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 Śivasūtravimarśinī: Seção III (aforismos 1 a 11 - pura)

Tradução pura


 Introdução

A Śivasūtravimarśinī continua: Kṣemarāja continua a comentar os aforismos.

Este é o primeiro grupo de 11 aforismos dos 45 aforismos que formam a terceira Seção (que versa sobre Āṇavopāya). Como você sabe, a obra inteira é composta dos 77 aforismos dos Śivasūtra-s mais os respectivos comentários.

É claro que também inserirei os aforismos de Śiva sobre os quais Kṣemarāja estiver comentando. Apesar de que não comentarei sobre os sūtra-s originais ou sobre o comentário de Kṣemarāja, escreverei algumas notas para esclarecer certos pontos sempre que for necessário. Se você quiser uma explicação detalhada dos significados ocultos dessa escritura, vá a "Escrituras (estudo)/Śivasūtravimarśinī" na seção Trika.

Leia a Śivasūtravimarśinī e experimente Supremo Deleite, querido Śiva.

Este é um documento de "tradução pura", ou seja, você não encontrará nenhum Sânscrito original, mas haverá, às vezes, uma quantidade mínima de Sânscrito transliterado nas próprias traduções do texto. É claro, não haverá nenhuma tradução palavra por palavra. De qualquer forma, haverá Sânscrito transliterado nas notas explicativas. Se você for uma pessoa cega utilizando um leitor de tela e não quiser ler as notas, ou simplesmente quiser pular as notas, clique no respectivo link "Pular as notas" para continuar lendo o texto.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Aforismo 1

Agora, (Śiva,) estando com desejo de explicar Āṇavopāya1 , primeiramente mostra a natureza essencial de um aṇu ou ser limitado --o Ser individual--—


O Ser individual (é) a mente||1||


Citta --nesse contexto-- (é) aquilo que, por estar vestida com desejos por objetos (dos sentidos), consiste em buddhi --intelecto, ou seja, o tattva ou categoria 14--, ahaṅkāra --ego, ou seja, o tattva 15-- (e) manas --mente comum, ou seja, o tattva 16--, os quais estão sempre engajados em indagar, etc. sobre eles --isto é, sobre os objetos anteriormente mencionados--2 . Esse mesmo (citta é) ātmā --o Ser individual-- (ou) aṇu --lit. átomo, ou seja, o Ser Supremo reduzido a um mero ser limitado-- (, porque,) como primordialmente ignora --lit. devido à ignorância primordial-- que a sua verdadeira natureza é Consciência, move-se constantemente, (isto é,) ele se direciona (o tempo inteiro) a (diversas) formas de existência, prendendo-se às condições ou modalidades de Sattva, etc.3 . Este é o significado|

(Na realidade,) não existe nenhuma vagueação deste (ātmā), cuja natureza não é nada mais que Consciência|

Por essa mesma razão, ātmā (foi) indicado anteriormente (como) "A Consciência que é onisciente e onipotente (é) ātmā --o Ser ou a verdadeira natureza da Realidade--" em I, 1 (da presente escritura), com a intenção de estabelecer e explicar a sua real natureza, que é o seu verdadeiro estado|

Mas, agora, (a definição de ātmā) é apropriada com relação ao (seu) estado de aṇu --ser limitado--, (o qual) tem a ver principalmente com sua manifestação em limitação ou contração. Deste modo, não há inconsistência ou incongruência entre a (definição) anterior (e) a posterior4 ||1||

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1  Āṇavopāya é o meio que diz respeito ao aṇu ou Ser individual (isto é, um ser condicionado). Assim, começou a terceira Seção, que trata do meio ou método que usa o ponto de vista de um aṇu.Return 

2  Com a palavra "etc.", o autor indica as atividades do ego e da mente comum. Enquanto buddhi indaga sobre objetos dos sentidos, o ego se ocupa em tomar posse deles (por exemplo, esta coisa é minha). Manas (mente comum) não é nada mais que os vikalpa-s ou pensamentos associados com esses mesmos objetos. Os três formam o Antaḥkaraṇa ou órgão psíquico interno, segundo o sistema Trika. Portanto, citta aqui é "mente", mas no sentido de Antaḥkaraṇa, e não como mero manas. Essa é a diferença entre citta e manas. Entendeu? Muito bem!Return 

3  Em outras palavras, as modalidades de Sattva, Rajas e Tamas. Para mais informação, leia o meu estudo dessas três modalidades de Prakṛti.Return 

4  Com "I, 1", o autor indica o primeiro aforismo da primeira Seção da presente escritura, obviamente. E esse aforismo também é o mesmo primeiro aforismo dos veneráveis Śivasūtra-s. Lá, define-se claramente a natureza inata de "ātmā" como "Consciência que é onisciente e onipotente" (Caitanya). Contudo, nesta terceira Seção, o que está sendo descrito não é a sua "condição essencial", mas sim sua "āṇavadaśā" ou "estado de aṇu ou ser limitado". Sob essas circunstâncias, ātmā é o mesmo que citta (o conjunto de intelecto, ego e mente comum). Em outras palavras, com sua manifestação na limitação, o Ser Supremo, que é essencialmente nada mais que Consciência pura, identifica-se com citta. Não existem "dois" ātmā-s, um ilimitado e outro limitado! Então, não há inconsistência entre o que I, 1 e III, 1 declaram em relação a ātmā.Return 

Ao início


 Aforismo 2

Desse (ātmā), que é (agora) um aṇu ou ser limitado cuja natureza é citta—


O conhecimento (nascido da mente é) escravidão||2||


(É) escravidão esse conhecimento cuja natureza é modos de indagação, etc.1  cheios de prazer, dor (e) ilusão ou engano, (e) que --isto é, o conhecimento-- consiste na manifestação de diferenças --dualidade-- próprias dos mesmos --isto é, aos modos anteriormente mencionados--|

Já que (tal aṇu ou ser limitado) está atado por esse (conhecimento nascido da mente), ele transmigra, realmente!|

Isso (também) é dito no venerável Tantrasadbhāva:

"Permanecendo em Sattva, Rajas --lit. relativo a Rajas-- e Tamas, (e) conhecendo (apenas) por meio dos (seus) sentidos, o encarnado vaga desta maneira, movendo-se de um lugar a outro lugar --real e figurativamente--2 "||

Essa mesma (verdade) foi repetida por meio desta (citação):

"Completamente detido e bloqueado por Puryaṣṭaka, que brota a partir dos (cinco) Tanmātra-s --isto é, elementos sutis-- (e) reside na mente, ego (e) intelecto, o subserviente (ser limitado or paśu) experimenta o surgimento ou geração de ideias derivadas desse (Puryaṣṭaka), (junto com) o desfrute (do prazer e dor que provêm dessas mesmas ideias). Ele transmigra devido à continuação desse (Puryaṣṭaka)..."|
(Ver Spandakārikā-s III, 17 e uma porção do 18)

Na escritura que versa sobre o Spanda --ou seja, nas Spandakārikā-s--, para impedir essa (transmigração ou Saṁsāra, o autor especifica:)

"... Por essa razão, (procedemos a) explicar a causa dessa dissolução da transmigração"||
(Ver Spandakārikā-s, porção restante do III, 18)

||2||

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1  Indagação ou averiguação é a tarefa de buddhi oi intelecto. Com "etc.", o autor está mencionando tacitamente as atividades de "pensamento comum cheio de fantasias" e "envaidecimento", que são própriso de manas (mente comum) e ahaṅkāra (ego). Em suma, o sábio Kṣemarāja está falando sobre citta, ou seja, sobre o antaḥkaraṇa ou órgão psíquico interno.Return 

2  De uma cidade a outra cidade, de um estado mental state a outro estado mental, de um desejo a outro desejo, e assim sucessivamente. Tudo isso não leva a nenhum lugar!Return 

Ao início


 Aforismo 3

Uma objeção! Em vista do que foi dito no venerável Vijñānabhairava:

"No mundo, o conhecimento (é) dador de luz e ātmā (é) dador de luz. O conhecedor torna-se manifesto ou revelado no conhecimento, já que não há nenhuma diferença entre esses dois --entre conhecimento e conhecedor--1 "||

(assim,) inclusive "o conhecimento (nascido da mente) está cheio de luz", (então,) como ele --o conhecimento nascido da mente-- (pode ser) escravidão?2 |

Isso (é) verdadeiro se, por meio do favor do Senhor Supremo, puder-se reconhecer de tal maneira --ou seja, dar-se conta de que inclusive o conhecimento nascido da mente está cheio de luz--. No entanto, quando, por meio da Sua māyāśakti3 , não há nenhum "dar-se conta" como esse, então—


