṇa"-- (17 Śrotra), (18) Tvak (18 Tvak), (19) Cakṣus (19 Cakṣuḥ), (20) Jihvā --também chamado "Rasanā"-- (20 Jihvā), (21) Ghrāṇa (21 Ghrāṇa), (22) Vāk (22 Vāk), (23) Pāṇi (23 Pāṇi), (24) Pāda (24 Pāda), (25) Pāyu (25 Pāyu), (26) Upastha (26 Upastha), (27) Śabda (27 Śabda), (28) Sparśa (28 Sparśa), (29) Rūpa (29 Rūpa), (30) Rasa (30 Rasa), (31) Gandha (31 Gandha), (32) Ākāśa (32 Ākāśa), (33) Vāyu (33 Vāyu), (34) Vahni --também chamado "Agni" ou "Tejas"-- (34 Vahni), (35) Salila --também chamado "Āpas", "Udaka" ou "Vāri"-- (35 Salila), (36) Bhūmi --também chamado "Pṛthivī", "Kṣiti" ou "Dharaṇī"-- (36 Bhūmayaḥ iti)24 |
E agora (atha), as características (laksaṇāni) desses (tattva-s ou categorias) (eṣām):
Dentre eles (tatra), o tattva ou categoria (tattvam) denominado (nāma) Śiva (śiva) (é) verdadeiramente (eva) Paramaśiva --o Śiva Supremo-- (parama-śivaḥ), cuja forma (rūpaḥ) é a natureza essencial (sva-bhāva) do único (kevala) (e) Perfeito (pūrṇa) Ānanda ou Bem-aventurança (ānanda), que consiste (ātmaka) em Vontade (icchā), Conhecimento (jñāna) (e) Ação (kriyā)25 |
A primeira (prathama) Vibração (spandaḥ) desse (asya) Senhor --Īśvara-- (īśvarasya) Supremo (parama), que deseja (icchām parigṛhītavataḥ) manifestar (sraṣṭum) o mundo (jagat), (é) certamente (eva) Icchā ou Vontade (icchā), (isto é,) a categoria (tattvam) chamada Śakti (śakti), porque (tal categoria) é um Desejo (icchātvāt) ininterrupto e não obstruído (apratihata)26 . A categoria (tattvam) Sadāśiva (sadāśiva) (é) a forma (rūpam) que permanece (sthitam) (quando) esse (idam) mundo (jagat), que é sempre como se fosse um broto (sadā iva aṅkurāyamāṇam), é escondido ou coberto (ācchādya) pela consciência do Eu (ahantayā), (isto é,) pelo próprio Ser (sva-ātmanā)27 . A categoria (tattvam) Īśvara (īśvara) (é) o que permanece (sthitam) (quando) esse (idam) mundo (jagat) que brotou (aṅkuritaḥ) é girado (āvṛtya) pela Consciência do Eu --Śakti-- (ahantayā)28 . Quando há unidade (aikya-pratipattiḥ) entre Aham --consciência do Eu-- e Idam --o mundo ou universo-- (ahantā-idantayoḥ), (essa é a categoria) Śuddhavidyā (śuddha-vidyā)29 . Māyā --o sexto tattva ou categoria-- (māyā) dissemina (prathā) diferença ou dualidade (bheda) com relação às próprias (sva) naturezas essenciais (sva-bhāveṣu) dos bhāva-s --os tattva-s ou categorias desde Kalā (o sétimo tattva) até Bhūmi (o último)-- (bhāveṣu)30 . No entanto (tu), quando (yadā) o Senhor (īśvaraḥ) Supremo (parama), tomando posse (gṛhayitvā) da (Sua própria) natureza essencial (sva-rūpam) por meio da Mais Elevada Senhora (pārama-īśvaryā) ou Māyāśakti (māyā-śaktyā)31 , assume (aśnute) o estado de experimentador contraído (saṅkucita-grāhakatām), então (tadā), Ele é chamado (sañjñaḥ) Puruṣa --tattva ou categoria 12-- (puruṣa)32 . Esse (ayam) mesmo (Puruṣa) (eva), acorrentado (bandhanaḥ) pelas ações (karma) (e) iludido (mohitaḥ) por Māyā (māyā), (torna-se) uma alma transmigratória (saṁsārī)33 . Ainda que (api) (Puruṣa) não seja distinto (abhinnaḥ) do Supremo (parama) Senhor --Īśvara-- (īśvarāt), o seu (asya) engano ou enfatuação (mohaḥ) não é (na) do Senhor --Īśvara-- (īśvarasya) Supremo (parama)34 , (mas sim ocorre), como no caso de (iva) um ato de magia (indrajālam), devido à confusão (bhrānteḥ) produzida (sampādita) segundo a própria vontade do mago (aindrajālikasya sva-icchayā) --isso foi uma mera analogia para explicar algo que é indescritível, é claro--. (É) o Próprio (eva) Paramaśiva --o Śiva Supremo-- (parama-śivaḥ) liberto (muktaḥ) (que) certamente (tu) tem Aiśvarya --Supremacia ou Soberania-- (aiśvaryaḥ) tornada conhecida (abhijñāpita) por Vidyā --isto é, Śuddhavidyā ou Conhecimento Puro35 -- (vidyā), (já que Ele é) uma compacta massa (ghanaḥ) de Consciência (cit)|
As Suas (asya) śakti-s ou poderes (śaktayaḥ), (a saber,) Onipotência (sarvakartṛtvam), Onisciência (sarvajñatvam), Perfeição ou Plenitude (pūrṇatvam), Eternidade (nityatvam) e (ca) Onipresença (vyāpakatvam), ainda que (api) (essencialmente) não estejam contraídas (asaṅkucitāḥ), ao aceitar (grahaṇena) contração (saṅkoca), assumem as formas (rūpatayā bhavanti) de Kalā (kalā), Vidyā (vidyā), Rāga (rāga), Kāla (kāla) (e) Niyati (niyati), (respectivamente, ou seja, os cinco Kañcuka-s ou Invólucros)36 |
Dentre esses (cinco Kañcuka-s) (atra), o chamado (nāma) Kalā (kalā) (é) a causa (hetuḥ) da limitada (kiñcid) capacidade de ação (kartṛtā) desse (asya) Puruṣa --tattva ou categoria 12-- (puruṣasya). Vidyā (vidyā) (é) a razão (kāraṇam) do (seu) limitado (kiñcid) conhecimento (jñatvam). Rāga (rāgaḥ) (é) intenso apego (abhiṣvaṅgaḥ) a objetos (viṣayeṣu). Kāla (kālaḥ) (é), sem sombra de dúvidas (hi), uma sucessão (kramaḥ) de estados ou bhāva-s (bhāvānām) que aparecem e desaparecem (bhāsana-abhāsana-ātmakānām), (bem como aquilo que os) distingue ou divide (avacchedakaḥ) em passado (bhūta), etc. (ādiḥ) --isto é, em passado, presente e futuro--37 . Niyati (niyatiḥ) (é) a causa (hetuḥ) de restrições (niyamana) (tais como) "Devo fazer (mama... kartavyam) isto (idam), não devo fazer (mama... na... kartavyam) isto (idam... iti)". Diz-se (ucyate) que esse (etad) grupo de cinco (tattva-s ou categorias) (pañcakam) (denomina-se) "Kañcuka ou Invólucro" (kañcukam iti), porque cobre (e, dessa forma, oculta) (āvarakatvāt) a Sua (asya) Natureza Essencial (sva-rūpa) --isto é, a Natureza Essencial do Senhor--. Prakṛti --o décimo terceiro tattva ou categoria-- (prakṛtiḥ) (é) a causa primeira ou original (mūla-kāraṇam) dos tattva-s (tattvānām) que começam (ādi) com Mahat --Buddhi ou intelecto, a décima quarta categoria-- (mahat) (e) terminam (antānām) com Pṛthivī --Bhūmi ou terra, a última categoria-- (pṛthivī). E (ca) essa (Prakṛti) (eṣā) (é) um estado (avasthā) de equilíbrio (sāmya) entre Sattva (sattva), Rajas (rajas) (e) Tamas (tamasām). (Portanto,) a natureza (de Prakṛti) (rūpā) é não dividida (avibhakta)38 . Buddhi ou intelecto --tattva 14, o primeiro tattva após Prakṛti-- (buddhiḥ) (é) aquilo que determina (niścaya-kāriṇī) (e) apoia ou sustenta (dhāriṇī) os reflexos (produzidos pela Luz do Ser Supremo) (pratibimba), (que resplandecem) como vikalpa-s ou pensamentos (vikalpa)39 . Essa (categoria), conhecida pelo nome (nāma) de Ahaṅkāra ou ego --tattva 15-- (ahaṅkāra), denota ou expressa (sādhanam) concepções (abhimāna) (tais como) "Isto (idam) (é) meu (mama), isto (idam) não (é) (na) meu (mama... iti)". Manas ou mente --tattva 16-- (manas) denota ou expressa (sādhanam) noções e ideias (saṅkalpa)40 . Essa (etad) tríade (trayam) (constitui) o órgão ou instrumento (karaṇam) (psíquico) interno (antar)41 |
