Sanskrit & Trika Shaivism (English-Home)

O Javascript está desativado! Cheque este link!


 Parāprāveśikā (português - pura)

Uma escritura que versa sobre a Suprema Śakti ou Poder e os 36 tattva-s ou categorias - Tradução pura


 Introdução

Olá, Gabriel Pradīpaka novamente. "Parāprāveśikā" significa literalmente "inerente (prāveśikā) ao (Poder) Supremo (parā)", ou "que penetra/ingressa (prāveśikā) no (Poder) Supremo (parā)". Optei por traduzir o título dessa escritura de maneira mais descritiva: "Uma escritura que ingressa nos mistérios da Suprema Śakti ou Poder". Esse texto foi composto pelo sábio Kṣemarāja, um discípulo do grande Abhinavagupta. Kṣemarāja é o mesmo autor que escreveu o Spandanirṇaya, o Pratyabhijñāhṛdayam, a Śivasūtravimarśinī, e muitas outras escrituras essenciais do Trika (Shaivismo não dual da Caxemira - Ver a respectiva seção desse site se desejar mais informação sobre Trika).

Essa escritura consiste em um aforismo introdutório principal, que é seguido de um curto comentário em prosa. Quis traduzir essa escritura porque, nela, o sábio fala dos tattva-s ou categorias da manifestação universal. Ensino tattva-s na seção Trika desse site... claro... mas quis que você lesse os escritos originais em Sânscrito, de modo que você tenha um encontro de primeira mão com esse tipo de conhecimento. Essa não é a mais importante escritura que fala sobre tattva-s, já que o Ṣaṭtriṁśattattvasandoha (de Amṛtānandanātha) os descreve em total detalhe, especialmente quando é lido em conjunto com o comentário de Rājānakānanda. De qualquer forma, a Parāprāveśikā é uma maneira mais simples de te introduzir ao tema "tattva-s" diretamente a partir da fonte sânscrita.

Apesar de que haverá abundantes notas explicativas, recomendo especialmente que você consulte a Tabela de Tattva-s enquanto lê essa escritura, para, dessa maneira, ter um conhecimento resumido dos tattva-s. Obviamente, a subseção "Panorama" [Trika 1 (português), Trika 2 (inglês), etc.] dentro da seção Trika é uma "leitura obrigatória" para ter conhecimento sobre eles em profundidade.

A Parāprāveśikā versa principalmente sobre Śakti em Seu aspecto Parā ou Supremo. Śakti é o divino Poder de Śiva, segundo o sistema Trika. Ela aparece de maneira resplandescente em três formas: Parā (Suprema), Parāparā (Suprema|não Suprema) e Aparā (não Suprema). A primeira está cheia de unidade, a segunda é uma mistura de unidade e diversidade, e a última produz cessação da unidade. Outra maneira de descrever isso é a seguinte: Abheda (unidade), Bhedābheda (unidade na diversidade) e Bheda (diversidade). Essa é uma das razões pelas quais "Trika" (triplo) é o nome pelo qual se conhece o Shaivismo não dual da Caxemira. As pessoas conhecem o aspecto Aparā de Śakti, não é mesmo?, hehe. Por sua vez, elas experimentam Parāparā Śakti em sono profundo. Porém, o aspecto Parā, embora esteja sempre presente como a raiz de tudo, é praticamente desconhecido para a maioria das pessoas. Um paradoxo!

Bem, Kṣemarāja aniquilará essa ignorância por meio do seu primoroso Parāprāveśikā. Aproveite!

Este é um documento de "tradução pura", ou seja, você não encontrará nenhum Sânscrito original, mas haverá, às vezes, uma quantidade mínima de Sânscrito transliterado nas próprias traduções do texto. É claro, não haverá nenhuma tradução palavra por palavra. De qualquer forma, haverá Sânscrito transliterado nas notas explicativas. Se você for uma pessoa cega utilizando um leitor de tela e não quiser ler as notas, ou simplesmente quiser pular as notas, clique no respectivo link "Pular as notas" para continuar lendo o texto.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim. Note que tenho uma versão unicamente em Sânscrito do Parāprāveśikā, isto é, nenhuma tradução prévia, transliteração, etc. Dessa forma, terei que confiar na Graça de Śiva e no meu próprio conhecimento escasso de Sânscrito e Trika. No entanto, se você for um erudito de Sânscrito especialista no sistema Trika e encontrar algum possível erro ou má interpretação, por favor informe o problema a mim por meio de uma simples mensagem. Obrigado desde já!


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Texto introdutório

(Uma escritura) que ingressa nos (mistérios da) Suprema (Śakti ou Poder)

Louvamos o Coração1  do Supremo Mestre ou Īśitā2 , (também) conhecido3  como a Sphurantī4 , que aparece na forma de Śakti ou Poder em Seus aspectos Parā --Supremo--, etc., (que é tanto) imanente (quanto) transcendente (com relação ao) universo5 ||

Pular as notas


 1 Com "Coração", o sábio Kṣemarāja está referindo-se ao Núcleo de tudo, ou seja, a Suprema Śakti ou divino Poder do Senhor Return1 .

 2 Com "Mestre" (Īśitā), está indicando o "Possuidor ou Proprietário" de tudo, ou seja, o Senhor Return2 .

 3 Refere-se ao Coração, não ao Supremo Mestre Return3 .

 4 "Sphurantī" é um termo técnico para designar a Śakti ou o divino Poder do Senhor Supremo. Como deriva da raiz "sphur" (vibrar, resplandecer), pode ser traduzido como "Aquela que vibra e resplandece". Assim, Sphurantī é o Poder vibrante que resplandece na forma desse universo. Essa é a melhor tradução que consigo conceber neste momento. Deixei o termo sem traduzir na estrofe porque a tradução seria muito longa e, "ainda assim", um tanto imprecisa, na minha humilde opinião. Algumas palavras são muito difíceis de traduzir com exatidão do Sânscrito para o português, pois o primeiro é muito mais complexo, rico e orientado à espiritualidade do que o segundo Return4 .

 5 Śakti é o divino Poder de Śiva (o Senhor). Ela é tanto imanente ao universo (isto é, o universo é feito Dela) como transcendente a ele (ou seja, está além do universo manifestado por Ela Própria). Segundo o Trika ou Shaivismo não dual da Caxemira, Śakti tem três aspectos: Parā, Parāparā e Aparā. Parā é o Seu aspecto Supremo, que manifesta unidade, enquanto Aparā é o seu aspecto inferior, que exibe o oposto, ou seja, cessação da unidade. Por sua vez, Parāparā (Parā-Aparā) é uma mistura de Parā e Aparā, ou seja, unidade na diversidade. Portanto, com a palavra "ādi" ou "etc.", Kṣemarāja refere-se aos aspectos Parāparā e Aparā de Śakti Return5 .

Ao início


 Texto

Aqui, a essência ou Ser (do) Senhor Supremo (é) certamente Prakāśa ou Śiva; e Prakāśa (é) a natureza essencial (de) Vimarśa ou Śakti6 . Denomina-se Vimarśa (Aquilo que, enquanto age) como aquele que manifesta, exibe --isto é, mantém-- e dissolve o universo, resplandece (como) "o Eu natural"7 |

Se (a Consciência Suprema) fosse destituída de Vimarśa ou Śakti, seria, como consequência, impotente, e(, como resultado,) inerte8 |

Além disso, esse mesmo Vimarśa é proclamado nos Āgama-s ou Escrituras Reveladas9  por meio das palavras: (1) Cit ou Consciência, (2) Caitanya ou Consciência em total Liberdade para fazer e conhecer tudo, (3) Parāvāk ou Fala Suprema que é pronunciada a partir do Seu próprio Rasa ou Essência Nectárea, (4) Svātantrya ou Liberdade Absoluta, (5) a Principal Supremacia ou Soberania do Ser --ātmā-- Supremo, (6) Kartṛtva ou o Estado de ser um Fazedor ou Realizador, (7) Sphurattā ou Consciência Resplandecente, (8) Sāra ou Essência, (9) Hṛdaya ou Coração, (10) Spanda ou (Suprema) Vibração, etc.10 . Por essa mesma razão, o Senhor Supremo, cuja verdadeira essência (consiste em) "o Eu natural" --ou seja, Vimarśa--, (e) cuja natureza (é) o Próprio Prakāśa11 , vibra e brilha através da Senhora ou Īśvarī de Parama --o Ser Supremo--, (a qual é) Śakti ou Poder divino aparecendo na forma do mundo, (que é composto de trinta e seis tattva-s ou categorias) que começam com Śiva (e) e terminam12 |

