Origem das línguas indo-europeias: Parte III
Grupo indo-ariano, evolução, dialetos e tipos de escrita
Introdução: Grupos
Olá, sou Andrés Muni. Antes de iniciar esta página, peço desculpas aos indianos se alguma língua estiver escrita incorretamente. Tentarei fazer o melhor possível. Ainda que o sânscrito esteja correto, pode ser que o nome de algum Prākṛta não esteja tão bem escrito. Se você detectar algum erro, por favor clique aqui e ajude-me a melhorar esta página.
Na Ásia, a família indo-europeia é representada principalmente por dois grupos: o indiano e o iraniano, ambos conhecidos muito antes da era cristã. Devido às suas estreitas relações linguísticas, são frequentemente reunidos sob o nome de "indo-iraniano" ou "ariano".
A palavra "Arya", da qual o nome "Irã" é uma forma recente, era a que os antepassados comuns dos indianos e iranianos usavam para designar a si mesmos.
Bem, agora vamos começar os nossos estudos desses grupos.
Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.
Grupo Indo-Ariano
O mais antigo documento do grupo indo-ariano da Índia são os textos védicos. Esses textos estão escritos em sânscrito e é impossível atribuir uma data a eles (tanto os seus conteúdos quanto o estilo mostram que são extremamente antigos). Antes de serem escritos, teriam sido transmitidos por meio da tradição oral. É por isso que o sânscrito védico não é uma língua pura, embora esteja rigorosamente estabelecido como língua religiosa.
O principal antecedente do sânscrito védico é o dialeto do noroeste da Índia (Punjab). Ali, misturou-se com elementos provenientes de idiomas falados na parte oriental da região.
O mais antigo dos textos védicos é o Ṛgveda (Veda do louvor) --uma coleção litúrgica de hinos--. O Atharvaveda (Veda de Atharvā) --uma coleção de fórmulas de feitiçaria, preces, invocações de magia e encantamentos-- possui formas mais recentes.
Os textos em prosa são muito mais recentes (Brāhmaṇa-s --comentários sobre o Veda-- e Upaniṣad-s --tratados filosóficos--), bem como as grandes epopeias em verso (Mahābhārata e Rāmāyaṇa). Todas essas obras estão escritas em sânscrito clássico.
O uso do sânscrito como língua literária indicaria que perdeu a sua posição como língua religiosa especial. Essa transformação aconteceu muito depois.
Evolução
Por exemplo, com relação ao sânscrito clássico, há uma antiga inscrição que foi encontrada em Girnar e data de 150 a.C. O seu autor foi um estrangeiro de nome Rudradāma, rei dos Śaka-s. Desde o século IV a.C., o sânscrito tornou-se a única língua da epigrafia oficial.
Estabelecido como idioma pelo trabalho de vários gramáticos (obviamente, o mais famoso é Pāṇini --século IV a.C.--), o sânscrito clássico mantém, até o dia de hoje, a sua condição de língua literária e científica.
A mais imensa literatura (lírica, narrativa, dramática, filosófica, técnica, etc.) está escrita em sânscrito. Ainda hoje, o sânscrito é ocasionalmente utilizado pelos paṇḍita-s (brāhmaṇa-s bem versados na ciência religiosa) de diferentes partes da Índia para comunicação (da mesma forma que o latim foi usado na Europa medieval).
Apesar da rigorosa pronúncia e formas gramaticais, o sânscrito nunca permaneceu completamente afastado da ação das línguas vivas. Essas línguas forneceram constantemente novas formas ao vocabulário, à medida que o uso do sânscrito se propagava até o oriente e o sul.
Muito antes que o sânscrito deixasse de ser reservado exclusivamente para usos religiosos, desenvolveram-se na Índia as línguas comuns (que derivavam de uma forma linguística não muito diferente daquela que deu origem ao sânscrito). Essas línguas comuns são conhecidas como Prākṛta-s. Entretanto, os primeiros documentos datados em línguas indo-arianas são as inscrições do rei Aśoka (século III a.C.). Estão disseminados por diversas regiões da Índia e exibem, de acordo com a região, diferenças dialetais notáveis.
Os prākṛta-s são geralmente designados utilizando o nome de uma região. Por exemplo:
Śaurasenī |
língua de Śūrasena (região de Mathurā, comumente denominada Muttra) |
Māgadhī | língua de Magadha (região de Patna) |
Māhārāṣṭrī, comumente denominada Marāṭhī |
língua de Mahārāṣṭra (país dos Marāṭha-s, comumente denominados Mahratta-s) |
No entanto, não existe necessariamente um dialeto local como base para cada língua prākṛta. Os prākṛta-s são idiomas literários que foram polidos e estabelecidos artificialmente por teóricos (de maneira similar ao grego dórico, nos coros da tragédia grega). As suas características específicas não são nem completamente irreais, nem estão totalmente em conformidade com a realidade da língua falada.
Alguns deles apresentam uma mistura na qual predominam reminiscências do sânscrito. Dessa forma, o Paiśācī, embora se baseie em uma língua do noroeste, reproduz algumas características dialetais. Guṇāḍhya, criador desse dialeto, não perdeu de vista as regras do sânscrito.