Os cinco (pañca) Jñānendriya-s ou Poderes de Percepção (jñāna-indriyāṇi) (são:) Śrotra --poder auditivo-- (śrotra), Tvak --poder tátil-- (tvak), Cakṣus --poder visual-- (cakṣus), Jihvā --poder gustativo-- (jihvā) (e) Ghrāṇa --poder olfativo-- (ghrāṇāni). Denotam (sādhanāni) percepção (grahaṇa) de objetos (viṣayāṇām) que consistem (ātmakānām) em som (śabda), toque (sparśa), forma (rūpa), sabor (rasa) (e) odor (gandha), respectivamente (krameṇa)|
Os cinco (pañca) Karmendriya-s ou Poderes de Ação (karma-indriyāṇi), que foram enumerados em detalhe (paripāṭhyā), (são:) Vāk --poder da fala-- (vāk), Pāṇi --poder do manejo (manipulação)-- (pāṇi), Pāda --poder locomotivo-- (pāda), Pāyu --poder da excreção-- (pāyu) (e) Upastha --poder da atividade sexual e da tranquilidade-- (upasthāni). Denotam (sādhanāni) atividade (kriyā) caracterizada (ātma) pelos atos de falar (vacana), pegar (ādāna), mover-se de um lugar para outro (viharaṇa), evacuar (visarga) (e experimentar) felicidade (ānanda), (respectivamente)42 |
Os cinco (pañca) Tanmātra-s ou Elementos Sutis (tanmātrāṇi) (são:) formas (ākārāḥ) genéricas (sāmānya) (denominadas) Śabda --Som como tal-- (śabda), Sparśa --Toque como tal-- (sparśa), Rūpa --Cor como tal-- (rūpa), Rasa --Sabor como tal-- (rasa) (e) Gandha --Odor como tal-- (gandhāḥ)43 |
(E, finalmente, os cinco Mahābhūta-s ou Elements Brutos:) Ākāśa ou Espaço --também chamado Éter-- (ākāśam) dá (pradam) lugar (avakāśa), (por assim dizer), Vāyu ou Ar (vāyuḥ) dá vida ou anima (sañjīvanam), Agni ou Fogo (agniḥ) queima (dāhakaḥ) e (ca) cozinha (pācakaḥ), Salila ou Água (salilam) sacia (āpyāyakam) e (ca) é fluida (drava-rūpam), (while) Bhūmi ou Terra (bhūmiḥ) é o suporte (dhārikā)44 .
Segundo o preceito (nītyā) (estabelecido pela) sagrada tradição (āmnāya), (na estrofe 24 da Parātriṁśikā)45 , este (etad) mundo (jagat) está (bhūtam) dentro (antar) da Semente (bīje) do Coração (hṛdaya), (a qual --isto é, a Semente--) é (rūpe) a Mais Elevada (parā) Deidade Tutelar --a Śakti Suprema-- (bhaṭṭārikā):
"Assim como (yathā) uma grande (mahā) árvore (drumaḥ) jaz (sthaḥ) potencialmente (śakti-rūpaḥ) na semente (bīja) da figueira-de-bengala (nyagrodha), da mesma forma (tathā), este (etad) mundo (jagat), (tanto) animado (cara) (como) inanimado (acaram), jaz (stham) na Semente (bīja) do Coração (hṛdaya... iti)."||
Como (katham)? Da mesma forma que (yathā) em jarros de água (ghaṭa), pratos (śarāva), etc. (ādīnām), que são modificações ou transformações --vikāra-- (vikārāṇām) da argila (mṛd), somente (eva) a argila (mṛd) (é) a verdadeira (pāramārthikam) essência ou natureza (rūpam); ou (vā) da mesma forma que (yathā) em (diferentes) tipos (jātīnām) de fluidos (drava), (tais como) água (jala), etc. (ādi), somente (eva) a constante (vyavasthitam) essência ou natureza (rūpam) em consideração (vicāryamāṇam) existe (bhavati) (na forma) da propriedade genérica (sāmānyam) da água (jala), etc. (ādi) --em outras palavras, a liquidez--46 ; da mesma forma (tathā), somente (eva) "Sat" --ou Ser-- (sat iti), que está sendo investigado (nesse momento) (mīmāṁsyamāṇam), constitui (bhavet) a verdadeira natureza (satattvam) dos tattva-s ou categorias (tattvānām) que começam com (ādi) Pṛthivī ou Terra --tattva 36-- (pṛthivī) (e) terminam com (antānām) Māyā --tattva 6-- (māyā). Mesmo (api) após remover (visṛjya) dessa (asya) palavra --de "Sat"-- (padasya) a porção (aṁśam) do afixo (pratyaya) que torna claro (vyañjakam) o significado (artha) da raiz verbal (dhātu) em análise (nirūpyamāṇam), só (eva) sobra (avaśiṣyate) a letra (kāraḥ) "Sa" (sa) meramente (mātra-rūpaḥ) como prakṛti --não o décimo terceiro tattva, cuidado!-- ou natureza primária (prakṛti)47 . Os trinta e um (eka-triṁśat) tattva-s ou categorias (tattvam) estão (gatam) dentro (antar) dessa (letra "Sa") (tad)48 . Depois disso (tataḥ param), os tattva-s ou categorias (tattvāni) Śuddhavidyā --tattva 5-- (śuddhavidyā), Īśvara --tattva 4-- (īśvara) (e) Sadāśiva --tattva 3-- (sadāśiva), cujas essências (sārāṇi) são Jñāna --Poder de Conhecimento-- (jñāna) (e) Kriyā --Poder de Ação-- (kriyā)49 , por causa das diferenças e peculiaridades (viśeṣatvāt) entre (essas) Śakti-s ou Poderes (śakti), residem (bhūtāni) dentro (antar) da Anuttara-śakti (anuttara-śakti-maye)50 , que chega à (abhyupagama-rūpe) (etapa da) letra (kāre) "Au" (au)51 |
Depois disso (atas param), (aparece) Visarjanīya --ou Visarga-- (visarjanīyaḥ) na forma (rūpaḥ) da Manifestação (sṛṣṭi), que está (tanto) em cima (ūrdhva) (quanto) embaixo (adhas)52 . O Próprio (eva) Paramaśiva (paramaśivaḥ), que consiste (ātmakaḥ) no Grande Mantra --Aham ou Eu (sou)-- (mahā-mantra) (e) é (tanto) imanente (mayaḥ) (quanto) transcendente (uttīrṇa) com relação ao universo (viśva... viśva), é a inata (nija) natureza (sva-bhāvaḥ) de tal (evam-bhūtasya) Semente (bījasya) do Coração (hṛdaya), já que Ele é o lugar (sthānatvāt) de repouso (viśrānti) (e) surgimento (udaya) (de tudo, ou seja, tudo repousa e surge a partir Dele)|
Ele (saḥ) é (bhavati), certamente (eva), um Jīvanmukta (jīvat-muktaḥ), (ou alguém que) continua existindo (vartamānaḥ) como (vat) um homem comum (laukika) enquanto vive (prāṇān dhārayan), (e está) iniciado (dikṣitaḥ) no mais verdadeiro sentido da palavra (paramārthatas), aquele que (ātmanaḥ), realmente (tattvatas), conhece (veda) e (ca) penetra (samāviśati) tal (īdṛśam) Semente (bījam) do Coração (hṛdaya). Quando (o seu) corpo cai (deha-pāte), ele se torna (eva bhavati) o venerável (bhaṭṭārakaḥ) Paramaśiva --o Śiva Supremo-- (paramaśiva)||53
Nota do tradutor - Por falta de uma conclusão formal da escritura, criarei uma agora, da mesma maneira como o sábio Kṣemarāja geralmente escreve ao final dos seus documentos:
इति महामाहेश्वरश्रीमदभिनवगुप्तोपजीविक्षेमराजविरचिता पराप्रावेशिका समाप्ता॥
Iti mahāmāheśvaraśrīmadabhinavaguptopajīvikṣemarājaviracitā parāprāveśikā samāptā||
Dessa forma (iti), a Parāprāveśikā --a escritura que ingressa nos mistérios da Suprema Śakti ou Poder-- (parāprāveśikā), composta (viracitā) por Kṣemarāja (kṣemarāja), que depende (upajīvi) do venerável (śrīmat) Abhinavagupta --o mestre de Kṣemarāja-- (abhinavagupta), o grande (mahā) adorador de Maheśvara --Śiva, o Grande Senhor-- (māheśvara), está, (agora,) concluída (samāptā)||
6 Prakāśa significa literalmente "luz, brilho, esplendor, clareza", enquanto Vimarśa é "exame". Prakāśa e Vimarśa são os termos técnicos para nomear Śiva e Śakti, respectivamente. Leia Trika 2 (português) se desejar informação em profundidade .