Isso (é) o Kartṛtva --lit. a condição de ser um fazedor ou autor-- desse mundo, realmente, e (tal Kartṛtva) não é um estado inerte13 . Inclusive a manifestação do mundo torna-se perceptível por causa, verdadeiramente14 . Tal mundo não (é) realmente diferente do Grande Senhor, o Fazedor ou Kartā, cuja essência é Prakāśa. Se fosse considerado, (então,) ao ficar desprovido de Prakāśa ou Luz, nada aconteceria --ou seja, nenhum universo apareceria-- devido à ausência de associação com Aquele que dá Luz --ou seja, o Próprio Senhor--15 . E a natureza que consiste em Prakāśa pertencente a esse Afortunado --isto é, o Senhor-- nunca é obstruída ou confinada por esse mundo. Tendo-se estabelecido a partir do Seu, esse mundo torna-se perceptível; (dessa forma,) sendo (tal mundo) o Seu sopro de vida, como poderia obstruí(-lo) ou confiná(-lo)?16 . Por outro lado, (mesmo) tendo-o obstruído ou confinado --isto é, mesmo se o mundo pudesse obstruir e confinar o Senhor--, como permaneceria ou existiria?17  Portanto, apesar de que "pramāṇa" --um meio para adquirir Pramā ou conhecimento correto-- (é) isso que prova o Seu Vastu ou Realidade --isto é, a existência do Senhor--, mesmo assim, o Seu Verdadeiro Ser aparece na forma do Pramātā ou Sujeito --isto é, o Experimentador-- que prova (ou) anula baseando-se em anusandhāna --isto é, uma rigorosa inspeção ou indagação--18 . (Então,) o que pramāṇa Sadbhāva ou Verdadeiro Ser? Assim, (como o Senhor é) o Verdadeiro Ser (ou) Vastu --Realidade-- dos que inferem19 , que pramāṇa (poderia ser aplicado) com relação a tal Svabhāva ou Natureza Essencial? Assim, ao aparecer na forma daquele que indaga, o próprio estado de Prakāśa ou Luz Senhor --Īśvara-- (ou) Pūrvasiddha é provado a partir da própria percepção de todos20 |

Além disso, mesmo o pramāṇa, por descansar Nele --no Pramātā ou Sujeito--, torna-se21 . De que serve pramāṇa, que aparece (todo o tempo) como uma coisa totalmente nova, no que se refere a provar (a existência) Daquele que possui todos os "pramiti-s" --conhecimentos ganhos ou estabelecidos por meio de pramāṇa--, cuja única forma é o Conhecedor, que está sempre presente e, (dessa forma,) ultrapassa aquilo que é cognoscível, energia vital, a cor azul, prazer, etc., os quais dependem dele, (isto é,) desse pramāṇa?22 |

Dessa forma, o Śiva Supremo, por ser a Essência da Perfeita, que consta de uma multidão de sons, é a manifestação universal composta de trinta e seis tattva-s ou categorias23 |

E estes (são) os trinta e seis tattva-s ou categorias:

(1) Śiva, (2) Śakti, (3) Sadāśiva --também chamado "Sādākhya"--, (4) Īśvara, (5) Śuddhavidyā --também chamado "Sadvidyā"--; (6) Māyā, (7) Kalā, (8) Vidyā, (9) Rāga, (10) Kāla, (11) Niyati, (12) Puruṣa, (13) Prakṛti --também chamado "Pradhāna"--, (14) Buddhi --também chamado "Mahat"--, (15) Ahaṅkāra --também chamado "Asmitā"--, (16) Manas, (17) Śrotra --também chamado "Śravaṇa"--, (18) Tvak, (19) Cakṣus, (20) Jihvā --também chamado "Rasanā"--, (21) Ghrāṇa, (22) Vāk, (23) Pāṇi, (24) Pāda, (25) Pāyu, (26) Upastha, (27) Śabda, (28) Sparśa, (29) Rūpa, (30) Rasa, (31) Gandha, (32) Ākāśa, (33) Vāyu, (34) Vahni --também chamado "Agni" ou "Tejas"--, (35) Salila --também chamado "Āpas", "Udaka" ou "Vāri"--, (36) Bhūmi --também chamado "Pṛthivī", "Kṣiti" ou "Dharaṇī"--24 |

E agora, as características desses (tattva-s ou categorias):

Dentre eles, o tattva ou categoria denominado Śiva (é) verdadeiramente Paramaśiva --o Śiva Supremo--, cuja forma é a natureza essencial do único (e) Perfeito Ānanda ou Bem-aventurança, que consiste em Vontade, Conhecimento25 |

A primeira Vibração desse Senhor --Īśvara-- Supremo, que deseja manifestar o mundo, (é) certamente Icchā ou Vontade, (isto é,) a categoria chamada Śakti, porque (tal categoria) é um Desejo ininterrupto e não obstruído26 . A categoria Sadāśiva (é) a forma que permanece (quando) esse mundo, que é sempre como se fosse um broto, é escondido ou coberto pela consciência do Eu, (isto é,) pelo próprio Ser27 . A categoria Īśvara (é) o que permanece (quando) esse mundo que brotou é girado pela Consciência do Eu --Śakti--28 . Quando há unidade, (essa é a categoria) Śuddhavidyā29 . Māyā --o sexto tattva ou categoria-- dissemina diferença ou dualidade com relação às próprias naturezas essenciais dos bhāva-s --os tattva-s ou categorias desde Kalā (o sétimo tattva) até Bhūmi (o último)--, quando o Senhor Supremo, tomando posse da (Sua própria) natureza essencial por meio da Mais Elevada Senhora ou Māyāśakti o estado de experimentador contraído, então, Ele é chamado Puruṣa --tattva ou categoria 12--32 . Esse mesmo (Puruṣa), acorrentado pelas ações (e) iludido por Māyā, (torna-se) uma alma transmigratória33 . Ainda que (Puruṣa) não seja distinto do Supremo Senhor --Īśvara--, o seu engano ou enfatuação não é do Senhor --Īśvara-- Supremo34 , (mas sim ocorre), como no caso de um ato de magia, devido à confusão produzida segundo a própria vontade do mago --isso foi uma mera analogia para explicar algo que é indescritível, é claro--. (É) o Próprio Paramaśiva --o Śiva Supremo-- liberto (que) certamente tem Aiśvarya --Supremacia ou Soberania-- tornada conhecida por Vidyā --isto é, Śuddhavidyā ou Conhecimento Puro35 --, (já que Ele é) uma compacta massa de Consciência|

As Suas śakti-s ou poderes, (a saber,) Onipotência, Onisciência, Perfeição ou Plenitude, Eternidade e Onipresença, ainda que, ao aceitar, assumem as formas de Kalā, Vidyā, Rāga, Kāla (e) Niyati, (respectivamente, ou seja, os cinco Kañcuka-s ou Invólucros)36 |

Dentre esses (cinco Kañcuka-s), o chamado Kalā (é) a causa da limitada capacidade de ação desse Puruṣa --tattva ou categoria 12--. Vidyā do (seu) limitado conhecimento. Rāga (é) intenso apego a objetos. Kāla (é), sem sombra de dúvidas, uma sucessão de estados ou bhāva-s que aparecem e desaparecem, (bem como aquilo que os) distingue ou divide em passado, etc. --isto é, em passado, presente e futuro--37 . Niyati (é) a causa (tais como) "Devo fazer isto, não devo fazer isto". Diz-se que esse grupo de cinco (tattva-s ou categorias) (denomina-se) "Kañcuka ou Invólucro", porque cobre (e, dessa forma, oculta) a Sua Natureza Essencial --isto é, a Natureza Essencial do Senhor--. Prakṛti --o décimo terceiro tattva ou categoria-- (é) a causa primeira ou original dos tattva-s que começam (e) terminam com Pṛthivī --Bhūmi ou terra, a última categoria--. E essa (Prakṛti) (é) um estado de equilíbrio entre Sattva, Rajas (e) Tamas. (Portanto,) a natureza (de Prakṛti) é não dividida38 . Buddhi ou intelecto --tattva 14, o primeiro tattva após Prakṛti-- (é) aquilo que determina (e) apoia ou sustenta os reflexos (produzidos pela Luz do Ser Supremo), (que resplandecem) como vikalpa-s ou pensamentos39 . Essa (categoria), conhecida pelo nome de Ahaṅkāra ou ego --tattva 15--, denota ou expressa concepções (tais como) "Isto (é) meu, isto não (é) meu". Manas ou mente --tattva 16-- denota ou expressa noções e ideias40 . Essa tríade (constitui) o órgão ou instrumento (psíquico) interno41 |

Os cinco Jñānendriya-s ou Poderes de Percepção (são:) Śrotra --poder auditivo--, Tvak --poder tátil--, Cakṣus --poder visual--, Jihvā --poder gustativo-- (e) Ghrāṇa --poder olfativo--. Denotam percepção de objetos que consistem em som, toque, forma, sabor (e) odor, respectivamente|

Os cinco Karmendriya-s ou Poderes de Ação, que foram enumerados em detalhe, (são:) Vāk --poder da fala--, Pāṇi --poder do manejo (manipulação)--, Pāda --poder locomotivo--, Pāyu --poder da excreção-- (e) Upastha --poder da atividade sexual e da tranquilidade--. Denotam atividade caracterizada pelos atos de falar, pegar, mover-se de um lugar para outro, evacuar (e experimentar) felicidade, (respectivamente)42 |

Os cinco Tanmātra-s ou Elementos Sutis (são:) formas genéricas (denominadas) Śabda --Som como tal--, Sparśa --Toque como tal--, Rūpa --Cor como tal--, Rasa --Sabor como tal-- (e) Gandha --Odor como tal--43 |

(E, finalmente, os cinco Mahābhūta-s ou Elements Brutos:) Ākāśa ou Espaço --também chamado Éter-- dá lugar, (por assim dizer), Vāyu ou Ar dá vida ou anima, Agni ou Fogo queima e cozinha, Salila ou Água sacia e, (while) Bhūmi ou Terra é o suporte44 .