A não discriminação de princípios (tais como) Kalā, etc., (é) Māyā||3||


Essa não discriminação dos tattva-s ou princípios a partir de Kalā --tattva 7-- até a terra --tattva 36-- —cujas naturezas são limitada eficácia, etc.— dispostos como Kañcuka-s, puryaṣṭaka (e) corpo físico4 , a qual --isto é, a não discriminação-- (consiste em) perceber como idênticos esses (tattva-s) que são considerados como separados, (é) Māyā (ou) uma manifestação --ou seja, o tattva 6-- cheia de ignorância primordial sobre o Princípio Supremo|

Isso foi dito no venerável Tantrasadbhāva:

"Esse (ser limitado) tem a sua consciência coberta por Kalā, os objetos dos seus sentidos são exibidos por Vidyā; ele está tingido --isto é, ele é (emocionalmente) afetado-- por Rāga, (e) está dotado de órgãos de percepção, etc. Dessa forma, diz-se que a escravidão máyica é dolorosa para ele. Em uma palavra, os Guṇa-s --Rajas, Sattva e Tamas-- dependem disso --de Māyā--, e também as atividades justas e injustas (dependem de Māyā). Permanecendo nessa (Māyā), ele está em escravidão, (e) continua atado por essas (coisas que foram mencionadas acima), certamente"|

Nas Spandakārikā-s, esse (ensinamento) foi expresso indiretamente por meio desta (primeira linha do aforismo):

"No entanto, essas (mesmas emanações do Spanda), trabalhando diligentemente e incessantemente para cobrir ou velar o seu --isto é, das pessoas que têm intelectos não despertos-- (verdadeiro) estado ou natureza, faz com que as pessoas de intelecto não desperto caiam"|
(Ver Spandakārikā-s I, 20)

||3||

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1  Outra possível tradução para prakāśaka é "que revela", ou, inclusive, "luz que revela". O conhecedor não é outro que o ātmā, cuja natureza é "luz", pois é o que lança luz e não é distinto da própria luz. Portanto, o conhecimento (luz) e o conhecedor (dador de luz) são sempre a mesma coisa.Return 

2  Para estudantes de Sânscrito: A frase "kathamasya bandharūpatvam" significa literalmente "Como (katham) desse --isto é, seu-- (asya) o estado de ter a natureza da escravidão (bandharūpatvam)?". Obviamente, não posso traduzir dessa maneira!Return 

3  Māyāśakti (lit. poder máyico) não é o mesmo que Māyātattva (ou Māyā, simplesmente), a sexta categoria no processo de manifestação universal tal como se ensina em Trika. Não, senhor! Māyāśakti é o Seu poder para produzir diferenças (dualidade) onde há eterna unidade. Portanto, o Seu favor or prasāda é simplesmente o Seu ato de remover a māyāśakti, o que revela a inerente unidade subjacente. Então, se alguém desfrutar do Seu favor, o conhecimento nacsido da mente nunca pode atá-lo, pois essa pessoa se dá conta de que mesmo esse miserável conhecimento também é luz. Então, liberdade e escravidão estão relacionadas com o Seu ato de remover ou não a māyāśakti. É simple assim!Return 

4  Kalā é o sétimo tattva (categoria ou princípio) na manifestação universal. A natureza de Kalā é limitada eficácia ou capacidade de ação. Com "etc.", o autor menciona tacitamente as naturezas do resto dos tattva-s (do 8 ao 36 --a terra--). Kañcuka-s são envoltórios de ignorância, enquanto puryaṣṭaka é o corpo sutil, composto de buddhi (intelecto), ahaṅkāra (ego), manas (mente comum) e os cinco Tanmātra-s (elements sutis, os tattva-s 27 a 31). Para mais informação sobre todas essas coisas e também para entender a próxima citação do Tantrasadbhāva, leia Trika 4, Trika 5 and Trika 6.Return 

Ao início


 Aforismo 4

Portanto, para pôr fim a essa (escravidão)


A dissolução das partes --dos tattva-s ou princípios da manifestação-- no corpo --físico, sutil e causal-- (deve ser realizada mediante Bhāvanā ou contemplação criativa)||4||


Śarīra --lit. corpo-- (significa aqui) o (corpo) bruto que consiste em grandes elementos --isto é, tattva-s 32 a 36--, o (corpo) sutil que é puryaṣṭaka --isto é, intelecto, ego, mente comum e Tanmātra-s--, (e) o (corpo) mais alto --o causal--, que termina em Samanā --isto é, o corpo formado por energia vital e mente sutil até Samanā, sendo esta última a Śakti ou Poder do Senhor, que se manifesta como pensamento desde śūnya ou estado de vazio até o tattva 361 --. Nesse (śarīra ou corpo), essas kalā-s (ou) partes são as tattva-s --princípios ou categorias-- que começam com a terra --tattva 36-- (e) terminam em Śiva. Deve-se meditar na dissolução dessas (partes) em suas próprias causas, (seja) mediante Bhāvanā --contemplação criativa-- do desaparecimento (de um tattva no precedente) ou por meio de pensar na combustão, etc.2 . Isso deve ser acrescentado (ao aforismo para completar o sentido)|

Isso foi dito no venerável Vijñānabhairava:

"Deve-se pensar gradualmente --ou seja, pouco a pouco-- sobre todo (o universo), que aparece como Bhuvanādhvā3 , etc., permanecendo em bruto, sutil e causal --ou seja, dissolvendo um no outro sucessivamente-- até que (tenha lugar,) finalmente, a dissolução da mente"||

Da mesma forma:

"Deve-se imaginar que o próprio corpo foi queimado por Kālāgni, que surge do dedão do pé direito. No final, a luz de Śānta --lit. o Pacífico, isto é, Śiva-- emerge4 "||

Tal (descrição da dissolução) existe em todos os Āgama-s --as escrituras reveladas--|

Por essa mesma razão, no venerável Pūrvaśāstra --isto é, no Mālinīvijayatantra--, diz-se que dhyāna, etc., são āṇava --pertencentes a Āṇavopāya--:

"A completa absorção na própria natureza essencial que ocorre por meio de Uccāra, Karaṇa, Dhyāna, Varṇa e Sthānakalpanā é conhecida como Āṇava5 "||
(Ver II, 21 no Mālinīvijaya)

Essa (classe de métodos) --isto é, métodos de Āṇavopāya--, por ser bruta, não foi sumarizada no Spandaśāstra --isto é, nas Spandakārikā-s--, o qual revela Śāktopāya --em suma, o Spandaśāstra trata do Śāktopāya--|

Não obstante, tudo o que tange a Śāktopāya, etc. pode ser encontrado aqui na forma de um meio concluinte, o qual, mesmo nesse (contexto), tornamos concordante (com Āṇavopāya) a partir do livro que trata do Spanda --ou seja, por meio de citações extraídas do próprio Spandakārikā-s--, e será tornado concordante (no futuro também, só) um pouco||4||

Pular as notas

1  Para mais informações sobre Samanā, leia as últimas três etapas de Meditação 6.Return 

2  Para realizar contemplação criativa (uma espécie de imaginação visual) da dissolução de cada tattva no anterior, deve-se primeiro ter pleno conhecimento do esquema táttvico conforme formulado pelo sistema Trika: Tabela táttvica. O método que utiliza combustão está descrito aqui na parte onde explico Dhyāna segundo Āṇavopāya.Return 

3  Leia o meu estudo sobre os Seis Cursos para compreender plenamente esse tópico.Return 

4  O termo "Śānta" também significa "Paz". Então, há uma dificuldade na tradução. Mas, é claro, o Senhor Supremo também é Paz. Adicionalmente, em algumas versões do Vijñānabhairava, a porção final varia de "prajāyate" (emerge) a "tadā bhavet" (então, há). Portanto, a tradução muda de novo: "Então, há um lampejo de Paz ao final". Aqui está... você não vai querer ser tradutor depois disso tudo, haha. Brincadeiras à parte, às vezes posso refletir por cerca de uma hora sobre o mais exato/possível significado de um único termo. Alguns parágrafos estranhos podem levar horas, não por eu não entender o significado rapidamente (ler em Sânscrito é bastante fácil no meu caso... bem, ao menos geralmente, porque, às vezes, o texto é tão complicado que eu fico empacado por um tempo), mas sim porque eu quero ser o mais preciso/literal possível e, ao mesmo tempo, compreensível para o leitor. Dessa forma, não é só questão de meramente consultar um dicionário e, caramba!, a tradução exata surge magicamente. Verdade?