7 Vimarśa ou Śakti (o divino Poder de Śiva), enquanto executa os processos de manifestação, manutenção e dissolução do universo, permanece como a natural consciência do Eu. A palavra "akṛtrima" significa "natural", ou seja, não é "kṛtrima" ou artificial. Dessa forma, enquanto o universo é manifestado, mantido e dissolvido constantemente, Vimarśa ou Śakti é Aquilo que permanece como o espontâneo "Eu sou" nos bastidores. É imanente ao universo, pois Śakti certamente participa dos atos de manifestação, manutenção e dissolução universais; mas, ao mesmo tempo, está além de todos eles, ou, em outras palavras, Ela é transcendente, tal como foi indicado previamente pelo próprio Kṣemarāja. Esse é o significado .
8 Se a Consciência Suprema, também denominada Paramaśiva ou Saṁvid, não tivesse Vimarśa ou Śakti, careceria de "Īśvara" ou Poder, e, portanto, seria inerte. Mero Prakāśa (Luz) ou Śiva não é capaz de produzir a manifestação, manutenção e dissolução do universo. O termo "Īśvara" é geralmente interpretado como "Senhor", mas também significa "capaz de fazer, capacitado, etc.". Por isso, a Suprema Consciência sem Vimarśa não poderia ser o "Senhor", já que não teria nenhum Poder.
Assim, de acordo com o Trika, Vimarśa ou Poder é necessário para fazer com que algo apareça. Olhe ao seu redor agora mesmo: se você fosse uma mera Testemunha (Prakāśa) sem Vimarśa ou Poder, você não seria nem sequer uma Testemunha, pois não haveria nada para testemunhar, entendeu? Sempre lembre-se de que Prakāśa (Śiva) e Vimarśa (Śakti) são Você Mesmo. Se você não compreender essa verdade, e começar a pensar que Prakāśa e Vimarśa são realidades além de você e coisas assim, nunca vai compreender plenamente o Trika, não importa o quão profundo possa ser o seu conhecimento intelectual. E esteja certo de que não há dúvidas quanto a isso. Prakāśa é o mero "sentido de Eu", e Vimarśa torna o "sentido de Eu" consciente da Sua existência. Dessa forma, Prakāśa e Vimarśa são "Eu sou". Esse "Eu sou" é a sua verdadeira essência subjacente a tudo o que é manifestado, mantido e dissolvido. Esse é o sentido .
9 Āgama-s ou Escrituras Reveladas são aquelas cujo autor não é um ser humano. Vieram a partir do Próprio Senhor. Por exemplo: Śivasūtra-s .
10 Seriam necessários vários volumes para descrever em todos os detalhes os significados dos muitos epítetos de Vimarśa ou Śakti. De qualquer forma, agora tratarei de descrevê-los de maneira concisa, já que a tradução precisa ser a mais breve possível:
(1) Vimarśa (Śakti) é Cit porque é a Consciência pura que torna Prakāśa (Śiva) consciente da Sua própria existência. Posteriormente, torna-o consciente do universo produzido por Ela Mesma;
(2) Vimarśa (Śakti) é Caitanya porque desfruta de completa Liberdade para fazer e conhecer tudo, ou seja, Vimarśa ou Śakti é onipotente e onisciente;
(3) Vimarśa (Śakti) é Svarasoditāparāvāk porque é a Fala Suprema que é pronunciada a partir do Seu próprio Rasa ou Essência, isto é, a Sua Fala não tem obstruções e brota a partir do núcleo do Absoluto;
(4) Vimarśa (Śakti) é Svātantrya porque é dotada de Liberdade Absoluta. Ninguém pode controlá-La, e, assim, Ela é livre para fazer tudo o que desejar;
(5) Vimarśa (Śakti) é a Principal Supremacia ou Soberania do Ser Supremo porque não existe nenhum outro Poder que a controle. Ela é o Poder Principal que rege todo o universo que é manifestado, mantido e dissolvido por Ela Mesma;
(6) Vimarśa (Śakti) é Kartṛtva porque é a verdadeira Fazedora ou Autora de tudo. Embora os indivíduos pareçam ser fazedores ou autores independentes, eles não o são, pois dependem sempre Dela. Sem a Sua Vontade apoiando-os, nenhum desses supostos autores poderia fazer nada;
(7) Vimarśa (Śakti) é Sphurattā porque é a Consciência Resplandecente que emerge espontaneamente por Sua própria conta. Nenhum indivíduo pode forçar Vimarśa a revelar a Sua recôndita natureza. Ela só resplandece de maneira natural sempre que decidir fazê-lo;
(8) Vimarśa (Śakti) é Sāra ou Essência porque é a Realidade subjacente do universo;
(9) Vimarśa (Śakti) é Hṛdaya ou Coração porque é o Núcleo de tudo;
(10) e Vimarśa (Śakti) é Spanda ou Vibração Suprema porque é a eterna Pulsação do Divino Ser por meio da qual a manifestação inteira é repetidamente exibida, mantida por um breve momento e, então, retirada .
11 Em outras palavras, o Senhor Supremo, também denominado Paramaśiva, é "Prakāśavimarśamaya", consta tanto de Prakāśa quanto de Vimarśa. Isso é confirmado pelo que Kṣemarāja está a ponto de estabelecer no texto .
12 O trigésimo sexto tattva ou categoria se chama "terra", e há várias palavras para "terra" em Sânscrito: Dharaṇī, Pṛthivī, Kṣiti, Bhūmi, etc. Note que, na Tabela de Tattva-s, e, na verdade, em todos os documentos que escrevi sobre tattva-s, escolhi chamar "terra" de Pṛthivī, mas os outros nomes citados também são válidos .
13 Como eu disse na minha décima nota explicativa, Śakti ou Vimarśa é denominada "Kartṛtva" porque é a verdadeira Fazedora ou Autora de tudo. E não é inerte de maneira alguma, mas sim é cheia de vibração e luz. Sempre lembre-se de que Prakāśa e Vimarśa (Śiva e Śakti) são uma mesma e única coisa. Só se pode separá-las para que possam ser melhor estudadas. No entanto, Eles realmente nunca estão separados um do outro. É por isso que Śiva nunca carece de Śakti, e vice-versa. Ambos são cara e coroa, por assim dizer, da Moeda chamada Paramaśiva, a Realidade Absoluta .
14 Vimarśa ou Śakti torna Śiva (Você!) consciente de Si Mesmo e do universo. Por exemplo, se não houvesse Śakti aqui, você não conseguiria ler o que estou escrevendo, muito menos entendê-lo. Śakti é Aquilo que dá o suporte ou "ālambana" para que você perceba a manifestação deste mundo. A palavra "adhīna" significa literalmente "situado em, dependente de, etc.", mas preferi traduzi-la como "por causa de", por conveniência e facilidade de leitura. O significado final é que a percepção deste mundo depende de Śakti. Sem a Sua ajuda, nenhum universo seria percebido. Esse é o sentido .
15 Se o universo fosse considerado como diferente do Grande Senhor, que está dotado de Prakāśa ou Luz, então esse universo nunca teria se tornado perceptível, devido à falta de associação com Aquele que dá Luz, isto é, o Próprio Senhor. Como poderia tal universo aparecer se não fosse iluminado por Prakāśa? Esse é o significado .
16 Dado que este mundo obteve suporte e fundamento para tornar-se perceptível e manifesto a partir do Seu ato de dar-lhe Luz --em outras palavras, dado que a Luz do Senhor é o suporte e fundamento deste mundo--, como poderia tal mundo ficar no Seu caminho? Este mundo é o Seu Prāṇa ou sopro de vida, e, por isso, não pode obstruir ou restringir de modo algum o Senhor Supremo. Essa é a conclusão a que Kṣemarāja chega .
