Sanskrit & Trika Shaivism (English-Home)

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 Pratyabhijñāhṛdayam (português - pura)

Somente os 20 sūtra-s --sem comentário-- de Kṣemarāja que expõem o Coração do Reconhecimento - Tradução pura

 

 


 Introdução

Olá, Gabriel Pradīpaka novamente. Como você certamente sabe a partir de Trika 2 (português)|Literatura, a literatura do Shaivismo não dual da Caxemira é dividida em três seções. A presente escritura concerne à terceira seção, denominada Pratyabhijñā (Reconhecimento). O famoso sábio Kṣemarāja havia escrito muitos comentários sobre diversas escrituras do Trika. Dentre esses comentários, dois são realmente fundamentais: Śivasūtravimarśinī e Spandanirṇaya. O primeiro é sobre os Śivasūtra-s, enquanto o segundo é sobre as Spandakārikā-s. Os Śivasūtra-s e as Spandakārikā-s são duas escrituras muito importantes em Trika. Entretanto, Kṣemarāja também queria escrever uma escritura própria. Ele admirava muito Utpaladeva. Utpaladeva havia composto a Īsvarapratyabhijñā (também chamada Pratyabhijñāsūtra-s), que é considerada como a obra mais importante da seção Pratyabhijñā. Lembre-se de que Utpaladeva havia sido discípulo de Somānanda, enquanto o guru de Kṣemarāja foi Abhinavagupta. Tanto Somānanda quanto Abhinavagupta foram renomados guru-s, e ambos Utpaladeva e Kṣemarāja foram dignos discípulos de tais grandes mestres, certamente. Diz-se que Kṣemarāja desejou compor o Pratyabhijñāhṛdayam devido ao seu fervoroso amor por Utpaladeva e suas obras. De fato, você verá que os vinte sūtra-s (aforismos) dos quais se compõe esta escritura são realmente um compêndio da Īśvarapratyabhijñā de Utpaladeva (a qual é composta por 199 sūtra-s).

O Pratyabhijñāhṛdayam data do século X da nossa era, aproximadamente. O significado literal de Pratyabhijñāhṛdayam é "Coração --hṛdayam-- do Reconhecimento --pratyabhijñā--". Entretanto, há três maneiras possíveis de interpretar isso:

1) Como eu disse antes, a palavra "Pratyabhijñā" significa Reconhecimento. Segundo o Trika, Śiva (o próprio Ser de todos) não pode ser "conhecido", já que não é um objeto cognoscível, e sim o Próprio Conhecedor. Em vez disso, Ele deve ser "reconhecido" como tal. Dessa forma, uma pessoa não conhece Śiva, e sim reconhece que na verdade é Ele Mesmo. Quando uma pessoa se dá conta de que é Śiva, isso é conhecido como Iluminação. Na verdade, não há nada extremamente complicado nisso, mas Śiva (Você), por meio da Sua Māyā, transforma a previamente mencionada Iluminação em algo extremamente difícil de alcançar. O genuíno Reconhecimento de que se é Śiva é raro nesse mundo. É claro que o genuíno Reconhecimento não é meramente dizer "Eu sou Śiva", e sim realmente perceber e compreender a própria e inerente unidade com Ele. Isso não é barato... é muito difícil de realizar, sem dúvidas, apesar de que qualquer pessoa já é Śiva. Um paradoxo! Então, para concluir, o termo "Pratyabhijñāhṛdayam" significaria o Núcleo ou Coração desse divino Reconhecimento, que, "pelo menos teoricamente", todos podem alcançar, mas que, "na prática", somente algumas poucas pessoas desfrutam. Nesse sentido, esta escritura se chamaria assim porque contém profundos ensinamentos sobre Pratyabhijñā ou Reconhecimento.