Segundo o preceito (estabelecido pela) sagrada tradição, (na estrofe 24 da Parātriṁśikā)45 , este mundo está dentro da Semente do Coração, (a qual --isto é, a Semente--) é a Mais Elevada Deidade Tutelar --a Śakti Suprema--:

"Assim como uma grande árvore jaz potencialmente na semente da figueira-de-bengala, da mesma forma, este mundo, (tanto) animado (como) inanimado, jaz na Semente do Coração."||

Como? Da mesma forma que em jarros de água, pratos, etc., que são modificações ou transformações --vikāra-- da argila, somente a argila (é) a verdadeira essência ou natureza; ou da mesma forma que em (diferentes) tipos de fluidos, (tais como) água, etc., somente a constante essência ou natureza em consideração existe (na forma) da propriedade genérica da água, etc. --em outras palavras, a liquidez--46 ; da mesma forma, somente "Sat" --ou Ser--, que está sendo investigado (nesse momento), constitui a verdadeira natureza dos tattva-s ou categorias que começam com Pṛthivī ou Terra --tattva 36-- (e) terminam com Māyā --tattva 6--. Mesmo após remover dessa palavra --de "Sat"-- a porção que torna claro o significado da raiz verbal em análise, só sobra a letra "Sa" meramente como prakṛti --não o décimo terceiro tattva, cuidado!-- ou natureza primária47 . Os trinta e um tattva-s ou categorias estão dentro dessa (letra "Sa")48 . Depois disso, os tattva-s ou categorias Śuddhavidyā --tattva 5--, Īśvara --tattva 4-- (e) Sadāśiva --tattva 3--, cujas essências são Jñāna --Poder de Conhecimento-- (e) Kriyā --Poder de Ação--49 , por causa das diferenças e peculiaridades entre (essas) Śakti-s ou Poderes, residem dentro da Anuttara-śakti50 , que chega à (etapa da) letra "Au"51 |

Depois disso, (aparece) Visarjanīya --ou Visarga-- na forma da Manifestação, que está (tanto) em cima (quanto) embaixo52 . O Próprio Paramaśiva, que consiste no Grande Mantra --Aham ou Eu (sou)-- (e) é (tanto) imanente (quanto) transcendente com relação ao universo, é a inata natureza de tal do Coração, já que Ele é o lugar de repouso (e) surgimento (de tudo, ou seja, tudo repousa e surge a partir Dele)|

Ele é, certamente, um Jīvanmukta, (ou alguém que) continua existindo como um homem comum, (e está) iniciado no mais verdadeiro sentido da palavra, aquele que, realmente, conhece e penetra tal Semente do Coração. Quando (o seu) corpo cai, ele se torna o venerável Paramaśiva --o Śiva Supremo--||53 

Nota do tradutor - Por falta de uma conclusão formal da escritura, criarei uma agora, da mesma maneira como o sábio Kṣemarāja geralmente escreve ao final dos seus documentos:

Dessa forma, a Parāprāveśikā --a escritura que ingressa nos mistérios da Suprema Śakti ou Poder--, composta por Kṣemarāja, que depende do venerável Abhinavagupta --o mestre de Kṣemarāja--, o grande adorador de Maheśvara --Śiva, o Grande Senhor--, está, (agora,) concluída||


 6 Prakāśa significa literalmente "luz, brilho, esplendor, clareza", enquanto Vimarśa é "exame". Prakāśa e Vimarśa são os termos técnicos para nomear Śiva e Śakti, respectivamente. Leia Trika 2 (português) se desejar informação em profundidade Return6 .

 7 Vimarśa ou Śakti (o divino Poder de Śiva), enquanto executa os processos de manifestação, manutenção e dissolução do universo, permanece como a natural consciência do Eu. A palavra "akṛtrima" significa "natural", ou seja, não é "kṛtrima" ou artificial. Dessa forma, enquanto o universo é manifestado, mantido e dissolvido constantemente, Vimarśa ou Śakti é Aquilo que permanece como o espontâneo "Eu sou" nos bastidores. É imanente ao universo, pois Śakti certamente participa dos atos de manifestação, manutenção e dissolução universais; mas, ao mesmo tempo, está além de todos eles, ou, em outras palavras, Ela é transcendente, tal como foi indicado previamente pelo próprio Kṣemarāja. Esse é o significado Return7 .

 8 Se a Consciência Suprema, também denominada Paramaśiva ou Saṁvid, não tivesse Vimarśa ou Śakti, careceria de "Īśvara" ou Poder, e, portanto, seria inerte. Mero Prakāśa (Luz) ou Śiva não é capaz de produzir a manifestação, manutenção e dissolução do universo. O termo "Īśvara" é geralmente interpretado como "Senhor", mas também significa "capaz de fazer, capacitado, etc.". Por isso, a Suprema Consciência sem Vimarśa não poderia ser o "Senhor", já que não teria nenhum Poder.

Assim, de acordo com o Trika, Vimarśa ou Poder é necessário para fazer com que algo apareça. Olhe ao seu redor agora mesmo: se você fosse uma mera Testemunha (Prakāśa) sem Vimarśa ou Poder, você não seria nem sequer uma Testemunha, pois não haveria nada para testemunhar, entendeu? Sempre lembre-se de que Prakāśa (Śiva) e Vimarśa (Śakti) são Você Mesmo. Se você não compreender essa verdade, e começar a pensar que Prakāśa e Vimarśa são realidades além de você e coisas assim, nunca vai compreender plenamente o Trika, não importa o quão profundo possa ser o seu conhecimento intelectual. E esteja certo de que não há dúvidas quanto a isso. Prakāśa é o mero "sentido de Eu", e Vimarśa torna o "sentido de Eu" consciente da Sua existência. Dessa forma, Prakāśa e Vimarśa são "Eu sou". Esse "Eu sou" é a sua verdadeira essência subjacente a tudo o que é manifestado, mantido e dissolvido. Esse é o sentido Return8 .

 9 Āgama-s ou Escrituras Reveladas são aquelas cujo autor não é um ser humano. Vieram a partir do Próprio Senhor. Por exemplo: Śivasūtra-s Return9 .

 10 Seriam necessários vários volumes para descrever em todos os detalhes os significados dos muitos epítetos de Vimarśa ou Śakti. De qualquer forma, agora tratarei de descrevê-los de maneira concisa, já que a tradução precisa ser a mais breve possível:
(1) Vimarśa (Śakti) é Cit porque é a Consciência pura que torna Prakāśa (Śiva) consciente da Sua própria existência. Posteriormente, torna-o consciente do universo produzido por Ela Mesma;
(2) Vimarśa (Śakti) é Caitanya porque desfruta de completa Liberdade para fazer e conhecer tudo, ou seja, Vimarśa ou Śakti é onipotente e onisciente;
(3) Vimarśa (Śakti) é Svarasoditāparāvāk porque é a Fala Suprema que é pronunciada a partir do Seu próprio Rasa ou Essência, isto é, a Sua Fala não tem obstruções e brota a partir do núcleo do Absoluto;
(4) Vimarśa (Śakti) é Svātantrya porque é dotada de Liberdade Absoluta. Ninguém pode controlá-La, e, assim, Ela é livre para fazer tudo o que desejar;
(5) Vimarśa (Śakti) é a Principal Supremacia ou Soberania do Ser Supremo porque não existe nenhum outro Poder que a controle. Ela é o Poder Principal que rege todo o universo que é manifestado, mantido e dissolvido por Ela Mesma;
(6) Vimarśa (Śakti) é Kartṛtva porque é a verdadeira Fazedora ou Autora de tudo. Embora os indivíduos pareçam ser fazedores ou autores independentes, eles não o são, pois dependem sempre Dela. Sem a Sua Vontade apoiando-os, nenhum desses supostos autores poderia fazer nada;
(7) Vimarśa (Śakti) é Sphurattā porque é a Consciência Resplandecente que emerge espontaneamente por Sua própria conta. Nenhum indivíduo pode forçar Vimarśa a revelar a Sua recôndita natureza. Ela só resplandece de maneira natural sempre que decidir fazê-lo;
(8) Vimarśa (Śakti) é Sāra ou Essência porque é a Realidade subjacente do universo;
(9) Vimarśa (Śakti) é Hṛdaya ou Coração porque é o Núcleo de tudo;
(10) e Vimarśa (Śakti) é Spanda ou Vibração Suprema porque é a eterna Pulsação do Divino Ser por meio da qual a manifestação inteira é repetidamente exibida, mantida por um breve momento e, então, retirada Return10 .

 11 Em outras palavras, o Senhor Supremo, também denominado Paramaśiva, é "Prakāśavimarśamaya", consta tanto de Prakāśa quanto de Vimarśa. Isso é confirmado pelo que Kṣemarāja está a ponto de estabelecer no texto Return11 .