17 Mesmo se o mundo pudesse obstruir ou restringir o Senhor Supremo, tal mundo, por depender totalmente Dele, estaria obstruindo e restringindo a si mesmo, e, assim, não seria capaz de continuar existindo .
18 Pramāṇa ou o meio para adquirir conhecimento correto consiste em provar (ou seja, estebelecer como verdade) ou anular (isto é, invalidar). Quando aplicado aos prameya-s ou objetos, Pramāṇa é válido. Entretanto, quando se usa Pramāṇa para provar ou anular a existência do Senhor, não é válido. Por quê? Porque o Verdadeiro Ser ou Existência do Ser Supremo, ou seja, o Seu "sadbhāva", aparece na forma desse Pramātā ou Experimentador tentando provar ou anular por meio de anusandhāna ou rigorosa inspeção. A palavra "anusandhāna" também significa, em Trika ou Shaivism não dual da Caxemira: "repetida e intensa consciência do Ser ou Realidade; bem como unir a experiência subsequente com a prévia". Então, Pramāṇa é inútil para provar ou anular o Seu "sadbhāva", como Kṣemarāja está a ponto de expressar .
19 Pramāṇa ou o meio para adquirir conhecimento correto é de três tipos: (1) Pratyakṣa ou percepção direta, isto é, experiência direta; (2) Anumāna ou inferência/dedução; e (3) Āgama ou testemunho, tal como escrituras, aquilo que é dito por um genuíno Guru, etc. Nesse caso, Kṣemarāja está referindo-se ao segundo aspecto de pramāṇa, isto é, Anumāna ou inferência. Se você quiser saber mais sobre pramāṇa, leia o sétimo aforismo (primeira Seção) dos célebres Pātañjalayogasūtra-s. Por sua vez, há mais informação relevante sobre pramāṇa no comentário de Vyāsa sobre os Pātañjalayogasūtra-s .
20 O Grande Senhor também é conhecido como "Pūrva-siddha" (lit. previamente provado), pois Ele é a primeira Realidade que se prova. Se Ele não fosse provado em primeiro lugar, ninguém poderia provar mais nada. Mas o Seu estado de Prakāśa ou Luz não pode ser provado por meros pramāṇa-s ou meios de adquirir conhecimento correto, pois o Senhor não é um prameya ou objeto, mas sim o Supremo Sujeito ou Experimentador. Em suma, Ele Mesmo é quem indaga sobre a Sua própria natureza essencial ou Prakāśa (Luz), mas, sendo Prakāśa um Sujeito (o Próprio Senhor) e não um objeto, todos os pramāṇa-s são inúteis para provar tal natureza essencial. Dessa forma, o sábio Kṣemarāja especifica que Prakāśa ou a natureza essencial do Senhor é provada a partir da própria percepção de todos, e não por meio de pramāṇa-s. Em outras palavras, a existência de "todos" já é uma prova sólida de que Prakāśa existe como a Consciência fundamental. Sem a presença de Prakāśa ou Luz, ninguém poderia aparecer, muito menos provar a existência de algo. É por isso que o sábio chama o Senhor de Pūrvasiddha. É simples assim! Oh meu Deus, hehe .
21 Pramāṇa torna-se um meio para adquirir conhecimento correto pois repousa (ou seja, é baseado) no Sujeito ou Experimentador (Pramātā). Sem Pramātā ou aquele que indaga, pramāṇa não poderia existir .
22 Um miserável pramāṇa ou meio para adquirir conhecimento correto não pode ser usado para provar a existência de Pramātā ou Sujeito, porque pramāṇa é sempre uma coisa completamente nova (pensamentos) que surge na mente daquele que indaga, ou seja, na mente de Pramātā. Então, como poderia algo que é totalmente novo a cada momento provar a existência Daquele que o produz? Portanto, pramāṇa é efêmero, enquanto Pramātā ou Sujeito é o sempre presente Conhecedor que contém todos os pramiti-s ou conhecimentos ganhos através de pramāṇa. Pramātā (o Sujeito ou Experimentador) ultrapassa (ou transcende) os objetos cognoscíveis, tais como corpo, energia vital, a cor azul, prazer, etc. e, dessa forma, a Sua existência não pode ser provada por meio de pramāṇa. Com "os quais dependem dele, (isto é,) desse pramāṇa", o autor indica que o alcance de pramāṇa é exatamente este: objetos cognoscíveis, mas nunca o Conhecedor ou Pramātā. Como resultado, utilizar pramāṇa-s para provar a realidade de Pramātā ou Sujeito (a saber, o Senhor Supremo... Você!) é tempo perdido, segundo Kṣemarāja .
23 Kṣemarāja, o autor, parece ser viciado em longos e complexos compostos, tais como: "por ser a Essência da lembrança da Perfeita consciência do Eu, que consta de uma multidão sons". Obviamente, os tradutores enlouquecem como resultado, hehe. O que o sábio quer dizer é o seguinte: "Já que o Senhor é a Essência da lembrança da Perfeita consciência do Eu, também denominada Vimarśa ou Śakti" - A palavra "parāmarśa" ou "lembrança" também significa "captar mentalmente, experiência". Assim, é unicamente o Senhor (Você!) que experimenta a Perfeita consciência do Eu ou Śakti, e, dessa forma, Ele é a Essência da Sua (isto é, de Śakti) lembrança. Por sua vez: "Tal Perfeita consciência do Eu consiste em numerosos sons" - A palavra "rāśi" significa uma "multidão". O significado interno da frase é que Pūrṇāhantā (a Perfeita consciência do Eu ou Śakti) se forma a partir de todas as letras desde o "a" até o "ha", o que constitui todo o alfabeto sânscrito, e, consequentemente, Ela (isto é, Śakti) vibra como esse alfabeto. Dessa forma, esse Senhor, também denominado Paramaśiva (o Supremo Śiva), cuja natureza é Śiva (Prakāśa ou Luz) e Śakti (Vimarśa ou Perfeita consciência do Eu) é o Único que pode se tornar toda a manifestação universal. E "prapañca" ou a manifestação universal é composto de trinta e seis tattva-s ou categorias, que serão enumeradas por Kṣemarāja em breve. Esse é o significado .
24 "Bhūmayaḥ" é o plural de "Bhūmi". O plural é utilizado no último termo dessa lista de tattva-s para indicar que outros tattva-s ou categorias foram enumerados anteriormente. E "iti" representa meramente "aspas" ou algo assim. Kṣemarāja descreverá as suas características de maneira concisa em breve, mas, como eu disse a você antes, revise a Tabela de Tattva-s e a subseção "Panorama" dentro da seção Trika se você quiser mais conhecimento aprofundado sobre os tattva-s .
25 Bem, a descrição de Kṣemarāja acabou de começar. Em primeiro lugar, lembre-se de que Paramaśiva (o Supremo Śiva) é "Prakāśavimarśamaya", isto é, consta de Prakāśa (Śiva) e Vimarśa (Śakti). De qualquer forma, todos esses termos são simplesmente palavras para estudar uma Realidade que está além das palavras. Śiva é Śakti, e Śakti é Śiva. Śiva é Paramaśiva, e Paramaśiva é Śiva, e por aí vai. Não se deixe confundir por termos, já que todos eles são palavras muito úteis com relação a uma boa descrição dos tattva-s, mas a Realidade é uma massa compacta de Consciência e nunca é possível descrevê-la adequadamente. Além disso, todos os tattva-s desde Śakti (tattva 2) até Bhūmi (tattva 36) são "simplesmente" Śakti assumindo diferentes estados. E Śakti é Śiva, e Śiva é Paramaśiva, e Paramaśiva é todo o conjunto de tattva-s ou categorias que são manifestadas, mantidas e finalmente dissolvidas.
Em suma, o universo inteiro é o Corpo de Paramaśiva, o Grande Senhor (Você!). Lembre-se do que Kṣemarāja disse previamente: "Pūrṇāhantā" ou a Perfeita consciência do Eu (Śakti) consta de uma multidão de sons. Se você perder de vista a unidade de todos os tattva-s, ou seja, se você perder de vista Paramaśiva como sendo um todo, o seu estudo desse assunto será meramente intelectual. Um estéril estudo intelectual como esse não conduz a uma verdadeira experiência da sua natureza essencial e, portanto, é praticamente "inútil". Então, estude os tattva-s, mas nunca se esqueça de que todos eles são o Seu próprio Corpo, Paramaśiva .
26 Śakti é o primeiro Spanda ou Vibração do Senhor Supremo quando Ele deseja manifestar o universo. Ela é um Desejo (Icchātva) criativo contínuo e não obstruído. De qualquer forma, essa primeira Vibração ainda não é um som, mas sim a fonte de todos os sons que serão manifestados depois. Ver Trika 2 (português) para mais informação .