2) O sistema Trika (Shaivismo não dual da Caxemira) também é denominado Pratyabhijñā. Por quê? Por duas razões: a primeira está relacionada com a declaração feita pelo Trika sobre que uma pessoa não conhece Śiva, mas sim o reconhece como o próprio Ser; e a segunda se relaciona com a enorme importância da terceira seção (cujo nome é Pratyabhijñā) na literatura do Trika. Assim, essa escritura se chama Pratyabhijñāhṛdayam por ser um compêndio dos principais ensinamentos nessa importante seção.

3) A Īśvarapratyabhijñā de Utpaladeva (também conhecida como os Pratyabhijñāsūtra-s) foi a inspiração para que Kṣemarāja escrevesse o Pratyabhijñāhṛdayam e, nesse sentido, o título dessa escritura poderia ser traduzido como "O Coração da Īśvarapratyabhijñā ou Pratyabhijñāsūtra-s".

O Pratyabhijñāhṛdayam consiste de 20 aforismos mais um comentário do próprio Kṣemarāja. Fique avisado de que traduzi somente os aforismos, e não os respectivos comentários sobre cada um deles. Finalmente, note que o "m" final em Pratyabhijñāhṛdayam indica que o composto tem gênero neutro. Entretanto, você também poderia escrevê-lo em forma bruta, sem esse "m": "Pratyabhijñāhṛdaya". É por isso que às vezes você encontrará essa maneira alternativa de escrever o título da escritura.

Este é um documento de "tradução pura", ou seja, você não encontrará nenhum Sânscrito original, mas haverá, às vezes, uma quantidade mínima de Sânscrito transliterado nas próprias traduções do texto. É claro, não haverá nenhuma tradução palavra por palavra. De qualquer forma, haverá Sânscrito transliterado nas notas explicativas. Se você for uma pessoa cega utilizando um leitor de tela e não quiser ler as notas, ou simplesmente quiser pular as notas, clique no respectivo link "Pular as notas" para continuar lendo o texto.

Bem, mãos à obra.

Importante: Tudo o que está entre parênteses e em itálico dentro da tradução foi agregado por mim para completar o sentido de uma determinada frase ou oração. Por sua vez, tudo o que está dentro de um duplo hífen (-- ... --) constitui informação esclarecedora adicional também agregada por mim. Uma vez ou outra, alguns termos importantes podem ser destacados em cor. As notas embaixo de alguns aforismos também são minhas, é claro.


Obrigado a Paulo & Claudio que traduziram este documento do inglês/espanhol para o português brasileiro.


Ao início


 Pratyabhijñāhṛdayam

-O Coração do Reconhecimento-

A independente Śakti ou Poder Supremo (é) a causa da manifestação, manutenção e dissolução1 do universo||1||
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1 O termo "siddhi" não significa "poder sobrenatural" ou "perfeição" nesse caso, e sim o triplo processo de manifestar, manter e dissolver o universo, levado a cabo por Citi (a Consciência Universal).


 Através de Seu próprio (Poder) de Vontade --icchā--, Ela --ou seja, "Citi"-- exibe o universo sobre o Seu próprio Tecido --bhitti--||2||


Isso --isto é, "o universo"-- (é) múltiplo por causa da diferenciação de objetos cognoscíveis (e) experimentadores ou sujeitos (reciprocamente) adaptados||3||


O experimentador individual, no qual há contração de Citi1, também tem o universo como seu corpo, mas em uma maneira contraída||4||
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1 Em outras palavras, "no qual Citi está contraída".


 É unicamente Citi (que), descendendo desde a etapa de Consciência pura, contrai a Si Mesma (assumindo a forma do) objeto ou cognoscível; (e também é Citi que se torna) a mente||5||


 O experimentador limitado governado por Māyā1 consiste nisso --isto é, "em citta ou mente"--||6||
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1 Māyāpramātā também é denominado "o experimentador do vazio", já que repousa no nível de Māyā, que é o profudo vazio da ignorância.


 E (ainda que) Ele --ou seja, "o Supremo Ser"-- (é) Único, (torna-se) duplo, triplo, quádruplo (e) cuja natureza são sete grupos de cinco||7||


As posições1 de todos os sistemas filosóficos (são somente diversos) papéis (executados) por esse (Ser ou Consciência)||8||
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1 Em outros termos, "as conclusões finais estabelecidas por essas filosofias".