 12 O trigésimo sexto tattva ou categoria se chama "terra", e há várias palavras para "terra" em Sânscrito: Dharaṇī, Pṛthivī, Kṣiti, Bhūmi, etc. Note que, na Tabela de Tattva-s, e, na verdade, em todos os documentos que escrevi sobre tattva-s, escolhi chamar "terra" de Pṛthivī, mas os outros nomes citados também são válidos Return12 .

 13 Como eu disse na minha décima nota explicativa, Śakti ou Vimarśa é denominada "Kartṛtva" porque é a verdadeira Fazedora ou Autora de tudo. E não é inerte de maneira alguma, mas sim é cheia de vibração e luz. Sempre lembre-se de que Prakāśa e Vimarśa (Śiva e Śakti) são uma mesma e única coisa. Só se pode separá-las para que possam ser melhor estudadas. No entanto, Eles realmente nunca estão separados um do outro. É por isso que Śiva nunca carece de Śakti, e vice-versa. Ambos são cara e coroa, por assim dizer, da Moeda chamada Paramaśiva, a Realidade Absoluta Return13 .

 14 Vimarśa ou Śakti torna Śiva (Você!) consciente de Si Mesmo e do universo. Por exemplo, se não houvesse Śakti aqui, você não conseguiria ler o que estou escrevendo, muito menos entendê-lo. Śakti é Aquilo que dá o suporte ou "ālambana" para que você perceba a manifestação deste mundo. A palavra "adhīna" significa literalmente "situado em, dependente de, etc.", mas preferi traduzi-la como "por causa de", por conveniência e facilidade de leitura. O significado final é que a percepção deste mundo depende de Śakti. Sem a Sua ajuda, nenhum universo seria percebido. Esse é o sentido Return14 .

 15 Se o universo fosse considerado como diferente do Grande Senhor, que está dotado de Prakāśa ou Luz, então esse universo nunca teria se tornado perceptível, devido à falta de associação com Aquele que dá Luz, isto é, o Próprio Senhor. Como poderia tal universo aparecer se não fosse iluminado por Prakāśa? Esse é o significado Return15 .

 16 Dado que este mundo obteve suporte e fundamento para tornar-se perceptível e manifesto a partir do Seu ato de dar-lhe Luz --em outras palavras, dado que a Luz do Senhor é o suporte e fundamento deste mundo--, como poderia tal mundo ficar no Seu caminho? Este mundo é o Seu Prāṇa ou sopro de vida, e, por isso, não pode obstruir ou restringir de modo algum o Senhor Supremo. Essa é a conclusão a que Kṣemarāja chega Return16 .

 17 Mesmo se o mundo pudesse obstruir ou restringir o Senhor Supremo, tal mundo, por depender totalmente Dele, estaria obstruindo e restringindo a si mesmo, e, assim, não seria capaz de continuar existindo Return17 .

 18 Pramāṇa ou o meio para adquirir conhecimento correto consiste em provar (ou seja, estebelecer como verdade) ou anular (isto é, invalidar). Quando aplicado aos prameya-s ou objetos, Pramāṇa é válido. Entretanto, quando se usa Pramāṇa para provar ou anular a existência do Senhor, não é válido. Por quê? Porque o Verdadeiro Ser ou Existência do Ser Supremo, ou seja, o Seu "sadbhāva", aparece na forma desse Pramātā ou Experimentador tentando provar ou anular por meio de anusandhāna ou rigorosa inspeção. A palavra "anusandhāna" também significa, em Trika ou Shaivism não dual da Caxemira: "repetida e intensa consciência do Ser ou Realidade; bem como unir a experiência subsequente com a prévia". Então, Pramāṇa é inútil para provar ou anular o Seu "sadbhāva", como Kṣemarāja está a ponto de expressar Return18 .

 19 Pramāṇa ou o meio para adquirir conhecimento correto é de três tipos: (1) Pratyakṣa ou percepção direta, isto é, experiência direta; (2) Anumāna ou inferência/dedução; e (3) Āgama ou testemunho, tal como escrituras, aquilo que é dito por um genuíno Guru, etc. Nesse caso, Kṣemarāja está referindo-se ao segundo aspecto de pramāṇa, isto é, Anumāna ou inferência. Se você quiser saber mais sobre pramāṇa, leia o sétimo aforismo (primeira Seção) dos célebres Pātañjalayogasūtra-s. Por sua vez, há mais informação relevante sobre pramāṇa no comentário de Vyāsa sobre os Pātañjalayogasūtra-s Return19 .

 20 O Grande Senhor também é conhecido como "Pūrva-siddha" (lit. previamente provado), pois Ele é a primeira Realidade que se prova. Se Ele não fosse provado em primeiro lugar, ninguém poderia provar mais nada. Mas o Seu estado de Prakāśa ou Luz não pode ser provado por meros pramāṇa-s ou meios de adquirir conhecimento correto, pois o Senhor não é um prameya ou objeto, mas sim o Supremo Sujeito ou Experimentador. Em suma, Ele Mesmo é quem indaga sobre a Sua própria natureza essencial ou Prakāśa (Luz), mas, sendo Prakāśa um Sujeito (o Próprio Senhor) e não um objeto, todos os pramāṇa-s são inúteis para provar tal natureza essencial. Dessa forma, o sábio Kṣemarāja especifica que Prakāśa ou a natureza essencial do Senhor é provada a partir da própria percepção de todos, e não por meio de pramāṇa-s. Em outras palavras, a existência de "todos" já é uma prova sólida de que Prakāśa existe como a Consciência fundamental. Sem a presença de Prakāśa ou Luz, ninguém poderia aparecer, muito menos provar a existência de algo. É por isso que o sábio chama o Senhor de Pūrvasiddha. É simples assim! Oh meu Deus, hehe Return20 .

 21 Pramāṇa torna-se um meio para adquirir conhecimento correto pois repousa (ou seja, é baseado) no Sujeito ou Experimentador (Pramātā). Sem Pramātā ou aquele que indaga, pramāṇa não poderia existir Return21 .

 22 Um miserável pramāṇa ou meio para adquirir conhecimento correto não pode ser usado para provar a existência de Pramātā ou Sujeito, porque pramāṇa é sempre uma coisa completamente nova (pensamentos) que surge na mente daquele que indaga, ou seja, na mente de Pramātā. Então, como poderia algo que é totalmente novo a cada momento provar a existência Daquele que o produz? Portanto, pramāṇa é efêmero, enquanto Pramātā ou Sujeito é o sempre presente Conhecedor que contém todos os pramiti-s ou conhecimentos ganhos através de pramāṇa. Pramātā (o Sujeito ou Experimentador) ultrapassa (ou transcende) os objetos cognoscíveis, tais como corpo, energia vital, a cor azul, prazer, etc. e, dessa forma, a Sua existência não pode ser provada por meio de pramāṇa. Com "os quais dependem dele, (isto é,) desse pramāṇa", o autor indica que o alcance de pramāṇa é exatamente este: objetos cognoscíveis, mas nunca o Conhecedor ou Pramātā. Como resultado, utilizar pramāṇa-s para provar a realidade de Pramātā ou Sujeito (a saber, o Senhor Supremo... Você!) é tempo perdido, segundo Kṣemarāja Return22 .

 23 Kṣemarāja, o autor, parece ser viciado em longos e complexos compostos, tais como: "por ser a Essência da lembrança da Perfeita consciência do Eu, que consta de uma multidão sons". Obviamente, os tradutores enlouquecem como resultado, hehe. O que o sábio quer dizer é o seguinte: "Já que o Senhor é a Essência da lembrança da Perfeita consciência do Eu, também denominada Vimarśa ou Śakti" - A palavra "parāmarśa" ou "lembrança" também significa "captar mentalmente, experiência". Assim, é unicamente o Senhor (Você!) que experimenta a Perfeita consciência do Eu ou Śakti, e, dessa forma, Ele é a Essência da Sua (isto é, de Śakti) lembrança. Por sua vez: "Tal Perfeita consciência do Eu consiste em numerosos sons" - A palavra "rāśi" significa uma "multidão". O significado interno da frase é que Pūrṇāhantā (a Perfeita consciência do Eu ou Śakti) se forma a partir de todas as letras desde o "a" até o "ha", o que constitui todo o alfabeto sânscrito, e, consequentemente, Ela (isto é, Śakti) vibra como esse alfabeto. Dessa forma, esse Senhor, também denominado Paramaśiva (o Supremo Śiva), cuja natureza é Śiva (Prakāśa ou Luz) e Śakti (Vimarśa ou Perfeita consciência do Eu) é o Único que pode se tornar toda a manifestação universal. E "prapañca" ou a manifestação universal é composto de trinta e seis tattva-s ou categorias, que serão enumeradas por Kṣemarāja em breve. Esse é o significado Return23 .

 24 "Bhūmayaḥ" é o plural de "Bhūmi". O plural é utilizado no último termo dessa lista de tattva-s para indicar que outros tattva-s ou categorias foram enumerados anteriormente. E "iti" representa meramente "aspas" ou algo assim. Kṣemarāja descreverá as suas características de maneira concisa em breve, mas, como eu disse a você antes, revise a Tabela de Tattva-s e a subseção "Panorama" dentro da seção Trika se você quiser mais conhecimento aprofundado sobre os tattva-s Return24 .