27 Em Sadāśiva-tattva (a categoria chamada Sadāśiva), o universo é sempre como um broto. A sua forma aparece de maneira indistinta porque está sendo ocultada ou coberta pela porção Aham (Eu) do Ser Supremo. Existem dois lados ou porções: Aham (Eu) e Idam (Isto - o universo ou mundo). A categoria Sadāśiva aparece quando a porção "Eu" é predominante. Obviamente, com "consciência do Eu", o autor refere-se a Śakti, que é Śiva vibrando e manifestando o mundo. Todos os tattva-s são produzidos somente por Ela. Ver Trika 3 (português) para mais informação .
28 Em Sadāśiva-tattva, a porção "Aham" ("Eu") prevalece. Dessa forma, "Idam" ou "Isto" (o mundo ou universo) é indistinto. Mas agora, em Īśvara-tattva, o mundo é girado, ou seja, torna-se nítido e, portanto, predominante, enquanto a porção "Aham" permanece eclipsada, por assim dizer. Leia Trika 3 (português) se você quiser entender isso em profundidade .
29 Outra possível tradução de "pratipattiḥ" é "percepção". Dessa forma, uma tradução alternativa seria: "Śuddhavidyā é a percepção de unidade entre...". A porção "Aham" (também chamada Ahantā ou consciência do Eu) está, agora, em equilíbrio com a porção "Idam" (também chamada Idantā ou estado de ser Isto, ou seja, o mundo ou universo). Em outras palavras, nem "Aham", nem "Idam", predomina. Essa categoria na qual tanto Aham quanto Idam prevalecem igualmente denomina-se Śuddhavidyā ou Sadvidyā, o quinto tattva. Leia Trika 3 (português) para obter mais informação pertinente .
30 Se você consultar um dicionário de sânscrito, provavelmente encontrará os seguintes significados para "bhāva": tornar-se, ser, existir, estado, condição, classe, natureza, temperamento, comportamento, sentimento, afeição, e um longo etc. Nesse contexto, Kṣemarāja está usando esse termo para indicar os trinta tattva-s embaixo de Māyā, isto é, (7) Kalā, (8) Vidyā, (9) Rāga... (34) Vahni, (35) Salila e (36) Bhūmi. Por sua vez, a palavra "prathā" significa literalmente "aquele que espalha, difunde, etc.", ou seja, Māyā força um ser limitado a considerar esses trinta tattva-s como algo distinto do Ser Supremo. É por isso que o autor especifica que Ela dissemina diferença com relação às naturezas essenciais desses tattva-s. Em outras palavras, Ela inocula dualidade e provoca que tais tattva-s ou categorias pareçam algo diferente do Senhor (Você!). Essa é a primeira parte da Ilusão Cósmica, hehe .
31 Cuidado aqui! Não confunda "Māyāśakti" com "Māyātattva" (ou simplesmente, "Māyā"). Por um lado, o segundo é o sexto tattva ou categoria, que, segundo o ensinamento anterior de Kṣemarāja, dissemina diferença ou dualidade que afeta todos os tattva-s embaixo de Māyā, isto é, desde o tattva 7 até o tattva 36. Por outro lado, o primeiro é uma "śakti" ou poder, e não um tattva ou categoria. Māyāśakti (lit. poder máyico) é o poder por meio do qual o Senhor é capaz de mostrar diferença ou dualidade mesmo onde não existe nenhuma. Em suma, Māyāśakti exibe diversidade na unidade, ou seja, faz com que o Infinito torne-se finito. Assim, Māyāśakti é o poder que dá nascimento ao Māyātattva, ou simplesmente "Māyā" .
32 Esqueça a ideia de uma "malvada" Māyā transformando o Senhor em um ser limitado. Não, isso não é certo de acordo com o sistema Trika. Tal como é dito por Kṣemarāja, é o Grande Senhor (Você!) que, tomando posse da Sua própria natureza essencial através da Sua própria Māyāśakti, transforma-se em um experimentador contraído (em outras palavras, um ser limitado). Por meio de Māyāśakti, Ele se torna um indivíduo condicionado e, dessa maneira, está pronto para experimentar uma série de limitações adicionais. De qualquer forma, o Senhor é sempre o Senhor e nunca se torna nada mais. Em outras palavras, embora se torne um experimentador limitado, continua sendo o Senhor Supremo. Kṣemarāja mencionará esse mistério em breve .
33 Além dos 36 tattva-s, existem três mala-s ou impurezas: Āṇava, Māyīya e Kārma. O primeiro faz com que tal Puruṣa sinta "Eu não sou perfeito", o segundo mala força-o a experimentar "Sou diferente e estou separado de todo o resto", e o último inocula nele a sensação de "Sou um fazedor limitado". Portanto, esse mesmo experimentador limitado ou Puruṣa, enganado por Māyā e todos os mala-s, torna-se um saṁsārī ou alma transmigratória. Saṁsāra significa transmigração de corpo em corpo, ou seja, nascer para depois morrer, e morrer para depois renascer, etc. Entretanto, Saṁsāra é também a contínua transmigração mental na qual novos pensamentos emergem constantemente. Embora a mente não esteja ainda manifesta no nível Puruṣa (12o tattva), as sementes para o seu futuro surgimento já estão semeadas. Por sua vez, essa alma transmigratória está apegada à errônea noção de que as ações afetam o Ser Supremo (a sua natureza essencial). Quando alguém pensa que as suas boas ou más ações amarram o Seu próprio Ser ou Essência, isso é denominado "karmabandhana" ou "acorrentado pelas ações" .
34 Embora Kṣemarāja tenha expressado por meio de palavras que, ainda que o ser limitado ou Puruṣa não seja diferente de Parameśvara ou o Senhor Supremo, o seu moha ou māyā (engano, ilusão, enfatuação, perplexidade, em suma: ignorância) não pertence ao Senhor Supremo, esse tópico está além das palavras. Agora, Kṣemarāja está a ponto de descrever o processo por meio de um exemplo, mas lembre-se de que as palavras sempre fracassarão em descrever aquilo que é indescritível. Como essas categorias ou tattva-s (Māyā, Puruṣa, etc.) são manifestadas antes da própria mente (tattva-s 14 a 16), uma pessoa não pode compreendê-las por meio da sua própria mente, entendeu? De qualquer forma, o sábio tentará descrever o processo até certo ponto de modo que você possa ter um vislumbre dele .
35 Śuddhavidyā "não é", nesse contexto, "Śuddhavidyā-tattva" (o quinto), mas sim a Śakti ou Poder que revela a Sua própria Natureza Essencial. Leia a minha explicação sobre isso em Meditação 3 (seção Trika) .
36 Essas cinco śakti-s Dele são também denominadas Kriyāśakti (Poder de Ação), Jñānaśakti (Poder de Conhecimento), Icchāśakti (Poder de Vontade), Ānandaśakti (Poder de Bem-aventurança) e Cicchakti (Poder de Consciência), respectivamente. Por sua vez, os cinco tattva-s ou categorias: (7) Kalā, (8) Vidyā, (9) Rāga, (10) Kāla e (11) Niyati, são os cinco Kañcuka-s ou Invólucros de ignorância. Leia Trika 3 (português) e Trika 4 (português) para mais informação .
37 Kāla não é Tempo, formalmente falando, mas sim a noção que é a sua raiz. Kāla é uma série de estados ou bhāva-s que aparecem e desaparecem, mas é também o tattva que divide tais estados em passado, presente e futuro. Por examplo, as cognições: "Conheci", "Conheço" e "Conhecerei" são produzidas por Kāla. Essas cognições são realmente uma sucessão de estados que aparecem e desaparecem em uma ordem adequada. Kāla manifesta tal sucessão de cognições, e, adicionalmente, divide-as em passado (Conheci), presente (Conheço) e futuro (Conhecerei), ou seja, põe a sucessão em ordem. Vá a Trika 4 (português) se desejar um conhecimento mais profundo sobre Kāla, e também sobre os outros Kañcuka-s .
38 Sattva, Rajas e Tamas são os três Guṇa-s ou qualidades. Em Trika, o seu estado de equilíbrio, ou seja, quando nenhum Guṇa predomina, denomina-se "Prakṛti" ou tattva 13. Entretanto, em outros sistemas, os três Guṇa-s são constituintes de Prakṛti. Porém, em Trika, não é assim de modo algum. Como eu disse, Prakṛti é simplesmente o estado onde os três Guṇa-s estão em equilíbrio. É por isso que o autor estabelece que a natureza de Prakṛti é "avibhakta" ou não dividida. Ainda que, em Prakṛti, nenhum Guṇa prevaleça sobre os outros, de qualquer forma, a partir de Mahat ou Buddhi (tattva ou categoria 14) até Pṛthivī (tattva 36), um desses Guṇa-s será sempre predominante. Sim, o assunto é um pouco complicado. Leia Trika 5 (português) para obter mais conhecimento sobre Guṇa-s e Prakṛti .