O primeiro e principal problema com isso é que cada termo pode conter uma pilha gigantesca de possíveis significados segundo diferentes contextos, e, em geral, você tem que escolher só um desses. Há outros significados que não podem ser encontrados em um dicionário "comum", e há a necessidade de consultar outras fontes (por exemplo, comentários em Sânscrito e coisas desse tipo). Em outras ocasiões, as traduções de passagens muito difíceis devem vir por meio de revelação divina, caso contrário o tradutor fica empacado e não consegue mais avançar. Ainda que repetidas saudações ao Senhor satisfaçam-No e o Misericordioso acabe finalmente dando a tradução, na maioria das vezes isso depende somente da Sua ahaitukī karuṇā ou compaixão sem causa. O que eu quis dizer é que, por pura compaixão, Ele traz os significados ocultos à luz desde as profundezas do Seu próprio Ser e ocorre uma revelação na mente do "aparente" tradutor. É a luz de Śānta, é um lampejo de Paz, como especificam as possíveis traduções da estrofe do Vijñānabhairav acima. No final, tudo é somente a Sua obra e destreza. Estas são Suas escrituras também. Por essa razão, à medida que traduz este idioma sagrado, a sua individualidade desaparece e só Ele permanece. Não é nenhuma surpresa, porque o divino Senhor é o Único aqui! O que se chama "você" não é "você", mas sim "Ele" sempre.Return 

5  Leia Meditação 4 e Meditação 5 para entender isso completamente. Mas também leia Meditação 1 como introdução ao longo tema.Return 

Ao início


 Aforismo 5

Dessa maneira, após descrever o método āṇava --que tange ao Āṇavopāya-- chamado dhyāna, (Śiva agora) descreve prāṇāyāma, dhāraṇā, pratyāhāra e samādhi1 , os quais são (úteis) para a aquisição e preservação desse (dhyāna), unicamente—


(O Yogī deve produzir) a dissolução (da energia vital) nos canais sutis, a conquista dos elementos brutos, o afastamento (de sua mente) dos elementos brutos (e) a separação --pṛthaktva-- dos elementos brutos (também por meio de Bhāvanā ou contemplação criativa)||5||


"(Esses métodos) devem ser efetuados ou realizados por meio de Bhāvanā --contemplação criativa-- pelo Yogī", isso deve ser adicionado (ao aforismo para completar o sentido)|

O saṁhāra (da energia vital) que flui nos sutis canais (ou) tubos --suṣi-- que transportam prāṇa, apāna, etc., (consiste em) produzir ou efetuar a dissolução (dessa energia vital) em um lugar, (isto é,) no canal sutil médio —(em Suṣumnā), cuja natureza (é) o fogo de udāna—, por meio do mecanismo de prāṇa e apāna2 |

Isso é estabelecido no venerável Svacchandatantra:

"Deve-se inspirar pela (narina) esquerda (e) expirar pela (narina) direita3 . Isso (é) completa purificação dos canais sutis e do caminho até a Libertação --isto é, da Suṣumnā--. A partir do(s) ato(s) de expirar, inspirar (e) parar --ou seja, prender-- (a respiração,) diz-se que prāṇāyāma (é) triplo. Esses (três prāṇāyāma-s são) certamente comuns (e) externos --porque a respiração é prendida fora do corpo, e não dentro, após expirar--. No entanto, (existem) três que são internos --porque a respiração é prendida dentro do corpo, e não fora, após inspirar--. Os três (prāṇāyāma-s) internos devem ser realizados (desta forma:) Por meio do (prāṇāyāma) interno, deve-se expirar, (e,) por meio do interno, deve-se inspirar, certamente. (Por último, por meio do interno), realiza-se --lit. tendo realizado-- (o ato de) prender a respiração sem tremor"||
(Ver estrofes 294-297 no 7o paṭala do Svacchandatantra)

A conquista dos elementos brutos (tais como) terra, etc. (é) a supremacia ou domínio (sobre eles) por meio de concentrações ou dhāraṇā-s4 |

Como foi dito nesse mesmo (Svacchandatantra):

"Concentração relativa ao ar, no dedão; relativa ao fogo, no meio do umbigo; relativa à terra, na região da garganta; relativa à água, com seu assento --isto é, assento ou foco da concentração-- na úvula --campainha--; (e, finalmente,) concentração no éter ou espaço na parte superior da cabeça. Diz-se que (essa série de concentrações) produz todos os poderes sobrenaturais5 "|
(Ver estrofes 299-300 no 7o paṭala do Svacchandatantra)

O retiro da mente em relação aos elementos brutos (é, ) portanto, pratyāhāra|

Isso é declarado nesse mesmo (Svacchandatantra):

"(Restringindo e retendo muito gradualmente a energia vital no umbigo), transferindo(-a) do coração até o umbigo, e também (restringindo e retendo) a mente (no umbigo por meio do mecanismo de retirá-la) dos sentidos e dos objetos dos sentidos (, trazendo-a para o umbigo), (ocorre) certamente o quarto prāṇāyāma, (conhecido como) o muito tranquilo ou calmo. Isso é o que foi ensinado6 "||
(Ver estrofe 297 no 7o paṭala do Svacchandatantra)

Por meio da transferência da energia vital do coração até o umbigo, e também (por meio da transferência) da mente até ele --isto é, até o umbigo-- a partir dos objetos dos sentidos (por meio de pratyāhāra, ou seja, o mecanismo de retiro). Esse é o significado|

Separação em relação aos elementos brutos (é assumir) a natureza da pura (e) independente Consciência --isto é, Śiva--, a qual não é afetada por eles --isto é, pelos elementos brutos--|

Isso é dito nesse mesmo (Svacchandatantra):

"Ó, deusa, após perfurar gradualmente todos (os granthi-s ou nós --coração, garganta, etc.--) que terminam em Unmanā, pelas experiências --que atuam como um meio-- previamente mencionadas (no sexto paṭala ou capítulo do Svacchandatantra); abandonando (tudo isso, o Yogī) alcança (Suprema) Liberdade7 "|
(Ver estrofe 327 no 7o paṭala do Svacchandatantra)

O que foi dito anteriormente em I, 20 (da presente escritura, a saber,) "(Os outros poderes sobrenaturais do Yogī iluminado são: o poder de) unir entidades existentes; (o poder de) separá-las todas --isto é, as entidades existentes-- (e o poder de) juntar --saṅghaṭṭa-- tudo (que foi separado por espaço e tempo)", acontece sem esforço para quem tenha ingressado em Śāmbhavopāya --o meio que tange a Śiva--|

Mas isso --isto é, o que é descrito em I, 20-- deve ser cumprido e alcançado com esforço em Āṇavopāya --o meio que tange ao ser limitado--. Essa é a diferença||5||

Pular as notas

1  Esses termos devem ser compreendidos practicamente da mesma forma como foram definidos pelo sábio Patañjali em seus Yogasūtra-s II, 49 (prāṇāyāma) - III, 1 (dhāraṇā) - II, 54 (pratyāhāra) - III, 3 (samādhi), respectivamente. Para obter todas as informações de que precisa, leia esses aforismos na página contendo todos os sūtra-s originais, ou seja, Pātañjalayogasūtra-s, e também na que explica Aṣṭāṅgayoga.Return 

2  Esse longo tópico foi tratado quando expliquei Uccāra em Meditação 4. O mecanismo de prāṇa (a energia vital que sai com a expiração) e apāna (a energia vital que entra com a inspiração) é simplesmente uma interrupção respiratória que força a energia vital interna a proceder até Suṣumnā (o canal médio ou central). Falei sobre Suṣumnā em Meditação 6 também. Quando prāṇa e apāna se estabilizam no canal médio, isso é samāna. Finalmente, esse samāna se dissolve em udāna, logo o último é chamado de "fogo" em sentido figurado. Bem, leia essas páginas, por favor, para que eu não tenha que escrever uma nota interminável aqui, hehe.Return 

3  Apesar de "savya" e "apasavya" significarem literalmente "esquerda" e "direita" respectivamente, interpretei "savyena" e "apasvyena" tal como Kṣemarāja indica em seu comentário sobre o Svacchandatantra, isto é, como os indeclináveis "à direita" e "à esquerda". Ele inicia o seu comentário sobre VII, 294 em Svacchandatantra da seguinte forma: "Savyena dakṣanāsāpathena recayedrecakaṁ kuryādapasavyena vāmena pūryeta vāyupūraṇaṁ kuryādityarthaḥ" - "Ele deveria expirar —(ou seja,) ele deveria realizar o ato de expiração— por meio de savya —(ou seja,) por meio da fossa nasal da direita—; (e) deveria inspirar —(ou seja,) encher-se de ar— por meio de apasavya —(isto é,) por meio da (fossa nasal) esquerda—. Esse é o significado". Então, agora está claro, não é?