 25 Bem, a descrição de Kṣemarāja acabou de começar. Em primeiro lugar, lembre-se de que Paramaśiva (o Supremo Śiva) é "Prakāśavimarśamaya", isto é, consta de Prakāśa (Śiva) e Vimarśa (Śakti). De qualquer forma, todos esses termos são simplesmente palavras para estudar uma Realidade que está além das palavras. Śiva é Śakti, e Śakti é Śiva. Śiva é Paramaśiva, e Paramaśiva é Śiva, e por aí vai. Não se deixe confundir por termos, já que todos eles são palavras muito úteis com relação a uma boa descrição dos tattva-s, mas a Realidade é uma massa compacta de Consciência e nunca é possível descrevê-la adequadamente. Além disso, todos os tattva-s desde Śakti (tattva 2) até Bhūmi (tattva 36) são "simplesmente" Śakti assumindo diferentes estados. E Śakti é Śiva, e Śiva é Paramaśiva, e Paramaśiva é todo o conjunto de tattva-s ou categorias que são manifestadas, mantidas e finalmente dissolvidas.

Em suma, o universo inteiro é o Corpo de Paramaśiva, o Grande Senhor (Você!). Lembre-se do que Kṣemarāja disse previamente: "Pūrṇāhantā" ou a Perfeita consciência do Eu (Śakti) consta de uma multidão de sons. Se você perder de vista a unidade de todos os tattva-s, ou seja, se você perder de vista Paramaśiva como sendo um todo, o seu estudo desse assunto será meramente intelectual. Um estéril estudo intelectual como esse não conduz a uma verdadeira experiência da sua natureza essencial e, portanto, é praticamente "inútil". Então, estude os tattva-s, mas nunca se esqueça de que todos eles são o Seu próprio Corpo, Paramaśiva Return25 .

 26 Śakti é o primeiro Spanda ou Vibração do Senhor Supremo quando Ele deseja manifestar o universo. Ela é um Desejo (Icchātva) criativo contínuo e não obstruído. De qualquer forma, essa primeira Vibração ainda não é um som, mas sim a fonte de todos os sons que serão manifestados depois. Ver Trika 2 (português) para mais informação Return26 .

 27 Em Sadāśiva-tattva (a categoria chamada Sadāśiva), o universo é sempre como um broto. A sua forma aparece de maneira indistinta porque está sendo ocultada ou coberta pela porção Aham (Eu) do Ser Supremo. Existem dois lados ou porções: Aham (Eu) e Idam (Isto - o universo ou mundo). A categoria Sadāśiva aparece quando a porção "Eu" é predominante. Obviamente, com "consciência do Eu", o autor refere-se a Śakti, que é Śiva vibrando e manifestando o mundo. Todos os tattva-s são produzidos somente por Ela. Ver Trika 3 (português) para mais informação Return27 .

 28 Em Sadāśiva-tattva, a porção "Aham" ("Eu") prevalece. Dessa forma, "Idam" ou "Isto" (o mundo ou universo) é indistinto. Mas agora, em Īśvara-tattva, o mundo é girado, ou seja, torna-se nítido e, portanto, predominante, enquanto a porção "Aham" permanece eclipsada, por assim dizer. Leia Trika 3 (português) se você quiser entender isso em profundidade Return28 .

 29 Outra possível tradução de "pratipattiḥ" é "percepção". Dessa forma, uma tradução alternativa seria: "Śuddhavidyā é a percepção de unidade entre...". A porção "Aham" (também chamada Ahantā ou consciência do Eu) está, agora, em equilíbrio com a porção "Idam" (também chamada Idantā ou estado de ser Isto, ou seja, o mundo ou universo). Em outras palavras, nem "Aham", nem "Idam", predomina. Essa categoria na qual tanto Aham quanto Idam prevalecem igualmente denomina-se Śuddhavidyā ou Sadvidyā, o quinto tattva. Leia Trika 3 (português) para obter mais informação pertinente Return29 .

 30 Se você consultar um dicionário de sânscrito, provavelmente encontrará os seguintes significados para "bhāva": tornar-se, ser, existir, estado, condição, classe, natureza, temperamento, comportamento, sentimento, afeição, e um longo etc. Nesse contexto, Kṣemarāja está usando esse termo para indicar os trinta tattva-s embaixo de Māyā, isto é, (7) Kalā, (8) Vidyā, (9) Rāga... (34) Vahni, (35) Salila e (36) Bhūmi. Por sua vez, a palavra "prathā" significa literalmente "aquele que espalha, difunde, etc.", ou seja, Māyā força um ser limitado a considerar esses trinta tattva-s como algo distinto do Ser Supremo. É por isso que o autor especifica que Ela dissemina diferença com relação às naturezas essenciais desses tattva-s. Em outras palavras, Ela inocula dualidade e provoca que tais tattva-s ou categorias pareçam algo diferente do Senhor (Você!). Essa é a primeira parte da Ilusão Cósmica, hehe Return30 .

 31 Cuidado aqui! Não confunda "Māyāśakti" com "Māyātattva" (ou simplesmente, "Māyā"). Por um lado, o segundo é o sexto tattva ou categoria, que, segundo o ensinamento anterior de Kṣemarāja, dissemina diferença ou dualidade que afeta todos os tattva-s embaixo de Māyā, isto é, desde o tattva 7 até o tattva 36. Por outro lado, o primeiro é uma "śakti" ou poder, e não um tattva ou categoria. Māyāśakti (lit. poder máyico) é o poder por meio do qual o Senhor é capaz de mostrar diferença ou dualidade mesmo onde não existe nenhuma. Em suma, Māyāśakti exibe diversidade na unidade, ou seja, faz com que o Infinito torne-se finito. Assim, Māyāśakti é o poder que dá nascimento ao Māyātattva, ou simplesmente "Māyā" Return31 .

 32 Esqueça a ideia de uma "malvada" Māyā transformando o Senhor em um ser limitado. Não, isso não é certo de acordo com o sistema Trika. Tal como é dito por Kṣemarāja, é o Grande Senhor (Você!) que, tomando posse da Sua própria natureza essencial através da Sua própria Māyāśakti, transforma-se em um experimentador contraído (em outras palavras, um ser limitado). Por meio de Māyāśakti, Ele se torna um indivíduo condicionado e, dessa maneira, está pronto para experimentar uma série de limitações adicionais. De qualquer forma, o Senhor é sempre o Senhor e nunca se torna nada mais. Em outras palavras, embora se torne um experimentador limitado, continua sendo o Senhor Supremo. Kṣemarāja mencionará esse mistério em breve Return32 .

 33 Além dos 36 tattva-s, existem três mala-s ou impurezas: Āṇava, Māyīya e Kārma. O primeiro faz com que tal Puruṣa sinta "Eu não sou perfeito", o segundo mala força-o a experimentar "Sou diferente e estou separado de todo o resto", e o último inocula nele a sensação de "Sou um fazedor limitado". Portanto, esse mesmo experimentador limitado ou Puruṣa, enganado por Māyā e todos os mala-s, torna-se um saṁsārī ou alma transmigratória. Saṁsāra significa transmigração de corpo em corpo, ou seja, nascer para depois morrer, e morrer para depois renascer, etc. Entretanto, Saṁsāra é também a contínua transmigração mental na qual novos pensamentos emergem constantemente. Embora a mente não esteja ainda manifesta no nível Puruṣa (12o tattva), as sementes para o seu futuro surgimento já estão semeadas. Por sua vez, essa alma transmigratória está apegada à errônea noção de que as ações afetam o Ser Supremo (a sua natureza essencial). Quando alguém pensa que as suas boas ou más ações amarram o Seu próprio Ser ou Essência, isso é denominado "karmabandhana" ou "acorrentado pelas ações" Return33 .

 34 Embora Kṣemarāja tenha expressado por meio de palavras que, ainda que o ser limitado ou Puruṣa não seja diferente de Parameśvara ou o Senhor Supremo, o seu moha ou māyā (engano, ilusão, enfatuação, perplexidade, em suma: ignorância) não pertence ao Senhor Supremo, esse tópico está além das palavras. Agora, Kṣemarāja está a ponto de descrever o processo por meio de um exemplo, mas lembre-se de que as palavras sempre fracassarão em descrever aquilo que é indescritível. Como essas categorias ou tattva-s (Māyā, Puruṣa, etc.) são manifestadas antes da própria mente (tattva-s 14 a 16), uma pessoa não pode compreendê-las por meio da sua própria mente, entendeu? De qualquer forma, o sábio tentará descrever o processo até certo ponto de modo que você possa ter um vislumbre dele Return34 .

 35 Śuddhavidyā "não é", nesse contexto, "Śuddhavidyā-tattva" (o quinto), mas sim a Śakti ou Poder que revela a Sua própria Natureza Essencial. Leia a minha explicação sobre isso em Meditação 3 (seção Trika) Return35 .

 36 Essas cinco śakti-s Dele são também denominadas Kriyāśakti (Poder de Ação), Jñānaśakti (Poder de Conhecimento), Icchāśakti (Poder de Vontade), Ānandaśakti (Poder de Bem-aventurança) e Cicchakti (Poder de Consciência), respectivamente. Por sua vez, os cinco tattva-s ou categorias: (7) Kalā, (8) Vidyā, (9) Rāga, (10) Kāla e (11) Niyati, são os cinco Kañcuka-s ou Invólucros de ignorância. Leia Trika 3 (português) e Trika 4 (português) para mais informação Return36 .