39 Como Buddhi ou intelecto é predominantemente sáttvica, funciona como um espelho capturando os reflexos produzidos pela Luz do Senhor Supremo. Esses reflexos aparecem como vikalpa-s ou pensamentos na mente. Quanto mais transparente for o espelho (ou seja, a Buddhi), mais nítidos são os reflexos. Por essa razão, praticamente todos os sistemas filosóficos buscam criar uma Buddhi "clara como cristal" nos seguidores, de modo que possam se dar conta da Luz do seu próprio Ser. Por examplo, conforme você estuda esta escritura, a sua Buddhi se torna mais e mais sutil. Dessa forma, quando você terminar de lê-la, o seu intelecto será mais do que capaz de compreender alguns aspectos que eram previamente desconhecidos. Eh, você pode inclusive alcançar a Libertação final, hehe. A razão para isso é que Buddhi se torna um melhor espelho para refletir a Luz do Senhor. Obviamente, é difícil mantê-la "limpa", pois Māyā e os seus Kañcuka-s estão aqui também... é por isso que todos os buscadores espirituais devem se esforçar tanto para atingir completa Emancipação. Se as coisas fossem o contrário, ou seja, muito fáceis, o mundo inteiro estaria cheio de almas liberadas... mas não é esse o caso, não é mesmo?, hehe. É realmente difícil encontrar um verdadeiro Guru, mas é ainda mais difícil encontrar um discípulo genuíno, ou seja, alguém cujo intelecto tenha-se tornado transparente como um cristal devido às suas muitas virtudes.
Você também pode tornar Buddhi tão transparente como for possível mediante Śuddhavikalpa-s ou Pensamentos Puros (Leia Meditação 3). Além disso, Buddhi é também a faculdade determinante, pois, por meio do seu intelecto, você determina um curso de ação a ser seguido. Se você quiser saber mais sobre Buddhi, vá a Trika 5 (português) .
40 Note que essa palavra, isto é, "saṅkalpa", pode significar também, na terminologia do Trika: "resolução, determinação" ou "a sintética atividade do pensamento". Suponho que Kṣemarāja tenha interpretado o termo no seu significado comum, como "ideias, noções, etc.", já que Manas é geralmente descrito como um pacote de ideias e noções .
41 Antaḥkaraṇa é o conhecido órgão ou instrumento (psíquico) interno formado por Buddhi, Ahaṅkāra e Manas .
42 Não é suficiente a informação sobre Jñānendriya-s e Karmendriya-s? Então, explore Trika 6 (português) .
43 Com "formas genéricas", o autor quer dizer "padrões". Bem, vá ler Trika 6 (português) novamente ou essa nota explicativa será imensa, hehe .
44 Para uma descrição mais detalhada dos Mahābhūta-s, leia Trika 6 (português) .
45 Nesse contexto em particular, "āmnāya" é a sagrada tradição composta da ininterrupta sucessão de mestres e discípulos desde o Próprio Śiva até os mais recentes mestres e discípulos ensinando e aprendendo esse tipo de conhecimento espiritual. Dessa forma, nesse exato momento, você e eu pertencemos à sagrada tradição, já que estamos aprendendo e ensinando esse tipo especial de sabedoria sagrada. Obviamente, também aprendo assim como você, pois um mestre nunca deixa de ser um discípulo também. Bem, é uma longa história, hehe.
A Parātriṁśikhā é um célebre Āgama ou escritura revelada (nenhum ser humano é o seu autor) que foi comentada pelo guru de Kṣemarāja, ou seja, o grande sábio Abhinavagupta. A estrofe 24 de tal escritura está a ponto de ser mencionada. É por isso que adicionei essa informação à tradução... continue lendo .
46 O significado é claro: Em diferentes tipos de líquidos ou fluidos, tais como água, etc., somente a "liquidez" (sua propriedade genérica) permanece como a sua verdadeira natureza .
47 Muito bem... oh meu Deus! Vou contar um segredo: Quando traduzo escrituras, em geral, leio junto com você, isto é, não leio toda a escritura antes. E esse foi o caso com essa Parāprāveśikā. Agora, vejo que Kṣemarāja está apresentando o complexo tema de Prāsāda "logo no final da sua escritura". Prāsāda é o célebre mantra do Coração, ou seja, Sauḥ. Com "Coração", não me refiro ao órgão físico, mas sim à Śakti, o Poder Supremo. Esse tópico é totalmente explicado pelo mestre de Kṣemarāja, Abhinavagupta, na sua Parātrīśikālaghuvṛtti (uma curta mas extremamente abstrusa escritura). Encontrar Prāsāda logo no final da minha tradução é uma grande surpresa. É como encontrar o Oceano Pacífico após ter cruzado um pequeno lago, e isso não é brincadeira. Por quê? Porque terei que explicar o assunto a você, pelo menos até certo ponto, ou você não entenderá nada desses parágrafos finais! OK, terei que aceitar isso ... não tenho saída! De qualquer forma, este será um mero esboço, já que poderiam ser escritos muitos volumes sobre Prāsāda. E, se após ler a minha "breve" explicação você pensar que eu sou louco... tem razão, hehe.
Em primeiro lugar, tenho que esclarecer o que Kṣemarāja disse:
"Mesmo após remover dessa palavra --de Sat-- a porção do afixo que torna claro o significado da raiz verbal em análise, só sobra a letra 'Sa' meramente como prakṛti --não o décimo terceiro tattva, cuidado!-- ou a natureza primária".
O sábio considera "Sat" (Ser) como um particípio presente derivado de adicionar o afixo Kṛt "at" à raiz "as" (ser, existir). Dessa forma, "Sat" (Ser) não é considerado como um mero substantivo, e sim como um particípio presente, no sentido de "alguém ou algo que é ou existe", entendeu? Embora eu ensine a você afixos Kṛt na subseção "Afixos" dentro da seção "Sânscrito", explicarei isso a você novamente com relação à raiz "as". Agora, a "regra geral" para adicionar afixos Kṛt a raízes para formar particípios presente:
"O afixo Kṛt 'at' deve ser agregado à forma que uma raiz 'Parasmaipadī' (cuidado aqui!) assume antes da terminação da 3a Pessoa plural do Tempo Presente. Se essa forma terminar em 'a', essa vogal será obrigatoriamente omitida".
Bem, agora, precisamos conjugar a raiz "as" (ser, existir) de modo que você possa ver "a forma que essa raiz assume antes da terminação da 3a Pessoa plural do Tempo Presente". E é conjugada somente em Parasmaipada, não Ātmanepada. Você sabe o que são Parasmaipada e Ātmanepada? Se não, leia "Conjuntos de terminações" na minha introdução a Verbos. A raiz "as" (ser, existir) pode ser conjugada tanto em Parasmaipada quanto em Ātmanepada, mas, já que só preciso da conjugação Parasmaipadī para adicionar o afixo Kṛt "at" para formar o particípio presente, conjugarei a raiz somente em Parasmaipada, entendeu? Além disso, "as" é uma raiz que pertence ao Gaṇa (Casa) 2 e, como resultado, a sua base é "mutável". Por sua vez, as terminações são adicionadas diretamente à raiz, ou seja, não há necessidade de formar uma base adicional, e sim a própria raiz atuará como base verbal. Entretanto, como é "mutável", ao serem adicionadas as respectivas terminações, "as" não permanecerá sempre igual. Obviamente, também não preciso adicionar nenhum "a" para formar a base, como ocorre no caso dos Gaṇa-s 1, 4, 6 e 10. Não entende?... Leia novamente a minha introdução a Verbos. Destacarei as temrinações em vermelho como uma ajuda extra a você:
Pess. | Parasmaipada | ||
---|---|---|---|
Singular | Dual | Plural | |
1a P. | अस्मि | स्वः | स्मः |
asmi | svaḥ | smaḥ | |
eu sou, existo | nós dois/duas somos, existimos | nós somos, existimos | |
2a P. | असि | स्थः | स्थ |
asi | sthaḥ | stha | |
você é, existe | vocês dois/duas são, existem | vocês são, existem | |
3a P. | अस्ति | स्तः | सन्ति |
asti | staḥ | santi | |
ele(a) é, existe | eles(as) dois/duas são, existem | eles(as) são, existem |
Agora, preste atenção na 3a Pessoa plural: "santi". Segundo a regra geral para adicionar afixos Kṛt:
"O afixo Kṛt 'at' deve ser agregado à forma que uma raiz 'Parasmaipadī' (cuidado aqui!) assume antes da terminação da 3a Pessoa plural do Tempo Presente. Se essa forma terminar em 'a', essa vogal será obrigatoriamente omitida".