Além disso, como vi sérias inconsistências entre as estrofes citadas aqui e as originais do Svacchandatantra (possivelmente alguns erros de digitação no processo de transcrição), tomei a decisão de importar diretamente essas estrofes originais, a partir do venerável Svacchandatantra, no texto da Śivasūtravimarśinī, de modo a corrigir todos os erros. Estou louco? Sim, pelo menos temporariamente! Essas traduções, estudos e explicações podem facilmente enlouquecer uma pessoa, com certeza, não apenas porque são extremamente difíceis de realizar e o meu intelecto está sempre a 100% por horas, mas também porque o texto contém, além dos ensinamentos, poderes esmagadores emanando dos próprios símbolos. Não consigo descrever a experiência em palavras. É como estar na presença de algo extremamente curativo e radioativo ao mesmo tempo. As pessoas que dizem constantemente que estão em busca de Deus (o Senhor absoluto de todo o universo), confie em mim, a maioria delas não sabe o que está dizendo. Se um ser limitado, como tal (isto é, sem a Sua graça, sem nenhuma preparação/treinamento especial, etc.), encontrar o Senhor e Seu Poder, seu corpo físico não sobreviverá à experiência. O impacto da experiência é tão bendito que destrói a sua individualidade até as raízes! Todos esses textos que estou traduzindo foram escritos por Ele Próprio e comentados por grandes sábios. Portanto, estão cheios do Seu Poder e divinos mistérios. Então, quando alguém se aproxima deles, deveria ser muito cuidadoso e respeitoso.Return 

4  O termo "dhāraṇā" (concentração) deve ser interpretado aqui tal como o sábio Patañjali o definiu em seus Yogasūtra-s (III, 1).Return 

5  Kṣemarāja comenta extensivamente sobre essas duas estrofes do Svacchandatantra, dando o método exato para praticá-los. De qualquer forma, aconselha-se ao leitor que não estude isso, senão obterá todos os poderes sobrenaturais no processo! Meu Deus, você não vai querer conseguir todos esses superpoderes, eu te asseguro. Como declara o eminente sábio Patañjali em seus célebres Yogasūtra-s (III, 37):

"Te samādhāvupasargā vyutthāne siddhayaḥ" - "Esses (poderes sobre-humanos) são obstáculos ou estorvos no Samādhi, (mas) conquistas em Vyutthāna --isto é, o estado comum de consciência no qual a mente flutua--".

Então, embora esses poderes sobrenaturais sejam verdadeiras conquistas para alguém cuja meta é permanecer no estado de consciência no qual a mente funciona o tempo inteiro, são como uma maldição para alguém que queira permanecer em Perfeita Concentração (Samādhi) e finalmente alcançar Liberação.

OK, de volta ao tema. O primeiro parágrafo do comentário de Kṣemarāja sobre estas duas estrofes do Svacchandatantra tornarão ao minha própria tradução muito mais compreensível, eu acho:

"Pādadeśe tiryaggateḥ nābhau jāṭharāgneḥ kaṇṭhe sthitipade dharaṇyā ghaṇṭikāyāṁ rasasya brahmarandhre ca vyomnaḥ sadbhāvāttathaiva dhāraṇā uktāḥ|" - "As concentrações são descritas (como segue:) (Concentração) naquele que se move horizontalmente --um epíteto para o ar--, na região do pé; no fogo abdominal, na (região do) umbigo; na terra —cujo estado é permanecer firmemente—, na (região da) garganta; na água, na (região da) úvula; e, da mesma maneira, no éter ou espaço —que é o (próprio) Ser verdadeiro—, em Brahmarandhra --isto é, no furo central do Sahasrāracakra, na parte superior da cabeça--".

Muito bem, agora está claro, não é? Se você esperava outra tradução palavra-por-palavra nesta nota, você é mais louco que eu, haha. Não se preocupe, a tradução está correta. Só confie em mim, então. De qualquer modo, você pode checá-la com a ajuda de um dicionário, se o seu conhecimento de Sânscrito for suficiente para fazê-lo. Traduções palavra-por-palavra são muito boas, mas também consomem muito tempo. É por isso que não estou incluindo-as nas notas explicativas.

Evidentemente, ar, fogo abdominal, terra, água e éter/espaço são os conhecidos Mahābhūta-s (lit. grandes elementos, a saber, os elementos brutos); em suma, os tattva-s ou categorias 32 a 36 no esquema de manifestação universal segundo o sistema Trika.Return 

6  Bem, para compreender por que traduzi essa estrofe do Svacchandatantra dessa forma, você precisará ler "todo" o comentário de Kṣemarāja sobre tal estrofe. O tópico é muito complexo, mas as palavras dele dissiparão todas as dúvidas. A propósito, o comentário inteiro que Kṣemarāja compôs sobre o Svacchandatantra é conhecido como Svacchandoddyota. Esse comentário contém 15 paṭala-s ou capítulos, e os eruditos sabem que Kṣemarāja foi o autor desde o próprio início, quando o sábio escreveu, no quinto verso de sua introdução ao livro: "Kṣemarājo vivṛṇute śrīsvacchandanayaṁ manāk||5||" - "Kṣemarāja explica levemente a doutrina do venerável Svacchandatantra". Sim, apesar de a palavra manāk (levemente, um pouco, de forma superficial) parecer uma espécie de piada, ele tem razão, se comparado a outros grandes eruditos sânscritos e sábios, mas não em relação ao resto de nós, obviamente. De qualquer forma, ao ver a profundidade e espiritualidade dos ensinamentos dados no venerável Svacchandatantra, sim, o sábio foi bastante conciso (cerca de 2000 páginas, não estou brincando). É claro, para uma mente ocidental acostumada a ler sempre resumos, esse comentário parecerá muito volumoso, mas isso é só uma aparência... vamos tratar de ser otimistas, por favor, hehe. Sinto, Senhor, mas preciso ser um pouco sarcástico aqui e fazer algumas brincadeiras, ou morrerei enquanto contemplo o conciso Svacchandoddyota aqui mesmo na minha frente, agora. Sim, tenho a obra diante de mim agora mesmo, amigo(a). A quantidade de ensinamentos e sabedoria contidos neste livro é simplesmente avassaladora. Nenhum ser humano poderia "compreender" plenamente esse livro, nem mesmo em uma vida inteira, mas com o Seu divino favor tudo é possível, sabe.

Agora, voltemos ao tema do "breve" comentário do sábio sobre VII, 297 (capítulo 7, estrofe 297). Lembre-se de que as estrofes anteriores (desde a 294a) do Svacchandatantra já foram traduzidas acima [ver "Deve-se inspirar pela (narina) esquerda (e) expirar pela (narina) direita... (Por último, por meio do interno), realiza-se --lit. tendo realizado-- (o ato de) prender a respiração sem tremor"]. Assim, a técnica comentada por Kṣemarāja começa a partir desse ato de prender a respiração sem tremor. Verifique a estrofe VII, 297 acima para entender o significado deste comentário:

"Niṣkampakumbhakānantaraṁ hṛdayasañcārāditi śanaiḥ śanairhṛdayādadhaḥsañcārayuktyā prāṇaṁ nābhyāmeva niyamyetyarthāttathā mana indriyagocarāditi tatpratyāhārayuktyā nābhyāmeva mano niyamya manoniyamapūrvakaṁ prāṇaṁ nābhau niyacchataḥ supraśāntaḥ prāṇāyāmo bhavati||297||" - "(Este prāṇāyāma vem) imediatamente depois desse (ato de) prender a respiração sem tremor. (Na estrofe,) 'hṛdayasañcārāt' significa, na verdade, 'Restringindo e retendo muito gradualmente a energia vital no umbigo por meio do mecanismo de transferência --isto é, transferindo a energia vital-- do coração para baixo --isto é, até o umbigo--'. Da mesma forma, 'mana indriyagocarāt' (significa) restringindo e retendo a mente no umbigo por meio do mecanismo de retirá-(la) deles --isto é, dos sentidos e objetos dos sentidos--, (levando-a em direção ao umbigo). Restringindo e retendo a energia vital no umbigo, e ao mesmo tempo restringindo e retendo a mente (ali também), ocorre o prāṇāyāma (chamado de) supraśānta --muito tranquilo ou calmo--||297||"

É o quarto prāṇāyāma porque vem depois dos três internos anteriores: expiração, inspiração e ato de prender a respiração. Agora você entende por que eu traduzi a estrofe acima dessa forma.Return 

7  A palavra "lakṣaṇa" significa "marca, atributo, característica, etc.". Então, "lakṣaṇaiḥ" significaria "pelas marcas, atributos, características, etc.". De qualquer forma, o sábio Kṣemarāja explica o significado de "lakṣaṇaiḥ", em seu comentário sobre essa estrofe do Svacchandatantra, desta forma:

"Lakṣaṇairiti praṇavādhikāroktairanubhavairyujyata iti śeṣaḥ" - "(A palavra) 'lakṣaṇaiḥ' (na estrofe) significa que 'ele está dotado das experiências mencionadas no Praṇavādhikāra --isto é, o sexto capítulo do Svacchandatantra, também denominado Pañcapraṇavādhikāra--'. Isso deve ser adicionado (à estrofe para completar o sentido)"