Independentemente dos prākṛta-s, as Deśabhāsā-s (idiomas regionais) e as Grāmyabhāsā-s (idiomas locais) continuaram a se desenvolver. Esses idiomas deram origem a uma língua escrita denominada Apabhraṁśa pelos gramáticos. Embora essa língua seja frequentemente confundida com um prākṛta, foi originalmente uma forma intermediária entre as línguas locais e os prākṛta-s.
Ao lado das línguas literárias, existiram na Índia alguns idiomas religiosos. O mais famoso é o Pāli. O cânon budista conservado no Ceilão foi escrito em Pāli (séc. I a.C.). A sua origem é certamente continental, mas a fonte é difícil de localizar, porque não é homogêneo. Os elementos essenciais provêm da região de Mālva (norte de Indore), mas muitos elementos heterogêneos foram adicionados à forma original. O Pāli ainda preserva a sua posição como uma das línguas religiosas do Budismo.
Por sua vez, a língua dos Jainas também alcançou a posição de língua religiosa. O principal idioma dos Jainas nasceu em Magadha (onde foi escrito o cânon Jainista). Essa língua foi transportada quando o centro da região foi movido para o Decão e Gujarate, e adotou certos caracteres que a tornam mais próxima do Māharāṣṭrī.
Dialetos
Sobre o vasto território indo-ariano, podem-se destacar vários grupos dialetais:
Região noroeste (Dialetos himalaios) | |
Oeste | Veron e os dialetos de Kafiristão ("Kafiristan" em inglês, nome de uma região histórica do Afeganistão) |
Centro | Khowar, falado no vale do rio Chitral |
Leste | Dialetos do curso superior do Ganges |
Caxemira | |
Língua caxemira (Kashmiri) | Essa língua foi usada como língua literária. Está impregnado de elementos iranianos e sânscritos. |
E o resto dos dialetos pertencentes ao território indo-ariano pode ser classificado assim:
Grupo Ocidental: Ao descer pelo curso do rio Indo, você encontra o dialeto lahnda. Então, a partir da confluência dos rios Indo e Panjnad, encontra-se o dialeto sindhi (o seu representante meridional, denominado Laru, foi utilizado como língua literária). Ao longo da costa, encontra-se primeiro o gujarātī (que possui uma literatura desde o século XV d.C.), e depois o marāṭhī, que se estende até os confins meridionais do território indo-ariano. Os mais antigos documentos epigráficos em marāṭhī datam do início do século XII d.C. Há uma rica literatura poética em marāṭhī.
A partir daí, ao mover-se para o leste, você descobre uma série de dialetos que estão em uma posição intermediária entre o gujarātī e o hindustānī: esses são os dialetos bhil e os dialetos rajasthānī.
Grupo Central: Compreende o punjabi, o pahari (que inclusive chega à região tibeto-birmanesa), o hindī ocidental, o hindī oriental e o bihari. Esses três últimos incluem inúmeros dialetos:
Hindī Ocidental | O hindustānī é o dialeto principal |
Hindī Oriental | O awadi é o dialeto principal |
Bihari | Bhojpuri, magahi e maithili |
O berço do hindustānī está aproximadamente em Mirat, mas obteve a sua posição de língua comum no bazār (mercado) que dependia da corte de Delhi. Expandiu-se de lá até o norte da Índia. É uma língua variada e tem uma forma literária --o urdu--, escrita no alfabeto árabe. Além disso, o urdu utiliza vários termos que derivam do persa. Outra forma literária do hindustānī é conhecida simplesmente como hindī. O hindī é escrito utilizando um alfabeto indiano e representa uma reação contra o urdu. O hindī é cheio de termos que derivam do sânscrito.
Grupo Oriental: Compreende o bengālī, o oriya e o assamês. As três línguas são muito semelhantes, e todas possuem uma antiga literatura.
O bengālī é o mais rico e belo, mas o bengālī literário tem inúmeros termos que vêm do hindī e do sânscrito. O território do assamês está localizado no vale do Brahmaputra, do leste de Cooch Behar até Dibrughar.
Tipos de escrita
Desde o século III a.C., dois tipos de escrita foram utilizados para representar as línguas indo-europeias. Os dois provavelmente têm origem semítica, mas não se sabe exatamente como se formaram. São os seguintes:
Brāhmī | O mais amplamente conhecido. Inclui diversos alfabetos, e a sua forma mais comum é conhecida como Devanāgarī. Os alfabetos que derivam do Brāhmī podem ser encontrados em todo o território indo-ariano, de norte a sul, e ainda na antiga Indochina. |
Karoṣṭhī | Encontrava-se no noroeste do território indo-ariano, e não sobreviveu. É escrito da direita para a esquerda, enquanto o Brāhmī é escrito da esquerda para a direita. |
Notas finais
O documento está concluído. O tema é certamente imenso. Essa é só a ponta do iceberg. Continuaremos a estudar a origem das línguas indo-europeias na Parte IV.
Informação adicional
Este documento foi concebido por Andrés Muni, um dos dois fundadores deste site, e versado em linguística.
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