Como a terminação nesse caso é "anti", a forma que a raiz Parasmaipadī (em Parasmaipada) "as" (ser, existir) assume para a 3a Pessoa plural do Tempo Presente é "s". Muito bem! Agora, simplesmente "adicione" o afixo Kṛt "at" a esse "s": s + at = sat. Muito bem! A palavra final é, portanto, "Sat" (em maiúsculas, ou seja, polida por mim). Sat significa "alguém ou algo que é ou existe", isto é, Ser. Mas o que Kṣemarāja está dizendo na sua Parāprāveśikā?: o processo oposto. Escute:
"Mesmo após remover dessa palavra --de Sat-- a porção do afixo que torna claro o significado da raiz verbal em análise, só sobra a letra 'Sa' meramente como prakṛti --não o décimo terceiro tattva, cuidado!-- ou a natureza primária".
Em outras palavras, quando você remove "at" de "Sat", só sobra o "s". O sábio não disse letra "s", mas sim letra "sa", porque, em Sânscrito, as letras do alfabeto são silábicas, como você certamente sabe. Essa porção do afixo, ou seja, "at", torna claro o significado da raiz verbal em análise, isto é, "as" (ser, existir), nesse caso. "S" ou letra "Sa" é meramente prakṛti ou natureza primária. Com "prakṛti", o autor não está referindo-se ao tattva ou categoria 13, mas sim à natureza essencial subjacente aos trinta e um tattva-s desde Māyā (tattva 6) até Pṛthivī (tattva 36). "S" ou letra "Sa" é uma das formas sonoras de Sadāśiva, como é explicado em Tattva-s e Sânscrito [recomendo fortemente que você leia Primeiros Passos (4), Primeiros Passos (5) e Primeiros Passos - 1 para obter um conhecimento profundo sobre esse complexo tema].
O "S" em "Sat" (Ser) é a primeira letra do sagrado mantra "Sauḥ" (também conhecido como Prāsāda ou mantra do Coração). Mais adiante, explicarei mais a você sobre esse mantra, mão se preocupe. Agora, Kṣemarāja afirmará que a letra "Sa" (ou simplesmente "S") contém, como eu disse acima, os trinta e um tattva-s desde Māyā até Pṛthivī. Continue lendo, por favor .
48 Tal como estabeleci previamente, todas as categorias ou tattva-s desde Māyā até Pṛthivī estão dentro do "S". Como? Preste atenção, pois darei um exemplo "similar" (mas muito mais detalhado) ao que é dado por Abhinavagupta na sua Parātrīśikālaghuvṛtti (uma importante escritura). Você pode ter a seguinte experiência, dado que seja um yogī ou yoginī avançado(a). Teoricamente, como todos são o Ser Supremo, todos poderiam experimentar isso, mas as coisas não parecem funcionar assim na prática. Isto é, pode ser que a experiência esteja ali, mas não haja um dar-se conta dela. Então, para que serve? Bem, se você conseguir fazer isso sem que seja um(a) grande yogī ou yoginī, meus parabéns, querida "Consciência Suprema", hehe. Mas, conseguindo ter essa experiência ou não, você pode ao menos ter conhecimento do processo. Escute com atenção:
- Coloque um objeto diante de você, digamos, um vaso de argila.
- Concentre-se nele. O que você vê a princípio é... um simples vaso de argila, é claro. Sou um gênio, hehe.
- Conforme você continua concentrando-se no vaso de argila, perceberá que é apenas uma modificação da argila. Nesse momento, você estará consciente de Pṛthivī (tattva 36) ou terra.
- Então, se a sua concentração continuar, não perceberá mais a argila, e sim um odor padrão, isto é, o odor como tal. Você não pode dizer a que se assemelha esse odor, pois ele não possui nenhuma qualidade. Então, diz-se que você percebeu Gandha (um dos cinco Tanmātra-s ou elements sutis) --tattva 31--.
- No momento em que deixa de perceber esse odor padrão, isso significa que os sentidos estão sendo reabsorvidos em Manas (tattva 16), a partir do qual surgiram. Ali, você percebeu a verdadeira natureza dos Jñānendriya-s (tattva-s 17 a 21).
- Posteriormente, você "chega mais perto" (não digo "vai mais longe", porque, na realidade, você está aproximando-se do seu próprio Ser, e não se afastando Dele, entendeu?) e experimenta o "sentido de Eu". Esse "sentido de Eu" é "ego" ou tattva 15. É experimentado como um sujeito, aparentemente, mas, na verdade, é um objeto.
- Você percebe que o ego ou Ahaṅkāra é um objeto quando penetra no "sentido puro de Eu". Não estou falando do Próprio Śiva, é claro, porque essa é a esfera dos últimos 31 tattva-s. Não, com "sentido puro de Eu" refiro-me a Buddhi ou intelecto (tattva 14).
- Quando você transcende Buddhi (isto é, quando aproxima-se mais do Ser), só restam os três Guṇa-s ou qualidades de Prakṛti (Sattva, Rajas e Tamas).
- Então, sobrevém a experiência de conhecedor limitado (Puruṣa --tattva 12--) e cognoscível (Prakṛti --tattva 13--) em seu estado puro.
- Após essa experiência, tudo é reabsorvido em Māyā, o Ventre a partir do qual surgiu. Māyā é experimentada como a profunda escuridão do sono profundo.
- A grande maioria dos yogī-s e yoginī-s chega a esse ponto e não vai além, ou seja, descansam como meros Pralayākala-s ou experimentadores impotentes (akala-s) de Pralaya ou Dissolução universal (Māyā), isto é, permanecem em sono profundo. Mas os grandes yogī-s e yoginī-s "se aproximam mais" e se dão conta de "Sat" ou "Ser" como uma Realidade subjacente que reside dentro dos trinta e um tattva-s desde Māyā até Pṛthivī.
- Ainda nessa etapa, as duas últimas letras de "Sat" ("a" e "t") são descartadas, e esses supremos yogī-s ou yoginī-s repousam em "S" (a letra "Sa"). E só essa letra é o suporte de "Tudo" (a manifestação inteira desde Māyā até Pṛthivī), porque Tudo emergiu a partir de "S". Dessa forma, quando esses seres sublimes alcançam o estado de "S", diz-se que atingiram um repouso em "S" ou Sadāśiva. E o seu repouso é o repouso do Todo, já que eles se tornaram o Todo, por assim dizer, pois eles "sempre" foram o Todo, só não se davam conta disso. Bem, o que mais poderia ser dito sobre tais yogī-s e yoginī-s?
Assim, esse "S" é a primeira letra de "Sauḥ", o mantra do Coração. Continue lendo, pois Kṣemarāja está a ponto de explicar a porção "au" desse mantra .
49 Poderia parecer que o autor se esqueceu de incluir Icchā ou Vontade, ou seja, "icchājñānakriyāsārāṇi" em vez de "jñānakriyāsārāṇi", já que Icchā é predominante em Sadāśiva (tattva 3), Jñāna em Īśvara (tattva 4) e Kriyā em Śuddhavidyā (tattva 5). De qualquer forma, não há nenhum erro, porque "Jñāna" e "Kriyā" também contêm Icchā. Na verdade, Icchā contém Jñāna e Kriyā; Jñāna contém Icchā e Kriyā; e Kriyā contém Icchā e Jñāna. As três śakti-s ou poderes de Icchā (Vontade), Jñāna (Conhecimento) e Kriyā (Ação) aparecem como "Eu desejo", "Eu conheço" e "Eu faço". Na Realidade Absoluta, não pode haver conhecimento e ação sem um Desejo por trás, ou seja, Vontade. Esse é o significado .
50 "Anuttaraśakti" pode denotar várias coisas: significa literalmente "o Poder de Anuttara", sendo "Anuttara" Aquilo além do qual não há nada, ou seja, a Mais Alta Realidade. Dessa forma, um primeiro significado de "Anuttaraśakti" seria "o Poder da Mais Alta Realidade". A Mais Alta Realidade também se chama "Paramaśiva" em Trika, como você certamente sabe. Um segundo significado possível de "Anuttaraśakti" é "o Poder da vogal a". A vogal "a" também se denomina "Anuttara", pois é a encarnação sonora do Ser Supremo .