Assim, o significado é que o Yogī é capaz de perfurar todos os granthi-s (nós), etc., até Unmanā, ao estar dotado das experiências de diversos estados associados com cada etapa. Essas experiências são mencionadas nesse capítulo do Svacchandatantra e atuam como um meio para que ele alcance o Supremo Espírito. Escrevi um estudo sobre "O caminho de Praṇava" em Meditação 6.Return 

Ao início


 Aforismo 6

Desta maneira, o poder sobrenatural —constituído por diversas realidades (manifestadas pelo Ser Supremo)— que (se produz) por meio de purificação do corpo, purificação dos elementos brutos, Prāṇāyāma, Pratyāhāra, Dhāraṇā, Dhyāna e Samādhi, ocorre por causa de um véu (lançado por) Moha --isto é, Māyā--, e não por causa do conhecimento do (Mais Alto) Princípio --o qual não é um mero tattva ou realidade manifestada, mas sim o próprio e verdadeiro Ser--. (O autor dos Śivasūtra-s, ou seja, Śiva,) disse assim—


O poder sobrenatural (ocorre) por causa de um véu (lançado por) Māyā ou Ignorância||6||


Moha é o que engana, (isto é,) Māyā --ignorância--. Por causa de um véu lançado por esse (Moha), ocorre o poder sobrenatural obtido por meio da anteriormente mencionada sucessão de dhāraṇā, etc., o qual --referindo-se ao poder sobrenatural-- aparece na forma de desfrute de diversas realidades|

Contudo, (esse poder sobrenatural) não (denota) a manifestação do Mais Alto Princípio|

Isso é declarado no venerável Lakṣmīkaulārṇava:

"Deus, o divino Senhor que é auto-existente (e) não possui impressões residuais de nascimentos (anteriores) --isto é, Deus não está sob a lei do Karma (causa e efeito)--, ao estar enganado (por Sua própria Māyāśakti), não vê Śiva, o qual não possui pensamentos, é a suprema Morada, é sem começo e sem final (e) está presente diante dos próprios olhos de todos os seres1 "|

Não obstante, para aquele cuja ilusão se dissolveu:

"Recorrendo à energia vital que está no meio --a saber, udāna--, entre as passagens de prāṇa e apāna, e (posteriormente) recorrendo ao Poder do Conhecimento; e tendo-se estabelecido nesse (Poder do Conhecimento, o Yogī) deveria tomar assento (ali)2 .

Porque o Supremo Spanda ou Vibração --Śakti-- que está além do (prāṇāyāma) sutil é obtido depois de abandonar o estado bruto da energia vital, etc. --ou seja, o prāṇāyāma bruto composto de expiração, inspiração e ato de parar a respiração-- e logo então o (prāṇāyāma) sutil, que é interno --isto é, marcado por udāna ascendendo dentro da Suṣumnā--, esse Prāṇāyāma --isto é, o Supremo Spanda ou Vibração-- a partir do qual (o Yogī) não cai novamente é prescrito como (o mais excelente)3 .

Já que essa condição de som como tal, etc. --isto é, os cinco Tanmātra-s ou elementos sutis, tattva-s 27 a 31-- (produzida) pelas modalidades de Prakṛti --tattva 13-- é experimentada pela mente, abandonando-a --isto é, abandonando essa condição--, (o Yogī) entra nessa Suprema Morada ou Estado, apoderando-se mentalmente da Consciência que está desprovida de pensamentos4 . Diz-se que isso é Pratyāhāra --retiro--, que corta o nó corrediço da existência transmigratória --Saṁsāra--.

Tendo transcendido os atributos de pensamento (e) tendo meditado na suprema (Realidade) que a tudo penetra —e na qual são se pode meditar --isto é, que não é um objeto de meditação--— como sendo a própria Luz —o qual é apto para meditação—5 , os sábios conhecem isso --o ato que acabou de ser mencionado-- como Dhyāna ou neditação.

Dhāraṇā ou concentração (ocorre quando) o Ser Supremo é sempre sustentado (na consciência) por ele --pelo Yogī--. Essa concentração é indicada como sendo capaz de remover o nó da existência transmigratória.

Nesse mundo, o pensamento de identidade (na forma de) 'Eu (sou) Śiva', 'Eu (sou) o Único sem segundo', com relação a (todos) os seres que aparecem como o próprio (ser e) os outros, é conhecido como o mais elevado Samādhi ou perfeita concentração"||

(Portanto,) por meio do(s) preceito(s) (acima) definido(s) no muito venerável Mṛtyujit --Netratantra--, também por meio de Dhāraṇā, etc., ocorre certamente uma absorção no Princípio Supremo, e não (simplesmente) um limitado poder sobrenatural||6||

Pular as notas

1  Se você achar que a escritura está falando sobre algum outro Deus além de Você Mesmo, então não entendeu adequadamente. É Você (seu verdadeiro Ser, e não o seu ego chamado John, João, etc.) que existe por si mesmo e não é governado pela lei do Karma. É você que, enganado pelo seu próprio poder máyico (que manifesta dualidade), não percebe Śiva (sua natureza essencial), que está desprovido de qualquer pensamento, que é a suprema Moradia ou Estado, que não possui começo ou fim e que está presente diante dos próprios olhos de todos os seres, ou seja, que é bem óbvio para todos eles. Não importa o quão grande erudito de Trika você possa ser, se você falhar em entender que é essencialmente Deus, nunca entenderá realmente o Trika. Inclusive nesse meio (Āṇavopāya) onde prevalece o ponto de vista de um ser limitado e onde ocorre o apogeu do delicioso jogo devoto-Senhor, escravidão-Libertação, você nunca deve perder de vista a Realidade.Return 

2  Udāna corre através de Suṣumnā (o canal sutil central). Por sua vez, apāna está associado com Iḍā e prāṇa com Piṅgalā. É por isso que a escritura diz que Udāna está no meio, entre as passagens de prāṇa e apāna, pois Suṣumnā corre entre as passagens (nāḍī-s ou canais sutis) conhecidos como Piṅgalā e Iḍā. À medida que Udāna ascende (sobe), o seu estado de energia vital se vai e evolui até converter-se em Poder de Conhecimento (Jñānaśakti) devido ao surgimento de Cit ou Consciência pura (Śiva). Então, finalmente, o Yogī deve sentar-se ali, em Jñānaśakti.Return 

3  O prāṇāyāma bruto é simplesmente expiração, inspiração e o ato de prender a respiração. O prāṇāyāma sutil está relacionado com o surgimento de udāna na Suṣumnā. Quando Udāna evolui e se transforma em Poder de Conhecimento e, finalmente, o Yogī se estabelece no Supremo Spanda ou Vibração, ele alcançou o mais excelente prāṇāyāma. Esse sublime prāṇāyāma, que está inclusive além do sutil, não deve ser entendido como uma mera restrição ou controle (āyāma) da energia vital (prāṇa), mas sim como uma cessação das energias vitais que participam das variedades dos prāṇāyāma-s bruto e sutil, isto é, prāṇa (expiração), apāna (inspiração), samāna (ato de prender a respiração) e udāna. O Supremo Spanda ou Vibração não é nada mais que Śakti (o Poder do Senhor), a Fonte de todas as energias vitais. Assim, não é nenhuma surpresa que o melhor prāṇāyāma seja o estado onde todas as energias vitais ou prāṇa-s terminem novamente Nela.

Não há nenhuma queda do Yogī, uma vez que ele tenha alcançado Śakti, que é inseparável do Seu Senhor Śiva. Dessa forma, o grande Yogī, tendo tomado plenamente consciência da sua unidade com Cit ou pura Consciência (Śiva), nunca regressa ao estado comum de consciência, ou seja, nunca mais regressa à miséria. OK, já chega por enquanto.Return 

4  A expressão "sva-cetasā" não significa, nesse contexto, "com/mediante a sua própria mente", mas sim "avikalpasaṁvitparamārśanena" ou "apoderando-se mentalmente (paramārśanena) da Consciência (saṁvid) que está desprovida de pensamentos (avikalpa)". Em outras palavras, o Yogī deve entrar no Mais Alto Estado com plena consciência de Ser. Esse é o significado.Return 

5  Nesse contexto, "svasaṁvedyam" significa "svaprakāśam" (como sendo a própria Luz), e "dhyeyam" é "dhyānārham" ou "apto para a meditação". Aparentemente, há uma contradição na frase, pois como poderia alguém meditar na suprema Realidade que tudo penetra e na qual não se pode meditar? É por isso que a expressão "dhyeyaṁ svasaṁvedyam" foi adicionada depois. Em suma, não se pode meditar no Mais Alto Ser, pois Ele não é um objeto de meditação, e sim o Supremo Sujeito em tudo. Mas ninguém pode meditar Nele, por assim dizer, como sendo a própria Luz, ou seja, dando-se conta de que é Ele. O termo "dhyātvā" (tendo meditado) deve ser entendido aqui como "vimṛśya" (tendo percebido, tendo tomado consciência de). Nesse sentido, apesar de que não é possíevl meditar no Senhor Supremo como sendo um objeto, é possível tomar consciência da sua inerente unidade com Ele. Agora, o significado é claro.Return 