 37 Kāla não é Tempo, formalmente falando, mas sim a noção que é a sua raiz. Kāla é uma série de estados ou bhāva-s que aparecem e desaparecem, mas é também o tattva que divide tais estados em passado, presente e futuro. Por examplo, as cognições: "Conheci", "Conheço" e "Conhecerei" são produzidas por Kāla. Essas cognições são realmente uma sucessão de estados que aparecem e desaparecem em uma ordem adequada. Kāla manifesta tal sucessão de cognições, e, adicionalmente, divide-as em passado (Conheci), presente (Conheço) e futuro (Conhecerei), ou seja, põe a sucessão em ordem. Vá a Trika 4 (português) se desejar um conhecimento mais profundo sobre Kāla, e também sobre os outros Kañcuka-s Return37 .

 38 Sattva, Rajas e Tamas são os três Guṇa-s ou qualidades. Em Trika, o seu estado de equilíbrio, ou seja, quando nenhum Guṇa predomina, denomina-se "Prakṛti" ou tattva 13. Entretanto, em outros sistemas, os três Guṇa-s são constituintes de Prakṛti. Porém, em Trika, não é assim de modo algum. Como eu disse, Prakṛti é simplesmente o estado onde os três Guṇa-s estão em equilíbrio. É por isso que o autor estabelece que a natureza de Prakṛti é "avibhakta" ou não dividida. Ainda que, em Prakṛti, nenhum Guṇa prevaleça sobre os outros, de qualquer forma, a partir de Mahat ou Buddhi (tattva ou categoria 14) até Pṛthivī (tattva 36), um desses Guṇa-s será sempre predominante. Sim, o assunto é um pouco complicado. Leia Trika 5 (português) para obter mais conhecimento sobre Guṇa-s e Prakṛti Return38 .

 39 Como Buddhi ou intelecto é predominantemente sáttvica, funciona como um espelho capturando os reflexos produzidos pela Luz do Senhor Supremo. Esses reflexos aparecem como vikalpa-s ou pensamentos na mente. Quanto mais transparente for o espelho (ou seja, a Buddhi), mais nítidos são os reflexos. Por essa razão, praticamente todos os sistemas filosóficos buscam criar uma Buddhi "clara como cristal" nos seguidores, de modo que possam se dar conta da Luz do seu próprio Ser. Por examplo, conforme você estuda esta escritura, a sua Buddhi se torna mais e mais sutil. Dessa forma, quando você terminar de lê-la, o seu intelecto será mais do que capaz de compreender alguns aspectos que eram previamente desconhecidos. Eh, você pode inclusive alcançar a Libertação final, hehe. A razão para isso é que Buddhi se torna um melhor espelho para refletir a Luz do Senhor. Obviamente, é difícil mantê-la "limpa", pois Māyā e os seus Kañcuka-s estão aqui também... é por isso que todos os buscadores espirituais devem se esforçar tanto para atingir completa Emancipação. Se as coisas fossem o contrário, ou seja, muito fáceis, o mundo inteiro estaria cheio de almas liberadas... mas não é esse o caso, não é mesmo?, hehe. É realmente difícil encontrar um verdadeiro Guru, mas é ainda mais difícil encontrar um discípulo genuíno, ou seja, alguém cujo intelecto tenha-se tornado transparente como um cristal devido às suas muitas virtudes.

Você também pode tornar Buddhi tão transparente como for possível mediante Śuddhavikalpa-s ou Pensamentos Puros (Leia Meditação 3). Além disso, Buddhi é também a faculdade determinante, pois, por meio do seu intelecto, você determina um curso de ação a ser seguido. Se você quiser saber mais sobre Buddhi, vá a Trika 5 (português) Return39 .

 40 Note que essa palavra, isto é, "saṅkalpa", pode significar também, na terminologia do Trika: "resolução, determinação" ou "a sintética atividade do pensamento". Suponho que Kṣemarāja tenha interpretado o termo no seu significado comum, como "ideias, noções, etc.", já que Manas é geralmente descrito como um pacote de ideias e noções Return40 .

 41 Antaḥkaraṇa é o conhecido órgão ou instrumento (psíquico) interno formado por Buddhi, Ahaṅkāra e Manas Return41 .

 42 Não é suficiente a informação sobre Jñānendriya-s e Karmendriya-s? Então, explore Trika 6 (português) Return42 .

 43 Com "formas genéricas", o autor quer dizer "padrões". Bem, vá ler Trika 6 (português) novamente ou essa nota explicativa será imensa, hehe Return43 .

 44 Para uma descrição mais detalhada dos Mahābhūta-s, leia Trika 6 (português) Return44 .

 45 Nesse contexto em particular, "āmnāya" é a sagrada tradição composta da ininterrupta sucessão de mestres e discípulos desde o Próprio Śiva até os mais recentes mestres e discípulos ensinando e aprendendo esse tipo de conhecimento espiritual. Dessa forma, nesse exato momento, você e eu pertencemos à sagrada tradição, já que estamos aprendendo e ensinando esse tipo especial de sabedoria sagrada. Obviamente, também aprendo assim como você, pois um mestre nunca deixa de ser um discípulo também. Bem, é uma longa história, hehe.

A Parātriṁśikhā é um célebre Āgama ou escritura revelada (nenhum ser humano é o seu autor) que foi comentada pelo guru de Kṣemarāja, ou seja, o grande sábio Abhinavagupta. A estrofe 24 de tal escritura está a ponto de ser mencionada. É por isso que adicionei essa informação à tradução... continue lendo Return45 .

 46 O significado é claro: Em diferentes tipos de líquidos ou fluidos, tais como água, etc., somente a "liquidez" (sua propriedade genérica) permanece como a sua verdadeira natureza Return46 .

 47 Muito bem... oh meu Deus! Vou contar um segredo: Quando traduzo escrituras, em geral, leio junto com você, isto é, não leio toda a escritura antes. E esse foi o caso com essa Parāprāveśikā. Agora, vejo que Kṣemarāja está apresentando o complexo tema de Prāsāda "logo no final da sua escritura". Prāsāda é o célebre mantra do Coração, ou seja, Sauḥ. Com "Coração", não me refiro ao órgão físico, mas sim à Śakti, o Poder Supremo. Esse tópico é totalmente explicado pelo mestre de Kṣemarāja, Abhinavagupta, na sua Parātrīśikālaghuvṛtti (uma curta mas extremamente abstrusa escritura). Encontrar Prāsāda logo no final da minha tradução é uma grande surpresa. É como encontrar o Oceano Pacífico após ter cruzado um pequeno lago, e isso não é brincadeira. Por quê? Porque terei que explicar o assunto a você, pelo menos até certo ponto, ou você não entenderá nada desses parágrafos finais! OK, terei que aceitar isso ... não tenho saída! De qualquer forma, este será um mero esboço, já que poderiam ser escritos muitos volumes sobre Prāsāda. E, se após ler a minha "breve" explicação você pensar que eu sou louco... tem razão, hehe.

Em primeiro lugar, tenho que esclarecer o que Kṣemarāja disse:

"Mesmo após remover dessa palavra --de Sat-- a porção do afixo que torna claro o significado da raiz verbal em análise, só sobra a letra 'Sa' meramente como prakṛti --não o décimo terceiro tattva, cuidado!-- ou a natureza primária".

O sábio considera "Sat" (Ser) como um particípio presente derivado de adicionar o afixo Kṛt "at" à raiz "as" (ser, existir). Dessa forma, "Sat" (Ser) não é considerado como um mero substantivo, e sim como um particípio presente, no sentido de "alguém ou algo que é ou existe", entendeu? Embora eu ensine a você afixos Kṛt na subseção "Afixos" dentro da seção "Sânscrito", explicarei isso a você novamente com relação à raiz "as". Agora, a "regra geral" para adicionar afixos Kṛt a raízes para formar particípios presente:

"O afixo Kṛt 'at' deve ser agregado à forma que uma raiz 'Parasmaipadī' (cuidado aqui!) assume antes da terminação da 3a Pessoa plural do Tempo Presente. Se essa forma terminar em 'a', essa vogal será obrigatoriamente omitida".