 Isso --ou seja, "o Ser"--, que está repleto de Consciência, (converte-se) na alma transmigratória coberta com Mala1 devido a (Sua) contração de Śakti ou Poder||9||
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1 Mala significa literalmente "impureza". Por sua vez, Mala pode ser dividido em três categorias: Āṇavamala (que produz em Śiva a noção de que é imperfeito, ou seja, não Divino), Māyīyamala (que produz em Śiva a noção de diferença Nisso, que é completamente não dual) e Kārmamala (que produz em Śiva a noção de que é um fazedor limitado de ações limitadas). Acorde, Śiva!


 Inclusive (nessa condição limitada, a alma individual) realiza as cinco funções1 como esse (Supremo Ser)||10||
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1 As cinco funções são: Sṛṣṭi (manifestação), Sthiti (manutenção), Saṁhāra (reabsorção), Vilaya (obscurecimento ou ocultação de Sua natureza essencial) e Anugraha (Graça Divina que tira o véu de Māyā ou Ilusão).


  Essas (cinco funções também podem ser explicadas) por meio (destes cinco termos): Ābhāsana --"o ato de manifestar"--, Rakti --"o desfrute"--, Vimarśana --"o ato de se experimentar como o Ser"--, Bījāvasthāpana --"o ato de plantar a semente"-- (e) Vilāpana --"a dissolução"--1||11||
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1 Ou seja, Ābhāsana equivaleria a Sṛṣṭi (manifestação), Rakti a Sthiti (manutenção), Vimarśana a Saṁhāra (reabsorção), Bījāvasthāpana a Vilaya (obscurecimento ou ocultação) e Vilāpana a Anugraha (Graça Divina).


 Ser uma alma transmigratória (significa) estar confudido ou infatuado pelos próprios poderes --śakti-- por causa da total ignorância sobre isso --isto é, "sobre a autoria das cinco funções ou quíntuplo ato"--1||12||
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1 O termo "pañcakṛtya" (cinco funções) também é traduzido, às vezes, como "quíntuplo ato".


 Quando há conhecimento completo disso --ou seja, "da autoria das cinco funções ou quíntuplo ato"--, a própria mente, mediante introspecção, (torna-se) o Poder Supremo por meio da ascensão (ao) estado de Consciência pura||13||


O Fogo do Poder Supremo, ainda que coberto ou ocultado (por Māyā ou Ilusão) na etapa inferior, parcialmente consome o combustível dos objetos cognoscíveis||14||


Quando (alguém) obtém o Poder de Citi ou Consciência Universal, faz o universo similar a si mesmo, (isto é, ele assimila o universo a ele mesmo)1||15||

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1 A frase "ātmasātkaroti" deriva de "ātmasāt kṛ", que normalmente significa "pôr sobre si, apropriar-se, atrair, voltar (algo ou alguém) a si, adquirir ou ganhar para si, etc.". No entanto, em Trika, significa "tornar similar a si mesmo, assimilar a si mesmo", o qual equivale a "experimentar unidade". Consequentemente, "viśvamātmasātkaroti" significa realmente "experimentar unidade com o universo". Quando se diz que você deve assimilar o universo a você mesmo, significa que deve experimentar unidade com ele; esse é o sentido.


  Quando (alguém) obtém a Bem-aventurança da Consciência Absoluta, (há) estabilidade ou firmeza da consciência de identidade com (essa) Consciência Absoluta, ainda que o corpo, etc. --ādi--, esteja sendo experimentado. (Esse estado é conhecido como) Jīvanmukti --"Libertação ou Mukti em vida"--1||16||
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1 Em outras palavras, "Libertação enquanto se mantém o corpo físico". Por sua vez, "Videhamukti" significa Libertação alcançada no momento de deixar o corpo.