Ao início


 Aforismo 7

(Śiva) disse isto --lit. aquilo-- (de quando se conquista Moha ou Ilusão)


(O Yogī adquire) domínio do Conhecimento Natural por meio de uma todo-penetrante conquista de Māyā ou Ignorância||7||


Mohajayāt (significa) por meio do ato de subjugar Māyā, cuja natureza --isto é, de Māyā-- é (ser) um nó corrediço que termina em Samanā (e) consiste em ignorância primordial1 |

Por meio de que tipo (de subjugação)? Por meio daquela classe (de conquista) cujo ābhoga (ou) expansão (é) ananta ou ilimitada, (isto é,) que se estende até a cessação das impressões residuais (de ações passadas)2 |

(Então,) há domínio ou conquista, (em outras palavras,) aquisição do Conhecimento Natural cuja natureza é definida (no seguinte fragmento do Svacchandatantra:)

"Ela produz investigação da característica sem começo (do Senhor) --isto é, a Sua absoluta Liberdade ou Svātantrya--, etc.3 "||
(Ver IV, 396 no Svacchandatantra)

(Falou-se de aquisição do Conhecimento Natural) inclusive (no contexto) de Āṇavopāya, pois se diz que ele --isto é, o Āṇavopāya-- termina em Śāktopāya|

Assim, no venerável Svacchandatantra, começando com:

"Oh bela! (Existe) uma interminável rede de nós corrediços que vão até Samanā"||
(Ver IV, 432 no Svacchandatantra)

(e terminando com:)

"Depois de abandonar a identificação de si mesmo com nós corrediços --isto é, ataduras, vínculos--, (ocorre) esse ato de ver a própria natureza essencial. Isso é Ātmavyāpti --lit. inerência no Ser--4 . Śivavyāpti --lit. inerência em Śiva-- (ocorre) de uma naneira diferente disso --isto é, de Ātmavyāpti--. Os artha-s --objetos desejados-- (são) aqueles cuja característica é onisciência, etc.. Quando (o Yogī) contempla, (dentro de si mesmo, nesses artha-s) como permeando (tudo), isso é Śivavyāpti, o qual é a causa ou meio para (a promoção ou desenvolvimento) de Caitanya (em Svātantrya ou Liberdade Absoluta do Senhor Supremo)5 "||
(Ver IV, 434-435 no Svacchandatantra)

(Dessa forma,) segundo o livro --isto é, Svacchandatantra--, diz-se que (há) aquisição de Sahajavidyā --Conhecimento Natural--, cuja natureza é Śivavyāpti --inerência em Śiva-- (, que conduz a) Unmanā --o estado de Śiva, cheio da Sua Liberdade Absoluta--, por meio de uma conquista de Moha ou Māyā, a qual se estende até Ātmavyāpti ou inerência no Ser --em outras palavras, Māyā termina quando Ātmavyāpti aparece--|

Isso é o que foi dito nessa mesma (escritura) --isto é, no Svacchandatantra--:

"Por essa razão, abandonando Ātmatattva --lit. o princípio do Ser, isto é, Ātmavyāpti ou inerência no Ser--, (o Yogī) deveria unir(-se) ao Vidyātattva --lit. o princípio do Conhecimento divino--. Essa (Vidyā ou Conhecimento divino) deve ser conhecida como Unmanā --o estado de Śiva--, certamente. Diz-se (que) Manas --lit. mente, isto é, um estado no qual a mente está funcionando-- (é) uma noção ou desejo. (Tal) noção ou desejo (é) conhecimento (surgindo) gradualmente, enquanto Unmanā --o Supremo Estado desprovido de mente-- (ocorre) simultaneamente (e é) firme --isto é, eterno--. Portanto, já que não há nenhuma outra, Ela (é) certamente a Mais Alta Vidyā --isto é, divino Conhecimento--. Aqui --quando brota a Mais Alta Vidyā--, (o Yogī) verdadeiramente adquire as qualidades superiores de onisciência, etc., simultaneamente. (1) Ela produz investigação da característica sem começo (do Senhor) --isto é, a Sua absoluta Liberdade ou Svātantrya--; (2) desperta e faz perceber/entender o estado do Ser Supremo; (e) (3) exclui o que não é o estado do Ser Supremo; por causa de (tudo) isso, Ela é denominada 'Vidyā'. Estabelecido ali --no estado desprovido de mente (unmanā), isto é, no Ser Supremo--, ele manifesta a Mais Alta Luz --a saber, a Luz do Senhor--, a Suprema Causa"||
(Ver IV, 393-397 no Svacchandatantra)

||7||

Pular as notas

1  Samanā é a Śakti ou Pder do Senhor que se manifesta como um pensamento a partir de śūnya ou estado de vazio até o tattva 36. Para mais informações sobre Samanā, leia as três últimas etapas de Meditação 6.Return 

2  Uma ilimitada expansão, isto é, todo-penetrante (em outras palavras: que permeia tudo). Daí a minha tradução no aforismo: jayāt anantābhogāt - por meio de uma todo-penetrante conquista. Os Saṁskāra-s são as impressões residuais de karma-s ou ações passadas. O conjunto de todas essas impressões residuais é o ego. Então, quando tal conjunto é removido, a própria individualidade acaba, e somente o Senhor permanece, na forma do seu próprio Ser (Você Mesmo!).Return 

3  O sábio Kṣemarāja citou a estrofe completa antes, no aforismo 21 da primeira Seção. De qualquer forma, ele irá citá-la de novo no presente comentário deste aforismo.Return 

4  Esta é a primeira etapa no processo de Libertação Final segundo o Trika. Os vínculos são todas as limitações tais como Kañcuka-s, ego, mente, corpo, etc. Quando se percebe o próprio Ser interior ou natureza essencial como sendo somente Jñāna ou Conhecimento, desprovida de toda Kriyā ou atividade, isso é Ātmavyāpti ou inerência no Ser (a saber, inerente e inseparável presença do Ser no Yogī). Nesse caso, o Ser é percebido como uma Testemunha isolada de todo o resto. Tal como o sábio Kṣemarāja expressa em seu comentário sobre esta estrofe de Svacchandatantra: "... svarūpaṁ pāsottīrṇacinmātratvaṁ yad..." - "... (O termo) svarūpa (na estrofe denota) o que consiste meramente em Consciência que transcende os nós corrediços ou vínculos...".

Por sua vez, o termo "avalokana", embora literalmente signifique "que contempla, que vê, etc.", segundo Kṣemarāja é "ātmatvenābhimanana" - "pensar (em algo como sendo) si próprio". Daí a minha tradução de "avalokana" como "identificação". Essa clarificação ajudará as pessoas a entender por que traduzi dessa maneira, especialmente aquelas pessoas que estudam Sânscrito em profundidade. O Svacchandatantra está repleto de "aparentes" inconsistências, como se de vez em quando o autor não seguisse as estritas regras gramaticais. Portanto, os tradutores precisam ler o comentário erudito de Kṣemarāja (ou seja, o Svacchandoddyota), já que ele pertence à tradição e consequentemente conhece os significados secretos de muitos termos e expressões obscuras que aparecem no venerável Svacchandatantra. A propósito, o Svacchandoddyota é o único comentário sobre o Svacchandatantra. Havia outro de um comentarista diferente, mas se perdeu ao longo dos séculos.