Bem, agora, precisamos conjugar a raiz "as" (ser, existir) de modo que você possa ver "a forma que essa raiz assume antes da terminação da 3a Pessoa plural do Tempo Presente". E é conjugada somente em Parasmaipada, não Ātmanepada. Você sabe o que são Parasmaipada e Ātmanepada? Se não, leia "Conjuntos de terminações" na minha introdução a Verbos. A raiz "as" (ser, existir) pode ser conjugada tanto em Parasmaipada quanto em Ātmanepada, mas, já que só preciso da conjugação Parasmaipadī para adicionar o afixo Kṛt "at" para formar o particípio presente, conjugarei a raiz somente em Parasmaipada, entendeu? Além disso, "as" é uma raiz que pertence ao Gaṇa (Casa) 2 e, como resultado, a sua base é "mutável". Por sua vez, as terminações são adicionadas diretamente à raiz, ou seja, não há necessidade de formar uma base adicional, e sim a própria raiz atuará como base verbal. Entretanto, como é "mutável", ao serem adicionadas as respectivas terminações, "as" não permanecerá sempre igual. Obviamente, também não preciso adicionar nenhum "a" para formar a base, como ocorre no caso dos Gaṇa-s 1, 4, 6 e 10. Não entende?... Leia novamente a minha introdução a Verbos. Destacarei as temrinações em vermelho como uma ajuda extra a você:

As (ser, existir) - Tempo Presente
Pess. Parasmaipada
Singular Dual Plural
1a P. अस्मि स्वः स्मः
asmi svaḥ smaḥ
eu sou, existo nós dois/duas somos, existimos nós somos, existimos
2a P. असि स्थः स्थ
asi sthaḥ stha
você é, existe vocês dois/duas são, existem vocês são, existem
3a P. अस्ति स्तः सन्ति
asti staḥ santi
ele(a) é, existe eles(as) dois/duas são, existem eles(as) são, existem

Agora, preste atenção na 3a Pessoa plural: "santi". Segundo a regra geral para adicionar afixos Kṛt:

"O afixo Kṛt 'at' deve ser agregado à forma que uma raiz 'Parasmaipadī' (cuidado aqui!) assume antes da terminação da 3a Pessoa plural do Tempo Presente. Se essa forma terminar em 'a', essa vogal será obrigatoriamente omitida".

Como a terminação nesse caso é "anti", a forma que a raiz Parasmaipadī (em Parasmaipada) "as" (ser, existir) assume para a 3a Pessoa plural do Tempo Presente é "s". Muito bem! Agora, simplesmente "adicione" o afixo Kṛt "at" a esse "s": s + at = sat. Muito bem! A palavra final é, portanto, "Sat" (em maiúsculas, ou seja, polida por mim). Sat significa "alguém ou algo que é ou existe", isto é, Ser. Mas o que Kṣemarāja está dizendo na sua Parāprāveśikā?: o processo oposto. Escute:

"Mesmo após remover dessa palavra --de Sat-- a porção do afixo que torna claro o significado da raiz verbal em análise, só sobra a letra 'Sa' meramente como prakṛti --não o décimo terceiro tattva, cuidado!-- ou a natureza primária".

Em outras palavras, quando você remove "at" de "Sat", só sobra o "s". O sábio não disse letra "s", mas sim letra "sa", porque, em Sânscrito, as letras do alfabeto são silábicas, como você certamente sabe. Essa porção do afixo, ou seja, "at", torna claro o significado da raiz verbal em análise, isto é, "as" (ser, existir), nesse caso. "S" ou letra "Sa" é meramente prakṛti ou natureza primária. Com "prakṛti", o autor não está referindo-se ao tattva ou categoria 13, mas sim à natureza essencial subjacente aos trinta e um tattva-s desde Māyā (tattva 6) até Pṛthivī (tattva 36). "S" ou letra "Sa" é uma das formas sonoras de Sadāśiva, como é explicado em Tattva-s e Sânscrito [recomendo fortemente que você leia Primeiros Passos (4), Primeiros Passos (5) e Primeiros Passos - 1 para obter um conhecimento profundo sobre esse complexo tema].

O "S" em "Sat" (Ser) é a primeira letra do sagrado mantra "Sauḥ" (também conhecido como Prāsāda ou mantra do Coração). Mais adiante, explicarei mais a você sobre esse mantra, mão se preocupe. Agora, Kṣemarāja afirmará que a letra "Sa" (ou simplesmente "S") contém, como eu disse acima, os trinta e um tattva-s desde Māyā até Pṛthivī. Continue lendo, por favor Return47 .

 48 Tal como estabeleci previamente, todas as categorias ou tattva-s desde Māyā até Pṛthivī estão dentro do "S". Como? Preste atenção, pois darei um exemplo "similar" (mas muito mais detalhado) ao que é dado por Abhinavagupta na sua Parātrīśikālaghuvṛtti (uma importante escritura). Você pode ter a seguinte experiência, dado que seja um yogī ou yoginī avançado(a). Teoricamente, como todos são o Ser Supremo, todos poderiam experimentar isso, mas as coisas não parecem funcionar assim na prática. Isto é, pode ser que a experiência esteja ali, mas não haja um dar-se conta dela. Então, para que serve? Bem, se você conseguir fazer isso sem que seja um(a) grande yogī ou yoginī, meus parabéns, querida "Consciência Suprema", hehe. Mas, conseguindo ter essa experiência ou não, você pode ao menos ter conhecimento do processo. Escute com atenção:

  1. Coloque um objeto diante de você, digamos, um vaso de argila.
  2. Concentre-se nele. O que você vê a princípio é... um simples vaso de argila, é claro. Sou um gênio, hehe.
  3. Conforme você continua concentrando-se no vaso de argila, perceberá que é apenas uma modificação da argila. Nesse momento, você estará consciente de Pṛthivī (tattva 36) ou terra.
  4. Então, se a sua concentração continuar, não perceberá mais a argila, e sim um odor padrão, isto é, o odor como tal. Você não pode dizer a que se assemelha esse odor, pois ele não possui nenhuma qualidade. Então, diz-se que você percebeu Gandha (um dos cinco Tanmātra-s ou elements sutis) --tattva 31--.
  5. No momento em que deixa de perceber esse odor padrão, isso significa que os sentidos estão sendo reabsorvidos em Manas (tattva 16), a partir do qual surgiram. Ali, você percebeu a verdadeira natureza dos Jñānendriya-s (tattva-s 17 a 21).
  6. Posteriormente, você "chega mais perto" (não digo "vai mais longe", porque, na realidade, você está aproximando-se do seu próprio Ser, e não se afastando Dele, entendeu?) e experimenta o "sentido de Eu". Esse "sentido de Eu" é "ego" ou tattva 15. É experimentado como um sujeito, aparentemente, mas, na verdade, é um objeto.
  7. Você percebe que o ego ou Ahaṅkāra é um objeto quando penetra no "sentido puro de Eu". Não estou falando do Próprio Śiva, é claro, porque essa é a esfera dos últimos 31 tattva-s. Não, com "sentido puro de Eu" refiro-me a Buddhi ou intelecto (tattva 14).
  8. Quando você transcende Buddhi (isto é, quando aproxima-se mais do Ser), só restam os três Guṇa-s ou qualidades de Prakṛti (Sattva, Rajas e Tamas).
  9. Então, sobrevém a experiência de conhecedor limitado (Puruṣa --tattva 12--) e cognoscível (Prakṛti --tattva 13--) em seu estado puro.
  10. Após essa experiência, tudo é reabsorvido em Māyā, o Ventre a partir do qual surgiu. Māyā é experimentada como a profunda escuridão do sono profundo.
  11. A grande maioria dos yogī-s e yoginī-s chega a esse ponto e não vai além, ou seja, descansam como meros Pralayākala-s ou experimentadores impotentes (akala-s) de Pralaya ou Dissolução universal (Māyā), isto é, permanecem em sono profundo. Mas os grandes yogī-s e yoginī-s "se aproximam mais" e se dão conta de "Sat" ou "Ser" como uma Realidade subjacente que reside dentro dos trinta e um tattva-s desde Māyā até Pṛthivī.
  12. Ainda nessa etapa, as duas últimas letras de "Sat" ("a" e "t") são descartadas, e esses supremos yogī-s ou yoginī-s repousam em "S" (a letra "Sa"). E só essa letra é o suporte de "Tudo" (a manifestação inteira desde Māyā até Pṛthivī), porque Tudo emergiu a partir de "S". Dessa forma, quando esses seres sublimes alcançam o estado de "S", diz-se que atingiram um repouso em "S" ou Sadāśiva. E o seu repouso é o repouso do Todo, já que eles se tornaram o Todo, por assim dizer, pois eles "sempre" foram o Todo, só não se davam conta disso. Bem, o que mais poderia ser dito sobre tais yogī-s e yoginī-s?

Assim, esse "S" é a primeira letra de "Sauḥ", o mantra do Coração. Continue lendo, pois Kṣemarāja está a ponto de explicar a porção "au" desse mantra Return48 .

 49 Poderia parecer que o autor se esqueceu de incluir Icchā ou Vontade, ou seja, "icchājñānakriyāsārāṇi" em vez de "jñānakriyāsārāṇi", já que Icchā é predominante em Sadāśiva (tattva 3), Jñāna em Īśvara (tattva 4) e Kriyā em Śuddhavidyā (tattva 5). De qualquer forma, não há nenhum erro, porque "Jñāna" e "Kriyā" também contêm Icchā. Na verdade, Icchā contém Jñāna e Kriyā; Jñāna contém Icchā e Kriyā; e Kriyā contém Icchā e Jñāna. As três śakti-s ou poderes de Icchā (Vontade), Jñāna (Conhecimento) e Kriyā (Ação) aparecem como "Eu desejo", "Eu conheço" e "Eu faço". Na Realidade Absoluta, não pode haver conhecimento e ação sem um Desejo por trás, ou seja, Vontade. Esse é o significado Return49 .