 Por meio do desdobramento ou desenvolvimento do (estado) médio, (há) aquisição da Bem-aventurança da Consciência Absoluta||17||


Aqui (estão) os meios (para esse desdobramento ou desenvolvimento): 1) dissolução ou dissipação de (todos) os vikalpa-s ou pensamentos, 2) desdobramento (e) contração de Śakti ou Poder1, 3) cessação do fluxo de prāṇa e apāna por meio da repetição de sons "anacka" --ou seja, "sem vogais"--2, etc., (e) 4) a percepção do dvādaśānta3, etc.||18||
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1 Com "desdobramento e contração de Śakti ou Poder", o autor quis dizer "retirada da Prāṇaśakti ('energia prânica ou vital' seria uma tradução aproximada mas útil por enquanto) que escapa através dos órgãos sensórios interiorizando-a e levando-a até o Ser, enquanto, ao mesmo tempo, permite-se aos sentidos continuar com o seu trabalho normal". Em outras palavras, "retirada ou contração --saṅkoca-- de Prāṇaśakti" junto com "desdobramento de Śakti --vikāsa-- através dos sentidos, já que se permite a estes continuar trabalhando como sempre".

2 O composto "vāhaccheda" não é composto por "vāhac" (o qual, por sua vez, derivaria possivelmente de "vāhat") e "cheda", mas sim por "vāha" e "cheda", já que, pela primeira sub-regra da 19a Regra do Sandhi de Consoantes, deve-se obrigatoriamente inserir "c" entre "ch" e a vogal curta precedente ("a" em "vāha", nesse caso).
Em outras palavras, esse "c" antes de "ch" não é um constituinte original, e sim uma consoante que deve ser obligatoriamente inserida segundo essa regra em particular do Sandhi de Consoantes.
Então, "Vāha" significa "energia vital ou Prāṇaśakti". Por sua vez, "cheda" significa "cessação de prāṇa (ou seja, a energia específica que se libera através da expiração) e apāna (ou a energia específica que entra no corpo através da inspiração) por meio da repetição de sons anacka". Os sons anacka são simplesmente consoantes sem vogal. Por exemplo: h.

3 "Dvādaśānta" significa "certos pontos localizados a uma distância de doze dedos" (por exemplo, há um dvādaśānta no espaço entre as sobrancelhas, a doze dedos da garganta). Ainda que Kṣemarāja não especifique a qual dvādaśānta (há vários) está referindo-se, geralmente se entende como significando "āntaradvādaśānta" (o coração ou ponto onde termina a inspiração) e "bāhyadvādaśānta" (o ponto externo onde termina a expiração). Ou seja, deve-se prestar atenção a esses dois pontos ou dvādaśānta-s durante a meditação para desdobrar ou desenvolver o estado médio ou Madhya.


 No estado que vem depois do Samādhi ou Perfeita Concentração, o qual está repleto dos saṁskāra-s --saṁskāravat--1 (desse) Samādhi, (há) aquisição de um Samādhi permanente ao refletir de novo e de novo na própria identidade com a Consciência Absoluta||19||
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1 "Repleto de saṁskāra-s" significa, aqui, "cheio de efeitos subsequentes". Em outras palavras, quando se está em Vyutthāna (o estado que segue Samādhi ou Perfeita Concentração), tanto mente como corpo estão repletos dos respectivos efeitos subsequentes produzidos por esse Samādhi.


 Então, como resultado de ingressar na Perfeita consciência do Eu, a qual é essencialmente Luz (e) Bem-aventurança (e cuja) natureza (consiste) no grande poder do Mantra, há sempre aquisição ou obtenção de soberania ou supremacia sobre o grupo de deidades da própria Consciência, a qual produz todas as manifestações (e) dissoluções (do universo). Dessa forma, tudo tem por natureza Śiva1||20||
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1 Tudo é essencialmente Śiva.

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 Informação adicional

Gabriel Pradīpaka

Este documento foi concebido por Gabriel Pradīpaka, um dos dois fundadores deste site, e guru espiritual versado em idioma Sânscrito e filosofia Trika.

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