51 "Au" é a conhecida letra "Triśūla" ou Tridente, pois contém os três Poderes ou Śakti-s de Icchā, Jñāna e Kriyā [para mais informação, leia Primeiros Passos (4)]. "Au" é, portanto, o Poder de conhecer, na tríade: Conhecedor, ato de conhecimento (ou Poder de conhecer) e cognoscível. "S" é o cognoscível ou mero Sat. Quando uma pessoa se dá conta da natureza primária de todos os tattva-s a partir de Māyā (o sexto) até Pṛthivī (o trigésimo sexto), alcança um repouso em "S" ou Sat. Entretanto, quando se está consciente "agora" do Conhecedor e "então" do cognoscível, e vice-versa, repetidamente, então se diz que alcançou um repouso em "Au" ou o Poder de conhecer.
Olhe os objetos diante de você nesse exato momento: Por um lado, tudo o que os seus sentidos podem perceber e também eles próprios (ou seja, os sentidos), Karmendriya-s ou Poderes de ação, o seu órgão psíquico interno (mente, ego, intelecto), alma individual, Prakṛti, Māyā e Kañcuka-s (limitações)... bem, todo esse conjunto de múltiplas realidades é, em última análise, só uma coisa: "Sat" ou mero "Ser". E "S" é a essência final desse "Sat". Se você puder "compreender" ou "perceber" esse "S", alcançará repouso em Sat. Por outro lado, o Poder que permite a uma pessoa ser consciente tanto de Sat (seja manifestado como o mundo inteiro, seja aparecendo como um mero Ser ou natureza primária) quanto do Próprio Conhecedor, isto é, "Eu", bem, esse Poder é "Au". Quando uma pessoa percebe esse "vaivém" ou "flutuação" realizada por Au, então se diz que alcançou um repouso no Poder ("Au"), que é Vontade, Conhecimento e Ação. Por sua vez, esses três são meramente uma forma assumida pela Anuttaraśakti ou o Poder Supremo, tal como já foi estabelecido por Kṣemarāja.
Assim, a explicação do mantra do Coração (Sauḥ), composto de "S", "au" e "ḥ", está quase completa. Só falta esclarecer a parte do Visarga ou "ḥ". Continue lendo, por favor .
52 Os gramáticos sânscritos chamam Visarga (isto é, a vogal ḥ) de "Visarjanīya". Esses assustadores gramáticos também falam de duas outras categorias de uma espécie de "meio" Visarga chamado Upadhmānīya e Jihvāmūlīya... mas você não quer saber nada sobre tais horrores ainda, não é?, hehe. Bem, o horror atual de ter que explicar a você o significado de Visarjanīya é mais do que suficiente, eu acho. Escute com atenção, e, se não entender nada... não se preocupe, pois isso é completamente normal. A razão é simples: a maioria dos yogī-s e yoginī-s não consegue compreender alguns temas complexos porque carecem de experiência e poder suficientes. Se a vasta maioria de yogī-s e yoginī-s não consegue captar algumas sutilezas, menos ainda as pessoas comuns, que passam quase todas as suas vidas satisfazendo os seus sentidos. É por isso que, embora todos sejam Isso (o Ser Supremo), nem todos entenderão o que digo nestas páginas.
Bem, de qualquer maneira, vamos começar: Visarga ou Emissão é Você, o Conhecedor. "S" é o cognoscível, ou seja, a natureza primária de todos os objetos cognoscíveis. "Au" é o Poder que consiste nos três Śakti-s de Vontade, Conhecimento e Ação. Por meio de "Au", Você é capaz de se pôr em contato com o "cognoscível". É por isso que "Au" é denominado o Poder. Por sua vez, o Conhecedor (Você!) é Visarga ou Emissão, pois Ele se emite em "Sat" ou Ser (a essência dos trinta e um tattva-s a partir de Māyā até Pṛthivī) por meio de "Au" (o Seu próprio Poder). Por que Ele se emite? Porque não pode haver um "Conhecedor" se não há nenhum "cognoscível" disponível. E, como não há mais ninguém para fazer o trabalho, Ele (Você!) tem que se lançar em Sat, isto é, tornar-se Sat ou Ser, por meio de Au, para que possa haver um mundo para conhecer.
Quando Você (o Senhor) emite a Si Mesmo em Sat ou Ser com a ajuda da sua Anuttaraśakti, que aparece como a tríade de Vontade, Conhecimento e Ação, transforma-se imediatamente em um Conhecedor e, assim, alcança repouso em Visarga ou Visarjanīya (ḥ). Quando Kṣemarāja indica que Visarjanīya (Você!) tem a forma da Manifestação, que está tanto em cima quanto embaixo, ele quer dizer que Visarjanīya é tanto Śiva, o Supremo Ser que testemunha, quanto Śakti (Seu divino Poder), que aparece como todo o mundo testemunhado. Por essa razão, Visarga ou Visarjanīya é escrito em Sânscrito como dois pontos, um em cima do outro: : . Portanto, quando você se dá conta de que aquilo que chama de "o mundo" não é nada mais do que o Seu ato de emitir/lançar a Si Mesmo em Sat ou Ser, alcançou um repouso em Visarjanīya ou o Conhecedor. A Sua emissão em Sat por meio do Poder (Au) não ocorre no tempo e espaço, pois tempo e espaço estão em Sat (e não em Você ou no Poder). Além disso, Sat, o Poder (Au) e Visarga são a mesma Realidade. São designados de distintas maneiras para tentar explicar algo que é essencialmente indescritível. Todas as descrições são, em última análise, insuficientes, pois estes (Sat, Au e Visarga) são "estados", e não meros "objetos brutos" (como mesa, casa, floresta, etc.) que podem ser facilmente descritos por meio de um punhado de palavras.
Posteriormente, você tem que unificar a experiência dos três repousos: (1) Um primeiro repouso em "S" (derivado de Sat ou Ser) ou a natureza primária do mundo manifestado a partir de Māyā até Pṛthivī; (2) um segundo repouso em "Au" ou Poder; e (3) um repouso final em Visarjanīya ou Você Mesmo, o Conhecedor. Quando você consegue transformar esses três repousos em uma experiência unificada, isso significa que percebeu o verdadeiro significado de "Sauḥ" (o mantra do Coração) e, automaticamente, torna-se um Jīvanmukta ou Liberado em vida. Parabéns por alcançar essa loucura total, hehe. Ah, só estou brincando!
Kṣemarāja está prestes a falar dessa loucu... eeh... desse estado de Jīvanmukta, oh meu Deus! Diga a alguém que tudo ao seu redor é o resultado de um lançamento de Si Mesmo em Sat ou Ser, e depois me escreva do manicômio, hehe. É por isso que deve-se manter os lábios selados diante das pessoas que não conseguem compreender essas coisas, entendeu? Todos são o Ser, mas existe um Drama divino e todos têm um papel a desempenhar. Bem, você poderia dizer: "Olhe esse cara, está dizendo para mantermos os lábios selados enquanto ele está revelando todos os mistérios a todo mundo". Hmmm, não estou dizendo todo mundo, porque "nem todo mundo" chegará a estas páginas. De fato, mesmo se chegassem, não entenderiam corretamente. Só os espiritualmente maduros entenderão a essência deste ensinamento. Além disso, estou bem escondido na minha toca, e, assim, ninguém poderia vir e levar-me ao manicômio por enquanto. Dessa forma, é como se os meus lábios estivessem selados... oh, eu sou tão esperto, hehehe. Bem, chega de brincadeiras por enquanto. Continue a ler, por favor .
53 Um Jīvanmukta ou Liberado em vida parece ser uma pessoa comum. Entretanto, ele atingiu esse estado sublime porque realmente conhece (isto é, entende) e penetra (isto é, entra nos mistérios) na Semente do Coração. Em outras palavras, tem pleno conhecimento do Coração ou Núcleo da Mais Alta Realidade. Só uma pessoa assim está verdadeiramente iniciada, já que a iniciação está relacionada essencialmente a uma modificação do próprio estado de consciência, e não a meros rituais. Embora às vezes possa haver algum ritual, os rituais não são indispensáveis, pois o processo inteiro internamente, por assim dizer. Se existe o ritual mas não o processo interno, o primeiro é totalmente inútil.
Posteriormente, quando esse Jīvanmukta deixa o seu corpo mortal, permanece como Paramaśivabhaṭṭāraka ou o venerável Śiva Supremo. E não há nenhuma dúvida sobre isso .
Informação adicional
Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.
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