 50 "Anuttaraśakti" pode denotar várias coisas: significa literalmente "o Poder de Anuttara", sendo "Anuttara" Aquilo além do qual não há nada, ou seja, a Mais Alta Realidade. Dessa forma, um primeiro significado de "Anuttaraśakti" seria "o Poder da Mais Alta Realidade". A Mais Alta Realidade também se chama "Paramaśiva" em Trika, como você certamente sabe. Um segundo significado possível de "Anuttaraśakti" é "o Poder da vogal a". A vogal "a" também se denomina "Anuttara", pois é a encarnação sonora do Ser Supremo Return50 .

 51 "Au" é a conhecida letra "Triśūla" ou Tridente, pois contém os três Poderes ou Śakti-s de Icchā, Jñāna e Kriyā [para mais informação, leia Primeiros Passos (4)]. "Au" é, portanto, o Poder de conhecer, na tríade: Conhecedor, ato de conhecimento (ou Poder de conhecer) e cognoscível. "S" é o cognoscível ou mero Sat. Quando uma pessoa se dá conta da natureza primária de todos os tattva-s a partir de Māyā (o sexto) até Pṛthivī (o trigésimo sexto), alcança um repouso em "S" ou Sat. Entretanto, quando se está consciente "agora" do Conhecedor e "então" do cognoscível, e vice-versa, repetidamente, então se diz que alcançou um repouso em "Au" ou o Poder de conhecer.

Olhe os objetos diante de você nesse exato momento: Por um lado, tudo o que os seus sentidos podem perceber e também eles próprios (ou seja, os sentidos), Karmendriya-s ou Poderes de ação, o seu órgão psíquico interno (mente, ego, intelecto), alma individual, Prakṛti, Māyā e Kañcuka-s (limitações)... bem, todo esse conjunto de múltiplas realidades é, em última análise, só uma coisa: "Sat" ou mero "Ser". E "S" é a essência final desse "Sat". Se você puder "compreender" ou "perceber" esse "S", alcançará repouso em Sat. Por outro lado, o Poder que permite a uma pessoa ser consciente tanto de Sat (seja manifestado como o mundo inteiro, seja aparecendo como um mero Ser ou natureza primária) quanto do Próprio Conhecedor, isto é, "Eu", bem, esse Poder é "Au". Quando uma pessoa percebe esse "vaivém" ou "flutuação" realizada por Au, então se diz que alcançou um repouso no Poder ("Au"), que é Vontade, Conhecimento e Ação. Por sua vez, esses três são meramente uma forma assumida pela Anuttaraśakti ou o Poder Supremo, tal como já foi estabelecido por Kṣemarāja.

Assim, a explicação do mantra do Coração (Sauḥ), composto de "S", "au" e "ḥ", está quase completa. Só falta esclarecer a parte do Visarga ou "ḥ". Continue lendo, por favor Return51 .

 52 Os gramáticos sânscritos chamam Visarga (isto é, a vogal ḥ) de "Visarjanīya". Esses assustadores gramáticos também falam de duas outras categorias de uma espécie de "meio" Visarga chamado Upadhmānīya e Jihvāmūlīya... mas você não quer saber nada sobre tais horrores ainda, não é?, hehe. Bem, o horror atual de ter que explicar a você o significado de Visarjanīya é mais do que suficiente, eu acho. Escute com atenção, e, se não entender nada... não se preocupe, pois isso é completamente normal. A razão é simples: a maioria dos yogī-s e yoginī-s não consegue compreender alguns temas complexos porque carecem de experiência e poder suficientes. Se a vasta maioria de yogī-s e yoginī-s não consegue captar algumas sutilezas, menos ainda as pessoas comuns, que passam quase todas as suas vidas satisfazendo os seus sentidos. É por isso que, embora todos sejam Isso (o Ser Supremo), nem todos entenderão o que digo nestas páginas.

Bem, de qualquer maneira, vamos começar: Visarga ou Emissão é Você, o Conhecedor. "S" é o cognoscível, ou seja, a natureza primária de todos os objetos cognoscíveis. "Au" é o Poder que consiste nos três Śakti-s de Vontade, Conhecimento e Ação. Por meio de "Au", Você é capaz de se pôr em contato com o "cognoscível". É por isso que "Au" é denominado o Poder. Por sua vez, o Conhecedor (Você!) é Visarga ou Emissão, pois Ele se emite em "Sat" ou Ser (a essência dos trinta e um tattva-s a partir de Māyā até Pṛthivī) por meio de "Au" (o Seu próprio Poder). Por que Ele se emite? Porque não pode haver um "Conhecedor" se não há nenhum "cognoscível" disponível. E, como não há mais ninguém para fazer o trabalho, Ele (Você!) tem que se lançar em Sat, isto é, tornar-se Sat ou Ser, por meio de Au, para que possa haver um mundo para conhecer.

Quando Você (o Senhor) emite a Si Mesmo em Sat ou Ser com a ajuda da sua Anuttaraśakti, que aparece como a tríade de Vontade, Conhecimento e Ação, transforma-se imediatamente em um Conhecedor e, assim, alcança repouso em Visarga ou Visarjanīya (ḥ). Quando Kṣemarāja indica que Visarjanīya (Você!) tem a forma da Manifestação, que está tanto em cima quanto embaixo, ele quer dizer que Visarjanīya é tanto Śiva, o Supremo Ser que testemunha, quanto Śakti (Seu divino Poder), que aparece como todo o mundo testemunhado. Por essa razão, Visarga ou Visarjanīya é escrito em Sânscrito como dois pontos, um em cima do outro: : . Portanto, quando você se dá conta de que aquilo que chama de "o mundo" não é nada mais do que o Seu ato de emitir/lançar a Si Mesmo em Sat ou Ser, alcançou um repouso em Visarjanīya ou o Conhecedor. A Sua emissão em Sat por meio do Poder (Au) não ocorre no tempo e espaço, pois tempo e espaço estão em Sat (e não em Você ou no Poder). Além disso, Sat, o Poder (Au) e Visarga são a mesma Realidade. São designados de distintas maneiras para tentar explicar algo que é essencialmente indescritível. Todas as descrições são, em última análise, insuficientes, pois estes (Sat, Au e Visarga) são "estados", e não meros "objetos brutos" (como mesa, casa, floresta, etc.) que podem ser facilmente descritos por meio de um punhado de palavras.

Posteriormente, você tem que unificar a experiência dos três repousos: (1) Um primeiro repouso em "S" (derivado de Sat ou Ser) ou a natureza primária do mundo manifestado a partir de Māyā até Pṛthivī; (2) um segundo repouso em "Au" ou Poder; e (3) um repouso final em Visarjanīya ou Você Mesmo, o Conhecedor. Quando você consegue transformar esses três repousos em uma experiência unificada, isso significa que percebeu o verdadeiro significado de "Sauḥ" (o mantra do Coração) e, automaticamente, torna-se um Jīvanmukta ou Liberado em vida. Parabéns por alcançar essa loucura total, hehe. Ah, só estou brincando!

Kṣemarāja está prestes a falar dessa loucu... eeh... desse estado de Jīvanmukta, oh meu Deus! Diga a alguém que tudo ao seu redor é o resultado de um lançamento de Si Mesmo em Sat ou Ser, e depois me escreva do manicômio, hehe. É por isso que deve-se manter os lábios selados diante das pessoas que não conseguem compreender essas coisas, entendeu? Todos são o Ser, mas existe um Drama divino e todos têm um papel a desempenhar. Bem, você poderia dizer: "Olhe esse cara, está dizendo para mantermos os lábios selados enquanto ele está revelando todos os mistérios a todo mundo". Hmmm, não estou dizendo todo mundo, porque "nem todo mundo" chegará a estas páginas. De fato, mesmo se chegassem, não entenderiam corretamente. Só os espiritualmente maduros entenderão a essência deste ensinamento. Além disso, estou bem escondido na minha toca, e, assim, ninguém poderia vir e levar-me ao manicômio por enquanto. Dessa forma, é como se os meus lábios estivessem selados... oh, eu sou tão esperto, hehehe. Bem, chega de brincadeiras por enquanto. Continue a ler, por favor Return52 .

 53 Um Jīvanmukta ou Liberado em vida parece ser uma pessoa comum. Entretanto, ele atingiu esse estado sublime porque realmente conhece (isto é, entende) e penetra (isto é, entra nos mistérios) na Semente do Coração. Em outras palavras, tem pleno conhecimento do Coração ou Núcleo da Mais Alta Realidade. Só uma pessoa assim está verdadeiramente iniciada, já que a iniciação está relacionada essencialmente a uma modificação do próprio estado de consciência, e não a meros rituais. Embora às vezes possa haver algum ritual, os rituais não são indispensáveis, pois o processo inteiro internamente, por assim dizer. Se existe o ritual mas não o processo interno, o primeiro é totalmente inútil.

Posteriormente, quando esse Jīvanmukta deixa o seu corpo mortal, permanece como Paramaśivabhaṭṭāraka ou o venerável Śiva Supremo. E não há nenhuma dúvida sobre isso Return53 .

Ao início


 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

Para maior informação sobre Sânscrito, Yoga e Filosofia Indiana; ou se você quiser fazer um comentário, perguntar algo ou corrigir algum erro, sinta-se à vontade para enviar um e-mail: Este é nosso endereço de e-mail.