Além disso, e agora me dirigindo aos estudantes de Sânscrito: o Svacchandatantra é um claro exemplo de teoria vs. prática, quero dizer, você pode estudar todas as regras gramaticais, mas, quando encarar certos textos "reais", não conseguir traduzi-los. Por quê? Porque não seguem a teoria gramatical, seja porque houve erros na transcrição, ou porque o autor encriptou significados secretos de maneiras estranhas, ou porque o estilo é muito antigo, ou simplesmente porque os requisitos da métrica demandaram uma mudança na forma de escrever. É por isso que eu não gosto de ensinar o idioma Sânscrito por meio de exemplos como "Esta é uma caixa - Este é o meu gato" e coisas assim, como se o Sânscrito fosse inglês, espanhol, etc. Apesar de ser aparentemente indispensável quando se ensina Sânscrito para novatos, fazer dessa forma em excesso fará com que o estudante pense que os textos reais seguirão padrões lógicos e lindos sempre. Essa é a principal razão pela qual muitos estudantes avançados de Sânscrito são incapazes de traduzir "por si mesmos" um texto real no início, apesar de todo o seu grande conhecimento gramatical.Return 

5  Para estudantes de Sânscrito: o texto "Sārvajñyādiguṇā ye'rthā vyāpakānbhāvayedyadā" parece extranho porque está faltando a palavra "tān" [a esses - Acusativo plural de tad (m.)]. Assim, não existe uma conexão aparente entre "Sārvajñyādiguṇā ye'rthāḥ" e "vyāpakān", já que o primeiro está declinado no Nominative plural, enquanto o último está no Acusativo plural. Agora, para o resto dos mortais (hehe!): Preciso esclarecer bem alguns pontos de modo que vocês entendam por que traduzi a estrofe dessa maneira. Para fazê-lo, traduzirei o comentário inteiro de Kṣemarāja, em seu Svacchandoddyota, sobre as duas linhas "Sārvajñyādiguṇā ye'rthā vyāpakānbhāvayedyadā| Śivavyāptirbhavatyeṣā caitanye heturūpiṇī||":

"Ye vakṣyamāṇāḥ sarvajñatvasarvakartṛtvādiguṇā dharmāḥ paramopādeyatvenārthyamānatvādarthāstānvyāpakāniti aśeṣamantarabhedena kroḍīkurvato yadā svātmani bhāvayettadā tadbhāvanāpariniṣpattirātmanaḥ śivavyāptiḥ sā ca bhāvake caitanye heturūpiṇī prayojikā tatprasādādeva śuddhātmanastadbhāvanāprarūḍheḥ||435||" - "Os artha-s --objetos desejados--, que serão estudados depois, são aqueles cujo guṇa ou característica é onisciência, onipotência, etc., já que são indicados como muito excelentes. Quando (o grande Yogī) contempla, em seu próprio ser --isto é, dentro de si mesmo--, sobre esses (artha-s) como 'penetrando' ou 'permeando' (tudo), (ou seja,) como abraçando tudo por meio da não dualidade interna, então a perfeição em sua contemplação (é) o seu Śivavyāpti (ou inerência em Śiva, o Ser Supremo). Esta (Śivavyāpti) é causa ou meio para a promoção ou desenvolvimento de Caitanya --Consciência-- no (ser) de mente pura que alcançou essa contemplação unicamente por meio do Seu favor".

Agora, uma curta explicação do que disse o sábio: Enquanto, no início, em Ātmavyāpti, o grande Yogī experimentou a sua natureza essencial como mero Jñāna ou Knowledge, completamente desprovido de Kriyā ou Ação, depois disso, contempla-se que os artha-s como onisciência, onipotência, etc., penetram ou abraçam tudo por meio de não dualidade interna. Em suma, os poderes de onisciência, onipotência, etc., são projetados em direção a tudo, e, como resultado do processo inteiro, o Yogī vê unidade em todas as coisas. O Ser não é mais visto como isolado do resto, mas sim, pelo contrário, o Yogī se dá conta de que o seu Ser é o Senhor Supremo (Śiva) e, consequentemente, o universo inteiro.

De qualquer forma, existem frases no processo. O primeiro sintoma de Śivavyāpti é Kramamudrā. Nesse Mudrā (Selo), existe uma sequência ou successão (krama). Como? O Yogī não pode impedir que os seus olhos se abram e fechem sucessivamente. Quando os olhos estão fechados, ele contempla o seu Ser interior, e, quando estão abertos, vê o universo inteiro como penetrado pelo mesmo Ser. Essa sequência continua por algum tempo e é completamente controlada pelo Senhor (ou seja, nenhum ego, de maneira alguma, é capaz de produzir isso). No entanto, o aparecimento de Kramamudrā e o resultante "dar-se conta" de que tudo é o Ser Supremo não é Libertação Final de acordo com o Trika. A Libertação Final se alcança somente quando o Yogī obtém a Liberdade Absoluta (Svātantrya ou Svācchandya) do Senhor. E, nesse sentido Śivavyāpti é "bhāvake caitanye heturūpiṇī prayojikā", isto é, "causa ou meio para a promoção ou desenvolvimento de Caitanya --Consciência--". Desenvolvimento ou transformação em quê? Em Liberdade Absoluta! Para resumir as coisas, Śivavyāpti conduz em direção à Libertação Final. E isso ocorre somente em alguém de mente pura que tenha alcançado esse tipo de contemplação. E, é claro, isso é possível somente por meio do Seu favor, e não por outros meios (por exemplo, mediante esforços pessoais). Há mais mistérios aqui, mas o Senhor está dizendo a mim que isso foi mais que suficiente.Return 

Ao início


 Aforismo 8

Dessa forma, aquele --lit. este-- que atingiu o Conhecimento Natural—


(O Yogī que alcançou Sahajavidyā ou o Conhecimento Natural está) desperto e vigilante, (enquanto) o segundo, (isto é, "o mundo"), (aparece) como (sua) refulgência de luz||8||


Inclusive após obter o Conhecimento Puro, ao obter a concentração nisso --no Conhecimento Puro--, (o Yogī permanece) desperto e vigilante. Com relação ao seu próprio sentido de Eu --a porção Aham ou Eu--, que consiste no perfeito Vimarśa --Śakti--, aquilo que (é) o segundo, (o qual) se considera como o sentido de Eu --a porção Idam ou Isto--, (que) aparece como um objeto --para o Sujeito Supremo--, (em suma,) o mundo1 ... (bem,) isso (é) a sua refulgência de luz (ou) esplendor. Ele --o grande Yogī-- é de tal tipo --isto é, ele é assim--|

(De forma resumida,) o seu universo se manifesta de maneira resplandecente como o seu próprio esplendor. Esse é o significado2 |

Como foi dito no venerável Vijñānabhairava:

"Em qualquer coisa --por exemplo, azul, prazer, etc.-- em que esteja manifesto Caitanya ou Consciência do Onipresente --Parabhairava, o Mais Alto Senhor--, visto que tal coisa --azul, prazer, etc.-- está caracterizada somente por Isso --por Caitanya do Onipresente--, (então,) por meio da dissolução em Cit --Consciência que é onipresente--, (uma pessoa torna-se dotada) da essência da plenitude --em suma, experimenta a plenitude de Parabhairava, o Mais Alto Senhor--3 "||

Também, no venerável Sarvamaṅgalā:

"Diz-se que há somente duas categorias, (a saber,) Śakti --Poder-- e Possuidor de Śakti. O Possuidor de Śakti (é) o Grande Senhor --Śiva--, certamente, (e) Suas śakti-s ou poderes --os múltiplos aspectos assumidos por Śakti-- (são) o mundo inteiro"||

||8||

Pular as notas

1  Para mais informação sobre Aham e Idam (Eu e Isto), leia Trika 3.Return 

2  E, obviamente, toda essa detalhada descrição não é nada mais que o estado de Śivavyāpti, que foi discutido no comentário sobre o aforismo anterior.Return 

3  Uma pessoa comum considera que os objetos que são percebidos pelos seus sentidos estão relacionados somente com os sentidos, cérebro, etc. mas, na visão de um grande Yogī, a realidade não é assim, pois ele se dá conta de que a Consciência do Senhor Onipresente está em qualquer coisa que ele possa estar percebendo. Assim como um espelho que contém os reflexos de múltiplos objetos não é distinto desses reflexos, da mesma forma, o grande Yogī se dá conta de que tudo o que ele percebe por meio dos seus sentidos é somente Deus. O Sujeito (Deus) está presente como todos esses objetos ao nosso redor, como azul, prazer, etc. E, uma vez que essas coisas estão caracterizadas somente pelo Senhor, dissolvendo sua mente nesse Senhor (Consciência), o grande Yogī alcança Bharitātmā ou "Aquele cuja essência é plena" (Parabhairava, o Mais Elevado Ser). Tendo feito isso, torna-se dotado da essência da plenitude. Esse é o significado.Return 

Ao início


 Aforismo 9

E esse (Yogī) dotado de tais qualidades (está) sempre absorto na consciência da sua própria natureza essencial—


(Esse mesmo Yogī é) um Ser (que é meramente) um ator dançante||9||


Ele atua e dança, (isto é,) por meio do exercício de seus movimentos, ele exibe, na sua própria tela --a tela da sua Consciência--, a manifestação de múltiplos papéis durante os diversos estados de vigília, etc. --sono e sono profundo--. (Essa manifestação de múltiplos papéis) tem como raiz --se baseia em-- a sua natureza essencial que está escondida internamente. Dessa forma, (ele é) um Ser (que é meramente) um ator dançante|

Isso (é o que) se declara na oração de louvor realizada pela deusa no sétimo capítulo do venerável Naiśvāsatantra, intitulado "A Deusa (e) o Grande Senhor como ator dançante":

"Você, em um aspecto, (é) o ser interior, o ator dançante, (mas, em outro aspecto, é) o protetor da Sua própria natureza essencial como o Ser Supremo1 "||

Também (disse) Bhaṭṭaśrīnārāyaṇa (em seu Stavacintāmaṇi):

"(Você produziu) o Drama dos três mundos --céu, inferno e terra--, o qual contém a verdadeira semente ou fonte de tudo o que foi manifestado2 . Tendo (Você) apresentado o prólogo (desse Drama), Oh Hara --um epíteto de Śiva--!, que poeta além de Você está apto a conduzi-lo à sua conclusão3 ?"||

(E inclusive) no venerável Īśvarapratyabhijñā, que contém a secreta doutrina de todos os Āgama-s ou escrituras reveladas, (pode-se ler o seguinte):

"Quando o mundo está dormindo, somente o Senhor Supremo, Aquele que põe em movimento o drama dançante (denominado) Saṁsāra --Transmigração cheia de miséria--, está desperto"||

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1  No Seu aspecto como o ser interior (antarātmā), Ele é um ator dançante que, devido à sua conexão com o puryaṣṭaka (corpo sutil feito de intelecto, ego, mente e elementos sutis), está atado pelas tendências ou vāsanā-s de boas e más ações, que o forçam a vagar de uma forma de existência a outra. Isto é, ele passa por intermináveis nascimentos devido a essas tendências. Portanto, está sujeito a Saṁsāra ou Transmigração (ou seja, miséria). É denominado "ser interior" porque está dentro do ser exterior (corpo físico). Por sua vez, a palavra "kośa" não deve ser interpretada como "envoltório" nesse contexto, mas sim como "svasvarūpaparamātmatva" ou "A sua própria natureza essencial como o Ser Supremo". Resumindo tudo, o Grande Senhor é tanto o ser limitado atado pelo seu corpo sutil, etc., quanto o Ser Supremo que mora sempre na Sua própria divindade. Ele protege a Sua própria natureza essencial no sentido de que não permite que nada a toque. Dessa forma, Ele, em Sua recôndita essência, permanece sempre além de toda a manifestação produzida por Sua Māyā ou Ignorância. Então, Ele é sempre tudo. Esse é o significado.Return 

2  O termo "bīja" (semente, fonte) significa, aqui, Māyā e sua progênie (Prakṛti, etc.), mas, em drama, significa "a origem do enredo ou trama". Então, a possível tradução dessa estrofe é dupla: por um lado, Māyā é a semente que origina tudo o que existe, e, por outro lado, Ela é também a origem da trama desse Drama universal. Esse é o significado.Return 

3  Uma vez que o Senhor escreveu o prólogo ou "prastāva" desse Drama universal, quem além Dele é capaz de escreveu o seu "saṁhāra" ou conclusão? Quando uma pessoa se dá conta de que a sua própria natureza essencial e, consequentemente, a verdade de que tudo e todos são Ele, essa é a conclusão do Drama. De qualquer forma, esse estado pode ser alcançado apenas por meio do Seu favor, e "não de outro modo" (por exemplo, mediante esforços pessoais), de acordo com o sistema Trika. Apesar de que os esforços pessoais podem levar uma pessoa a um certo estado de consciência, a conclusão (Libertação Final) é sempre "escrita" (figurativamente falando) unicamente por Ele. Esse é o significado.

Uma sutileza adicional: O termo "kaḥ", além de "o que, quem", também significa "Prajāpati" (Senhor das criaturas), isto é, o criador das criaturas vivas. O tópico sobre Prajāpati é muito longo para essa nota explicativa. Por enquanto, simplesmente entenda que, se esse significado for introduzido na tradução, existe essa mudança: "(Onde) está o Prajāpati além de Você Mesmo...?". Suponho que o resto esteja claro.Return 

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 Aforismo 10

(No seguinte aforismo, Śiva) falou sobre um cenário ou lugar (onde) esse tipo de ator, no drama dançante (chamado) mundo, planta (os) pés (e) faz (o seu) papel—


O palco (para que esse Nartaka ou ator dançante atue --ver aforismo 9--) (é sua) alma interior (o qual consiste dos corpos causal e sutil)||10||


Raṅga ou cenário é onde o Ser se deleita com a intenção de mostrar a execução do drama dançante (conhecido como) o mundo. (Em outras palavras, raṅga é) o lugar (onde o Ser) assume vários papéis. Antarātmā (é) a alma ou ser que é interno em relação ao corpo (físico. Tal alma interior) tem o corpo sutil como forma (e) a sua natureza é uma manifestação contraída cuja parte essencial (é) vazio ou energia vital1 |

Esse (Nartaka), que tem os pés plantados nesse (cenário), manifesta o drama dançante (denominado) mundo por uma sucessão de movimentos dos seus próprios sentidos (internos)2 |

(Foi) dito no venerável Svacchandatantra:

"Entrando em contato com o corpo sutil ou puryaṣṭaka, ele vaga em todas as formas de existência (e é consequentemente) conhecido como o ser ou alma interior...3 "||
(Ver X, 85 no Svacchandatantra)

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1  O que o autor quis dizer é simplesmente que a natureza da alma interior é o corpo causal (vazio e energia vital, as quais são uma manifestação contraída de Śakti), mas a sua forma (como uma roupa) é o corpo sutil ou puryaṣṭaka (intelecto, ego, mente e os cinco elementos sutis denominados Tanmātra-s). É por isso que adicionei na minha tradução do atual aforismo: "que consiste dos corpos causal e sutil".Return 

2  Os movimentos dos seus sentidos internos são as vibrações da Natural Svātantryaśakti do Senhor (o Seu Poder de Liberdade Absoluta).Return 

3  Os três pontos representam a parte restante da estrofe: "nibaddhastu śubhāśubhaiḥ|" - "que está certamente atado por boas e más (vāsanā-s ou tendências)". O que adicionei entre parênteses está plenamente de acordo com o que o sábio Kṣemarāja comenta em seu Svacchandoddyota: "Tatsambandhādvāsanārūpaiḥ śubhāśubhairnibaddhaḥ san yoneryonyantaraṁ prasaran" - "Devido À (sua) conexão com esse (corpo sutil ou puryaṣṭaka), ele continua a estar atado por boas e más vāsanā-s ou tendências (que resultam de boas e más ações, e, como consequência,) move-se de uma forma de existência a outra". Agora, tudo está bem claro, certo?Return 

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 Aforismo 11

Dessa forma, desse (Nartaka) que atua e dança no palco do ser ou alma interior—


Os sentidos (desse Nartaka ou ator dançante são) os espectadores (de sua representação)||11||


Os sentidos do Yogī —a faculdade de ver, etc.— certamente contemplam internamente a sua própria natureza essencial, que está repleta de alegria excessiva ao exibir o drama dançante (denominado) Saṁsāra --Transmigração--. Por meio do desenvolvimento da representação desse (drama dançante), eles fazem com que (o Yogī) entre na plenitude do sabor de Camatkāra1 , na qual --isto é, na plenitude-- desapareceu a diferença ou dualidade|

Como (expressam) os Veda-s:

"(De qualquer forma,) algum homem sábio, ganhando —desejando2 — a imortalidade com os olhos voltados para trás --isto é, introspectivamente--, contemplava o Ser internamente"||
(Em Kaṭhopaniṣad II, 1, 1)

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1  Camatkāra significa literalmente "assombro, surpresa", mas, em um ambiente artístico, significa "deleite da experiência artística", enquanto, em Trika, significa "alegria da suprema consciência do Eu". Então, esse termo é uma daquelas palavras que não é possível traduzir sempre com precisão, pois varia segundo os contextos. Nesse caso, como se está ensinando Trika, você poderia interpretar isso como "alegria da suprema consciência do Eu", mas, ao mesmo tempo, como se está falando de um drama dançante, você também poderia considerar a tradução "deleite da experiência artística" como perfeitamente válida. Incluir ambas as traduções no texto não seria conveniente. É por isso que deixei Camatkāra como tal na tradução. Às vezes, as pessoas reclamam sobre esses "irritantes" (hehe!) termos em sânscrito no meio das frases em inglês, espanhol, português, etc. Eles reclamam porque não entendem que a tradução exata é, às vezes, tão longa e/ou variada que simplesmente não é conveniente incluí-la na oração. Como você sabe, o inglês, o espanhol, o português e o resto das línguas vernáculas são tão limitadas e ambíguas, enquanto o sânscrito é tão ilimitado e exato.Return 

2  Duas possíveis leituras: "अश्नन्" - "aśnan" - "ganhando" ou "इच्छन्" - "icchan" - "desejando". É comum encontrar escrituras com múltiplas leituras em certas porções do texto. Portanto, nenhuma surpresa aqui.Return 

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

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